A mesma divisão em 12 é encontrada no
segundo diagrama que tem o que se assemelha a uma estrela em seu centro e
parece se referir a fases lunares, levando-se em conta os detalhes das figuras
circundantes. O texto primorosamente escrito é de um amarelo escuro e vermelho,
letras ilegíveis que atravessam o tempo, e parecem querer também atravessar o
espaço, onde inscreve detalhes velados a nós.
Outra página misteriosa se segue com
diversos sinais quaternários, solar, botânicos e estelar, parecendo haver
coordenadas geográficas ou espaciais de qualquer forma, pequenas faces fazem às
vezes de ponto dando aparência que se tratam de espíritos ou esferas
planetárias. Talvez sendo uma espécie de conhecimento meteorológico.
Dando
seguimento, uma página com uma belíssima representação estelar feminina ou
infantil aparece, um dos desenhos mais belos de todo o manuscrito e que
representa bem seu espírito, um misto de estranhamento e beleza que fala à
alma.
Segue
uma página com uma imagem que remete a uma galáxia com suas expirais, apesar de
alguns estudiosos verem aí uma representação celular. Tal dissonância só se
explica pela complexidade que envolve em se retirar algum sentido deste
artefato. Como os outros diagramas próximos são temas astronômicos, quero crer
que esse também contenha alguma representação nesse sentido. Há quem diga que
nesse jardim por onde passamos, essa imagem seja a da galáxia de Andrômeda.
Um detalhe interessante
é o sentido das espirais desenhadas no Manuscrito Voynich, como se fosse vista
através de um espelho.
Diversas outras representações estelares
estão dispostas, uma parecida com flor, outras com faces humanas.
Dessas figuras siderais podemos ter uma
ideia de evolução estelar ou algo parecido. Um permeio da cosmologia teosófica
se faz presente quando observamos as imagens onde simbolismo, movimento e
intuição estão presentes.
Nesse jardim estelar há a reminiscência
teosófica que diz que cada corpo celeste é a manifestação em nossa dimensão de
um Ser Cósmico, os desenhos do artefato representariam magnificamente isso com
suas faces humanas nos centros desses astros.
Logo a seguir no decorrer do manuscrito
diversas páginas retratam então diagramas astronômicos e astrológicos. Da
estranheza inatural das plantas e o espetacularismo sideral, passamos a ver
imagens que remetem a símbolos zodiacais ou do Tarô.
Alguns diagramas fazem jus preciso à signos
conhecidos e talvez referências às suas constelações, além de meses do ano e
suas características climáticas. Todos os medalhões astrológicos são circulados
por figuras humanas nuas ou vestidas que remetem cada uma a uma estrela.
Algumas saem de um tanque ou barril.
Podemos ver em sequência Peixes, Áries (com
o animal em duas variações de cores – o primeiro ocre, o outro branco), Touro
(também representado duplamente, em um vermelho claro e rarefeito, o outro em
vermelho escuro e de coloração constante), há então uma imagem que remete ao
signo de Gêmeos ou ao Arcano 19 do Tarô (O Sol), uma espécie de felino (Leão? Leopardo?
Veremos à frente!), uma que faz lembrar o Arcano 1 do Tarô (O Mago) ou o signo
de Virgem, Libra, uma espécie de réptil com uma flor (ou estrela), e Sagitário
(mas precisamente um homem com uma besta).
Temos aí 11 diagramas, mas são 9 representações,
pois vemos Áries e Touro repetidos, o que nos leva a ponderar que se são
referências astrológicas deve está faltando pelo menos 3 fólios nesta parte,
mesmo aceitando-se o “signo” do réptil, que se parece um lagarto ou um
dragão-de-gomorra.
Aqui talvez nesse ponto estejamos diante de
uma representação zodiacal Oriental. Como é sabido no zodíaco chinês há o signo
do Dragão, o que teria implicações interessantes nos termos de origem de nosso
artefato.
Seguindo em frente em nosso passeio por esse
jardim com esse estranho céu estrelado, a realidade factível só vai se
diluindo, desmontada ao longo da obra dando lugar às suas estranhezas cada vez
mais desconhecidas. Depois das plantas e da parte astronômica e zodiacal
chegamos a paragens cotidianas humanas, mas nem por isso, o espanto e a
confusão abandonam o manuscrito e suas representações.
O manuscrito repentinamente passa a trazer
imagens de uma atividade humana que seria banal, se não comportasse uma
recorrência de mistério e alheamento à realidade comum.
As figuras retratam espécies de piscinas ou
fossos onde mulheres nuas se banham descontraidamente. A visão de um vouyer
seria correta aqui, um excitado espectador observando dezenas e dezenas de
mulheres se banhando, mas as coisas ficarão mais nebulosas à frente.
Em
muitas figuras, as maiorias da representação dos corpos femininos estão em uma
posição parecida, com um dos braços fazendo menção de tocar com a mão as
nádegas ou o ânus, talvez em uma atitude de se lavarem ou executando uma dança.
Outras vezes, a forma de seus braços parece imitar as formas de certas letras
do texto especial. Haveria uma mensagem cifrada nas formas femininas também?
Seria um ritual?
Tais banhos parecem muitas vezes serem
executados em lugares públicos, edificações com dutos ou piscinas naturais. As
representações de banhos se estendem por muitos fólios, apresentando sempre
mulheres, às vezes em tinas, bacias ou
barris. Há até uma que se parece um tobogã, como é o caso da primeira imagem
dessa atividade.
O que chama atenção também é a “água” verde
na maioria dos desenhos, tendo porém muitas vezes a representação comum para
“água” em azul. Haveria uma diferença representativa nessas cores?
Olhando as imagens podemos nos remeter à um
paralelismo retratado na obra de Hieronymus Bosch, “O Jardim das Delicias”,
onde são retratadas mulheres em banhos também, em similaridade com as do
manuscrito.
Uma proposta de o pintor holandês ter
conhecido o artefato não e de toda impossível. Bosch viveu na mesma época em
que o artefato foi revelado ao público em geral. Porém as características da
obra de Bosch são de ser sempre moralista, de uma religiosidade cristã, dizem
os críticos, apesar de ter sido perseguido pela Inquisição. Porém as ideias
cristãs parece ser algo que escapa ao conteúdo do Manuscrito Voynich, e no caso
de Bosch, tais pensamentos pairam em um nível de reflexão própria, que foi
expressa de forma melhor pela sua arte, onde muitas vezes ele interpreta de
maneira atípica temas comuns da cristandade. Há em suas pinturas um desconforto
muitas vezes notado no Manuscrito Voynich também.
Muitas vezes essa parte dos banhos do
Manuscrito Voynich é interpretado como sendo a expressão da “fonte da
juventude”, ao que os críticos remetem também a interpretação de tal símbolo
nessa pintura de Bosch.
Se Hieronymus Bosch travou contato com o
Manuscrito Voynich ou participou de uma seita que mantinha o artefato, e assim
esse de alguma forma o inspirado em alguma de suas pinturas é algo que nunca
foi estudado, mas além das representações dos banhos, há outras curiosidades
entre os temas do pintor e do artefato.
A respeito deste pintor sabe-se que ele
tinha forte influência ocultista, podendo ter participado de algum culto ou
ordem secreta. Além disso, me causa curiosidade também a forma como o pintor
grafava sua assinatura em suas obras, uma escrita cheia de nuances que lembra
um pouco a escrita indecifrável do alfabeto do artefato.
Outro ponto interessante de se notar na
comparação com aquela obra em especifico de Bosch é o detalhe de um desenho, ou
uma ideia similar aqui e lá. Trata-se de uma “sereia” ou um símbolo parecido,
muitas vezes representada na alquimia também como Jonas saindo de dentro da
baleia, aqui em ambos casos, é uma mulher saindo do grande-peixe, como mais
explicitamente exposto em um desenho do Manuscrito.
O lago
onde a “sereia” do Manuscrito Voynich repousa lembra também certos detalhes do
“Jardim das Delicias” de Bosch, onde animais bebem do lago ou saem dele, mais
precisamente na parte do Paraíso.
Essa “sereia” seria apenas um dos seres
fantásticos representados no Manuscrito e em toda a tradição de animais
místicos que pululam o imaginário das pessoas da Idade Média, como mesmo Bosch
representa em sua pintura na figura do Unicórnio, todos símbolos alquimistas.
Dessa obra em especial de Bosch, conhecida
por nós também como o “Jardim das Delicias Terrenas” ou “O Tríptico”, pois se
tratava de uma obra tripartite, especula-se que quem a tenha encomentado ao pintor poderiam ser
pessoas adeptas do amor livre, já que
parece improvável que alguém da Igreja tenha encomendado tal trabalho. O mesmo poderiamos
dizer de quem compoz o Manuscrito Voynich!
Aberto a triplica obra representa
em cada parte o Paraíso, no centro o Éden terreno, cheio de delicias e sexo e
na terceira parte o Inferno. Fechado podemos observar a Terra envolta em uma
esfera transparente, onde acima lê-se: "Ele
o diz, e tudo foi feito” ou “Ele o mandou, e tudo foi criado", uma
citação do Gênesis.
A ausencia de definição sexual nas
imagens de Bosch aí se chocam frontalmente com as representações femininas do
artefato, podendo haver nisso a referência tanto ao pecado, em uma visão cristã,
quanto à simbolização da androgenia, um tema alquímico, mas dignamente em torno
do espírito do Manuscrito Voynich, ou então a uma referência de gênero geral
dentro da consecução do artefato, como analisaremos mais tarde.
Assim como interpretam que na obra de Bosch,
ele não lança nenhum ponto de julgamento moral ao que expressa e vê, mas denota
ali a única perfeição possível em nosso mundo, o manuscrito Voynich carece de
um mesmo moralismo, e parece se dirigir à uma visão aparentemente biológica do
que quer representar.
Deixamos, pois, o jardim de Bosch e sigamos
em nosso outro misterioso jardim.
Ao ir passando as páginas, a estranheza de
tais atividades de banhos se aprofundam. Podemos então observar que mulheres se
banham e manipulam estranhos recipientes e objetos. Podemos até inferir que
essa parte toda tenha alguma relação com gestação e parto, pois todas as
mulheres parecem estar grávidas e há partes que mostram objetos parecidos a
órgãos como útero, trompas, etc.
O Manuscrito nessa parte é ricamente
ornamentadas com imagens femininas manipulando certas partes que podem ser
denominadas da fisiologia humana. É impossível não ter essa intuição! Muitas
formas semelhantes podem ser encontradas em livros de fisiologia de todos os
tempos.
Além disso, nas margens são expostas figuras
femininas intrigantes, como se fosse deusas ou fadas portando objetos que
causam muitas controvérsias em suas interpretações.
Ali se pode ver tanto símbolos pagãos como
uma cruz ou crucifixo sempre na mão esquerda das mulheres.
Uma interpretação da cor verde poderia se
referir ao liquido amniótico ou então a alguma infusão ligada ao tratamento
para uma inseminação ou uma boa gravidez, mas é tudo muito oculto.
Uma figura leva nossa imaginação até a ver a
representação de um óvulo sendo fecundado por um espermatozoide. Note aí a
diferença na cor dos líquidos, azul na imagem feminina e verde na imagem que
talvez seja masculina (figura “espermática”).
Estaríamos aqui diante de uma concepção
medieval e mágica a respeito da fecundação? Não é difícil pensar nisso.
Encerrando esta parte podemos observar as
mulheres se banhando apenas e líquido azul, que poderíamos então tomar como
sendo água, como se houvessem terminado a tarefa que competia ao líquido verde
e agora estariam se lavando em água pura.
Depois disso podemos inferir uma
descontinuidade no Manuscrito, talvez páginas faltantes (Ou não! Nada nesse
manuscrito pode ser dito com certeza).
Um diagrama sideral é apresentado então,
contendo em seu centro algo parecido com líquido azul, uma estrela ou o Sol e
outro diagrama com um eclipse ou a Lua. Reparem no movimento quirilico (para
esquerda) do sol e as “águas” em seu entorno, enquanto a lua parece apresentar
um movimento neutro (ou destro).
Segue o
texto indecifrável e aí temos a imagem estranha de algo parecido com trompas e
referências masculinas e femininas com duas aves por ali. Aqui a alegoria
alquímica é fortíssima.
Podemos
inferir aí um simbolismo psicológico antigo, muito próximo ao pensamento
Gnóstico. O principio feminino acima, no céu, o mundo Divino onde voa se unindo
de alguma forma ao princípio masculina abaixo na terra, onde esse cultiva e
fortifica. Esse processo se finaliza na noção gnóstica examinada por Carl Jung
onde o feminino (Divino, espiritual) é que leva o masculino (Mundano, material)
até Deus, divinizando-o, e por outro lado, em uma relação de totalização, o
masculino traz o feminino ao mundo, dando lhe completude também, essas as
funções existenciais do corpo e da alma.
No centro desta página um rabisco, ou não,
chama a atenção. O risco é fino para ser caracterizado prontamente como de
autoria de quem compôs todo o artefato, talvez sendo uma espécie de anotação de
alguém que estudava o manuscrito e grafou ali uma relação significativa de uma
interpretação que fez.
O símbolo riscado lembra um desenho anterior
no artefato, onde percebemos referências meteorológicas ou direcionais. É uma
divisão tripartite de um círculo.
Para os aficionados no Manuscrito Voynich
e suas lendas, uma primeira imagem que poderia vir à mente são aquelas
“Mônadas” desenhadas pelo Dr. John Dee, personagem ligado ao artefato, como
veremos adiante.
A seguir, como transição ou encerramento
desta parte dos “banhos” o Manuscrito nos revela através do recurso de folhas
dobráveis outra de suas imagens mais misteriosas e impressionantes.
Uma grande folha parecendo conter uma
espécie de mapa (astral ou terrestre) ou planta de uma construção é disposta.
Dependendo da interpretação pessoal que se dá desta página sêxtupla poderemos
ver um diagrama interplanetário com túneis astrais, um complexo de edifícios, a
representação de planetas ocos e estrelas, etc.
Há ali castelos, pontes, dutos, o sol e a
lua, plantações, peixes, etc.
É tudo um grande mistério e praticamente
pode-se ver qualquer coisa ali.
O fato é que há
símbolos recorrentes nesses edifícios ou corpos celestes com figuras anteriores
no manuscrito.
Essas similaridades apontadas entre as
imagens nos edifícios ou cúpulas com as representações siderais são patentes,
mas o que podemos notar é que nessas cúpulas, há uma referência ilustrativa que
as liga muito à parte daqueles banhos, e podemos pensar que eles se passam
dentro dessas abóbodas, tendo até seus dutos para interconectar as piscinas.
Agora, se a “aquela parte biológica trata de
assuntos orgânicos, como explicar a relação deste hexa-diagrama com a parte
astronômica e com a parte biológica?
Sob um olhar repetitivo e inquiridor sobre
essas partes do artefato, podemos ver que uma estória complexa é contata nas
imagens que figuram o texto do Manuscrito por cerca de 56 páginas. Mas tal
estória, ou história, abrange as partes do artefato, que vai desde o fólio
marcado como “17”:
E vai até o espetacular fólio marcado dentre o
“86”:
Será só uma coincidência ou uma visão
forçada o fato da imagem central do fólio 17 ser uma figura geométrica parecida
com o “mapa” ou “projeto” do fólio 86?
O fato é que essa imagem em múltiplas dobras
parece agregar em si todos as nuancem retratadas ao longo da parte
“astronômico-astrológico” e a parte dos “banhos / biológica”, podemos achar
dentro deste hexa-diagrama muitas referências às estrelas, assim como as
paragens e coberturas de certas imagens de banhos.
Se aqui podemos ler tal “história” que desce
desde as estrelas e se conecta aos banhos ou aos órgãos humanos, se ali há uma
indicação de uma “Cidade Celeste”, ou uma “paragem” que devemos encontrar
dentro de nós, isso são mais sonhos e visões que o Manuscrito Voynich desperta
em nós. Talvez um sonho de engendrar algo das estrelas dentro de nossa
Consciência.
Talvez mesmo o estranho jardim botânico que
comporte todas as misteriosas plantas que vemos no artefato sejam cultivadas lá
naquele “mundo”.
Depois disso, avançando, passamos por uma
parte no manuscrito bastante parecida com almanaques ou algum livro técnico de
botânica medieval.
Entre plantas dissecadas e objetos que
lembram ser de laboratório, como tubos de ensaio, alúdeis, microscópios, tudo
cercado por texto intraduzível parecendo ser orientações de uso e manuseamento
de doses das plantas.
Passa-se para outro rol com os desenhos de
mais plantas obscuras, que parecem terem sido deslocadas da parte inicial do
artefato e instaladas aqui, talvez haja uma lógica para isso na louca cabeça de
quem compôs o Manuscrito, porque essas plantas parecem ser mais estranhas ainda
do que as representadas no inicio.
Volta-se para outra parte “laboratorial”
profusa, onde outras plantas, raízes, tubérculos e objetos são dispostos,
passando antes por uma série de plantas fantásticas que parecem ter sido
deslocadas do início para essa parte do artefato. Defeito ou premeditado? Não
sabemos.
Aqui
nessas páginas podemos observar cilindros parecidos à microscópios e tubérculos
muito próximos em suas representações à mandrágora.
Já
encaminhando para parte final do manuscrito observamos muitos fólios repletos
do texto no alfabeto estranho do Manuscrito, uma espécie de letra cursiva que
remete por isso ao árabe, mas em muitos de seus grifos lembra também o grego e
o sânscrito, mas tal aparência é distante e vaga em todos os casos, apenas
pontos de referência para uma interpretação tortuosa sobre a espécie de
alfabeto que contém o manuscrito.
Tortuosa é a palavra exata para o trabalho
de se analisar e tentar retirar sentido destas palavras. Há uma teoria recente
que este alfabeto seja uma variante transcrita da verve oral da língua Manchu*,
de certas regiões da Mongólia,
Porém, curiosamente para nosso desespero,
uma letra em particular é extremamente repetitiva, algo parecido com o P latino:
Essa é uma “letra’ que remete muito a certas
formas iconográficas desenhadas ao longo da obra, e talvez tenha um sentido não
literal, mas de sentido geográfico dentro da obra ou do texto. A maioria dos
parágrafos de manuscrita se inicia com este grifo ou com uma forma do “pi”
grego (p), que veremos abaixo.
Uma interpretação técnica de especialistas
seria interessante nesse sentido, para se extrair daí recursos referenciais que
ligassem disposições alfabética, geográficas e de algum sentido interno dentro
da própria obra como um todo, unindo texto, imagens e seu conteúdo. Algo muito
sofisticado para a época de sua composição?
Algo
assim seria mesmo muito elíptico e desnorteador no sentido de coerência, mas o
pensamento mágico produz coisas assim. Isso me lembra as referências
geográficas dispostas por William Blake em “Jerusalém”,
então esse é um recurso literário sempre possível de estar presente quando se
trata da obra de alguém com gênio versando de inspirações espirituais.
Além
daquela “letra”, tão repetitivamente há a ocorrência de outro grifo que lembra
o “pi” grego:
Talvez ambas as letras queiram dizer mais do
que simples dígitos alfabéticos, talvez sejam grifos com significados
implícitos, como um ideograma ou sinal de aprofundamento na palavra que se lê.
Quase chegando ao fim por nosso passeio
nesse jardim de estranhezas, vemos que as páginas finais, compostas apenas de
textos, são totalmente ladeadas na margem esquerda por figuras de uma flor ou
estrela, distinguindo cada parágrafo.
A presença delas ali faz lembrar muito uma
definição de dicionário do próprio verbete “capítulo”:
“ ca.pí.tu.lo – subs. masc.
...
4. Bot. Inflorescência formada por pequenas flores
incertas sobre um receptáculo.”
(Do Dicionário Eletrônico
MiniAurélio)
Na última página conhecida do Manuscrito
Voynich encontramos quatro linhas traçadas no alfabeto desconhecido, uma
costura no papiro e três figuras ilustram a margem. Nessas linhas finais dizem
estar a “Chave” do manuscrito.
Algumas interpretações já foram feitas
desses dígitos, que são legíveis para os especialistas em línguas antigas,
especialmente um latim arcaico. Alguns dizer ver ali um anagrama com referência
à autoria do livro, lá se poderia interpretar o nome de Roger Bacon, lêem
também ali uma frase que diria: "Multos Michiton oladabas te
tccr Cerc Portas", que um especialista em criptografia fez um esforço
para ler algo como “Michi...
dabas multas... portas”, que quer dizer “fostes me dando
muitas portas”.
Assim parece que as interpretações modernas
oferecem a chance de obscurecer mais ainda esse artefato.
Seriam essas as páginas finais o índice do
Manuscrito mesmo? Mais uma conjectura, mais uma questão sem resposta.
Seriam estas misteriosas palavras, alienadas
ao todo da obra, a chave para a interpretação do Manuscrito? Seu sabor à mente
é tão somente o mesmo que nos dá as plantas, os diagramas, as imagens
femininas, a página sêxtupla e tudo mais.
E assim o Manuscrito Voynich termina,
deixando para quem o “folheou” uma sensação de total estranheza, um sabor de
encabulamento e um vazio cheio de
dúvidas.
Depois
de contemplar as páginas do manuscrito só resta à pessoa comum desejar que
alguma inspiração ou sincronia venha a lhe ocorrer para começar a ter uma ideia
do que se trata a obra. Mas nem assim o artefato se deixa penetrar, seu encanto
permanece e a indigestão mental prossegue, atormentando a consciência a
respeito de uma obra total onde há apenas menções humanas e fantásticas, onde
os únicos deuses ou demônios expressos são só o velamento total do sentido do
artefato.
Quero crer que o livro mesmo se tornou, por
todo seu mistério, uma entidade independente, falando muito e falando nada. Com
certeza o manuscrito tem um significado, um sentido até transcendente, que
parte de bases botânicas e rituais, passando por outros meandros mágicos e
psicológicos.
Alquimia é uma menção latente em todo o
texto, assim como ocultismo e biologia humana, elementos zodiacais e siderais
se revelam claramente, assim como medicinais. O livro é de assuntos mágicos. Se
há ciência nele ela é a da mente mística, medieval.
Não observamos violência nesse nosso passeio
pelo jardim de delicias estranhas, mas sua referência parece ser de purificação
e beatitude, um espírito bem alquimista.
Talvez os fólios iniciais extraviados
representassem outros âmbitos. Se possuímos partes com referências botânicas,
astronômicas, biológicas e farmacêuticas, podemos inferir que as partes
perdidas pudessem tratar de “assuntos” minerais, geográficos, ou algo sobre
angeologia e filosofia mística, como é comum em tratados do mesmo assunto.
O
Manuscrito Voynich é assim, até as artes que faltam nos remetem ao fantástico.
Talvez a obra seja um grimório, um compêndio
extenso de magia natural, prática e ritual, pertencente a algum mago ou seita
secreta pequena.
Nesse sentido, se aceito, o livro é uma obra
primitiva que influenciara o ocultismo astral-espacial posterior, o que por sua
vez teve raízes em outros livros antiqüíssimos e misteriosos também como “As
Estâncias de Dzyan” (“estância” é até mesmo uma palavra que remete a “banhos”!),
ou o fabuloso “Necronomicon”, o “livro
dos nomes mortos” (como parecem ser as palavras escritas no Manuscrito
Voynich).
Pesquisadores desses temas em particular
propõem que o manuscrito trate de forças ou energias destruidoras, que
extrapolam o caráter psicológico que a alquimia manipulava através de seus
rituais, práticas e substâncias psicoativas.
Jaques Bergier chega a propor que o
Manuscrito Voynich trata de forças de proporção atômicas em suas páginas.
Pelo
nosso breve incurso nesse jardim de delicias e estranhezas o que posso
averiguar como conjectura de uma orientação dentro do conteúdo do Manuscrito
Voynich, retirada de minha imaginação fértil, é de um sentido esotérico.
Seguindo certos preceitos Teosóficos posso
dizer que o início do artefato, com algumas de suas plantas estranhas, trata de
alguma espécie de flora alienígena, facultando assim uma espécie de
espermogênese vegetal ampla, disso vamos penetrando na realidade humana,
primeiro como uma proveniência sideral, de outros mundos assim como as plantas.
Nesse ponto entram os conceitos zodiacais e
astronômicos, que são inferências temporais longínquas, ligada às precessões
equinociais de nosso planeta Terra quando do fundamento por civilizações já
extintas das designações das constelações exteriores que nos rodeiam.
A parte ritual sobre os “banhos” trata
justamente da reprodução humana, do princípio feminino da Vida atuando, onde o
simbolismo da “água” é onipresente, e o conhecimento humano a respeito da
procriação revelada.
A parte laboratorial trataria por sua vez da
aquisição por parte humana dos conhecimentos da mente vegetal, da genética e da
sua relação com as estrelas. Nisso influi muitas asserções sobre a evolução da
mente humana e da consciência com a ajuda de elementos do mundo vegetal,
passando depois por uma visão de consciência como proveniente de fatores
externos, cósmicos mesmos e suas implicações psicológicas profundas, como se a
consciência fosse pautada por arquivos estelares agindo com função arquetípica
nos seres humanos.
O conhecimento científico da manipulação
genética seria pensado nesse sentido com observâncias de eugenia, com a escolha
de mulheres de determinada “linhagem” para engendrar uma raça humana planejada,
um projeto explicitado desde Platão na sociedade grega.
Talvez se nossa consciência veio para esse
planeta pelo espaço através de invólucros vegetais, registrado ali, como se
acha ser possível a respeito dos fungos dos cogumelos, tais “invólucros” com
determinações ou transmutadores genéticos possam ter vindo pelo sistema de
Espermatogêneses em cometas e assumimos o controle disso quando começamos a
entender sobre a reprodução, e é isso o que apontaria as páginas do Manuscrito.
A parte laboratorial seria então o próximo
passo da vida inteligente no planeta, não mais a manipulação genética para
gerar homens e mulheres mais aperfeiçoados, mas sim o uso de plantas para
ajudar a aperfeiçoar nossa forma de pensar, mudar nossa consciência, para
talvez assim cumprir nossa finalidade neste globo e voltar para as estrelas
cujo o mapa de retorno pode estar impresso entre as páginas do manuscrito.
É a partir dessas reflexões do realismo
fantástico que iremos propor ao longo desse ensaio algumas inferências pessoais
deste autor a propósito do conteúdo deste misterioso livro conhecido como
Manuscrito Voynich.
* Teoria de Zbigniew
Banaski que propõe que até hoje foi difícil se traduzir o texto do Manuscrito
Voynich porque só ocidentais, Americanos e Europeus, se interessaram por isso,
sendo eles ignorantes dos alfabetos orientais, como o da língua Manchu.
***
Este texto é a’ Parte
I’ do livro “Mistérios do livro conhecido como Manuscrito Voynich”® de E. M.
Tronconi.(Contato: emtronconi@hotmail.com)