hoje navego de maio para junho
hoje trafego nas vias de fato
hoje voo nas asas de um origami
no vento do tempo
hoje velejo em um barquinho de papel
do sono quente para um dia frio
no céu das causas
no mar das consequências
da tempestade dos efeitos passados
para a praia calma de outros atos
hoje trafico novos poemas
hoje navego de junho para maio
Nem um pouco interessado
em divulgar ou converter...
Sem disposição
para propagar ou arrebanhar...
Longe de querer
proselitar ou catequizar...
Não esperando nada
da passividade ou do amedrontamento...
Só de passagem
pelo zoológico humano...
Sem paciência
para discutir, debater ou convencer...
Onde o mal pessoal
é tido como a verdade geral...
Não alimente
a animalidade...
Só sei o que aprendi
com a experiência do corpo entre os corpos
no garimpo do amor, nas celas da paixão
ciranda das festas, banquetes da amizade
Aprendi que os lugares mais fechados
corações, sorrisos, braços, olhos
são os que mais valem a pena ver abrir...
Na sabedoria dos corpos
Dos que nos são propícios
dos que nos são inóspitos
Cada um nos fala calado
das Delícias de se abrir
dos Perigos de se fechar...
Eu sei, há destinos & enganos
verdades, sonhos & ilusões
Lugares que podemos chegar ou não
Os destinos estão em duas condições
os caminhos até um são difíceis
fechados, perigosos, longos...
outros... não há caminhos!
Com esses não se preocupe:
-Não são destinos para você!
~...aflora afora pela flora hora solta lá fora a fauna una de meus sonhos dúbios
Varando a madrugada sob a lua pedra de moer nuvens & o pó do espaço & nossos sonhos soltos ao acaso... na noite ainda... que finda
Meteoritos chuvendo caem no chão com os restos de almas estraçalhadas pelos ovnis... tudo cai & assenta... sobre nós... plantas & bichos
Nós vamos... & vejo... florfauno cruzando o escuro da rua, não sei se era gato ou se era cão
Não sei se era pássaro cansado atrás de rato ou um pedaço solto de mato
Não sei se era um sonho meu que se perdeu por aí ao acaso antes mesmo de eu sair de casa
Nós vamos... &u a flora & a fauna... debaixo dos caprichos da lua, pela rua capacho de restos de luz moída, que caíram & decantaram como sonhos & chuvas de tudo isso que não se sustenta no ar além
Planos & faunos & plantas fugidos refugiados dos sonhos de algo ou alguém
Até o sol brotar como flor no horizonte que fará do dia o animal em busca de mais que sonhos... como nós somos...~
Em Tempo
Sempre Tarde
Pois quem tem só tempo pra vender
Nunca tem tempo pra aguardar
Cumprimos nossa parte
Em ponto nos apresentamos
Damos nosso tempo
Em troca de controlar nosso desespero
& nos pagam com dinheiro...
Ora, se "tempo é dinheiro"
O que será a espera!?
Em volta do corpo
Se desenrola tempo
Há funções para preencher
Um trabalho, uma colocação
Esse paradoxo de existir
Na máquina de gerar riqueza alheia
Tempo dado a quem não precisa tempo
& o nosso 'em eterno atraso'
É a áspera espera como prazo
...aparece algo, uma causa, na linha do tempo
...um fato histórico que sempre se repete
...é sempre algo contra outro...
...então nos põem para brigar uns com os outros
...é assim que se faz todos serem maus
...não importa o lado agora
...estamos todos errados
...defendo canalhas & seus atos sórdidos...
...a história não conta
...mas a estatistica prova
...a soma de todas as causas
...é a simples mútua anulação...
...cada um pintando com suas cores
...em um ato de amor & razão manipulado
...fatos que não são humanos
...um discurso pré-fabricado justificando o injustificado...
...em qualquer lugar
...um par, família, grupo, multidão
...até todas as nações...
...os fracos querem vingança
...mesmo não entendendo a fraqueza
...enquanto os fortes armam a impunidade
...essa é a essência do poder
...ressentidos de todos os lados
...só conhecem a prece do conflito
...uns a fazem pios em forma de oração
...os outros ímpios, gritam a narração
...antes destruir tudo, do que aceitar parte...
...o tolo pedindo punição aos tolos
...o mau em luta corporal com o mau
...o mau combatendo o mal
...o mal vencendo o bem
...& o bom, não mais será...
...é outro tipo, outra forma complexa de negação
...veja, é mesmo aquilo
...que o filósofo doente chamou de niilismo...!
& nós aqui,
esperando
o que sempre chega tarde...
Diriam os conformados:
"Melhor do que o que nunca vem!"
& digo eu:
-Do que sempre chega tarde,
a melhor parte,
realmente nunca vem!!!
Eu fui ali
dar uma volta pelas beiradas
As ruas, mais ou menos paradas
com as quadras
se encaixando pelas quinas...
(...peças esparsas de quebra-cabeça na esquina emendando quarteirões...)
As redondezas
continuam as mesmas
Mas mesmo assim
tudo está
cada vez mais diferente...
(...um beco de nada que nunca vi por entre duas casas com um vaso a florir sombras onde o sol não bate...)
Não importa que tudo mude
não enxergo longe mesmo
Cabeça baixa
com o peso das correntes na mente
Da loteria das escolhas
que todos somos ganhadores...
(...passeios ásperos novos & velhos para os pés de borracha & carne gastarem o pó que soltam & o que incrustou...)
Eu fui ali
& as coisas que só meus olhos viram
Ficaram para mim
& quem por lá passou
Estranhos para estranhos que somos
memórias para o esquecimento dos outros...
(...o ipê roxo todo pelado com suas roupas-rosas no chão vestindo o asfalto então...)
Fui dar uma volta no quarteirão
ele é maior do que o mundo
O lugar em que sempre vivi
aos poucos o lugar que não conheço mais
Estão construindo & desmanchando
& de vez em quando, vou passando...
(...o vento frio passa pelo sinal verde como os carros com pessoas frias pelo sinal vermelho, de dentro das casas fechadas só com cães acordados, o vento foge...)
Fui ali
dar uma volta pelas beiradas
Levando o meu
caminho do meio...
