31 de dez. de 2020

Ponto Final (Meia-noite é algo sem sinônimo)

 

É assim que se atravessa a Meia-Noite,
com o sono nas entranhas
& o sonho na boca
como um beijo sem ter para quem dar...

É assim que se faz um Dia,
com abandono do que passou
& a incerteza do que virá,

É assim que se faz...

É assim que se extravasa a Meia-Noite,
com passos breves para pisar em espinhos
& com explosivos nas mãos
para se derrubar o muro do amanhã,

É assim que se desfaz um Dia,
com o pouco que sobrou
de todas as noites que passaram
entre a solidão & o refugo
de qualquer desprezo na madrugada,

É assim que se refaz...



24 de dez. de 2020

Natividade

 

Ah! Eu me lembro,
reflexos na água negra do poço de sacrifícios
Eles tentando bater com paus
   nas estrelas,
Tentando as mover
   alguns graus
      no céu infinito...
& jogavam cuspe no Sol
   para diminuir seu calor
      & ofuscar seu brilho
Que fazia chover
                                 fogo & gelo
sobre uma terra sem amor...

Ah! Eu me lembro,
lembro para esquecer
   que o amor é feito à força
      de um olhar no corpo alheio,
Para que aquilo tudo
   signifique alguma satisfação
Só não sei com o que!

Então eu me lembro,
   quando o mundo acabou
Como só havia sobre a face da Terra
    pessoas alegres & sós
Alegres com o imenso nada que conquistaram
   & ao qual decidiram se abraçar
      para se afogar na falta de ar
& inutilidade de seu falso amar...



17 de dez. de 2020

Rotante

 

Vasto campo de nada
   em quase tudo de cores & formas
      & desejos...
   repousando no vento
      quase calmo
& hálito dos tempos...
A mente mente
   para a vida
& revolve com mãos suadas
   em um conjunto amplo
      de caosa & refeito defeitos
   toda existência!

Mas o ser como um todo
   busca se desintoxicar
      das experiências alheias
Repartidas alhures
   em banquetes fakes escassos
      de conversas afiadas ao acaso...

Não iremos nos converter
    por gratuidade vilanescas
    & falatório que nada diz, não...
Conversas fiadas
   para se auto-suportar
      enquanto tentamos
         corromper o próximo...
Não estou fechado,
   apenas leve,
      caminhando já longe
    de toda maquinária
      & doutriação dos doutos em inação.



7 de dez. de 2020

Érosgrifos

 

Grafei lembretes
   nas partes soltas
      de um ramalhete despedaçado
de rosas colhidas
   no fim de tarde
      sob a ventania
Quando a lua cheia
   cruzou todo o dia
      vazando marés...

Escrevi notas
   avulsas & imediatas
      de gostos, trancos
         & barrancos
que deslizaram
   das glebas soltas
      de jardins à beira de abismos...

Anotei desmoronamentos
   em pétalas soltas de rosas
      que começavam a ressecar
Cravei runas distorcidas
   kanjis hereges, palavras bárbaras
      hieróglifos eróticos
Lembrando você
   lembretes de você, seus, céus!
As formas que lembrei
   & não queria nunca esquecer
A cor dos olhos, a hipérbole das pálpebras
    o gosto da buceta, o peso dos seios
A forma do vinco
   ao rumo que escorre teu gozo...

Notei isso tudo
   em suscinta ata que ata a lembrança
Por entre os mínimos espaços
    de folhas caídas
        espinhos tortos, caules verdes
pétalas esvoaçadas
   prepúcio de pleromas
em cores esvanecentes
   com memória de perfume
      suor de primavera
& texturas de sedas
Notas de um submundo
   chamado Ana...



1 de dez. de 2020

Divagações...

 

& repousando nu, nas certezas do tempo,
na inércia do desamparo,
o que aprendemos, por dentro?
Que as engrenagens giram alienadas,
sem saber para que...
& que tudo não passa
de uma fantasia para nos submeter!

A vida não emerge... é só um estado
de repouso entre o nada & o tudo,
Mas eles se misturam,
não se permutam,
Se auto-destroem, se auto-poluem
porque nada que vem a ser
suporta saber
que não será para sempre!

Então muitos, a maioria, prefere a mentira
preferem o mal,
As cores, os aleluias, o delírio...
& de mal em mal, sorrindo e ululando,
vão fazendo do mundo: inferno...

& nós aqui,
os fracos, os parcos, os conscientes
Flertamos com o sono, com o sonho,
com a escuridão...
Tiramos lição do amor & do sofrimento,
quase para nada, também!
Como se encarar nos olhos o medo
fosse a única retribuição por estar vivo.
& toda essa insatisfação fosse a única verdade
capaz de descobrirmos sobre a malha orgânica infinda
de um Universo que é sinal inequívoco
de decepção!