“Solo es real La vida; Solo es real La muerte.” (Gangora)
Alhambra
alumbra
à luz da lua
No Pátio dos Leões contemplo em silêncio o traçado labiríntico de suas linhas. Sutis filigranas revelam tanto nos preciosos azulejos quanto em sua enigmática ourivesaria (Escher comentou certa vez que aqui entendera a geometria) uma sinuosa escritura. A lua projeta através dos arabescos prestidigitações de imagens prismáticas, incrustando de prata e púrpura os alvos patamares. Dedilho na cítara a Raga Chandrakauns que imanta o fulcro argento da lua:
lua cheia dreambula
marcotizada
pelos cósmicos
clorofórmios
(Laforgue)
O rio Guadalquivir reverbera ao som visceral do flamenco. Dançarinas rubilam em flamas volteam espirais harpejos sublimes das guitarras. No Tablao andaluzem em transe El Cojo, El Enano de Sevilha, Caracol, Camaron de la Isla e a banda hardcore-flamenco Pata Negra.
Uma cigana me segreda que os verdadeiros artistas recebem em certos preciosos momentes um fluxo de energia muito especial denominado El Duende. Existem dois tipos de guitarristas: aqueles que fazem dançar o Duende e os que não. Rimbaud havia já profetizado em sua Carta do Vidente que os poetas são magnetizadores do fogo dos deuses:
Flamenco
fulge flama fulva
freme flana flui
facho fléxil flutua
(* nosso correspondente em Granada, Espanha – Animal nº 21)