27 de mar. de 2021

Æter

 

Deve ser no mínimo estranho, se sentir estranho a si mesmo... & de coisas mínimas já me cansei.
Cada vez mais me encontro com um muro de falácias que cada um ergue, & me faz delirar de rir saber como esse muro é baixo, pois é feito de coisas mínimas...
O que mais me cansa não é esse muro baixo, mas sim, tanta coisa para rir!
Enfim... O niilismo...

Encomeço... pior que ser estranho, é ser conhecido, não ter mistério em si, não ter mais porque se desvelar.
Para os homens impuros, a maior vergonha é estar nu, pois isso é coisa de homens, pois foram os primeiros a estarem nus, mas não se envergonhando diante outros homens, mas sim na frente do Deus.
Mas para os homens puros... Ah! Não existem homens puros!
Enfim... O cinismo...

Encomeço... a pureza está em algo estranho, não porque conquistado, mas inconquistável, depor, não perder, a humanidade.
Se chama Além, mas nada de além do que se possa humanamente, bondosamente,  ou anti-humanamente, maldosamente, pensar, ou agir, ou intuir...
Além do bem & do mal!
Enfim... O Fim & o Começo... Unidos em um abraço, um beijo, uma mordida...





23 de mar. de 2021

Ao Inexistente...

 

Viemos de vidas após vidas
& sonhos após sonhos
pesadelos... despertares...
Viemos de vidas após vidas
matando um ao outro
& às vezes não nos encontrarmos...
Viemos de sonhos após sonhos
nos perdendo & colidindo
Despedidas... distâncias...
Viemos de longe
pra perto sempre estarmos...
Mas nunca, ou quase sempre
nos despacharmos...
Eu tenho uma mão & outra mão
para acariciar-me
& tenho um corpo & outro corpo
para amar...
Um rosto na penumbra
que quase sempre não é o seu
para beijar & profanar
com mentiras & verdades
tanto faz...
Eu tenho um rosto na penumbra
& o seu rosto para idolatrar
Eu tenho seu coração aos meus pés
para pisar & me machucar...
Eu tenho & não tenho
você...
& como vou saber
sem ser tarde demais
à qual nascida jurar a morte que revem
antes de cair do retorno
que nós mesmo enjaulamos
na vinda & na ida
do que nós juramos ser sem saber
que os planos das estrelas eram outros...
Buraco negro na profunda noite depois da noite
Abismo na vida depois da vida
Engolindo felicidade & outros detritos do amor
fazendo de nós estranhos
porque nos conhecemos demais.


A mais alta forma de oração
É orar ao Tempo...

Contemplação pura
Da constante passagem...

Perseveramos na inquietude
Que a tudo decompõe...

Ergo os olhos ao firmamento
Que nos oprime em gravidade...

Do azul
Ao profundo negror...

As mãos encarnadas
De suplícios ineficazes tremem...

Somos uma ideia que ganhou forma
Aleatoriamente...


(Ando escrevendo poemas ao inexistente
que insiste em ser senhor de meus gozos)

(Restos de embriaguez
aditivada pela acidez dos dias de isolamento)

(O que não li em nenhum lugar
escarifico na pele digital como punição)

(Meu...
...seu)




19 de mar. de 2021

Coisas brutalmente perdidas

 

...lidando com coisas
   brutalmente perdidas...
Saudades auto-imune
   esteira de mortos
      paixão não correspondida,
& mais
    no ar que se nega seguro
      à um palmo do nariz
         que agoniza hiperventilação
Na masmorra que se tornou
   a vida cotidiana
Em remissão...

...lidando com coisas
   tolamente cedidas...
Algumas mesmas
   sem nem mesmo terem acontecido,
& outras,
   como as ruas da cidade
      jogadas para ninguém
         depois de certa hora,
Luzes acesas, janelas fechadas
   olhos abertos, portas trancadas,
A liberdade extinta...

...lidando, lhe dando, recebendo
   eternas passageiras novas chances
Através de gritos escuros
   dentro de ecos perdidos,
& coisas, seres
    fatalmente semi-esquecidos,
Nós somos sombras
   correndo atrás de cães
Que roem os ossos
   da nossa memória,
Cadáveres falidos.




16 de mar. de 2021

Quando...

 

Quando...
Quando isso tudo...
                               ...acabar!
Vamos nos encontrar...

Vamos nos encontrar?

Vamos nos encontrar com os outros...
Os outros... os mesmos?
Quando tudo isso inacabar
   os outros mesmos
       nos encontraremos...

É certo, errado, que iremos,
    não nos esquecemos
       esqueceremos,
O que passou não passou...
   não passará, não... sarará...?

Quando tudo tudo isso, passar
   acabar, encontrar, o que não passou...
      só nós seremos!

Será?



13 de mar. de 2021

Encrux

 

...em
Hipercrise
você & eu, & o campo de lixo orgânico
outrora xingado de sociedade...

Agarrados à novidade
de toda essa inquietação...
Que é tanta
que nos imobiliza
   dos pés ao coração...

Não há como expressar
a novidade da morte
& essa velha forma de viver...

Extravase a raiva
que você nem sabe que sente,
Pois assim como não experimenta a vida
    não saberá a imensa irracionalidade
       de amar, de destruir, de morrer...

Essa época é uma encruzilhada
    entre o medo & o deixar de temer!
Para o medo terá vacina
   mas para o temer... só chacina!



1 de mar. de 2021

Fraudemia

 

Fraudemia
Hipercrise
Verbo solto
Frase vazia
Não há lugar de fala
Para um "Cala a boca!"

A alta comunicação
É só uma baixa frequência
De ideias & novidades
Onde a alma vazia & desconstruída
Ganha imagem & moldura
Mas não tem conteúdo

Desertos áridos
Mares revoltos
Florestas virgens
Corpos obscenos
Não fazem mais sentido

Aprendemos apatia
Com músicas profundas
Contraimos desamor
Com livros esclarecedores
Ejaculamos desprazer
Com uma alta-cultura

E daí? Se há o ódio justificado
E daí? Se a alegria pode ser comprada
E daí? Se podem te humilhar pela casualidade
E daí? Se a morte ainda não é uma festa

Cruzamos o espaço desses tempos
No fio de uma navalha cega
Despencamos no tempo desses espaços
Sem oferendas relevantes
Aos deuses que esqueceram que estão mortos
Um brinde à única deusa que ainda vive:
Futilidade!