27 de set. de 2015

Brasil: Arquétipo, Destino Coletivo & Zeitgeist

“A ordem perfeita só se revela na morte
Todo progresso constrói estradas para o abismo...”

   Quando se alinham o arquétipo coletivo de um povo com o espírito do tempo por qual ele passa o que se desvencilha no horizonte da história é um ponto de chegada, a conclusão de um processo desencadeado outrora, dentro da noite do tempo.

   Assim podemos ver emergindo dos símbolos de um povo o significado que só muito tardiamente se pode notar, e são eles que carregam em si toda a pré-definição do que seria a aventura deste povo sobre a face da terra. Olhando para nossos símbolos vemos a essência de nosso ser, ou a alma do brasileiro, neles se afirmam a antevisão atemporal de nossa missão coletiva no mundo.

    E a alma brasileira finalmente se abre e desvela-se em sua real aparência nesses tempos de crise. Sendo justo com os fatos, há uma eterna relação do Brasil com crises, a própria palavra ‘Brasil’ se refere à um estado não tão fresco de mente, fazendo justamente transparecer o clima meteorológico e ético dos últimos anos. Nesse braseiro é justamente o fogo de palha da civilização que se instala.

   Não creio que haja alguém inteligente que realmente acreditou um dia que os dias ruins de crise do passado nunca mais voltariam, e agora vem em seu pior caráter, a economia séria e a sociedade estática sempre invejada da America do Norte e da Europa agora irrompem em nossa sociedade que alcançou com os poucos anos de governo FHC e Lula o status de nação capitalista e liberal, agora quem não tem nada a ver com capitalismo e liberalismo é chamado a pagar a conta pelo capital e pela liberalidade sem nunca termos usufruídos os louros do capitalismo que tão veementemente os loucos que colocam pingos nos ii defendem. Não existe desenvolvimento eterno, de eterna só a estupidez humana!

   Mas existem coisas, às quais pouca atenção é dada, e isso é o meu interesse central neste texto: Símbolos.

   Quando falo que a “alma brasileira” finalmente se revela por inteiro nesses tempos, isso se deve ao fato que agora sem nenhuma intermediação e sem subterfúgios se pode de vez observar o verdadeiro rumo que nós escolhemos como sociedade. Aprendemos agora que as benesses são colhidas por indivíduos, mas as punições são pagas coletivamente, ou seja, estamos aprendendo da pior forma o que é ser povo.

   Outra manifestação dos fatos que tem grande carga simbólica nesses tempos é justamente a inversão no discurso político, o encontro cârmico do PT com tudo aquilo que sempre lutou contra e agora eles tem que aceitar, e mais: praticar! Isso é o que o dito popular chama de “pagar a língua!”, sua língua grande, vermelha e usada para mentir e mentir, e de vez em quando salivar um sorriso fingido nos debates das campanhas presidenciais. Do pau-brasil enfim conseguiram extrair a brasileína vermelha para rubrar suas faces... mas nem tanto, pois toda a classe de desclassificados políticos do Brasil não tem vergonha nenhuma.   


    Como finalmente o Brasil receberá os Jogos Olímpicos, grande festa religiosa da antiguidade transformada em visceral disputa ideológica entre as nações pelos oligarcas do início do século XX, seria interessante refletirmos sobre os arquétipos gregos que adentram em nossa alma.

    Pois nem só de PT e PSDB vive a alma e a política brasileira. Hoje, andando pelas ruas, assistindo TV, nos campos de futebol e nos Fevereiros que passaram e nos que virão, a alma brasileira sempre quis ser possuída pelos eflúvios de Dionísio, o deus do vinho e das orgias. Digo “sempre quis” porque nós, em nossa lenta destreza tropical, assim tivemos que lutar contra a pulsão de Apolo que sempre vem junto à Dionísio nas plagas arquetípicas da consciência humana, pois as coisas tem que ser equilibradas para que haja a farsa da “ordem e progresso”.

    De tal modo o brasileiro sempre flertou com Dionísio, festejando o carnaval, mas gracejando com a morte através da corrupção, da inconsequência para com as leis, do desleixo para com a distribuição de renda, a educação, a saúde, o combate às drogas, e uma vontade caótica de se divertir, aproveitar a vidaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh!, que os digam os calouros de qualquer curso universitário, e os digníssimos formandos também...

    Os impulsos Apolíneos deveriam se fazer presentes, mas foram sublimados pelo cristianismo, que o substituiu em nossa sociedade. Assim o otimismo que é característico de Apolo dá lugar ao apelo da prosperidade, pois foi aceito que só dinheiro dá felicidade, e afinal se provou que isso é real, pois fizemos nossa realidade assim, agora todos precisam de dinheirooooooooooo$$$$$$$$$$$, que o diga o Governo, as Igrejas e o Itaú. E claro, as pessoas comuns também, e  até o deus.

    A cultura e a música que são a junção das potências da alma, a sintonia fina do ser humano em seu tempo e lugar, trilha sonora do Zeitgeist coletivo de um povo, vem expressar tudo que o brasileiro é: festivo, medíocre, erotizado e estúpido. A começar pela gênese apolínea em nossa cultura, aquele que atraindo para si as conotações cármicas deste povo brasileiro, se declaro “brasa” (Braga – moro bicho!!!). O Rei do Brasil é claudicante, e a Rainha é dos baixinhos... infelizes atos falhos de nossa cultura que se desenrolou em latinos e popozudas.

    Então, se os cultuadores (mesmo inconscientes) de Dionísio buscam o caminho de volta à infância perdida, buscam fugir da realidade adentrando no transe da terra, tentando, via ilusões, escapar da pobreza material e intelectual e da morte, mesmo que por um curto período de tempo. Um povo assim ruma ao êxtase religioso místico, que hoje é ofertado principalmente pelos pastores midiáticos na TV ou em pelo menos três lugares diferentes por quarteirão no centro de qualquer bairro da cidade. Nossa consumação não está sendo no carnaval de alegrias passageiras, mas nos cultos de eterno pesar e lamentar por nossos pecados, dores, doenças, ignorâncias, etc.

    E o que nos reserva o futuro depois da conclusão desse ato de totalização que estamos vivendo hoje e que chamamos de crise, a crise final do Brasil? Diz-nos a História que Apolo sempre triunfa, ou seja, os conservadores sempre vencem porque são os que sempre apelam aos argumentos da razão, na crença dos poderes instituídos (mesmo se corruptos, devem existir), e os reacionários podem suportar a vida como processo de servidão, já que seus baluartes, formadores de opinião ou lideres foram os que sempre governaram, dando assim ao grosso das massas populares que justificam o poder dos conservadores via urnas um descarrego psicológico admoestando a lavagem das escadas e das mãos, como se dissessem: antes a bruta ordem do que qualquer carinhosa desordem. Antes meus direitos do que todos os nossos deveres.

   Porém essas verdades simbólicas entrevistas no atual momento de nossa sociedade não prediz o futuro em si, eles apenas fazem o papel do símbolo, do sinal, apontar a direção, o que se resumirá realmente e será o início do próximo turno de nossa sociedade é uma incógnita.  Parece-me que o acerto de contas não será realizado, a não ser por parte dos reacionários que procederão com sua vingança contra a “esquerda” que, merecidamente, por usa incompetência e falta de zelo para com a oportunidade histórica que foi lhe dada e que eles venderam ao preço do barril de petróleo, por nefasto egoísmo de proletariado ou guerrilheiro, ou seja, por ganância ou por vendeta, acalentaram crenças errôneas da perenidade de sua permanência no poder, agora devem pagar com dinheiro e até sangue sua pena, pois os reacionários sabem cobrar contas, ah! como sabem: são como agiotas sociais nossa classe média-alta!

    Assim o futuro do Brasil para os próximos anos é pagar a conta: a conta de nossa inconseqüência política, a conta de nosso descaso com educação, a conta de nossa vida desregrada a churrasco e cerveja, a conta da Copa do 7 a 1, a conta da Olimpíada que ficaremos para baixo da 7ª colocação no quadro de medalhas, a conta do nosso sistema eleitoral, etc. Essa não é só a conta do PT, é também a conta do golpe em Collor, a conta de Malan, funcionário do Império Britânico no nosso caixa nacional, a conta da venda do país por FHC, a conta de 20 anos de militarismo, a conta da construção de Brasília, a conta dos anos Vargas... 


   Interessante notar uma sincronia final onde a Grécia antiga e atual vem finalmente encontrar o Brasil: jogos olímpicos e crise financeira, o legado do ocidente inconsciente por mais de 2500 anos, tempo em que zelou de pesadelos e monstros de êxtases místicos e discursos morais, planos políticos e ensaios econômicos, um rol de impossibilidades humanas decaídas na latrina do tempo que um dia provará finalmente que os conselhos de Sileno à Midas seriam mesmo as melhores coisa para o ser humano, e principalmente para os brasileiros.


_Espírito  do  Tempo_
(Adeus Setembro de 2015)

Já não basta nosso suor, agora querem nosso sangue!
Já não basta nada... querem tudo...
E o que parece restar é só a violência!
Chorar sangue é nosso novo labor...

Isso é um encontro cármico,
Uma cobrança da História
Uma ironia de nossos deuses interiores
   que disputam a Copa do cinismo...

Dionísio moribundo, na alma do Brasil,
   enfim será morto pelos anjos de Thanatos vestindo Pólo
      vestindo DG, travestidos de rabinos, 
         bebendo vodka,
            cantando sertanejo
                belas crianças semi-analfabetas nas universidades
                   decidindo, enfim, nossos destinos...

Ando pelas ruas, dobro as esquinas, entro nas casas, encontro pessoas
   e em todo lugar vejo a nódoa da grande sabedoria popular:
cristianismo & futebol
egoísmo & diversão

“Viva a cor amarela, morra o maldito vermelho!”
Isso quer dizer muito de teu espírito! Isso quer dizer muito do teu caráter!
Alegria desvairada dos últimos lideres, eleitos na derrota,
Vencidos pelos eleitos na mentira:
demagogos, alcoólatras, viciados, depravados...
A mentira ainda venceu a lembrança do passado de entreguismo...

Quero falar da morte, pois os poetas e os filósofos só têm a morte como lume...
Nós a farejamos sempre, & quando se escancara a cova,
   somos nós que devemos apontar  a trilha para as fileiras em procissão
     não errarem o fosso, e deixarem de adiar o fim.

Nossa bandeira é um olho se fechando, um olho cego
Moribundo, em decomposição final
Chorando lágrimas de sangue
Ensinamentos da história:
A ordem perfeita só se revela na morte
Progresso é construir uma estrada rumo ao abismo.

Salta de nosso inconsciente enfim a pulsão de morte que sempre tivemos
Dionísio decapitado como Tiradentes
Apolo envaidecido como um pastor com um milhão de votos
Thanatos redivivo, nação-zumbi
Braseiro eterno,
Freud explica, Jung define, Reich reconhece:
“A exuberância tropical deve ser punida!”
   dizem os velhos! Velhos de 18 anos, de 50, 100 anos.
“Elevação da beleza feminina para punir a violência masculina!”
A opressão só muda de lado na esfera
Inversão de pólos...

O olho moribundo vê o céu estrelado,
Estrelas são a potência da transcendência.
Fecha-se sob a trave que não se difere de um cisco
‘Ordem’ nunca causou progresso
A corrupção é nosso lema...


Trilha sonora do post: Luiza Lian: "Escuta Zé"

1 de set. de 2015

Manuscrito Voynich: Um Passeio no Jardim de Estranhas Delícias

"Multos Michiton oladabas te tccr Cerc Portas"
Citação inscrita na última
 página do Manuscrito Voynich

"Ele mesmo ordenou e tudo foi criado"
Gênesis
A experiência de se ler um livro ou uma revista, de se apreciar um catálogo de arte, folhear um jornal ou um arquivo digital é uma experiência comum nos dias de hoje.
   Porém, há um artefato livresco que extrapola toda experiência humana de fruição intelectual ou artística de se ver uma obra em um desses formatos que a humanidade desenvolveu para preservar e difundir informação.
   E esse livro é justamente o Manuscrito Voynich. Tal título é tardio, o livro se trata mesmo de um manuscrito, uma peça de 22 por 16 centímetros com 4 centímetros de espessura, são 122 fólios e um total de 244 páginas, muitas outras foram perdidas ao longo do tempo, o material é um pergaminho feito de intestino de carneiro. Há uma numeração em algarismo arábicos feitos posteriormente de sua confecção por alguém que procurou um pouco de sentido no manuscrito. O termo “voynich” se refere ao nome de família do livreiro que apresentou o manuscrito ao mundo contemporâneo, Wilfrid Michael Voynich.
   O manuscrito está hoje exposto e disponível para consultas agendadas na Biblioteca Beinecke, na Universidade de Yale, nos EUA, como o item “MS 408” no registro do setor de livros raros, mas é como “Manuscrito Voynich” que ele provavelmente será conhecido para toda posteridade, pelo menos até que se decifre o conteúdo da obra e se tenha uma ideia ao que ela se refira.
   Folhear o manuscrito é uma experiência incomum, como eu disse. Digo “folhear” por força do hábito, pois para nós, simples mortais curiosos, temos o acesso mais fácil ao conteúdo do manuscrito por diversos arquivos digitais disponíveis na internet que reproduzem ótimas cópias do artefato, o que é uma grande sorte.
   Sabendo que o manuscrito está incompleto, ao se “folhear” o livro digital que começa abruptamente com uma página onde já encontramos a escrita exótica depois de se “virar” uma capa marrom surrada. Vemos também que traças já percorreram este caminho internamente.
   Se esse é mesmo o início do manuscrito já é seu primeiro mistério. Às vezes sinto mais coerência na ordem das imagens quando “folheio” meu arquivo digital de trás para frente, mas isso talvez faça parte da estranheza total e sem referências às quais nos apegarmos na “leitura” deste artefato, tudo nele é incomum.
   Mas ali se inicia a experiência normal de folhear o artefato. Ao longo das páginas seguintes se desvencilham além do texto em alfabeto misterioso, plantas imaginárias com raízes fantásticas, algumas parecidas com espinhos, outras com felinos ou garras emplumadas de pássaros, tubérculos, como raízes, faces humanóides e vermes.
   Em uma página há a figura de um lúdico réptil mordiscando as folhas de uma planta, outras têm como flor algo parecido com estrelas, e outra folha se assemelha a um olho, e assim continua a procissão de botânica fantástica.
    Adentrando então nesse estranho jardim vemos aparecer diante nossos olhos impressionantes plantas, seria uma flora alienígena? Seria uma representação simbólica de outros elementos desconhecidos? Não sabemos, apenas apreciamos a flora. Um quê de enxertos parece afigurar-se, paralelamente também um sinal de referências simbólicas aos outros reinos da natureza parecem comparecer. Algumas de suas plantas foram identificadas já, outras, a maioria, não.
    Assim, animais, rostos, corpos, tentáculos, bolsas, asas vão dão suporte de raízes às plantas que alucinogicamente acima emergem com formas ainda mais estranhas, nuvens, escamas, mantas, setas, brotoejas, fazem as vezes de folhas e caules, enquanto que acima de tudo flores fantásticas agraciam a visão, algumas plantas tem flores com cores e formas distintas no mesmo caule.
Em todas as páginas onde há desenhos das metaplantas um texto ladeia a imagem, como se apresentando os detalhes e os usos da mesma. O que está escrito ali precisamente ainda ninguém sabe. São 127 páginas assim ao longo de todo o artefato, contendo plantas únicas, ladeadas de textos indecifráveis. 
   Um extenso e misterioso jardim de cultivos de flora fantástica que se revelam aqui e ali. Mas as plantas contidas no Manuscrito Voynich são apenas parte de sua característica intrigante. Há mais, muito mais...
   Quando pensamos que estamos a folhear um manual de botânica fantástica um diagrama telúrico parece encaminhar para o encerramento desta parte, e nele podemos ver referências quaternárias das Estações do ano, o que de certa forma dá a ideia naturalista do autor desconhecido do manuscrito sobre botânica. Mas essa imagem começa a inserir um grande mistério dentro de outros mistérios, como veremos.
   Três folhas contendo só o texto no alfabeto “Voynichese”, como se costumou chamar a língua em que o artefato está grafado, vêm depois, passando por mais três páginas com plantas que parecem deslocadas de seu lugar, como algumas mais à frente no artefato. Aliás, tudo já parece deslocado dentro deste livro...  
  Passando esta parte final das plantas as estranhezas só se aprofundam.
   Bruscamente então vemos diagramas siderais, o primeiro com uma face humana em seu centro, a referência zodiacal começa logo aí também, pois o diagrama é dividido em 12 partes com estrelas em cada divisão do medalhão.
   A mesma divisão em 12 é encontrada no segundo diagrama que tem o que se assemelha a uma estrela em seu centro e parece se referir a fases lunares, levando-se em conta os detalhes das figuras circundantes. O texto primorosamente escrito é de um amarelo escuro e vermelho, letras ilegíveis que atravessam o tempo, e parecem querer também atravessar o espaço, onde inscreve detalhes velados a nós.
   Outra página misteriosa se segue com diversos sinais quaternários, solar, botânicos e estelar, parecendo haver coordenadas geográficas ou espaciais de qualquer forma, pequenas faces fazem às vezes de ponto dando aparência que se tratam de espíritos ou esferas planetárias. Talvez sendo uma espécie de conhecimento meteorológico.
   Dando seguimento, uma página com uma belíssima representação estelar feminina ou infantil aparece, um dos desenhos mais belos de todo o manuscrito e que representa bem seu espírito, um misto de estranhamento e beleza que fala à alma.
   Segue uma página com uma imagem que remete a uma galáxia com suas expirais, apesar de alguns estudiosos verem aí uma representação celular. Tal dissonância só se explica pela complexidade que envolve em se retirar algum sentido deste artefato. Como os outros diagramas próximos são temas astronômicos, quero crer que esse também contenha alguma representação nesse sentido. Há quem diga que nesse jardim por onde passamos, essa imagem seja a da galáxia de Andrômeda.

Um detalhe interessante é o sentido das espirais desenhadas no Manuscrito Voynich, como se fosse vista através de um espelho.

   Diversas outras representações estelares estão dispostas, uma parecida com flor, outras com faces humanas.
   Dessas figuras siderais podemos ter uma ideia de evolução estelar ou algo parecido. Um permeio da cosmologia teosófica se faz presente quando observamos as imagens onde simbolismo, movimento e intuição estão presentes.
   Nesse jardim estelar há a reminiscência teosófica que diz que cada corpo celeste é a manifestação em nossa dimensão de um Ser Cósmico, os desenhos do artefato representariam magnificamente isso com suas faces humanas nos centros desses astros.
   Logo a seguir no decorrer do manuscrito diversas páginas retratam então diagramas astronômicos e astrológicos. Da estranheza inatural das plantas e o espetacularismo sideral, passamos a ver imagens que remetem a símbolos zodiacais ou do Tarô.
   Alguns diagramas fazem jus preciso à signos conhecidos e talvez referências às suas constelações, além de meses do ano e suas características climáticas. Todos os medalhões astrológicos são circulados por figuras humanas nuas ou vestidas que remetem cada uma a uma estrela. Algumas saem de um tanque ou barril.
    Podemos ver em sequência Peixes, Áries (com o animal em duas variações de cores – o primeiro ocre, o outro branco), Touro (também representado duplamente, em um vermelho claro e rarefeito, o outro em vermelho escuro e de coloração constante), há então uma imagem que remete ao signo de Gêmeos ou ao Arcano 19 do Tarô (O Sol), uma espécie de felino (Leão? Leopardo? Veremos à frente!), uma que faz lembrar o Arcano 1 do Tarô (O Mago) ou o signo de Virgem, Libra, uma espécie de réptil com uma flor (ou estrela), e Sagitário (mas precisamente um homem com uma besta).
   Temos aí 11 diagramas, mas são 9 representações, pois vemos Áries e Touro repetidos, o que nos leva a ponderar que se são referências astrológicas deve está faltando pelo menos 3 fólios nesta parte, mesmo aceitando-se o “signo” do réptil, que se parece um lagarto ou um dragão-de-gomorra.
   Aqui talvez nesse ponto estejamos diante de uma representação zodiacal Oriental. Como é sabido no zodíaco chinês há o signo do Dragão, o que teria implicações interessantes nos termos de origem de nosso artefato.
   Seguindo em frente em nosso passeio por esse jardim com esse estranho céu estrelado, a realidade factível só vai se diluindo, desmontada ao longo da obra dando lugar às suas estranhezas cada vez mais desconhecidas. Depois das plantas e da parte astronômica e zodiacal chegamos a paragens cotidianas humanas, mas nem por isso, o espanto e a confusão abandonam o manuscrito e suas representações.
   O manuscrito repentinamente passa a trazer imagens de uma atividade humana que seria banal, se não comportasse uma recorrência de mistério e alheamento à realidade comum.
    As figuras retratam espécies de piscinas ou fossos onde mulheres nuas se banham descontraidamente. A visão de um vouyer seria correta aqui, um excitado espectador observando dezenas e dezenas de mulheres se banhando, mas as coisas ficarão mais nebulosas à frente.
   Em muitas figuras, as maiorias da representação dos corpos femininos estão em uma posição parecida, com um dos braços fazendo menção de tocar com a mão as nádegas ou o ânus, talvez em uma atitude de se lavarem ou executando uma dança. Outras vezes, a forma de seus braços parece imitar as formas de certas letras do texto especial. Haveria uma mensagem cifrada nas formas femininas também? Seria um ritual?
      Tais banhos parecem muitas vezes serem executados em lugares públicos, edificações com dutos ou piscinas naturais. As representações de banhos se estendem por muitos fólios, apresentando sempre mulheres, às vezes em tinas, bacias  ou barris. Há até uma que se parece um tobogã, como é o caso da primeira imagem dessa atividade.
   O que chama atenção também é a “água” verde na maioria dos desenhos, tendo porém muitas vezes a representação comum para “água” em azul. Haveria uma diferença representativa nessas cores?
   Olhando as imagens podemos nos remeter à um paralelismo retratado na obra de Hieronymus Bosch, “O Jardim das Delicias”, onde são retratadas mulheres em banhos também, em similaridade com as do manuscrito.
   Uma proposta de o pintor holandês ter conhecido o artefato não e de toda impossível. Bosch viveu na mesma época em que o artefato foi revelado ao público em geral. Porém as características da obra de Bosch são de ser sempre moralista, de uma religiosidade cristã, dizem os críticos, apesar de ter sido perseguido pela Inquisição. Porém as ideias cristãs parece ser algo que escapa ao conteúdo do Manuscrito Voynich, e no caso de Bosch, tais pensamentos pairam em um nível de reflexão própria, que foi expressa de forma melhor pela sua arte, onde muitas vezes ele interpreta de maneira atípica temas comuns da cristandade. Há em suas pinturas um desconforto muitas vezes notado no Manuscrito Voynich também.
   Muitas vezes essa parte dos banhos do Manuscrito Voynich é interpretado como sendo a expressão da “fonte da juventude”, ao que os críticos remetem também a interpretação de tal símbolo nessa pintura de Bosch.
   Se Hieronymus Bosch travou contato com o Manuscrito Voynich ou participou de uma seita que mantinha o artefato, e assim esse de alguma forma o inspirado em alguma de suas pinturas é algo que nunca foi estudado, mas além das representações dos banhos, há outras curiosidades entre os temas do pintor e do artefato.
   A respeito deste pintor sabe-se que ele tinha forte influência ocultista, podendo ter participado de algum culto ou ordem secreta. Além disso, me causa curiosidade também a forma como o pintor grafava sua assinatura em suas obras, uma escrita cheia de nuances que lembra um pouco a escrita indecifrável do alfabeto do artefato.
   Outro ponto interessante de se notar na comparação com aquela obra em especifico de Bosch é o detalhe de um desenho, ou uma ideia similar aqui e lá. Trata-se de uma “sereia” ou um símbolo parecido, muitas vezes representada na alquimia também como Jonas saindo de dentro da baleia, aqui em ambos casos, é uma mulher saindo do grande-peixe, como mais explicitamente exposto em um desenho do Manuscrito.
   O lago onde a “sereia” do Manuscrito Voynich repousa lembra também certos detalhes do “Jardim das Delicias” de Bosch, onde animais bebem do lago ou saem dele, mais precisamente na parte do Paraíso.
   Essa “sereia” seria apenas um dos seres fantásticos representados no Manuscrito e em toda a tradição de animais místicos que pululam o imaginário das pessoas da Idade Média, como mesmo Bosch representa em sua pintura na figura do Unicórnio, todos símbolos alquimistas.
   Dessa obra em especial de Bosch, conhecida por nós também como o “Jardim das Delicias Terrenas” ou “O Tríptico”, pois se tratava de uma obra tripartite, especula-se que quem a tenha encomentado ao pintor poderiam ser pessoas adeptas do amor livre, já que parece improvável que alguém da Igreja tenha encomendado tal trabalho. O mesmo poderiamos dizer de quem compoz o Manuscrito Voynich!

   Aberto a triplica obra representa em cada parte o Paraíso, no centro o Éden terreno, cheio de delicias e sexo e na terceira parte o Inferno. Fechado podemos observar a Terra envolta em uma esfera transparente, onde acima lê-se: "Ele o diz, e tudo foi feito” ou “Ele o mandou, e tudo foi criado", uma citação do Gênesis.
   A ausencia de definição sexual nas imagens de Bosch aí se chocam frontalmente com as representações femininas do artefato, podendo haver nisso a referência tanto ao pecado, em uma visão cristã, quanto à simbolização da androgenia, um tema alquímico, mas dignamente em torno do espírito do Manuscrito Voynich, ou então a uma referência de gênero geral dentro da consecução do artefato, como analisaremos mais tarde.
   Assim como interpretam que na obra de Bosch, ele não lança nenhum ponto de julgamento moral ao que expressa e vê, mas denota ali a única perfeição possível em nosso mundo, o manuscrito Voynich carece de um mesmo moralismo, e parece se dirigir à uma visão aparentemente biológica do que quer representar.
   Deixamos, pois, o jardim de Bosch e sigamos em nosso outro misterioso jardim.
   Ao ir passando as páginas, a estranheza de tais atividades de banhos se aprofundam. Podemos então observar que mulheres se banham e manipulam estranhos recipientes e objetos. Podemos até inferir que essa parte toda tenha alguma relação com gestação e parto, pois todas as mulheres parecem estar grávidas e há partes que mostram objetos parecidos a órgãos como útero, trompas, etc.
   O Manuscrito nessa parte é ricamente ornamentadas com imagens femininas manipulando certas partes que podem ser denominadas da fisiologia humana. É impossível não ter essa intuição! Muitas formas semelhantes podem ser encontradas em livros de fisiologia de todos os tempos.
   Além disso, nas margens são expostas figuras femininas intrigantes, como se fosse deusas ou fadas portando objetos que causam muitas controvérsias em suas interpretações.
   Ali se pode ver tanto símbolos pagãos como uma cruz ou crucifixo sempre na mão esquerda das mulheres.
   Uma interpretação da cor verde poderia se referir ao liquido amniótico ou então a alguma infusão ligada ao tratamento para uma inseminação ou uma boa gravidez, mas é tudo muito oculto.
   Uma figura leva nossa imaginação até a ver a representação de um óvulo sendo fecundado por um espermatozoide. Note aí a diferença na cor dos líquidos, azul na imagem feminina e verde na imagem que talvez seja masculina (figura “espermática”).
   Estaríamos aqui diante de uma concepção medieval e mágica a respeito da fecundação? Não é difícil pensar nisso.
   Encerrando esta parte podemos observar as mulheres se banhando apenas e líquido azul, que poderíamos então tomar como sendo água, como se houvessem terminado a tarefa que competia ao líquido verde e agora estariam se lavando em água pura.
   Depois disso podemos inferir uma descontinuidade no Manuscrito, talvez páginas faltantes (Ou não! Nada nesse manuscrito pode ser dito com certeza).
   Um diagrama sideral é apresentado então, contendo em seu centro algo parecido com líquido azul, uma estrela ou o Sol e outro diagrama com um eclipse ou a Lua. Reparem no movimento quirilico (para esquerda) do sol e as “águas” em seu entorno, enquanto a lua parece apresentar um movimento neutro (ou destro).
   
   Segue o texto indecifrável e aí temos a imagem estranha de algo parecido com trompas e referências masculinas e femininas com duas aves por ali. Aqui a alegoria alquímica é fortíssima.
   Podemos inferir aí um simbolismo psicológico antigo, muito próximo ao pensamento Gnóstico. O principio feminino acima, no céu, o mundo Divino onde voa se unindo de alguma forma ao princípio masculina abaixo na terra, onde esse cultiva e fortifica. Esse processo se finaliza na noção gnóstica examinada por Carl Jung onde o feminino (Divino, espiritual) é que leva o masculino (Mundano, material) até Deus, divinizando-o, e por outro lado, em uma relação de totalização, o masculino traz o feminino ao mundo, dando lhe completude também, essas as funções existenciais do corpo e da alma.
   No centro desta página um rabisco, ou não, chama a atenção. O risco é fino para ser caracterizado prontamente como de autoria de quem compôs todo o artefato, talvez sendo uma espécie de anotação de alguém que estudava o manuscrito e grafou ali uma relação significativa de uma interpretação que fez.
   O símbolo riscado lembra um desenho anterior no artefato, onde percebemos referências meteorológicas ou direcionais. É uma divisão tripartite de um círculo.
     Para os aficionados no Manuscrito Voynich e suas lendas, uma primeira imagem que poderia vir à mente são aquelas “Mônadas” desenhadas pelo Dr. John Dee, personagem ligado ao artefato, como veremos adiante.

   A seguir, como transição ou encerramento desta parte dos “banhos” o Manuscrito nos revela através do recurso de folhas dobráveis outra de suas imagens mais misteriosas e impressionantes.
   Uma grande folha parecendo conter uma espécie de mapa (astral ou terrestre) ou planta de uma construção é disposta. Dependendo da interpretação pessoal que se dá desta página sêxtupla poderemos ver um diagrama interplanetário com túneis astrais, um complexo de edifícios, a representação de planetas ocos e estrelas, etc.
   Há ali castelos, pontes, dutos, o sol e a lua, plantações, peixes, etc.
   É tudo um grande mistério e praticamente pode-se ver qualquer coisa ali.
   O fato é que há símbolos recorrentes nesses edifícios ou corpos celestes com figuras anteriores no manuscrito.
   Essas similaridades apontadas entre as imagens nos edifícios ou cúpulas com as representações siderais são patentes, mas o que podemos notar é que nessas cúpulas, há uma referência ilustrativa que as liga muito à parte daqueles banhos, e podemos pensar que eles se passam dentro dessas abóbodas, tendo até seus dutos para interconectar as piscinas.
   Agora, se a “aquela parte biológica trata de assuntos orgânicos, como explicar a relação deste hexa-diagrama com a parte astronômica e com a parte biológica?
   Sob um olhar repetitivo e inquiridor sobre essas partes do artefato, podemos ver que uma estória complexa é contata nas imagens que figuram o texto do Manuscrito por cerca de 56 páginas. Mas tal estória, ou história, abrange as partes do artefato, que vai desde o fólio marcado como “17”:
   E vai até o espetacular fólio marcado dentre o “86”:
   Será só uma coincidência ou uma visão forçada o fato da imagem central do fólio 17 ser uma figura geométrica parecida com o “mapa” ou “projeto” do fólio 86?
   O fato é que essa imagem em múltiplas dobras parece agregar em si todos as nuancem retratadas ao longo da parte “astronômico-astrológico” e a parte dos “banhos / biológica”, podemos achar dentro deste hexa-diagrama muitas referências às estrelas, assim como as paragens e coberturas de certas imagens de banhos.
   Se aqui podemos ler tal “história” que desce desde as estrelas e se conecta aos banhos ou aos órgãos humanos, se ali há uma indicação de uma “Cidade Celeste”, ou uma “paragem” que devemos encontrar dentro de nós, isso são mais sonhos e visões que o Manuscrito Voynich desperta em nós. Talvez um sonho de engendrar algo das estrelas dentro de nossa Consciência.
   Talvez mesmo o estranho jardim botânico que comporte todas as misteriosas plantas que vemos no artefato sejam cultivadas lá naquele “mundo”.
   Depois disso, avançando, passamos por uma parte no manuscrito bastante parecida com almanaques ou algum livro técnico de botânica medieval.
   Entre plantas dissecadas e objetos que lembram ser de laboratório, como tubos de ensaio, alúdeis, microscópios, tudo cercado por texto intraduzível parecendo ser orientações de uso e manuseamento de doses das plantas.
   Passa-se para outro rol com os desenhos de mais plantas obscuras, que parecem terem sido deslocadas da parte inicial do artefato e instaladas aqui, talvez haja uma lógica para isso na louca cabeça de quem compôs o Manuscrito, porque essas plantas parecem ser mais estranhas ainda do que as representadas no inicio.

   Volta-se para outra parte “laboratorial” profusa, onde outras plantas, raízes, tubérculos e objetos são dispostos, passando antes por uma série de plantas fantásticas que parecem ter sido deslocadas do início para essa parte do artefato. Defeito ou premeditado? Não sabemos.
   Aqui nessas páginas podemos observar cilindros parecidos à microscópios e tubérculos muito próximos em suas representações à mandrágora.
   Já encaminhando para parte final do manuscrito observamos muitos fólios repletos do texto no alfabeto estranho do Manuscrito, uma espécie de letra cursiva que remete por isso ao árabe, mas em muitos de seus grifos lembra também o grego e o sânscrito, mas tal aparência é distante e vaga em todos os casos, apenas pontos de referência para uma interpretação tortuosa sobre a espécie de alfabeto que contém o manuscrito.
   Tortuosa é a palavra exata para o trabalho de se analisar e tentar retirar sentido destas palavras. Há uma teoria recente que este alfabeto seja uma variante transcrita da verve oral da língua Manchu*, de certas regiões da Mongólia,
   Porém, curiosamente para nosso desespero, uma letra em particular é extremamente repetitiva, algo parecido com o P latino:
   Essa é uma “letra’ que remete muito a certas formas iconográficas desenhadas ao longo da obra, e talvez tenha um sentido não literal, mas de sentido geográfico dentro da obra ou do texto. A maioria dos parágrafos de manuscrita se inicia com este grifo ou com uma forma do “pi” grego (p), que veremos abaixo.
  Uma interpretação técnica de especialistas seria interessante nesse sentido, para se extrair daí recursos referenciais que ligassem disposições alfabética, geográficas e de algum sentido interno dentro da própria obra como um todo, unindo texto, imagens e seu conteúdo. Algo muito sofisticado para a época de sua composição?
   Algo assim seria mesmo muito elíptico e desnorteador no sentido de coerência, mas o pensamento mágico produz coisas assim. Isso me lembra as referências geográficas dispostas por William Blake em “Jerusalém”, então esse é um recurso literário sempre possível de estar presente quando se trata da obra de alguém com gênio versando de inspirações espirituais.
   Além daquela “letra”, tão repetitivamente há a ocorrência de outro grifo que lembra o “pi” grego:
   Talvez ambas as letras queiram dizer mais do que simples dígitos alfabéticos, talvez sejam grifos com significados implícitos, como um ideograma ou sinal de aprofundamento na palavra que se lê.
   Quase chegando ao fim por nosso passeio nesse jardim de estranhezas, vemos que as páginas finais, compostas apenas de textos, são totalmente ladeadas na margem esquerda por figuras de uma flor ou estrela, distinguindo cada parágrafo.
   A presença delas ali faz lembrar muito uma definição de dicionário do próprio verbete “capítulo”:
“ ca.pí.tu.lo – subs. masc.
...
4. Bot. Inflorescência formada por pequenas flores incertas sobre um receptáculo.”
(Do Dicionário Eletrônico MiniAurélio)

   Na última página conhecida do Manuscrito Voynich encontramos quatro linhas traçadas no alfabeto desconhecido, uma costura no papiro e três figuras ilustram a margem. Nessas linhas finais dizem estar a “Chave” do manuscrito.
   Algumas interpretações já foram feitas desses dígitos, que são legíveis para os especialistas em línguas antigas, especialmente um latim arcaico. Alguns dizer ver ali um anagrama com referência à autoria do livro, lá se poderia interpretar o nome de Roger Bacon, lêem também ali uma frase que diria: "Multos Michiton oladabas te tccr Cerc Portas", que um especialista em criptografia fez um esforço para ler algo como “Michi... dabas multas... portas”, que quer dizer “fostes me dando muitas portas”.
   Assim parece que as interpretações modernas oferecem a chance de obscurecer mais ainda esse artefato.
   Seriam essas as páginas finais o índice do Manuscrito mesmo? Mais uma conjectura, mais uma questão sem resposta.
   Seriam estas misteriosas palavras, alienadas ao todo da obra, a chave para a interpretação do Manuscrito? Seu sabor à mente é tão somente o mesmo que nos dá as plantas, os diagramas, as imagens femininas, a página sêxtupla e tudo mais.
   E assim o Manuscrito Voynich termina, deixando para quem o “folheou” uma sensação de total estranheza, um sabor de encabulamento e um vazio cheio de dúvidas.
Depois de contemplar as páginas do manuscrito só resta à pessoa comum desejar que alguma inspiração ou sincronia venha a lhe ocorrer para começar a ter uma ideia do que se trata a obra. Mas nem assim o artefato se deixa penetrar, seu encanto permanece e a indigestão mental prossegue, atormentando a consciência a respeito de uma obra total onde há apenas menções humanas e fantásticas, onde os únicos deuses ou demônios expressos são só o velamento total do sentido do artefato.
    Quero crer que o livro mesmo se tornou, por todo seu mistério, uma entidade independente, falando muito e falando nada. Com certeza o manuscrito tem um significado, um sentido até transcendente, que parte de bases botânicas e rituais, passando por outros meandros mágicos e psicológicos.
   Alquimia é uma menção latente em todo o texto, assim como ocultismo e biologia humana, elementos zodiacais e siderais se revelam claramente, assim como medicinais. O livro é de assuntos mágicos. Se há ciência nele ela é a da mente mística, medieval.
   Não observamos violência nesse nosso passeio pelo jardim de delicias estranhas, mas sua referência parece ser de purificação e beatitude, um espírito bem alquimista.
   Talvez os fólios iniciais extraviados representassem outros âmbitos. Se possuímos partes com referências botânicas, astronômicas, biológicas e farmacêuticas, podemos inferir que as partes perdidas pudessem tratar de “assuntos” minerais, geográficos, ou algo sobre angeologia e filosofia mística, como é comum em tratados do mesmo assunto.
   O Manuscrito Voynich é assim, até as artes que faltam nos remetem ao fantástico.
   Talvez a obra seja um grimório, um compêndio extenso de magia natural, prática e ritual, pertencente a algum mago ou seita secreta pequena.
   Nesse sentido, se aceito, o livro é uma obra primitiva que influenciara o ocultismo astral-espacial posterior, o que por sua vez teve raízes em outros livros antiqüíssimos e misteriosos também como “As Estâncias de Dzyan” (“estância” é até mesmo uma palavra que remete a “banhos”!), ou o fabuloso “Necronomicon”, o “livro dos nomes mortos” (como parecem ser as palavras escritas no Manuscrito Voynich).
   Pesquisadores desses temas em particular propõem que o manuscrito trate de forças ou energias destruidoras, que extrapolam o caráter psicológico que a alquimia manipulava através de seus rituais, práticas e substâncias psicoativas.
   Jaques Bergier chega a propor que o Manuscrito Voynich trata de forças de proporção atômicas em suas páginas.
Pelo nosso breve incurso nesse jardim de delicias e estranhezas o que posso averiguar como conjectura de uma orientação dentro do conteúdo do Manuscrito Voynich, retirada de minha imaginação fértil, é de um sentido esotérico.
   Seguindo certos preceitos Teosóficos posso dizer que o início do artefato, com algumas de suas plantas estranhas, trata de alguma espécie de flora alienígena, facultando assim uma espécie de espermogênese vegetal ampla, disso vamos penetrando na realidade humana, primeiro como uma proveniência sideral, de outros mundos assim como as plantas.
   Nesse ponto entram os conceitos zodiacais e astronômicos, que são inferências temporais longínquas, ligada às precessões equinociais de nosso planeta Terra quando do fundamento por civilizações já extintas das designações das constelações exteriores que nos rodeiam.
   A parte ritual sobre os “banhos” trata justamente da reprodução humana, do princípio feminino da Vida atuando, onde o simbolismo da “água” é onipresente, e o conhecimento humano a respeito da procriação revelada.
   A parte laboratorial trataria por sua vez da aquisição por parte humana dos conhecimentos da mente vegetal, da genética e da sua relação com as estrelas. Nisso influi muitas asserções sobre a evolução da mente humana e da consciência com a ajuda de elementos do mundo vegetal, passando depois por uma visão de consciência como proveniente de fatores externos, cósmicos mesmos e suas implicações psicológicas profundas, como se a consciência fosse pautada por arquivos estelares agindo com função arquetípica nos seres humanos.
   O conhecimento científico da manipulação genética seria pensado nesse sentido com observâncias de eugenia, com a escolha de mulheres de determinada “linhagem” para engendrar uma raça humana planejada, um projeto explicitado desde Platão na sociedade grega.
    Talvez se nossa consciência veio para esse planeta pelo espaço através de invólucros vegetais, registrado ali, como se acha ser possível a respeito dos fungos dos cogumelos, tais “invólucros” com determinações ou transmutadores genéticos possam ter vindo pelo sistema de Espermatogêneses em cometas e assumimos o controle disso quando começamos a entender sobre a reprodução, e é isso o que apontaria as páginas do Manuscrito.
   A parte laboratorial seria então o próximo passo da vida inteligente no planeta, não mais a manipulação genética para gerar homens e mulheres mais aperfeiçoados, mas sim o uso de plantas para ajudar a aperfeiçoar nossa forma de pensar, mudar nossa consciência, para talvez assim cumprir nossa finalidade neste globo e voltar para as estrelas cujo o mapa de retorno pode estar impresso entre as páginas do manuscrito.                          
   É a partir dessas reflexões do realismo fantástico que iremos propor ao longo desse ensaio algumas inferências pessoais deste autor a propósito do conteúdo deste misterioso livro conhecido como Manuscrito Voynich.

* Teoria de Zbigniew Banaski que propõe que até hoje foi difícil se traduzir o texto do Manuscrito Voynich porque só ocidentais, Americanos e Europeus, se interessaram por isso, sendo eles ignorantes dos alfabetos orientais, como o da língua Manchu.
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Este texto é a’ Parte I’ do livro “Mistérios do livro conhecido como Manuscrito Voynich”® de E. M. Tronconi.(Contato: emtronconi@hotmail.com)