29 de dez. de 2018

Pérola Barroca

Sonhei que encontrei a pérola barroca sob os pés da multidão crepuscular que habita o centro da cidade depois da meia-noite...
Saldei a vitória das linhas tortas & rotas sobre as retas que não levam a nenhum lugar, pois são por linhas tortas que traço as simpatias para te encontrar...
Nas ruas retas, por onde uma bela imperfeição dormitava, não eram nenhum dos despertos perfeitos sorridentes que te achavam, mas uns poucos tristonhos que dormitavam...
Sonhei, que por entre as sombras desse pomar de árvores cortadas, pés de romã que brotavam entre o mar & o ar, te achava, ali entre as falésias do mar da noite que te consumia, & a sugava, pérola ecliptóris da fruta carnal...
A pérola barroca do pomar, jóia louca das ondas do amar, flor tatuada das canções de ninar, tarântula estampada na teia do luar, carne branca do tecido quântico a saltar...
Sonhei... quem sabe você pudesse sonhar também... quem sabe, você sonhou & eu só encontrei seu sonhar...


20 de dez. de 2018

Herança / Errância

Aquilo que não me disseram,
que eu soube por acaso
ao longo de minha própria senda,
é o importante a se saber!

O que aprendi em livros
de temas esparsos,
O que ouvi em músicas
encontradas no ar,
& vi em filmes
que ninguém disse para assistir,
Sempre foi o mais importante para mim!

Aquilo que adivinhei,
tudo que inventei,
o que só eu sonhei,
& o que me veio de graça
é o que é
verdadeiramente meu!

Quem fiz feliz, quem fiz sorrir
os que magoei, quem fiz chorar,
Os que encontrei só uma vez
& os que encontro sempre,
Todos que amei, junto aos que odiei
Fazem parte da minha vida!

O que eu soube através do carinho,
que disse & escutei
entre o silêncio & o suspiro,
Aquilo que não precisei dizer
nem explicar,
É o que você devia guardar de mim,
Mas para isso precisa estar junta
para eu te ensinar!

O futuro de onde vim,
o presente no qual transito
& o passado ao qual retorno,
suportam o tempo que desafio
& os espaços que abri!

16 de dez. de 2018

Nessas horas...

Nessas horas
há lá fora
uma tristeza
que não tem rima,
Não é a noite
não é o clima,
É o açoite
da minha vida:
Sua ausência
presente ainda, meninα!

14 de dez. de 2018

Sabor

saber ler
é conhecer
as palavras

tens o Tao
o Zen
& o Nada

saber ouvir
é entender
o diálogo

as ruas
as praças
os bares

saber ver
é reconhecer
as formas

idéias, estrelas, gatos
palmas, mente, corpos
rios & florestas

saber calar
é apreciar
o silêncio

tens Lao, Chuang
Diógenes
& Heráclito

saber
é mais desaprender
do que deter

folhas
flores
frutos

saber falar
é emanar
o pensar profundo

tens o céu
o inferno
a terra, tormentas

saber pensar
é sintetizar
sentimento & razão

amor
indiferença
vida & morte

saber gozar
é ser íntimo
de si mesmo

solidão
êxtases
amplidões

2 de dez. de 2018

Dezembros

Às vezes... Há uma  d i s t â n c i a...
& ela é dessas coisas que define um nada,
& parece aumentar no fim de cada ano...
Por onde você anda? O que você faz?
Você some para doer menos também?

Essa época... Eu sinto como se fosse um  l u g a r...
escuro, cheio de coisas confortáveis & desagradáveis
ao mesmo tempo... Eu sinto, eu como, eu ando,
eu cheiro... preencho espaços vazios limpando poeira...

Volto aos mesmos lugares/emoções,
longe, perto, tão aqui & em lugar nenhum...
A emoção é... ...Não sei!
Talvez a de perceber um espaço amplo...
O que se sente com o coração  v a z i o?!?!

Isso não mata... aos mortos!
Não vivifica ninguém
essa luminosidade extra de luz fria...
Penso só em você!
Talvez a solidão nos  u n a  um dia...
Só um dia por ano (ou dois...) estejamos próximos
em uma dimensão desmaterializada,
a proximidade dos des-esperados!