27 de jun. de 2016

Os Cinco Saberes do Pensamento Complexo*

Saber Ver
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
                                                                   Fernando Pessoa

   “Saber ver é antes de mais nada saber ver os nossos semelhantes. De fato, a localização anatômica dos nossos olhos mostra que eles estão orientados para ver o mundo — isto é, para ver o outro. Todos sabemos que há certas partes de nossa anatomia que só podemos enxergar em ângulos muito precários, e outras que não podemos ver de modo algum”. (Humberto Mariotti)


Saber Esperar

Tudo de novo, tudo eternamente, tudo encadeado, forçado: assim amaste o mundo; vós, os eternos, amai-o eternamente e sempre, e dizeis também à dor: ‘Passa, mas torna!’ Porque toda alegria quer a eternidade.
                                                                             Nietzsche

   “Saber esperar não é uma condição que deriva de um conjunto de regras, de um sistema filosófico ou de uma disciplina pragmática. Tampouco é uma condição transcendente, à qual devemos nos curvar movidos pela fé. Trata-se de uma dimensão importante da condição humana, e negá-la é negar a própria essência do viver”. (Humberto Mariotti)


Saber Conversar

Só depois de se haverem arranhado penosamente uns aos outros, nomes e definições, percepções e sensações, só depois de tudo haver discutido em discussões benévolas em que a má vontade não dita a pergunta nem a resposta, a sabedoria salpica todas as coisas intensamente, quando a força humana lhe permite.
                                                                                                             Platão

   “Reaprender a conversar significa aprender de novo a utilizar nossos espaços de criação. Ou seja, dizemos o que os outros querem ouvir para que eles nos respondam o que queremos ouvir — e assim nada se aprende e nada se ensina”. (Humberto Mariotti)


Saber Amar

Oh! Irmãos humanos e futuros cadáveres
tenham piedade dos reles mortais; que
dessa piedade nasça, enfim, uma humilde
bondade, mais verdadeira e mais digna do
que o presunçoso amor ao próximo.
                                                                  Albert Cohen

   “Se o inferno são os outros, a felicidade também o é. Se não existe inferno sem os outros, também não há felicidade sem eles. Amar é algo que já se nasce sabendo. Em geral, os pais tentam educar as crianças para aperfeiçoá-las nesse saber. A inteligência é ao mesmo tempo o resultado do amor e a vertente que o faz brotar. Quem ama estende a mão. Quem estende a mão prepara-se para o abraço — e não se pode abraçar a quem não se ama.”. (Humberto Mariotti)


Saber Abraçar

Joga teu pesar no abismo!
Esquece, Homem! Esquece, Homem!
Divina é a arte do esquecer!
Queres voar,
Queres habitar as alturas:
-joga o que mais te pesa no mar!
Aí está o mar, joga-te no mar!
Divina é a arte do esquecer!
                                                                                                   Nietzsche

   “Para saber abraçar, é preciso antes saber amar. Surge então a pergunta: o que será que eu preciso ver no outro para que possa sentir vontade de abraçá-lo, isto é, tornar-me solidário com ele? Em primeiro lugar, preciso ver a mim mesmo, e é por isso que devo evitar projetar nele o que não desejo em mim. A maneira como vejo o outro depende mais de mim do que dele, isto é, como trabalho o meu ego e dos resultados a que chego”. (Humberto Mariotti)


[* A partir de H. Mariotti: “Os Cinco Saberes do Pensamento Complexo - (Pontos de encontro entre as obras de Edgar Morin, Fernando Pessoa e outros escritores) in: I Ciclo Multiplicadores de Cultura de Paz nas Políticas Públicas ConPAZ conpaz@uol.com.br]


/rompendo o muro/

16 de jun. de 2016

Às vezes ainda me perguntam para que serve a filosofia?


Crianças

   “Certo dia passeava com minha filha em um Shopping e passando por uma loja de brinquedos ela insistiu para que eu comprasse para ela uma linda boneca loira de princesa...
   É claro, não comprei!
   Fomos depois a uma livraria e comprei um livro para ela, na loja de música comprei um CD e depois lhe comprei roupas.
   Gastei mais do que com a boneca, mas afinal, o que se gasta com filhos é investimento, e ela começou a gostar de ler, ouvir boa música e a se vestir com bom gosto.
   Então fico pensando em que um pai que realmente ama um filho deve investir:
   Em um ser humano que veio para brincar com a vida e crescer, ou um que nasceu para crescer com a vida brincando com ela?”


 Adultos?

    As pessoas se preocupam muito com brinquedos, discutem até sobre a cor da “pele” de bonecas, fazem um escarcéu a respeito de que bonecas ou carrinhos servem para doutrinar futuros adultos em seus padrões de comportamento, dizendo até que são degradantes, que bonecas, jogos de chá e utensílios domésticos de brinquedo são para ensinar as meninas a serem mães ou donas de casa, e que carrinhos, bolas ou armas de brinquedo servem para moldar um trabalhador, um jogador de futebol ou um soldado ou assassino... 
    Creio que o que molda as pessoas é a Educação, mas mais ainda as ideias que compartilham, adultos e crianças, e não os ideais, que tentam nos impor. Os ideais servem apenas para fazermos discursos raivosos ou resignarmos com a realidade, porém as ideias são libertadoras, desde que saibamos educar uma pessoa para que elas tenham suas próprias ideias, independentes com o que brincam...
   A maior e mais forte ideia no mundo é que alguns podem dominar a vontade da maioria, isso se chama política. Tão perniciosa, que já foi dito que de todas as artes humanas, a política foi a única que criou monstros... enquanto as outras criaram maravilhas!
    Fico vendo essas crianças crescidas, cheias de seus ideais esperneando com suas frescuras na internet, querendo provar que são adultos, defendendo erros crassos, mentiras, defendendo bandidos. Com certezas elas brincaram de bonecas quando crianças, e brincaram com carrinhos e armas de plástico... se eu for seguir a linha de raciocínio que como querem, levam à alguém imaturo!
    Pois são poucos que realmente tiveram pais como mestres, e logo quando cresceram foram buscar um pai ou um ídolo cheio de certezas, foram buscar um lugar-tenente, um pequeno sargento para comandarem suas vidas fúteis e canalizarem sua incapacidade de pensar livremente, seu medo da vida, se escondendo em ideais de rebanhos, na força bruta das multidões.
    Muito tarde amaram a sabedoria (se um dia realmente amaram), se enamoraram de bons livros e uma boa cultura, e quando pretenderam estar recebendo educação superior, estavam sendo doutrinados, pois não há diferença de lojas de brinquedo com a sociedade competitiva, tudo é feito para nos manter infantilóides, bobões!
    Agora, quando nossa sociedade esgotou-se em suas barbáries, e as continuará a repetir para todo o sempre, desolados correm de volta para a barra da saia da mamãe mandona e do papai canalha, esperando um ato de violência que justifique de novo a paz de consciência de não poder mais mudar o mundo, pois trocaram a chance de fazer isso por um punhado de diversão, ou pelo menos por bilhõe$ de reai$ que podem comprar brinquedos e confortos na vida.
    Voltando as costas para a sanidade, mesmo porque só é sadio mentalmente quem viveu crescendo e brincando, se dedicam de novo à farsa maior, à ingenuidade perversa, de viver sendo brinquedo e brigando com tudo.

    Eu sei que as coisas serão melhores no futuro, pois não depende de um político ou um facínora me dizer que posso melhorar minha vida, não preciso da permissão deles e nunca dei permissão à eles me dizerem tais coisas, mas sei também que quanto mais continuarmos a querer depender dos “grandes homens e mulheres”, os insaciáveis, mais vai demorar a chegarmos em um lugar melhor.
    Como uma criança que teve uma boa família, um bom pai e uma boa mãe, sou livre para acreditar só em mim, tenho minhas ideias próprias, pois tenho conteúdo!

   Fora Temer!
   Fora PT!
   Fora PTemer!
   Fora PoliTichiqueiros/SDB/SOL/RB/TB/DT/ETC!



Que entre a Sabedoria. Sempre foi bem-vinda!

7 de jun. de 2016

Alhures incomuns

A verdade dói
porque
as aparências enganam
&
os números não mentem.


Lugares comuns
Clichês repetidos
A vergonha das palavras
A frieza matemática

O números não mentem
   pois não tem aparência;

As aparências enganam
   pois não enumeram o irreal;

A verdade dói
   pois ela é usada para enganar
      com números e poses
          estatísticas e propagandas.

Tudo é mentira
Quando a mente vai
Dormir o sono do acordar
Em passividade e ira.

...p0es1a  numér1ca
fera bela...
 ...núm3r0s  1rrac10na15
beleza onipresente...


Ah! Como dói!
Justiça & espelhos
Ah! Como dói!
Essa dor de aprender com os erros...

Arte que não me prende à nada
   nem ao espaço & tempo
     nem ao comum & banal...


1 de jun. de 2016

Passaporte-ParadoXo

&nte do não-ser,

Sou um romântico
     sem ninguém para amar...

Filósofo irracional,
     poeta da feiúra.

Durmo de dia,
     vivo à noite.

Meu prazer está na exaustão
     & se choro é para alegrar as horas tristes.

Rio de mim mesmo
     & não acho graça na comédia da vida.

Para mim nada é sagrado,
     mas o mais sagrado é a mulher.

Escuto músicas violentas
     para apreciar seu silêncio quando acabam.

Sonho para provar a ninguém
      que a imaginação é melhor que o real.

Sou um comunista egoísta,
     um socialista solitário;

Creio nas fronteiras
     tão quanto for
          a maldade dos homens ali cercados.

No meu passaporte paradoxal
     estão as chancelas de estrelas
          dos mundos imaginários que visitei.

Creio na alma
     quando na imensidão
          do impacto da carne sobre a carne.

O meu Deus tem como anjo
     o sátiro que disse
          que o melhor para o homem é morrer.

Meu caminho, um arco-íris,
     que sigo como um mapa de nuvens cintilantes
          & multicoloridas em cromo negror rumo ao me perder.