Posso não me interessar em você
por corpo ou forma,
Mas com certeza me interessaria
em perversão...
Na comunhão de um desvio
ou do prazer por via do obscuro em nós,
Insondável à luz do sol
& longe das colunas social ou moral,
Por debaixo das pedras que não rolam
& na sombra impenetrável dos atos;
Posso te amar & te querer
de corpo e na forma
Do azougue que pesa & contamina,
do vinho que entorna & lava pudores,
Da mácula imperdoável
de um rancor que por hora se esquece,
Na benesse da gratuidade
de um encontro casual,
No lento & longo ranger de vísceras
em fome insaciável que só se extirpa
No conluio da perversão
que não se torna vício, mas concessão;
& que em tudo nessa latência
de nossa temeridade, chamemos de ardor!
Porque nós somos o lobo
& o verme que tudo come
Somos os restos
do que não se consome
Somos o homem, o que some
& já sentimos a morte
antes que ela nos tome
Somos o que some
aos poucos, no sono
Somos o que se levantou
& agora tomba
Insultados pelo que desejamos
& sem forças para a selvageria
Somos passado
& mais, talvez presentes abandonados
Somos futuros cadáveres
que ainda comem o que vê
Mas já não toca
o que há para outros ter
& já vamos
deixando as feridas em forma de beijo
Nos corpos que tocamos
& nos que nos foram negados
Porque nós somos o verme
& o lobo que tudo come
Nenhum comentário:
Postar um comentário