Dizem que em uma guerra quem morre primeiro
são os pobres, mas a verdade é que em uma guerra quem morre primeiro são os
jovens.
Entretanto, na existência humana cotidiana,
mas particularmente na nossa realidade brasileira, nós travamos o pior dos
combates, e neste combate a morte não distingue idade.
Nós guerreamos contra nossa inconsciência,
morremos de ignorância, matamos por estupidez.
Por que toda consciência brasileira tem que
ser pós-traumática? Por que sempre choramos depois da festa?
É porque somos diletos em cultivar nossas
tragédias!
Fazemos isso quando pensamos que a vida é
uma festa. E bebemos, e dançamos, e rezamos, e esquecemos sempre na mesma
proporção, e assim comemoramos nossa “farra do bode”.
Quando fazemos uma Copa ao invés de
hospitais, quando fazemos uma Olimpíada ao invés de escolas, quando nos
reunimos em estádios para xingar e brigar, quando derramamos lágrimas por um
time de futebol, quando dirigimos bêbados, quando combatemos crenças alheias em
nossos templos, quando compramos coisas roubadas, quando levamos celulares para
dentro de presídios, quando gastamos tanto dinheiro em cabelos e silicone,
quando queimamos ônibus, quando massacramos animais, quando fazemos casas nas
encostas, quando pomos café na veia de doentes, quando espancamos crianças,
quando acontecem incêndios em favelas, quando incendiamos os corpos de
mendigos, quando a policia assassina pessoas, quando queimamos florestas,
quando... quando... quando... Tudo se repete...
Assim, estamos sempre procurando verdadeiros
motivos para chorar.
Em nossa guerra, somos massacrados pelo
nosso inimigo, a nossa própria inconsciência, pela qual zelamos tão bem, regada
à álcool, facebook, energéticos, diversão, reality shows, leis, novelas, multas,
anfetaminas, etc.
Então, quando nos deparamos com todas as
nossas faltas de limites, impulsionados pelo desejo imenso de viver em um lugar
onde a corrupção é o idílio da morte, sua principal ajudante, nós nos
indignamos com aquilo que permitimos.
Dizem, também, que um povo consciente de
seus perigos gera um gênio, e reza o mesmo pensador que disse isso, que devemos
acautelar-nos de nos tornarmos monstros ao combater os monstros... Mas quando
somos inconscientes, quando somos tão “belos & felizes”, e nunca exigimos
limites às nossas imperfeições sociais, nossas falhas morais e nossa indignação
pós-traumática, essa nossa grande capacidade de sentirmos tanta pena e paixão
por nós mesmos, continuaremos flertando com a tragédia, seremos vitimas indiferentes
dos monstros da corrupção e do “jeitinho”, beijaremos amorosamente a morte, e
nunca, nunca gênio nenhum irá surgir onde tantas pessoas são assim massacradas
por motivos ao mesmo tempo, surreais e previsíveis.
Infelizmente somos uma princesa de um conto
de fadas que desperta com o beijo da morte.
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