Nosso
ethos
de Thanatos & Eros
É o tributo à finitude:
Única eternidade que
possuímos!
Dou
passos sobre cadáveres
Enquanto
andante sou águia
& com minha visão de abutre
enamoro-me de uma mariposa amarela...
No
tempo que a frequento
um cão negro enxerga minha disposição
& se aproxima de mim
Fujo
dele, como crianças de estrondos...
(eu lhe falei que a
mariposa estava morta?)
Sigo
a estrada, estada seta
até um robusto arbusto com folhas glosas
É
irresistível a vontade de mordê-las
Línguas
vegetais de intuídas lambidas
Mas
todo abaixo daquele arbusto é casa de detritos
Testamentos
das pessoas
Eu
sigo... eu sigo...
Olho
para o gramado deserto
Extenso
campo de ninguém
Cercado,
duramente não visitado
pelos olhos de um qualquer
& pelos pés de alguém
Cruzando-os,
faraós mendigos passam além...
Foram
até aqui três passos para além da cova
Foi
uma eternidade
Um
cão, um colo, uma vespa, uma árvore...
Uma
saudade do Nada que vibra no meio de meus átomos, à toa...
Morada
do Não-Ser que poetiza nadessências
pela manhã
Agora,
que tudo está ganho... & perdido!
[Esse é um ‘des-sonho’, pois o tive
acordado, Sábado quando fui na UAI. Será que estava acordado mesmo? / Nós
sempre estamos pisando em coisas mortas, onde quer que vamos, a cada passo
arrastamos cadáveres de insetos, restos de animais, sem contar dos micróbios
que ali reciclam esse material orgânico / Então, da altura de nossos olhos,
somos como águias cegas a voar lá no alto, enquanto um campo santo se estende
sob nossos pés / Nesse dia eu via pelo caminho o cadáver da mariposa amarela,
brinquei com ela com o pé, para ver se voava, mas ela estava vazia já, apenas
aquela flor-não-rosa jogada no caminho, morta / Me parece que a disposição de
brincar com aquele inseto abriu minha aura, e o cão se aproximou muito
contente, como se dissesse, ‘ora, brinca comigo também que estou vivo!’ / Não
sei como ou porque, mas de alguma forma aquilo me assustou, meu corpo reagiu
institivamente, tal como se estivesse nu em público, e sai cheio de pudores de
perto do cão / Agora entendo: eu estava em um espaço e tempo alterado, devia
parecer uma candeia energética impar / Alguns passos à frente havia esse
arbusto, muito verde, com as folhas em forma de línguas, sua cor me pareceu
crocante, vegetalmente sinestesicamente falando / Quis mesmo morder uma folha,
mas olho para o pé do arbusto, lá em seu recôndito, e havia muito lixo jogado,
coisas da humanidade, e perdi a graça de cometer o crime de insanidade de
abocanhar um arbusto em publico / Do lado desse caminho, ficava cercado o
jardim da frente do local onde eu ia e ainda não havia aberto, sentei no carro
e fiquei a olhar a grama, parecia tudo limpo e organizado, mas era estranho,
pensei que ninguém dava valor para aquilo, passavam à esmo não contemplando a
beleza simples ali, e mais ilógico ainda, era cercado mesmo, para ninguém
pisar, para crianças não brincarem, só para se olhar no máximo, então para que
exigir olhares mesmo? / Então uma vespa insistiu em me visitar, ali no dedo que
eu digitava no celular minhas impressões, ela foi e voltou umas três vezes, e
já estava querendo dar um nome para ela, mas ao fazer movimento para
fotografá-la ela sumiu, foi-se... fazer parte do chão em alguma hora desse dia
/ Esse tolo Sartori então se ampliou, na minha consciência perscrutando o
sentido de tudo isso, três minutos de variações... Entrei rápido em mim, do pó
dos cadáveres incontáveis no chão ao pó de meus átomos, e de lá senti a saudade
que emana em retrospecto, convidando-nos a voltar para sua perfeição
nadificadora / Tudo está ganho: a vida, a existência, e tudo isso está perdido
também, quando formos para o cremador da cova que nos espera / Lembrei da aula sobre
Deleuze e Espinosa de Sexta pela manhã, “A
ética é um tributo à finitude”, assim faço da minha ética um louco
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