Imersas
em uma escuridão que não é a escuridão que conhecemos, pois nessa escuridão
nenhum grão de luz pode chegar. Ali estilhaços de nada condensados e vergados
em inaudita tensão vibram como supercordas tocando, cada uma, uma sinfonia de
um sonho de um nem isto nem aquilo. E cada uma dessas supercordas não passa de
um grão de poeira no tecido da realidade, a textura de um abismo chamado real.
Agitando o maior dos oceanos existentes em
qualquer mundo, oceanus maximus esse,
porém, invisível ao mais poderoso dos olho de máquinas arcônticas, as
supercordas impulsionam então as marés de flutuações quânticas, revolvendo
ondas infindáveis. Porém esse oceano e suas tempestades quânticas não passam de
um grão de poeira dentro de um átomo.
Um só átomo, cuja energia pode destruir um
planeta, se cindido, pulsa radioativamente, compondo em sua multifuncionalidade
qualquer estrutura, compõe até os ácidos que em vez de dissolverem, coagulam a
base de toda vida. Mas o átomo é só um grão de poeira que compõe um cristal em
uma fita de DNA.
E dentre todos os átomos impermanentes que
formam periodicamente um corpo, há um átomo permanente, a Mônada, que em sua
essencialidade faz distinguir um ser humano de um verme, pois esta Mônada
contém em si a propriedade da determinação da autoconsciência no corpo propício
que habitar. Entretanto uma Mônada é um
grão de poeira dentro do corpo.
O corpo humano, que dizem ser o ápice da
evolução dentro da natureza, com sua capacidade de engendrar tudo de bom e tudo
de ruim, contendo a Mônada espiritual advinda da Eternidade, este corpo não
passa de um grão de poeira disperso pela face da Terra.
Este planeta, repleto de vida e beleza, com
uma natureza exuberante, que abriga todo tipo de vida animal, vegetal, mineral
e elemental, com seus sistemas eco-dinâmicos, este globo vivo não passa de uma
grão de poeira girando sob a força gravitacional em volta de uma estrela que
chamamos Sol.
Tal estrela, imensa diante da Terra, acolhe
em seu esteio todo um sistema solar de planetas, luas, asteroides, cometas e
vidas. Esta estrela e todo seu sistema não passam, porém de um grão de poeira
perdido na periferia de um dos braços da galáxia conhecida como Via - Láctea.
A Via – Láctea comporta em seu corpo sideral
bilhões de estrelas até mil vezes maiores que o Sol, e tantos mais planetas,
quasares, supernovas, constelações, e em seu centro um colossal fosso devorador
de matéria que nunca ninguém verá. Mas a Via - Láctea é só um punhadinho de
grãos de poeira dentro do Super Aglomerado Galáctico.
Este grande conjunto de galáxias, possuindo
inimaginável tamanho, vagando sem rumo conhecido, em comparação com o Universo,
o aglomerado não passa de um grão de poeira perdido.
Este portentoso Universo, esse colosso que
de tão grande se une aos seus próprios versos de cada lado, existindo sob suas
próprias leis de tempo e espaço, o Universo não passa de mais um entre outros
Universos dentro de um complexo pluri-cósmico nomeado Multiverso. Dentre
milhares de universos, o nosso é só mais um, como um grão de poeira entre
outros grãos.
Pois o Multiverso, com sua meta
indecifrável, misteriosa, é por sua vez um espólio de pensamento emanado da
Eternidade, e diante a Eternidade, o Multiverso não passa de um grão de poeira.
A Eternidade, perfeita em tudo, fonte da
própria perfeição, que sempre “existiu” e sempre “existirá”, e que Dela
permitiu que o “existir” se distinguisse por vieses desconhecidos, além de
qualquer Bem ou Mal, essa Eternidade mesma não passa de um grão de poeira
dentro do Nada.
E se pudéssemos pensar em algo como a
imediação imediata entre a Eternidade e o Nada, onde tal imagem fosse uma
anquibasia simbolizando tal imediação infinita, essa paragem profunda e
silenciosa mesma é nada dentro do Nada...
Saiba
o incauto leitor que esse conto é a base de um canto, uma composição louca que
se propaga como música que impulsiona tudo que a ouve em uma dança espiral
ad-eterna:
Agora, todos esses nadas, esses grãos de poeira onde estamos, todas as imensidões, confins, paisagens e sendas sobrepostas, vagueia dentro da Eternidade, pois tudo é só um átimo do pensamento do Deus Desconhecido, e no, e do, infinito, nós acontecemos.
Dentro disso tudo, ou fora, seja lá como for, do nada nós viemos parar aqui. E como é possível isso acontecer? Como é que nós simplesmente acontecemos aqui imersos nessa inaudita infinitude eterna.
De onde viemos? Somos daqui? Da Eternidade? Do Nada?
Isso que somos, a consciência, a Mônada, o Espírito, seria uma distensão entre o Ser e o Não-Ser, a Eternidade e o Nada?
Com certeza, para chegarmos aqui, viemos pela senda algorítmica que sai do Nada ao Nada, no compasso de uma razão rítmica não simétrica, pois a simetria perfeita é da natureza da Eternidade, do Infinito, pois mediante a simetria deste Universo, a perfeita simetria da Eternidade consegue harmonizar em perfeita divisão o indivisível.
E para além disso tudo, muitas vezes o que nos importa não é o tudo ou o nada, não são as galáxias, os éteres, os buracos-negros, o espaço ou o tempo, ou o tecido do cosmos, o que nos importa simplesmente não é nem nós mesmo, o que importa é o outro, a pessoa amada, a chance do encontro com ela.
Não obstante tantos átimos e a abismal Eternidade, só queremos encontrar quem nos faça feliz e completos, e é mais por isso do que por qualquer outra coisa que bailamos loucamente dentro do Universo.
***
*Capitulo retirado do livro
“Geografia Pneumática de Paisagens & Sendas Sobrepostas”
de Eduardo Moura Tronconi, Editora Textura do Abismo, 2015e.v.