16 de mai. de 2011

- Crônicas Marsicanas por Alberto Marsicano *

“Solo es real La vida; Solo es real La muerte.” (Gangora)

Alhambra
alumbra
à luz da lua

   No Pátio dos Leões contemplo em silêncio o traçado labiríntico de suas linhas. Sutis filigranas revelam tanto nos preciosos azulejos quanto em sua enigmática ourivesaria (Escher comentou certa vez que aqui entendera a geometria) uma sinuosa escritura. A lua projeta através dos arabescos prestidigitações de imagens prismáticas, incrustando de prata e púrpura os alvos patamares. Dedilho na cítara a Raga Chandrakauns que imanta o fulcro argento da lua:

lua cheia dreambula
marcotizada
pelos cósmicos
clorofórmios
(Laforgue)

   O rio Guadalquivir reverbera ao som visceral do flamenco. Dançarinas rubilam em flamas volteam espirais harpejos sublimes das guitarras. No Tablao andaluzem em transe El Cojo, El Enano de Sevilha, Caracol, Camaron de la Isla e a banda hardcore-flamenco Pata Negra.

   Uma cigana me segreda que os verdadeiros artistas recebem em certos preciosos momentes um fluxo de energia muito especial denominado El Duende. Existem dois tipos de guitarristas: aqueles que fazem dançar o Duende e os que não. Rimbaud havia já profetizado em sua Carta do Vidente que os poetas são magnetizadores do fogo dos deuses:

Flamenco
fulge flama fulva
freme flana flui
facho fléxil flutua



(* nosso correspondente em Granada, Espanha – Animal nº 21)

9 de mai. de 2011

“Hino” – Leonard Cohen

Os pássaros cantam
No romper do dia
"Comece de novo"
Eu ouço eles dizendo
Não se apoie naquilo
Que passou
Ou naquilo que está para vir

Ah, as guerras!
Elas serão lutadas de novo
A pomba sagrada
Ela será apanhada novamente
Comprada & vendida
E comprada de novo
A pomba nunca está livre

Toque os sinos que ainda pode tocar
Esqueça sua perfeita oferenda
Há uma fissura em tudo,
É assim que a luz entra.

Nós pedimos sinais
Os sinais foram enviados:
O pássaro traído
O casamento gasto
Sim, a viuvez
De todo governo...
Sinais para todos verem.

Eu não posso mais correr
Com essa multidão desgovernada
Enquanto os assassinos em lugares altos
Fazem suas orações em voz alta.
Mas eles foram convocados, foram convocados
Para uma nuvem tempestuosa
E eles vão ouvir de mim.

Toque os sinos que ainda pode tocar...

Você pode acrescentar as partes
Mas você não vai encontrar a soma
Você pode iniciar a marcha,
não há nenhum tambor
Todo coração, todo coração
Virá para amar
Mas como um refugiado

Toque os sinos que ainda pode tocar
Esqueça sua perfeita oferenda
Há uma falha, uma falha em tudo
É assim que a luz entra.

Toque os sinos que ainda pode tocar
Esqueça sua perfeita oferenda
Há uma fissura, uma fissura em tudo
É assim que a luz entra
É assim que a luz entra
É assim que a luz entra!





-traduçao da música 'Anthem' do maior poeta vivo da língua inglesa, Leonard Cohen 


2 de mai. de 2011

Portipholio Nimblicum







Minha coleção de nuvens
Ocasionais & momentâneas
Que nunca mais se repetirão
   na ampla tela estratosphérica dos céus,
Permeando os abismos inauditos
   que vão do amparo de nossos pés
      até a morada sempiterna da mente da mente;





Cometas fumegosos
Campos pomposos
Asas de Anjos
Zoológico cândido;





Baile d’água condensada
   na ciranda das marés alvas & azuis
      cujo os ventos inventam & lavram,
Inundando o céu de hálito de águas atmosphéricas
    & o chão de sombras frescas;





Rastros de rumos de ventos & ventanias
Vestígios de tornados
Brisas de trombas
Trovões cantados em duetos;





Iluminadas pela Lua argenta
Plumbia plata dissoluta no nubledo
Exalam paisagens de sonhos sertanejos
   inalcançáveis como uma aurora inversa,
Alumbramentos de deslumbres obscuros dos madrigais
   que penetram nas noites nuvens adentro;





Ninfas transcendentes de ocaso & caos
Arte temporal de eventos & ventos
Lumes interdependentes para sombras ocasionais
Mensageiras insossas de chuvas gratuitas
Sublime neblinado véu das horas lentas & esquecidas
Da terra aos céus;





Rios irrisórios
   represados nos céus do mundo
Estratosphéricas & abhissais
   diante do olhar terrestres
Que junto vai em devaneios
   de seguir nessa correnteza quase imaterial;
E irremediáveis céus
   me trazem seu ébano safira sephirótico
      marcando pulverizadamente os limites
         da minha prisão;





Enquanto as nuvens se metamorpham
   ao som & sabor
      do vento/tempo
Eu afundo no peso de esquecer/metamorphar;





De lá para cá
    de cá para lá
As nuvens vão
Mansa procissão à um vácuo local
   onde chorarão & suarão & chuverão
      suas pepitas cristais de lágrimas/milagres;





Por um instante
   lento
que dura procissões globais de nuvens
   tudo é bom!
E tudo passa nesse passo anuviado...

emt