30 de dez. de 2019

Omni

O amor dá-se como um cão adestrado
que late mas não morde os outros
& que só ataca o dono...
O amor pega-se na rua
& traz para casa
para ele redecorar o lugar
& fazer uma espécie de ninho em um canto qualquer...
Eis que tem ideias de destruir
de tintas vermelhas & negras
que tem odor de paredes derrubadas...
O amor é como um animal na chuva
menor do que é com os pelos molhados
& esconde seu glamour colado ao corpo...
O amor faz-se de fraco
para impor sua força
& depois te derruba até do próprio chão
sob seus pés descalços...
Eis que tem pretensão de perdoar o que for
mas é a própria culpa que caminha
em direções contrárias até alcançar tudo
para depois por a perder...
O amor é uma cura
daquilo que queremos morrer
& te faz acordar no meio da noite
com seu pânico de abandono...
O amor te joga na luz da consciência
que você simplesmente não está pronto para entender
& quando dá por si agiu como cego...
Eis que é luta & nunca vitória!
Eis que é fábula & nunca história!
É corte, navalha, não mortalha!
O amor é antes uma falha
sempre nos dando o endereço errado da batalha...
O amor é aquilo que se colhe
do que não se planta
& é a mais humana
das feras destinadas a se extinguirem...
Eis que possui o charme do sacrifício
o sentido do holocausto
a fama do furacão
& a aparência de um anjo insano!


28 de dez. de 2019

V.

As vezes fico pensando
na coisa bonita que você destruiu...

Mas sei, tenho que saber,
que mesmo juntos, no mesmo horizonte,
Andamos por abismos diferentes...

...& buscamos outros nadas...
...por...entre...estrelas...que...só...sabem...
...só...podem...nos...dar...silêncio...

& pensar...
de quão longe vem
as forças que nos uniram
& tão curta é
a fraqueza que nos separou.


ÚrtÉros

A consciência dobra os campos da realidade tornando tudo esférico.
É Éros surgindo do abismo do Caos...
Dê espaço ao tempo & eles te darão experiência & conhecimento.

Hoje enfim, talvez a função da tecnologia seja a exaustão: nos cansar de tudo até provocar na mente uma renascença do incomum...

Pisamos no mundo, como árvores desgarradas, sugamos da matéria nutrientes da masmorra, até entender o que é pouco & o que basta.

Quanto mais longe da origem, mais pertos estamos de abortar nossos desejos impossíveis de satisfazer. Então damos as costas à miséria & abraçamos o contentamento: Serenidade!

A vida complexa se revela como morte, & o simples flui dos sonhos para nos mostrar o caminho de volta ao útero.

Renascer é imprescindível... como árvores espargimos sementes ao vento... folhas flor fruto filosofia... habitamos a esfericidade pelo éros pessoal renovado destinado a se tornar mais que húmus, mas sim sumo, soma de toda experiência.

Depois do grande cansasso (Kali-Yuga - KansAço), de todas as decepções, das quedas constantes, voltamo-nos circularmente ao Despertar na longínqua jorNada... tornamo-nos adeptos de um Novo Prazer (praSer)...

Qualquer um que assim se per-deu, in-venta uma senda para se salv-ar. Quem sabe... transformar o tempo em amor & o espaço em prazer!


27 de dez. de 2019

Pós

Procura-se alguém para me destruir!
No centro da vida
uma pedra de moagem
um incinerador
uma estrela devoradora...
Tudo que transmute
que pulverize
nadifique...
Eu habitei o fulcro da escuridão
permaneci próximo ao espinho
não fugi da turbulência...
Mas os anticorpos da ignorância
me expulsaram,
Para alguns o carinho é uma fraqueza
& o amor incompreensível...
Seguir a regra
de amar o que se torna
quando se está com alguém que gosta
Só é possível
para quem se tornou forte
& pode suportar sua própria
beleza & maldição.


24 de dez. de 2019

Festa

Faço festa
para minhas cicatrizes fechadas,
No corpo & na alma
elas retém cada uma
tantas dores & alegrias,
Partes que me faltam
artes que me completam...


21 de dez. de 2019

Atenção

O fantástico
da fantasia ao real
É que as coisas estão acontecendo
não só para onde estamos olhando...

O profundo funda da manifestação
são revoltas energias
a tecer um instante
que logo desaparecerá...

Apesar dos olhos & da luz
tudo além repousa no escuro
Até ser tocado com um pouco de atenção,
Não perca contato com o que te importa.


20 de dez. de 2019

Cinquenta Voltas...

Dando voltas no Sol
parece que não vamos à lugar nenhum,
Volta após volta
medindo o tempo com espaço,
Medindo intensidades com distâncias...
Mas cada minuto que passa
nos leva à um novo mundo...

Sempre caindo no lugar comum
na vala do cotidiano,
a normal/idade quer nos nivelar por baixo
Até que um salto nos leva à Nov/idade...

Então, em alguns lugares
no espaço-tempo
Encontramos jóias de real/idade
que nos lançam pela tangente
de toda essa inércia da atração circular,
temos sorte de colidir
com a sincer/idade na forma de carinho
da vida para conosco...

Chegamos no lugar raro,
no ponto certo
entre toda luz & toda sombra
& podemos Ser...
& o tempo cessa, o espaço acaba,
Vemos a nós mesmo nos olhos de outro...

Anos após anos
em volta de uma estrela...
Mal sabemos onde vamos parar,
onde o coração vai encontrar
o sentido de sua paz,
a forma de sua felic/idade...
Só sabemos que nunca é tarde
para começar mais uma vez
aquilo que procuramos nunca acabar!

"Idade" é um ficar aqui
& ter algo de bom
para re-partir...


19 de dez. de 2019

TantrAurora

...sete para seis da manhã
Penso que todo mundo poderia ser feliz...
Mas qual a essência da felicidade
que agradaria a todos?
Amor, saúde, dignidade, justiça, paz...
Coisas que como um deus
só pode vir de dentro para fora
nunca de fora para dentro...
Eis o mistério invertido do mundo
& das coisas que vem na forma de semente
& precisam de solo propício
para germinar...

Como tens preparado tua mente?
Como tens preparado teu corpo & tua alma?
Como tens cultivado teu jardim
& teu pomar?
Como tens lapidado a pedra bruta do coração
& lavrado o campo selvagem sob as estrelas furiosas da existência...?

Tudo se resume na harmonia
da entrega à dança da serenidade...
Muitos o fazem & farão
Outros nunca conseguirão...
& a vida continuará divindo
de um lado aqueles que acalmaram as paixões
na retribuição sincera dos encontros
Daqueles que preferiram o amparo insano
da construção de uma divisão moral
baseada nos dejetos ilusórios da razão!


15 de dez. de 2019

Tragos

Do rasgo no meu peito
passei a sentir diferente,
Com uma intensidade maior,
amplificada pela mutilação
do animal sacrificado
no centro do meu corpo...

Não é no coração o corte
mas no animórgão,
estômago... este mago... devorador...
Bode expiatório
para que eu fosse perdoado
de muitos dos meus erros & acertos...

Por ali passa, em espasmos,
o que trago do mundo,
visceral, sísmico, sacrofilosofal!

...um mago nascido do âmago
alcançando saberes de cortes na carne
sindindo corpo & alma
costurando-os ao espírito...


11 de dez. de 2019

Afinco

Estranhamente saborosa
o fim de suas entranhas,
Sem nenhum aporte direto
do caule com a flor
da flor com o espinho,
Assim como não há pontes
do mal com a dor
& do corpo com o espírito...

Lembro de você
me fazer ali tocar vulgarmente,
em locais sagrados... sangrantes...
Eu descobri
que quem mais se dedica ao sacrilégio
são os inconscientes de sua santidade...

Estranhamente inocentes
adentramos em uma noite,
& tudo depois foi só
escuridão de macia ranhura
angustia tormentosa do vexame...
Eu não sabia
que tinha que reservar honra
como proteção aos males da paixão!



10 de dez. de 2019

Você vem...

Você vem & estraga tudo...
derruba as paredes que ergui com palha
minhas defesas de fumaça & folhas
contra você que vem & estraga tudo...
minha raiva para te manter longe
meu silêncio pra te fazer calar
Você vem & estraga tudo...
me faz lembrar do que quero esquecer
não porque foi ruim mas muito bom ter
Você vem & estraga tudo...
leva meu vigor sem me tocar
& me faz sonhar de novo
com você que vem & estraga tudo...
não deixa esse cadáver derreter
não deixa esse coração parar de bater
por você que vem & estraga tudo...
até o sol que eu não queria que brilhasse
no céu chuvoso de Dezembro
Você vem & estraga tudo...


9 de dez. de 2019

Ao Infinito

Você tem que pegar tudo que é repetitivo & circular em sua vida & tornar Infinito!

Para isso você deve saltar... superar os condicionamentos... entender que deve torcer, virar do avesso o senso comum, & descobrir que o novo não é nenhuma de suas ideias preconcebidas, mas algo que requer coragem para ser experimentada. Você tem que romper com o idealismo que cultiva & se entregar, como quem sonha, ao desconhecido, ao impossível, ao impensável, ao inconcebível, ou seja lá como você chama aquilo que mais ignora, o Amor.

Ao final (ou no começo) isso se mostrará não como o que você sempre quis (& que na verdade outros querem por você, toda uma cultura) ou acha que deve ser, mas o que é melhor para você (& nem ousava pensar), porque estava com seus olhos na direção de uma ilusão, coisas finitas. & a finitude, a ilusão fundamental da existência, nos faz permanecer com a mente fixa no que é circular & repetitivo.

Concebemos o Infinito não como medida de grandeza ou poder, mas como sinal de essência & sentimento. Ele não está na continuidade, mas no rompimento; não está na força, mas na fraqueza; não é horizontal, mas vertical; não é local, mas fractal; ele não é útil, mas inútil... um vazio, uma profundeza a se preencher...

O infinito te visita a cada vez que você sente felicidade, preste atenção, ele "é" o outro lado de toda nossa tristeza & insatisfação!



8 de dez. de 2019

Poema de ...mar

No asfalto molhado
pela garoa garota da madrugada
navegar...
Não há marés
que erga outrora
o primeiro pensamento da manhã
nessa hora...
É dezembro, não julho
& te juro
Você ainda me afoga...
Quis vela ao vento
da tempestade que deixaste
Quis pouco, esquecimento
não fiquei, ficaste...
Cada corpo vela ao vento
carregado de solidão
Na cidade, mar é pensamento
falta nele a letra que roubaste...
Letra A do nome de outro ardor
letra mar, oceano,
tempestade que raiou...


5 de dez. de 2019

Soli (a ti) tudo

Dentro de minha casa que alguém construiu, deitado na cama que alguém moldou, cercado de móveis que alguém forjou, vejo na estante que alguém projetou, livros que alguém imprimiu... ali palavras que alguém escreveu...
Ouço a música que alguém compôs, reverbera no aparelho que alguém me vendeu, movido pela eletricidade que alguém engendrou, pelos fios na rua que alguém instalou...

Existe então solidão? Ou só sua ilusória sensação?
Tudo em volta fala de ausência, e a ausência remete a algo que não está ali... fazendo-o presente.

Mas me sinto só! & essa solidão é um fechar-se à evidência que estamos imersos na multidão com a qual nos recusamos, por incapacidade ou opinião, nos comunicar.

Solidão é uma atitude, e como tal, é sempre reação à algo!

Minha vida é a solidão para a morte, minha fome é a solidão para os sabores, meu afeto é a solidão para a carência, meus gostos é a solidão para os desgostos, minha alma é a solidão para o corpo, minha arte é a solidão para a indiferença, minhas dor é a solidão para a felicidade, minha vontade é a solidão para o amor...

Atrair, & sempre se trair. Trair a infelicidade, na mais soberba ilusão que criamos, para realçar a insuportável evidência que é impossível ser só, é impossível não estar no coletivo, & é o outro que nos define. Nós só definimos a solidão!

Na ilusão, corremos para a realidade. É verdade... é verdade, a única coisa que fazemos sozinhos é morrer, porque até mesmo para nascer, precisamos do outro, de um & mais!

Cercados de coisas que os outros fizeram, de pessoas, cães & gatos, animais, cercados de prédios, campos, cores, cercados pela roupa, pela pele, o corpo, cercados pelas ideias, pela luz onde a palavra se conduz até os confins, achamos possível estar só, quando na verdade só estamos querendo nos encontrar, não tanto a nós, mas ao outro.

Para quem te arrumas? Para quem escreve? Para quem te perfumar? Para quem te move? Para quem se dá? É o outro, antes de ti.
Afinal, quem te vê, quem te lê, quem te ama, quem te quer, quem te nota, quem te tem, não é você!

Solidão, no fim, é só ter mais tempo para si!
É uma reação, uma fuga do espaço, que é de todos & que nos separa & une. & tempo é tudo que não temos, enquanto espaço é tudo que buscamos percorrer & consolidar.


4 de dez. de 2019

Era Vulgar

As lágrimas de saudade que represo
à um milímetro da realidade
são um contraste exumado
entre um nó na garganta
& um sorriso de paz...
Senti tuas mãos em meus ombros
quando desamparado
por um coração partido;
Afinal, homens vivos & mortos
rumam para o mesmo lugar,
perdição & glória
em e-ternos v-entres...


3 de dez. de 2019

Des.sentido

Velo.cidades...
Ansiedade é quando
o coração é mais rápido
que o tempo...
Por aí
ainda me perdi
nas palavras lentas que escrevi para você...
Tinha que ganhar
a ferocidade da luz
para me distanciar...
Mas me a.traiu
com o peso de estrelas mortas
a tua gravidade...
Acelerar o sentido
para alcançar o ponto
onde tudo se desfaz na colisão...
Corro com o coração
sem disparar
pelas emoções que você calcinou...


1 de dez. de 2019

Acquantas

O acelerador de particulas
de nossos corações,
Tal qual o lento rio de Heráclito
parte & flui
no riso raso da serenidade...

Nadam sereias, serei, seremos,
nada...nada...tudo...tudo...
para chegar ao esquecimento do quanta
que cura feridas...

Pois o riso é um rio
que corre desde o mar... da felicidade,
Oceano quântico inquantificável
a nos formar...

Agora só precisa
me ajudar a entender
Que felicidade é como água
que encontro em sua boca
que escorre dos seus olhos
que bebo no teu sorriso...

Olha a chuva que cai lá fora,
é parte de sua presença aqui
na forma desse afogar no raso
Na forma desse fertilizar o chão da paixão
& fazer tudo crescer...

Líquido coração
circular
No redemoinho incerto
que leva ao desafogar.



30 de nov. de 2019

Simulações


(...trovões ao longe...)
Lá fora todo mundo dorme
mas o Facebook é
só um sono mais profundo...
Vamos brincar com a carne
antes que não
sintamos mais nada.
Encontre seu oráculo
para ouvir do espelho
suas verdades necessárias,
Enquanto a luz ainda brilha
poderá haver de tudo,
Menos ignorar que interagimos...
(...trovões bem próximos...)



apesar...


Apesar da solidão
nunca senti que não precisava de alguém...
Agora, penso com os pés
apenas caminho...
Não estar no mesmo lugar
é um compromisso com o coração...
O que pode dar errado
aconteceu sempre antes...



25 de nov. de 2019

Saudade

Saudade não é um sentimento,
é uma ruptura no tempo,
Um nó que nos ata à momentos
que paralisaram...
Eu estou esperando
só esse nó romper,
Estou esperando
só o relógio voltar a mover-se
para poder chorar mais...
Porque isso vem
& me pega de surpresa
parado no sinal,
no meio da noite,
a lembrança de você...
Eu estou esperando
poder desabar,
Estou esperando
encontrar o tempo
para poder continuar...
Saudade é uma exaustão
procurando revigorar
O tempo que era
antes de quem amamos
partir...



21 de nov. de 2019

electra

trovão macio
triturando o som
na acústica de uma rosa,
treme o chão
na onda de impacto
que também tremula a flor da pele...
desnorteado beijo intacto
guardado para o ano novo
repousa como jóia
dentro da ostra do tempo...
ensaia tua dança ao som do trovão
que no beijo verá
eletricidade compactuando
com o que os póros exalam...
porque o raio também remenda
os corações...


19 de nov. de 2019

Advento

Agora são tempos
das coisas a terem começado
muito tempo atrás...
Tempo perdido, recuperado
Tempo partido, remendado
Tempo sem tempo, momento
de viver o que foi adiado
& adiantado... alcançado...
Agora é tempo
de deixar de ser tempo
& se tornar evento!


17 de nov. de 2019

A Paz do Fogo

Se despeça de você
sua auto-visão irreal,
a loucura que você espalha no mundo.
Não há amor que preencha uma alma,
temos apenas o entulho das paixões...
a chama seca que nos consome.
Corações se tornam lugares irreconhecíveis
depois da demolição,
com o pó & as cinzas que ali decantam.
Mesmo que você seja daquelas coisas
que brilham no escuro,
está pronta para se apagar...
tua oferenda para o mundo.
Fogo frio
Chama-se fluorescente
Chama de flor nascente, natimorta...
a planta venenosa que cultivamos.
Quer incendiar-se no vinho,
acordar no sono,
cair no mundo...
cravar raízes no nada.
É pena que sonhos não peguem fogo,
pois os donos do fogo são anjos iletrados,
Seres que nunca dormem...
No fim vamos querer só distância deles
& a paz de renascer das cinzas!




11 de nov. de 2019

As Nuvens

Às vezes procurando entre nuvens
o que no céu há de melhor,
o mesmo que escorre dos olhos
ou dos lábios o trovão, o pior!
Às vezes esperando a terra se abrir
& dali sair o magma, sumo, suor,
Alcançar por suave força
o retorno da serenidade do ardor,
Olho para o passado
para tudo que foi bom
& tenho a certeza
se fui outro,
eu mudei só para poder
voltar a ser o que era
pela força do amor.


9 de nov. de 2019

Anti-Carnaval

Anti-carnaval em Novembro
Unindo a todos
calor insuportável
chuva temerária
A arte de fazer gado alegre
A arte de fazer gado enfurecer
um mal-estar na alegria
outro mal-estar na fúria
O abatedouro é livre
A democracia risível
toda essa transformação
não passa de imobilização
Não é Justiça
Apenas auto-preservação


6 de nov. de 2019

Amador

É importante saber & importante dizer que você não me feriu. A ferida já estava lá, não foi você.
Você só me fez tocar nela de novo...
Agora sinto-me disforme & bidimensional como uma pintura de Francis Bacon.
É doloroso fingir que não se tem afeto. Ainda bem que a rede é fria & nos anestesia...
Que sintoma é esse que transforma o bem querer em algo amorfo?
Qual a cura desse afeto passivo que esvazia & pelo qual minha sombra se aproxima para dançar?
Me dê um milhão de anos-luz de descanso... Me dê espaço para enterrar esse corpo-de-glória esfacelado...
Atuando no ato final desse Teatro do Absurdo, enceno em câmera lenta a farsa do esquecimento. Comédia será sempre o estilo de quem só tem o que sentiu.
Ainda não somos trágicos o suficiente para o "sim" necessário à tristeza. É isso que a vida quer de nós: Aprender a terminar!


4 de nov. de 2019

Sobre as Fugas

A intimidade construída com palavras
é uma estrada pavimentada
para se distanciar...
& a distância contém o que fica,
quem lida com as crias da ânsia
sabe disso...

É que sentimentos plantados em canteiros
são projetos de desertos
& desertos são todos os caminhos
cruzados sobre si...
Não há oásis onde se deixa de irrigar,
Não há palácios para se abrigar
o sol & a chuva por dentro...
Não há como modular a atração,
gravidade não cria peso,
apenas conforma carências
que se atraem, distraem & traem...

Os leves atraídos por coisas leves,
os pesados pelo pesar,
Aí sentimos onde os pés atolam
& inventamos asas...
O mundo gira,
mas temamos em retroceder,
É que no passado há um lugar onde não nos conhecíamos...

Agora isso é de mentira,
o silêncio uma mágoa sem porque,
a distância uma precaução relativa...
Depois da colisão
mantemo-nos próximos pelas escoriações...

Ali onde nos ferimos,
encha de indiferença,
carregue de sentimentos errados...
O mundo é redondo
com estradas tortas
só é reto uma ilusória retidão...

Com isso não nos cobrimos
& chegamos a lugar nenhum.
Esquecer não é opção, é violência.
Mas não há outra forma,
Às vezes o melhor
é deixar queimar...
O fogo limpa o campo
& nas cinzas se planta a cor...

Pelo atalho para esquecer vamos empurrando-puxando...
Retalhos são só partes de uma coisa maior que cortamos...
Todos esses são caminhos certos
para sempre se encontrar de novo,
A fuga é circular
& é o mais longo dos caminhos...


2 de nov. de 2019

Ecsistência


Me pego escrevendo como Cioran, tristezas & mágoas quase sem nexo,  se não fosse a beleza, se não fosse a verdade...

Vir a existir é um despertar rumo ao adormecer, um encher gradativo para esvaziar-se repentinamente.

Existir é ter onde caber todos os desejos & não ter por onde os desalojar.
Existir é distorcer uma ilusão até ela não mais ter lugar na consciência & se tornar dor & querida.

Esse descer à vida só pode ser voluntário. Afinal somos masoquistas, nossas errâncias o provam, somos o cisco que na ostra se faz pérola barroca.

Ninguém vem aqui por engano, todos entram nesse artifício da vida por morbidez própria. Somos ousados.

Vamos de encontro a tão só uma sensação, um reconhecimento, que somos velhos, muito velhos... mais antigos que o tempo & existir é vir lembrar isso.
& para quê? Para nos redimir da eternidade & do infinito & do nada em nós:

Amor & imaginação & ignorância.

Coisas que furtamos de outros deuses & tornamos melhor, & como criminosos que somos, tivemos a sorte de no sarcasmo cósmico do Demiurgo, escolher nossa pena: Existir! Com tudo que isso traz.



1 de nov. de 2019

Ela passa...

Ela passa aqui de manhã com os cabelos molhados
Ela passa aqui sorrindo
Ela passa aqui de manhã cheirando a amor
Ela passa aqui com pressa de chegar
Ela passa aqui de manhã pensando distante
Ela passa aqui cantarolando Elton John
Ela passa aqui de manhã com a roupa amassada do ônibus
Ela passa aqui com meu bom dia
Ela passa aqui de manhã com urgência de café
Ela passa aqui & não volta mais
Ela passa aqui de manhã com batom cereja
Ela passa aqui ainda sonhando
Ela passa aqui de manhã...
& ela é a manhã...
& o dia... que passa...


31 de out. de 2019

Comedores de Sementes

Da fruta
o seu porquê
Às vezes comemos
mas devíamos plantar

O artifício do sabor
que com mordidas
Leva até a semente
não para na boca, procura melhor lugar

Estéril o cuspe
fará achar
Entre mordidas & a língua
sonhar com o germinar

Comer do teu corpo morto
& beber do sumo agridoce
Separados da raiz
para errônea digestão saciar

Quando teu verdadeiro gosto
está na semente
Que as vezes falha, outras aflora
& quero sempre lembrar tal paladar

Oral é esse intento
Se te beijo onde penetro
Onde planto
Onde enterro-me

Oral é o beijo
A palavra verbal
A fruta análoga
Ao que na cópula ora

Não passamos de fruto
A procura da flor
De ir, voltar
Entornar...



30 de out. de 2019

Meu _ _ _ _ Nos Tempos de Cólera

Chegamos ao ponto então
de falar do _ _ _ _ como doença,
Reconhecemos o que há de doloroso
em estarmos próximos.
Quimioterapia
para a falta de química,
...no cólera ou na cólera...
Coisa tal, que para se purificar
há de se poluir
a memória, o presente,
o querer...
Disso que não tem cura, que mata,
como sobrevivemos?
Talvez estejamos mortos
& não sabemos!
Urge tomar consciência,
como remédio,
porque só os mortos
não morrem mais...

29 de out. de 2019

A Ferida

A ferida,
essa coisa desde sempre
aberta.
Com ou sem fé nessa ida, alerta;
Busca
brusca, bruta & tal.
Fendida
exposta, crua & nua,
além do bem & do mal,
abrigada por mim
& por você tocada, sem querer ou saber,
em uma noite de sol(ida)idão...
Apogeu
no lugar mais baixo,
Centro
fora do círculo.
A ferida
fé & ida na vida,
Queda
obrigada à despedida.
Encontro, partida.
Dela sangra
a dor, a lida
do conhece a ti mesmo
até o esquecer de si,
do sentir além do limite, da medida.
A ferida (sinônimo de paixão)
é a própria cura (cuidado)
& a cura o próprio ferido (apaixonado).
Porque quem tem a grande ferida
só está bem com a solidão
até fechar... sobre si mesmo
& abrir uma outra mesma lesão.
A ferida
a flor em fulcro & o próprio espinho...



25 de out. de 2019

Vazão

e s  v   a    z     i      a       r
m e n t e
c  o  r  a  ç  ã  o
c    o     r      p       o
não procurar novos tempos
mas novos  e s  p    a     ç      o        s
l i b e r t a r - s e  da própria liberdade
e s q u e c e r  de  esquecer
fundar a função
para o que não tem  f  o   r    m     a
& fazer do sem ti (mento) v a z ã o


24 de out. de 2019

Ontologia

I• QUEDA
Ali eu toquei
no fulcro que a vida faz envolver
ao acaso dos casos do belo caos...
O amor, que nunca mais direi,
me ensinou enfim
como é o anti-gozo de uma mulher...
& no grande mar de desprazer
que se abre aos nossos pés
melhorei um pouco, convulsionando...
Antes queria beber o oceano
queria caber no nada,
eu que tinha medo de me afogar
eu que tinha pânico de falta de ar...
Então aprendi o que é não ter chão
o que é um dano psicológico
o que é ter consolo dos mortos...
Ali eu toquei
& nunca fui tocado,
apenas convidado a sair.

II• KEHRE
De volta
à um pensamento destrutivo
vindo de fora...
...
O mundo justificando a fogo & sangue
o quanto o mais forte não se importa
o quanto o mais fraco pode ser desleal
o quanto o comum pode ser estúpido também
...
& ainda temos que pensar
em termos concreto
& ainda temos que caber
onde o outro está bem a vontade
Você na alegria, eu na tristeza
& ainda...
...
Cuidado com o homem comum
Cuidado com a mulher extraordinária
Cuidado com a criança mimada
Cuidado...
...
O mundo cada vez menor
quanto mais longe enxergamos
A vida cada vez mais miserável
quanto mais riquezas descobrimos
O espírito cada vez mais depredado
quanto mais buscamos o Deus
As pessoas cada vez mais solitárias
quanto mais podemos nos encontrar
...
Tristeza sem fim
Alegria instantânea
Fúria obsoleta
Concórdia artificial
...
Sair do mundo, desaparecer
assim se faz o caminho do sábio
Deixar para trás, não carregar
o peso mais pesado
...
Nunca mais ----
Nunca mais escrever a palavra ----
Nunca mais pronunciar a palavra ----
Nunca mais sentir ----
Nunca mais mais mais...

III• SER
Antes de você
eu era o que era,
uma linha continua
das coisas que (des)acreditava ser.

Com você fui algo diferente,
nem eu nem outro,
só um ensaio rápido
de ser dois & ser um;
& que agora não sou mais,
posso negar querer & querer ter sido.

Então era uma vez...
o que não fui & o que sou,
agora somente um ser
sobre ser até não ser mais
& poder estar pronto para o vir-a-ser...

Na sua lógica de vida normal
anulo meu ser, vida que cegue-me,
para caber no rasgo escuro de saída
de todo esse entriste-ser!



22 de out. de 2019

Vício

É um vício amanhecer
...acordar
& no coração desejando
que uma tempestade caia...

Andamos no meio do nada
querendo tudo,
Ouvindo os tolos,
convivendo com mortos...

É uma fraqueza adormecer
...repousar
& nos braços faltar
aquilo que se adora abraçar...


20 de out. de 2019

Ditos desse Domingo

A distância
preenchida com 'l ê - t r a z'

Compomos poesias
mesmo sendo pessoas comuns

Amamos
para além da vulgaridade

Não somos confusos
somos confundidos

Entendemos que nada passa
se acrescenta & fica diferente

Erguer a cabeça não é esforço
é vital

Nós na garganta
são presságios de choro

Mas o choro
contém a química contra a acidez

Só o que é vivo
tem relevância entre si

Procure a graça das coisas vivas
não as esmolas do que já era

O tempo é precioso
nele está a condição de se importar

Fora de suas opções
está o que não existe

Mova-se se for preciso
mas o importante é saber dançar

As verdades que não precisam ser ditas
podem ser desculpas para nossa mediocridade

Compreenda o momento
adentrando no sempre

Compreenda o sempre
como o necessário a superar

O ponto fraco não se rompe
abre-se para deixar algo sair

Quando estiver confuso
escreva

Quando estiver claro
cante

Não seja como os que se calam
pois o silêncio grita

Somos som
tentando ser cor(&)ação

Sendo assim aqui pulsa
algo que bate para quem ouve & vê

& para se ver
é preciso estar ao alcance

Cheguei
a você?

dias seguintes


...as manhãs de domingo rompem com quietude todo desassossego que se germinou na noite... 
....como se dissesse que “o ontem nunca foi tão ontem”, dele há de vir algo de bom... 
...o que se cruzou sem querer pelas ruas será sinal de sobrevivência, mesmo o coração tendo disparado & a indiferença se mostrado... 
...eu não corro de você... 
...afinal, somos especialistas em perder tempo... 
...mas sou melhor ainda em querer bem... 
...pois tem algo maior que o amor, a capacidade de amar...!



19 de out. de 2019

Livro


Insônia Insana


Eu perco o sono
por causa de um pesadelo
que não me lembro...
& abro os olhos
para não afogar
no calor da noite...
Penso se em algum lugar
o mundo está acabando
& descubro que esse lugar é aqui...
Olho pela janela
& há luzes no céu
sonhos alienígenas invadem a Terra
& nunca mais haverá você & eu...



18 de out. de 2019

Vontade de Potência


Se pelo menos a morte fosse irracional...
Se todo fim não tivesse sua lógica interna...
Eu lançaria a sombra do coração (que não é aquele bate & nem apanha) sobre tudo & a vida seria puro sentimento...
para além do bem & do mal...
Eis minha Vontade de Potência, nua!



17 de out. de 2019

Encontro

Lembro do espaço ficando pequeno, o chão tremendo, o caos se instalando, as luzes não iluminando... Lembro de pegar sua mão & nos olharmos enquanto andávamos até o anonimato da multidão... Sem sorrisos, sem ansiedade, só desejo, em uma seriedade de paixão explodindo, enquanto entravamos no meio das pessoas... Lembro de te abraçar pelas costas & de beijar seu pescoço, sentindo sua rigidez de mulher madura... Lembro de sentir seu corpo girando entre meus braços & sendo apertado pelo meu abraço, enquanto me abraçava também... Lembro do silêncio que fazíamos & da sua boca chegando perto para o primeiro beijo... & depois o tempo que parou, uma eternidade de carinho... Muito tempo depois... Lembro de emergir desse mergulho & olhar nos seus olhos & como confundi seu tesão com tristeza... O que pensou de mim?... Lembro que você tocou minha face em um carinho sincero & eu tateei seu pescoço & cabelos, agora sem tristeza no olhar, só entrega...  Lembro então de outro longo momento de eternidade dentro de outro beijo, & como tudo desapareceu de novo em volta, enquanto a multidão em que estávamos dentro se dispersava... Lembro que foi como acordar de um sono profundo sair desse outro beijo, & te olhar nos olhos novamente, perdido procurei água enquanto você partia na brisa noturna... Não lembro de mais nada, só que talvez, esse foi nosso momento mais sincero, sem palavras, sem promessas, sem conversas, sem medo ou pudor, apenas encontro... enfim!


16 de out. de 2019

Pós-Amor

Isso é
Pós-amor
Morto
mas sonhando
Vivo
mas escondido
Acontecido
sem ninguém saber
Dito
& não entendido
Iniciado
& não consumado
Resto
querendo ser parte
Ferido
mas de pé
Tortura
sem lesão
Amado
sem mais poder estar do lado...
É isso
Pós-amor
A pior
das melhores coisas
Ou, a melhor
das piores coisas que pode acontecer?
Perdão
onde ninguém errou!

("Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor." -Camões)



15 de out. de 2019

🌹

Tenta-se matar a flor
sob o peso do silêncio
que inquieta o coração,
Joga-se ela de novo na sarjeta
esperando que seque
com o fogo de antigos pecados,
Ou lhe retira o hálito
sufocando-a de palavras não ditas
& gritos não dados,
Mas...
Não se mata uma flor,
apenas se esquece do seu perfume
desencanta de sua cor
& do veludo da pétala,
Na aridez da distância
só fica o afinco
com que o espinho perfura
& a lembrança do tremor
que o colibri nela causou
quando sugou de sua essência.



14 de out. de 2019

Pøsteridade

Exausto,
da história que repito
para mim mesmo: o Passado!
Futuro... então?

Exa(us)to!
As entrelinhas dissonantes
entre meu verbo
& seu silêncio...

Tudo que tenho agora,
do corpo à palavra,
é irrelevante...


12 de out. de 2019

Em Cruz Ilhada


eu te conhecia de algum lugar
não era no espaço
& nem no tempo
era do amor & da dor
futur@s
fraturas
nesse encadear

de dias & noites sem sentidos
desde então

aos pouco retorno à velha rotina
o caminho para a cova

vamos juntos
ainda um tempo
até a rota nos separar
arrota indegestão
do caos & indiferença
a nos cercar

logo logo esqueceremos
quem primeiro com certeza
aquele que mais tem a perder
enterrar lembranças que nunca aconteceram
é tarefa dos fortes
& você é mais do que eu

eu te conhecia?
não, somente cruzei com você!
ninguém cuidou de ninguém
& vamos mais rir do que chorar
há essa coisa entreaberta a se desprezar
indiferença & caos a exalar

& me pergunto...
como formulamos as mentiras
que necessitamos para seguir em frente?



11 de out. de 2019

Aborto

experiências
de amor & morte...
qual trilha
que não tem chão...
não tem peso
mas pesar...
ser abortado
do meio de suas pernas
segundos antes do gozo...
& procurar forças
para cobrir a vergonha...
& da lição que fica
endurecer o coração...
nessa exaustão de dias afins
purgar o próprio amor em involução...
se nada acontece por acaso
só posso entender essa dor
como tendo me livrado
de um grande mal...



10 de out. de 2019

Raiz & Fruto

...poesia inicia com algo já pronto,
é como uma semente com a planta já crescida,
raiz & fruto...
é como a carne já comida & defecada;
A poesia não se escreve, emana
de uma dimensão de onde ela salta:
o vazio quântico
do "com-pôr".
_
Não há palavras nas poesias,
disso elas estão vazias........
Elas são feitas de pedaços partidos
de espaço-tempo de imaginação,
existências & durações trincadas
& mesmo eternas, elas fenecem
& morrem... porque o poeta morre...
(A musa não!)
_
Porque quando canalizo essas linhas
tão retas como teso fico,
me angustia como o inconsolável clímax em que quero sempre estar...
& não posso!
Tudo que o nó na garganta,
o calor no peito,
& o pau duro
não podem junto sanar...
_
A insanidade consome
o pouco de razão que ainda há,
Nas conjunções verbais,
nas palavras dispostas a rimar
& penso:
"Não é possível ser só isso!
Deve haver mais... ar"
_
Pois se tudo cabe no poema,
ainda não comporta o silêncio
nem o nada que não há como dizer.
A físio-lógicka de um poeta repousa
entre a Raiz & o Fruto,
algo a se esquecer.......
Árvore que caminha
com seu corpo-sem-órgão!



8 de out. de 2019

Barco Fantasma

Vou sair essa noite,
a tempestade me convoca...
Navegar nas ruas da cidade
por entre a tormenta
de asfalto & faltas...
Vou sair essa noite
antes que Júpiter colida com a Lua
& beber do cálice de estrelas derramadas...
Não será manhã antes de achar
o tesouro escondido
nos confins desse agreste
mar do amar...
A sereia que persigo
me atrai para ruína
lá onde naufraga a saudade dela,
um bar perdido no convés da solidão...
Vou sair essa noite
para no nada vergar,
a tormenta não incomoda...
Só careço de um porto para chegar
ou o fundo do sentimento oceânico
para me afogar...


7 de out. de 2019

MultiSim

Se não sou eu quem pensa, quem é que faz as perguntas? Quem é que duvida? Quem se desespera?

A não ser que... Não há desespero porque não há nada a esperar... Não há dúvidas porque não há certezas... Não há perguntas porque não há respostas... Não pensamos porque não existe o 'eu'!

"O não-ser gera o ser", então não somos um na multidão, somos um 'multi-não'; às vezes sujeito, às vezes objeto, nunca ação, sempre reação!

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Estava caminhando no parque ontem então teve um momento que me deu uma saudade tão grande do meu pai... uma coisa próxima ao desespero e comecei a chorar, ainda bem que estava de óculos e ninguém cruzou comigo, deu vontade de sentar...
Então eu vi um gato correndo no meio das folhas, e apanhando algo, um animal menor, estava caçando, foi incrível, pegou, matou e saiu contente, superior com a presa na boca! Achei que ia ter uma síncope, até a luz do sol mudou de cor, então comecei a entender: somos essa constante negação, caça e caçador! Negamos a morte, negamos querer ter que terminar qualquer coisa, a vida, um namoro, um mal hábito, uma virtude, a fome, etc. Não temos condição psicológica forte para sair de um movimento de inércia, vemos as pessoas fazendo o que fazem, e nos perguntamos como é possível elas serem assim, mas é apenas inércia, hábito, então para romper com isso é difícil, porque só podemos romper em nós mesmos, os outros continuam. Cada um por si! Caçadores e caça! Mas no fim "o fim" pega a todos, e ainda somos tão orgulhosos de tão pouca coisa!
É onde entra o fluxo de pensamento, ele não cessa, pois vem do mundo fora de nós, dos signos alheios, a mente é só esse canal de recepção que capta tudo, então também talvez não seja nem o pensamento que nos invada, mas certas convenções da linguagem, do verbo, da nossa reação já programada ao mundo. Uma grande ilusão enfim.
Então a grande questão não é de onde vem o pensamento, mas algo mais prático: como parar de pensar?!?!
No budismo ensina que só se para de pensar... pensando!!! O que quer dizer, "pensar em uma coisa só!" Concentrar! E talvez essa seja nossa tarefa, vir para o centro, o presente...
Isso é a grande tarefa amigo, não fugir do passado, das lembranças, das saudades, mas saber que elas não são mais verdades do momento, são importantes, mas passaram, agora, pela nossa sanidade, temos que nos encontrar aqui agora, no único lugar no espaço-tempo onde é possível realmente agir, parar de pensar, ser feliz! Ser um único e "multi-sim", um pacto com aquele poderoso Amor-Fati!