Isto me veio com água da chuva:
'A existência é um problema o qual devemos resolver.'
Não existe nenhuma situação na vida, seja boa ou ruim, que não fale do "problema fundamental" para o qual devemos dar uma resposta.
Tudo que acontece, cada coisa, cada pensamento, cada palavra, cada momento, é um lance no jogo de resolvermos o "problema" que somos!
O eterno retorno das mesmas situações que achamos ter deixado para trás é uma prova constante disso na vida de cada um.
Todo o Bem e todo Mal, só existe porque existimos, e toda resposta ou transformação do Mal e do Bem é um esforço, cego ou consciente, para fazer com que cessem.
Se há mais Mal do que Bem em nossas vidas e no mundo, isso se deve ao fato de que ignoramos que somos e sempre seremos um "problema esperando solução."
Os gregos (digo os pensadores, mas também o vulgo) chamaram o Bem de 'άγαθόν', ou seja, "o que possuímos" e que tem uma serventia para nós. Nesse sentido a existência é o que temos de valoroso. O Mal chamaram 'τό χαχόν', que ao final se entende como uma contrapartida do Ser, ou do Bem, como uma espécie de volição reflexiva, para se definirem ambos.
De tal feita então que chegamos à questão do "problema que somos".
Nossa existência foi engendrada de forma tal (e não me pergunte por qual força ou mistério), que se desfiam à nossa frente, cotidianamente, a questão que temos que resolver. Essa trama, essa urdidura, é feita de tal forma, que sempre voltamos aos pontos recorrentes de nossa existência, seja pela força do caráter de cada um, seja pela sorte ou azar, seja pelo puro acaso.
Pensando assim, podemos proclamar o Universo, esse "caos/cosmo maquiado", como uma máquina de produzir "somas zero", porque ao final o resultado que apresentaremos, quando o conseguimos, é aquela realização que Jung chamou de "Summum Bonum", que é a Totalização consciente de todos os fatores bons e ruins de uma psique, de uma consciência, de um indivíduo enfim, na forma de auto-conhecimento: A Resposta!
Seria isso o que Nietzsche chamou de "o Grande Meio-Dia"? A saída do círculo do Eterno Retorno? Me parece que sim!
O "Summum Bonum" é a realização do bem maior, a soma de todos os bens, sendo assim, como na relação não-ser/ser, o bem maior comporta em si o mal também, nosso problema fundamental e a resposta à ele. O interessante nessa equação é que nós na verdade não sabemos qual fator é o "bem" e qual é o "mal", e chamamos assim (bem e mal), por degeneração, principalmente, cristã, como identificou Jung, o qual sugeriu que não conseguíamos solucionar o problema por nós apegarmos doentiamente à luz, havendo que ponderar e conhecer também as trevas com a mesma intensidade.
O "problema que somos" se torna assim a "resposta que damos" ao mundo, ao rol de existências, que somadas todas, haverá uma perfeição do vir-a-ser.