10 de set. de 2012

Yoshodara

Dorme a noite da alma fêmea
Pois em teus braços repousa
   o fruto do seu amor
Aquilo que de mais belo já viu.
Dorme a Noite, pois a alma da mulher é masculina
   & a alma do homem é fêmea...

Princesa
Agora que os elefantes que não dormem descansam
Tu procuras lavar em lágrimas de abandono e saudade
A dor que só um nono caminho pode sanar,
Nem dor, nem doença, nem fome & nem morte
Podem dar a sabedoria de aceitar,
Só o prisma do desistir feminino abrange toda ventania.
Yoshodara!

Agora
   o Príncipe geme & sofre
      por ti & pelo teu filho também,
Agora
   as portas da existência são abertas
      para uma luz que iluminará o abandono também,
E nos séculos adiante
   falarão do teu Príncipe
      & tu Yoshodara será aquele detalhe
         que explicará toda a história...

Pois tu Yoshodara
És o campo de batalha & o jardim
Tu és o ventre & a fogueira
   a cova & a alcova,
A resposta: Yoshodara!
Tu a sabes no silente silêncio das noites
   em que os Budas partem do refúgio
     para o súbito fugido da Iluminação...

Oh! Tu! Yoshodara!
Que era fuga & da fuga que o fatigado fugiu,
A chave do cansaço
   & das certezas que existem para se negar
Porque para os que partem
   é preciso ter algo para se deixar
É preciso pelas dobras de tua estrada passar...

Assim, no quando o Samsara for terminar
Arrobaremos cheios de perdas corretas
   ao Nirvana dos encontros que são nada,
Pois aquele ao que muito renuncia
É aquele que muito encontrará
Oh! Nada! ...!
Oh! Yoshodara!
Reflete na beatitude e nos ensina
Se é melhor satisfazer mil desejos
   ou conquistar apenas um...

Assim não maldizemos o amor
Nem deixamos de abençoar todo prazer
Pois há esse caminho:
Yoshodara!
Caminho que só se abandona
   se em sono profundo queda a senda
Para que não se ouçam os apelos
Da ilusão que o corpo faz
   entre um amor menor
      & aquele Verdadeiro Amor
         que nós só conhecemos pela Dor.




-poema inspirado no filme "Samsara" de Pan Nalin

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