1
Lar
lugar distante de se alcançar
Partir pela manhã
se perder no vazio
ancorar no éter
dobrar a esquina repisada
procurar rumos na saudade
arrastar lembranças
Há rastros de folhas secas
que não guardam pegadas
Trilhas de formigueiros abandonadas
que se interrompem terra adentro
Tapetes de paina
flutuam no vento
Lugares estranhos
dentro da familiaridade das cercanias
Lar
como é difícil alcançar...
2
Nas ruas alheias de outra cidade
claudicar corpo & mente
Memórias rotas
desesperadas procurando semelhanças
Lá longe uma nuvem estrangeira
faz chover aqui
Cacos de vidro estilhaçados
convidam a se apressar
enquanto uma voz cansada sussurra:
"Volte pra casa...!"
3
Por entre as nuvens o caos...
...o caos
penetra no mundo
na forma de luz...
O tempo mesmo
é um exílio
com o qual temos que aprender a perder...
Mas o espaço...!
Ah! O espaço é ainda deleite
mesmo sendo tudo
tão feio aqui...
Tempo
exílio da eternidade
Espaço
lar da existência
4
Exílio
é só o entorno do lar,
transbordar de abandono...
Solidão
é só uma antípoda do coração,
textura exilar sentida...
Ser thanos
auto-exílio em si próprio
aguardando... tudo...
& nada
5
Então
qualquer coisa pouca te cerca
& você quer só... abrigo
A chuva, a maré
a noite, o medo
o cosmos, o tesão
Qualquer coisa pouca te cerca
& você só...
quer abrigo
6
de todas as palavras
a que menos suja a boca
é dizer que 'ama'
de todos os atos literais
o que mais suja as mãos
é a liberdade
rebanhos mudos
multidões
discursando para si próprios
solilóquios
selfies
solidão
7
Parecia só
que era um amanhecer ao Oeste
Parecia
que chovia para cima
Os trovões
ecos mudos das máquinas
& a tarde só mais uma coisa linda
explodida
dentro desse lugar tão feio
Qual de repente
atinge
& se tinge de aurora
8
Que ninguém seja exilado
sem a chance de se despedir
Para além do lar
ou do teu olhar
Uma ultima chance
de se despir
9
Degredo
Dos exílios possíveis
Os dois mais terríveis
Exílio de si
Exílio da rede
Onde estamos a sós sós
Onde estamos a sós acompanhados
10
Nas lonjuras
Escalar abismos inóspitos
para longe do foço do Sol
Subir para o espaço interestelar
ao passo dos caracóis
No vácuo diamantino
congelar a opressão
& não olhar para trás
Outra estrela guarda um lar...
11
Exilar-se é também um ato consciente
uma forma desesperada
de encontrar o lar
A base do fogo
casa das brasas do cozer
Partimos
& levamos conosco
o fogo para o retorno
Acender de novo
a luz, o calor, a saciedade
o amor!
Ø
Exílio/Lar
No auge da solidão
comecei a pensar em caravanas,
& as migrações no ermo
me tocaram com o exílio,
& o exílio me trouxe de novo
expectativas do lar...
Reencontros...
Chamei de lar minha casa
a cidade, o pais, o universo
Mas apreendi & libertei
O corpo é o lar!
Procuramos outros corpos
como formas exemplares
de outros exílios...
Eu, você... nada mais... tudo...
Entender da expatriação
é conhecer a auto-política
O desejo, a paixão, o amor...
Enlaces que nos desprendem
& permitem
partir & voltar!