27 de mai. de 2019

Nós & Eles

Nós, que não sabemos
o que fazer com os anjos...
Somos felizes
pela felicidade dos outros...
Mesmo na tragédia
enxergamos a comédia...
Só os anjos não entendem
que a vida não tem sentido...
Eles não vivem
apenas existem & obedecem...
Nem todos eles!
Nem todos nós!


13 de mai. de 2019

Nada basta

Não divido com ninguém meus dias tristes,
Eu os saboreio, dieta de fome, 
Servido em funerais, orgias & carnavais...

Não divido com ninguém meus momentos profundos
Eu os sorvo, ar de afogado,
Arfado no éter, abismos & vulcões...

Não divido com ninguém meus sonhos contigo
Eu os revivo dias a fio, navalhas,
Sofro, alegro-me, me desespero...

É porque tenho carne para cortar 
tenho coração para sangrar
& espírito para sentir
Estas coisas para as quais
nada basta...

6 de mai. de 2019

O Lado Selvagem

Um passeio pelo meu lado selvagem
são árvores visitando
paragens de carne,
Rios de sangue, mares de lágrimas
ossos meteóricos,
tempestades seminais...
Um passeio pelo meu lado selvagem
são crianças incendiando
éteres genéticos,
Negando o carma,
empoeirando as valas
que se abrem antes para própria cova...
Não há canção,
só o silêncio cheio da selva,
Algo meu, nosso, seu,
que vai
aturdir a paz!


3 de mai. de 2019

Momento

Nada de fantástico acontece na realidade,
de miudeza em miudeza se solapa
o que devia ser grandioso...
A existência! Esse grande momento!

Uma supernova não explode,
as naves não pousam, os anjos não surgem,
os deuses não descem, eu não te encontro,
não há ninguém apaixonado no jardim...

E o pior: inventaram a repetição,
estupidificaram a liberdade,
suprimiram a expressão,
 falsificaram a felicidade,
roubaram o tempo, compraram a rebelião...

De normal em normal tudo vai piorando,
se chama entropia, se chama mediocridade,
essa grande correnteza de ignorância
a nos pacificar...

& o momento passa... Tudo des-existe enfim!
& pensar... que só precisava de um momento!


2 de mai. de 2019

Que Seja Maio

...os dias vão acordando mais tarde
& indo dormir mais cedo,
Mas particularmente hoje...

Que culpa temos
se o dia amanheceu azul
& não há nada lá fora
que lembre nossos corpos nus
A não ser o frescor da hora...

& pela fresta onde a luz penetra
até nossos corpos na penumbra
entra também o fim das arestas
entre o meu & o seu
jeito de ver o azul...

É tudo cor inteira
& todo fim de barreira
O suspiro que decreta
a manhã que chega
& o fim da noite
Já não há nenhuma culpa...

...de ser muito tarde
ou muito cedo
para nos a-cor-darmos...