15 de jan. de 2020

O poema

Brutos embriagados
em bar algum da cidade
Com tesão em corpo nenhum
mas na voz que declama suas palavras
Como se fossem desejos inauditos
de um ato inaudível
que acontece um público
& ninguém vê.

Falamos flores gozando espinhos
Dizemos amor impondo loucura
Gritamos tudo flertando nada
Escrevemos palavras cravando silêncio
& sentidos totais na precariedade
do absoluto...

nem tanto o que sinto
o que dói sentir...
nem tanto o que expresso
o que não me envergonho
de expressar...

Não se constrói poemas
Destruímos o mundo
Distribuímos problemas
Na caridade do belo
que ninguém atreve... enxergar!


14 de jan. de 2020

Psicografias

Os sonhos trazem
a tristeza dentro da tristeza,
Linha temporal que não trilhei...

Vai & esvai
possibilidades incompreensíveis
& sedutoras,
Um chamado ao repouso de vir-a-ser...

Eu vivencio
todas essas fugas desse mundo oco
dentro de um desmundo total
de mim, meu...

Muitas vezes penso que seja
inspiro-culpa do cinema, da TV, da internet
Interferências de ondas
de trans-missões com a mente...

Mas pode também vir de longe
dentro, infância eterna
a reverberar retornos,
Como uma insistência em não deixar
a inocência...

Sonho, pensamento, imaginação, mirações
no caldo carnelétrico da biosfera
& além...

Disso emerge a poesia
como uma dobra de incômodos
da inteligência natural turbinada
pelos desassossegos dos sentidos...

Nisso ouvi, dentro do sonho
que não há nada mais profundo
que a tristeza dentro da tristeza
Porque ela carrega uma alegria que morreu
& será sempre possibilidade & luta
para ser Feliz novamente.


6 de jan. de 2020

Janeiro

Fino véu...
sobre os telhados...
...Condensado o céu
...na camada límbica
Espessura nada...
sem nada dizer...
...Agora & sempre
...novo amanhecer
Sempre tudo o mesmo...
eterno refazer...



2 de jan. de 2020

Nosso sentido...

Confeccionando algo onírico
entre o sonho & o pesadelo,
Uma teia de des-destinos
entre o que sinto, expresso & vejo,
Pois se de Deus a última coisa que tivemos
foi o exílio,
De nós mesmo, o que só podemos fazer
É dar à vida nosso próprio brilho...
Logo, como por acidente
o blackout chegará,
Deitaremos nele, sem contragosto
pensando que tudo está normal,
Pois repousando na onda,
no sono da multidão,
Não seremos capazes
de enxergar nem a escuridão...


1 de jan. de 2020

Ponto de Partida

fluindo... descolado... deslocado...

curva do tempo
dobra da década
começo de ano

Sem ocaso, sem aurora
dormimos tarde, acordamos cedo...

O tempo rola... dobra sobre si
& pesa para nos empurrar
O corpo acumula essa tensão
transforma tudo em carne
& no perigo de inexistir...

Viemos do ponto para o qual vamos
& nada pode nos impedir
de chegar até lá...

Hoje temos vagas lembranças
do ponto de partida dos outros
Mas do nosso mesmo
a memória esconde...

Não paramos
Nem por isso avançamos
Não acumulamos tempo
A vida é uma contagem regressiva...

deslocado... descolado... fluindo...