31 de out. de 2019

Comedores de Sementes

Da fruta
o seu porquê
Às vezes comemos
mas devíamos plantar

O artifício do sabor
que com mordidas
Leva até a semente
não para na boca, procura melhor lugar

Estéril o cuspe
fará achar
Entre mordidas & a língua
sonhar com o germinar

Comer do teu corpo morto
& beber do sumo agridoce
Separados da raiz
para errônea digestão saciar

Quando teu verdadeiro gosto
está na semente
Que as vezes falha, outras aflora
& quero sempre lembrar tal paladar

Oral é esse intento
Se te beijo onde penetro
Onde planto
Onde enterro-me

Oral é o beijo
A palavra verbal
A fruta análoga
Ao que na cópula ora

Não passamos de fruto
A procura da flor
De ir, voltar
Entornar...



30 de out. de 2019

Meu _ _ _ _ Nos Tempos de Cólera

Chegamos ao ponto então
de falar do _ _ _ _ como doença,
Reconhecemos o que há de doloroso
em estarmos próximos.
Quimioterapia
para a falta de química,
...no cólera ou na cólera...
Coisa tal, que para se purificar
há de se poluir
a memória, o presente,
o querer...
Disso que não tem cura, que mata,
como sobrevivemos?
Talvez estejamos mortos
& não sabemos!
Urge tomar consciência,
como remédio,
porque só os mortos
não morrem mais...

29 de out. de 2019

A Ferida

A ferida,
essa coisa desde sempre
aberta.
Com ou sem fé nessa ida, alerta;
Busca
brusca, bruta & tal.
Fendida
exposta, crua & nua,
além do bem & do mal,
abrigada por mim
& por você tocada, sem querer ou saber,
em uma noite de sol(ida)idão...
Apogeu
no lugar mais baixo,
Centro
fora do círculo.
A ferida
fé & ida na vida,
Queda
obrigada à despedida.
Encontro, partida.
Dela sangra
a dor, a lida
do conhece a ti mesmo
até o esquecer de si,
do sentir além do limite, da medida.
A ferida (sinônimo de paixão)
é a própria cura (cuidado)
& a cura o próprio ferido (apaixonado).
Porque quem tem a grande ferida
só está bem com a solidão
até fechar... sobre si mesmo
& abrir uma outra mesma lesão.
A ferida
a flor em fulcro & o próprio espinho...



25 de out. de 2019

Vazão

e s  v   a    z     i      a       r
m e n t e
c  o  r  a  ç  ã  o
c    o     r      p       o
não procurar novos tempos
mas novos  e s  p    a     ç      o        s
l i b e r t a r - s e  da própria liberdade
e s q u e c e r  de  esquecer
fundar a função
para o que não tem  f  o   r    m     a
& fazer do sem ti (mento) v a z ã o


24 de out. de 2019

Ontologia

I• QUEDA
Ali eu toquei
no fulcro que a vida faz envolver
ao acaso dos casos do belo caos...
O amor, que nunca mais direi,
me ensinou enfim
como é o anti-gozo de uma mulher...
& no grande mar de desprazer
que se abre aos nossos pés
melhorei um pouco, convulsionando...
Antes queria beber o oceano
queria caber no nada,
eu que tinha medo de me afogar
eu que tinha pânico de falta de ar...
Então aprendi o que é não ter chão
o que é um dano psicológico
o que é ter consolo dos mortos...
Ali eu toquei
& nunca fui tocado,
apenas convidado a sair.

II• KEHRE
De volta
à um pensamento destrutivo
vindo de fora...
...
O mundo justificando a fogo & sangue
o quanto o mais forte não se importa
o quanto o mais fraco pode ser desleal
o quanto o comum pode ser estúpido também
...
& ainda temos que pensar
em termos concreto
& ainda temos que caber
onde o outro está bem a vontade
Você na alegria, eu na tristeza
& ainda...
...
Cuidado com o homem comum
Cuidado com a mulher extraordinária
Cuidado com a criança mimada
Cuidado...
...
O mundo cada vez menor
quanto mais longe enxergamos
A vida cada vez mais miserável
quanto mais riquezas descobrimos
O espírito cada vez mais depredado
quanto mais buscamos o Deus
As pessoas cada vez mais solitárias
quanto mais podemos nos encontrar
...
Tristeza sem fim
Alegria instantânea
Fúria obsoleta
Concórdia artificial
...
Sair do mundo, desaparecer
assim se faz o caminho do sábio
Deixar para trás, não carregar
o peso mais pesado
...
Nunca mais ----
Nunca mais escrever a palavra ----
Nunca mais pronunciar a palavra ----
Nunca mais sentir ----
Nunca mais mais mais...

III• SER
Antes de você
eu era o que era,
uma linha continua
das coisas que (des)acreditava ser.

Com você fui algo diferente,
nem eu nem outro,
só um ensaio rápido
de ser dois & ser um;
& que agora não sou mais,
posso negar querer & querer ter sido.

Então era uma vez...
o que não fui & o que sou,
agora somente um ser
sobre ser até não ser mais
& poder estar pronto para o vir-a-ser...

Na sua lógica de vida normal
anulo meu ser, vida que cegue-me,
para caber no rasgo escuro de saída
de todo esse entriste-ser!



22 de out. de 2019

Vício

É um vício amanhecer
...acordar
& no coração desejando
que uma tempestade caia...

Andamos no meio do nada
querendo tudo,
Ouvindo os tolos,
convivendo com mortos...

É uma fraqueza adormecer
...repousar
& nos braços faltar
aquilo que se adora abraçar...


20 de out. de 2019

Ditos desse Domingo

A distância
preenchida com 'l ê - t r a z'

Compomos poesias
mesmo sendo pessoas comuns

Amamos
para além da vulgaridade

Não somos confusos
somos confundidos

Entendemos que nada passa
se acrescenta & fica diferente

Erguer a cabeça não é esforço
é vital

Nós na garganta
são presságios de choro

Mas o choro
contém a química contra a acidez

Só o que é vivo
tem relevância entre si

Procure a graça das coisas vivas
não as esmolas do que já era

O tempo é precioso
nele está a condição de se importar

Fora de suas opções
está o que não existe

Mova-se se for preciso
mas o importante é saber dançar

As verdades que não precisam ser ditas
podem ser desculpas para nossa mediocridade

Compreenda o momento
adentrando no sempre

Compreenda o sempre
como o necessário a superar

O ponto fraco não se rompe
abre-se para deixar algo sair

Quando estiver confuso
escreva

Quando estiver claro
cante

Não seja como os que se calam
pois o silêncio grita

Somos som
tentando ser cor(&)ação

Sendo assim aqui pulsa
algo que bate para quem ouve & vê

& para se ver
é preciso estar ao alcance

Cheguei
a você?

dias seguintes


...as manhãs de domingo rompem com quietude todo desassossego que se germinou na noite... 
....como se dissesse que “o ontem nunca foi tão ontem”, dele há de vir algo de bom... 
...o que se cruzou sem querer pelas ruas será sinal de sobrevivência, mesmo o coração tendo disparado & a indiferença se mostrado... 
...eu não corro de você... 
...afinal, somos especialistas em perder tempo... 
...mas sou melhor ainda em querer bem... 
...pois tem algo maior que o amor, a capacidade de amar...!



19 de out. de 2019

Livro


Insônia Insana


Eu perco o sono
por causa de um pesadelo
que não me lembro...
& abro os olhos
para não afogar
no calor da noite...
Penso se em algum lugar
o mundo está acabando
& descubro que esse lugar é aqui...
Olho pela janela
& há luzes no céu
sonhos alienígenas invadem a Terra
& nunca mais haverá você & eu...



18 de out. de 2019

Vontade de Potência


Se pelo menos a morte fosse irracional...
Se todo fim não tivesse sua lógica interna...
Eu lançaria a sombra do coração (que não é aquele bate & nem apanha) sobre tudo & a vida seria puro sentimento...
para além do bem & do mal...
Eis minha Vontade de Potência, nua!



17 de out. de 2019

Encontro

Lembro do espaço ficando pequeno, o chão tremendo, o caos se instalando, as luzes não iluminando... Lembro de pegar sua mão & nos olharmos enquanto andávamos até o anonimato da multidão... Sem sorrisos, sem ansiedade, só desejo, em uma seriedade de paixão explodindo, enquanto entravamos no meio das pessoas... Lembro de te abraçar pelas costas & de beijar seu pescoço, sentindo sua rigidez de mulher madura... Lembro de sentir seu corpo girando entre meus braços & sendo apertado pelo meu abraço, enquanto me abraçava também... Lembro do silêncio que fazíamos & da sua boca chegando perto para o primeiro beijo... & depois o tempo que parou, uma eternidade de carinho... Muito tempo depois... Lembro de emergir desse mergulho & olhar nos seus olhos & como confundi seu tesão com tristeza... O que pensou de mim?... Lembro que você tocou minha face em um carinho sincero & eu tateei seu pescoço & cabelos, agora sem tristeza no olhar, só entrega...  Lembro então de outro longo momento de eternidade dentro de outro beijo, & como tudo desapareceu de novo em volta, enquanto a multidão em que estávamos dentro se dispersava... Lembro que foi como acordar de um sono profundo sair desse outro beijo, & te olhar nos olhos novamente, perdido procurei água enquanto você partia na brisa noturna... Não lembro de mais nada, só que talvez, esse foi nosso momento mais sincero, sem palavras, sem promessas, sem conversas, sem medo ou pudor, apenas encontro... enfim!


16 de out. de 2019

Pós-Amor

Isso é
Pós-amor
Morto
mas sonhando
Vivo
mas escondido
Acontecido
sem ninguém saber
Dito
& não entendido
Iniciado
& não consumado
Resto
querendo ser parte
Ferido
mas de pé
Tortura
sem lesão
Amado
sem mais poder estar do lado...
É isso
Pós-amor
A pior
das melhores coisas
Ou, a melhor
das piores coisas que pode acontecer?
Perdão
onde ninguém errou!

("Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor." -Camões)



15 de out. de 2019

🌹

Tenta-se matar a flor
sob o peso do silêncio
que inquieta o coração,
Joga-se ela de novo na sarjeta
esperando que seque
com o fogo de antigos pecados,
Ou lhe retira o hálito
sufocando-a de palavras não ditas
& gritos não dados,
Mas...
Não se mata uma flor,
apenas se esquece do seu perfume
desencanta de sua cor
& do veludo da pétala,
Na aridez da distância
só fica o afinco
com que o espinho perfura
& a lembrança do tremor
que o colibri nela causou
quando sugou de sua essência.



14 de out. de 2019

Pøsteridade

Exausto,
da história que repito
para mim mesmo: o Passado!
Futuro... então?

Exa(us)to!
As entrelinhas dissonantes
entre meu verbo
& seu silêncio...

Tudo que tenho agora,
do corpo à palavra,
é irrelevante...


12 de out. de 2019

Em Cruz Ilhada


eu te conhecia de algum lugar
não era no espaço
& nem no tempo
era do amor & da dor
futur@s
fraturas
nesse encadear

de dias & noites sem sentidos
desde então

aos pouco retorno à velha rotina
o caminho para a cova

vamos juntos
ainda um tempo
até a rota nos separar
arrota indegestão
do caos & indiferença
a nos cercar

logo logo esqueceremos
quem primeiro com certeza
aquele que mais tem a perder
enterrar lembranças que nunca aconteceram
é tarefa dos fortes
& você é mais do que eu

eu te conhecia?
não, somente cruzei com você!
ninguém cuidou de ninguém
& vamos mais rir do que chorar
há essa coisa entreaberta a se desprezar
indiferença & caos a exalar

& me pergunto...
como formulamos as mentiras
que necessitamos para seguir em frente?



11 de out. de 2019

Aborto

experiências
de amor & morte...
qual trilha
que não tem chão...
não tem peso
mas pesar...
ser abortado
do meio de suas pernas
segundos antes do gozo...
& procurar forças
para cobrir a vergonha...
& da lição que fica
endurecer o coração...
nessa exaustão de dias afins
purgar o próprio amor em involução...
se nada acontece por acaso
só posso entender essa dor
como tendo me livrado
de um grande mal...



10 de out. de 2019

Raiz & Fruto

...poesia inicia com algo já pronto,
é como uma semente com a planta já crescida,
raiz & fruto...
é como a carne já comida & defecada;
A poesia não se escreve, emana
de uma dimensão de onde ela salta:
o vazio quântico
do "com-pôr".
_
Não há palavras nas poesias,
disso elas estão vazias........
Elas são feitas de pedaços partidos
de espaço-tempo de imaginação,
existências & durações trincadas
& mesmo eternas, elas fenecem
& morrem... porque o poeta morre...
(A musa não!)
_
Porque quando canalizo essas linhas
tão retas como teso fico,
me angustia como o inconsolável clímax em que quero sempre estar...
& não posso!
Tudo que o nó na garganta,
o calor no peito,
& o pau duro
não podem junto sanar...
_
A insanidade consome
o pouco de razão que ainda há,
Nas conjunções verbais,
nas palavras dispostas a rimar
& penso:
"Não é possível ser só isso!
Deve haver mais... ar"
_
Pois se tudo cabe no poema,
ainda não comporta o silêncio
nem o nada que não há como dizer.
A físio-lógicka de um poeta repousa
entre a Raiz & o Fruto,
algo a se esquecer.......
Árvore que caminha
com seu corpo-sem-órgão!



8 de out. de 2019

Barco Fantasma

Vou sair essa noite,
a tempestade me convoca...
Navegar nas ruas da cidade
por entre a tormenta
de asfalto & faltas...
Vou sair essa noite
antes que Júpiter colida com a Lua
& beber do cálice de estrelas derramadas...
Não será manhã antes de achar
o tesouro escondido
nos confins desse agreste
mar do amar...
A sereia que persigo
me atrai para ruína
lá onde naufraga a saudade dela,
um bar perdido no convés da solidão...
Vou sair essa noite
para no nada vergar,
a tormenta não incomoda...
Só careço de um porto para chegar
ou o fundo do sentimento oceânico
para me afogar...


7 de out. de 2019

MultiSim

Se não sou eu quem pensa, quem é que faz as perguntas? Quem é que duvida? Quem se desespera?

A não ser que... Não há desespero porque não há nada a esperar... Não há dúvidas porque não há certezas... Não há perguntas porque não há respostas... Não pensamos porque não existe o 'eu'!

"O não-ser gera o ser", então não somos um na multidão, somos um 'multi-não'; às vezes sujeito, às vezes objeto, nunca ação, sempre reação!

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Estava caminhando no parque ontem então teve um momento que me deu uma saudade tão grande do meu pai... uma coisa próxima ao desespero e comecei a chorar, ainda bem que estava de óculos e ninguém cruzou comigo, deu vontade de sentar...
Então eu vi um gato correndo no meio das folhas, e apanhando algo, um animal menor, estava caçando, foi incrível, pegou, matou e saiu contente, superior com a presa na boca! Achei que ia ter uma síncope, até a luz do sol mudou de cor, então comecei a entender: somos essa constante negação, caça e caçador! Negamos a morte, negamos querer ter que terminar qualquer coisa, a vida, um namoro, um mal hábito, uma virtude, a fome, etc. Não temos condição psicológica forte para sair de um movimento de inércia, vemos as pessoas fazendo o que fazem, e nos perguntamos como é possível elas serem assim, mas é apenas inércia, hábito, então para romper com isso é difícil, porque só podemos romper em nós mesmos, os outros continuam. Cada um por si! Caçadores e caça! Mas no fim "o fim" pega a todos, e ainda somos tão orgulhosos de tão pouca coisa!
É onde entra o fluxo de pensamento, ele não cessa, pois vem do mundo fora de nós, dos signos alheios, a mente é só esse canal de recepção que capta tudo, então também talvez não seja nem o pensamento que nos invada, mas certas convenções da linguagem, do verbo, da nossa reação já programada ao mundo. Uma grande ilusão enfim.
Então a grande questão não é de onde vem o pensamento, mas algo mais prático: como parar de pensar?!?!
No budismo ensina que só se para de pensar... pensando!!! O que quer dizer, "pensar em uma coisa só!" Concentrar! E talvez essa seja nossa tarefa, vir para o centro, o presente...
Isso é a grande tarefa amigo, não fugir do passado, das lembranças, das saudades, mas saber que elas não são mais verdades do momento, são importantes, mas passaram, agora, pela nossa sanidade, temos que nos encontrar aqui agora, no único lugar no espaço-tempo onde é possível realmente agir, parar de pensar, ser feliz! Ser um único e "multi-sim", um pacto com aquele poderoso Amor-Fati!



5 de out. de 2019

Butim


Passe aqui para pegar o que deixou
as farpas já cegas
desses espinhos estéreis
com os quais me machuco,
Passe aqui para levar o que nunca foi meu
o teu calor (que se tornou frio)
a tua saliva (que secou)
o teu perfume (que sumiu),
Passe aqui para buscar o que trouxe
as músicas que não consigo ouvir mais
as mensagens do whatsapp
as conversas geniais,
Passe aqui para extirpar o que plantou
o carinho que agora simulo
a lembrança do peso de seus seios
a porta da percepção que abriu,
Passe aqui para negar o que perdeu
um amante a mais
um sonhador a menos
um realista que o mundo ganhou,
Passe aqui, ou melhor, não passe, não há ninguém em casa, não há alma nesse corpo
siga em frente
hoje vou buscar consolo
em coisas piores...
Porque o que cada um carrega
não é pesado nem leve
é apenas o que cada um consegue suportar...
tudo ou nada!



Outra Dimensão de Si Mesmo


É difícil no amor, o verdadeiro amor... Pois não procuramos alguém, mas uma dimensão mais profunda de nós mesmos, & ninguém é responsável por suprir isso para outra pessoa, nem mesmo entre iguais!
Eu entendo, eu entendo... & vou acabar me convencendo com as desculpas que eu criei para justificar a ausência dessa experiência que procuro, ou não, pois não se trata tanto de convencer, mas acreditar!
Quando você é um amontoado de teorias que se defronta com um grão de realidade, isso te queima como se fosse folha seca... & você se sente o nada que você não é, mas mesmo assim sofre!
Como é tolo se expor assim... Mas há algo nessa tolice que não troco por coisa nenhuma, nós vamos transmutando experiências ruins em serenidade na medida que vemos que não se morre de coração partido. Mesmo sendo difícil de entender quando o "amor" se confunde com "há morte"!
Então sigo... A mente não flui em sonhos felizes quando está fixa em tristezas reais. Apenas deixar passar, porque não há nada mais justo na vida do que o resultado daquilo que não se fez por mal, & os fatos conseqüentes são testemunhas de quem foi magoado como se fosse brincadeira; pois sabemos, tragédia & comédia são simulações próximas!
Quem ama não tem abrigo, tem abismos... & já devia ter me acostumado com isso, & eis que o que preenche abismos são vazios, & de cada vazio colecionado, prova o quanto se tem capacidade, & coragem, de amar!
Não perco a certeza de entrar naquela dimensão, outro ser, que emane não só Éros, ou sequer Ágape, mas principalmente Philia: Amizade!



3 de out. de 2019

Mantra

O nunca dito
Nunca falado pensado ouvido sonhado
Nunca repetido
O nunca atado
Nunca reconhecido extirpado vivido morto
Nunca decidido
O nunca visto
Nunca revolvido decepcionado preso
Nunca ferido
O nunca esperado
Nunca solto envolto encarado sorvido
Nunca entendido
O nunca nascido
Nunca abortado sentido traído odiado
O nunca curado
Nunca exposto guardado fadado celebrado
Nunca bebido
O nunca transcendido
Nunca procurado querido aceito perdido
Nunca amado até o fim
desse mantra
de nuncas & nada...
Naaamu...

2 de out. de 2019

poesya surreal: α

Quem sonhou sangrou, &
eis que verte dessa vulva onírica
sacrilégios da imaginação...
Do monte que escalou ao inverso
desça pelas crateras de uma obsessão...
desculpe não ter te ferido!
Tem um nome que quase desdigo
ao mendigar tua atenção,
ele contém todos os sorrisos &
frustrações...
Clara óvulos em gestação
no incubus que de ti fugiu,
partiu quando irrealizou no real
o beijo que nunca demos,
& Ana, como bendigo o nosso não-encontro
& não ter te magoado
mesmo sem querer...
Pois quem sonhou sangrou
mas quem não sonhou
nem delírios contigo
teve.



1 de out. de 2019

Pazlavras

Nunca precisei tanto de novas palavras...
Para c/f:alar o absurdo,
para f/c:alar o desassossego,
para gritar & esvaziar o coração!
Nunca precisei tanto de provas faladas...
& encontros raros onde o olhar dirá tudo...
Palavras nas quais vale a pena insistir... não desistir...
de viver & fazer sentido...
Novas formas de dizer velhas idéias
só podem vir da boca de quem
nunca nos fez mal... ou bem... mal...
Palavras que não se precisa falar ou calar... mas demonstrar...
& não ser monstruoso...
Palavras que parem de lavrar nossos sepulcros
& construam nossos pomares sensoriais,
que plantem nossos jardins verbais...
Palavras em devir... palavras-afeto...
palavras-humanas... palavra-descanso...
palavras-dançantes... palavras-luz...
Palavras-atos nas bocas & fatos
de pessoas que sejam responsáveis sentimentalmente...
Que nossas bocas falem mais
& encontrem quem ouça
Palavrasas... Palavramigas...
Palavralmas... Palavramor...
Até as palavras se tornarem
pazlavras!