...tempo
fração de desistência
carrega em sua dimensão
esquecimento em forma de grãos...
Hoje eu já andei olhando no pó do chão
Parei olhando pelas estantes
com os livros fechados
Dei uma olhada na rua molhada
& nas frestas de luz
por entre cada ruído
Hoje eu andei perguntando à memória
Revirando por entre as notas de doi$
Remexendo em um monte de folhas molhadas
Mas apesar da diligente preguiça
Só encontrei o que sempre quis
& o que eu depositei
no lugar mais fundo das possibilidades
Hoje antes de ontem depois de amanhã
hoje
Eu continuo perdido nos meus achados
Continuo abismado entre as coisas velhas
Na insurpreendível incerteza
que nada nunca me decepcionou
Além de continuar me surpreendendo
com coisas comuns
Mundo
devasso mundo
Imundo está meu coração...
Em uma pureza inesperada
acolho os caminhos do acaso então...
Em tempo de me conscientizar
do caos de amor que age
em cada momento vão...
Já sou esperante de um tempo
onde o agora
seja definitivamente passado
& eu possa lembrar ocasionalmente
do que passou
& já não me define mais...
Mundo devastado mundo
contaminava meu coração,
Desde agora já me fio nos livramentos
que um dia me libertou dessa prisão!
Será tarde
ou ainda dá tempo
Da gente aprender
entender, saber
Que não devemos ter apreço
afeição, apego
Por qualquer coisa digital?
Cada instante
essas coisas
que estão se afundando
na linha do tempo,
Sendo arquivadas,
datadas, ultrapassadas...
Cada momento
essas coisas
que vão sendo atualizadas
& então desacontecendo...
Cada fração de esquecimento
sendo desconectadas
& sepultadas em uma memória artificial...
"Atualizando" rumo à "anterioridade"
postamos a posteridade
rapidamente atualizada
na velocidade do esquecimento
Tudo em nuvens que não chovem
nem sombreiam
Um mundo só de imagens, perfis, formas,
desconectados pela rede. .. ... . . .
Os finados, com sua moral ida
lançam sobre nós seu julgamento
& a sentença de seus olhares cegos
Perseveramos decadentes
& a moral de mortos
se espalha por entre os vivos
Pretendem julgar tudo & condenar todos
através de promessas que os vivos
nunca confirmarão
Assim, o que importa ainda está suspenso,
entre sete palmos abaixo da terra
& o céu que ninguém alcança.
O jardim das flores
o jardim das aves
é & não é
o mesmo que o jardim das feras
Convivemos todos
tantos tolos tontos
& lobos
No mesmo mundo
o mesmo sol & mesmo ar
espaços onde cada um faz seu lar
Dentro do mesmo tempo
dividindo um só lugar
mas... uns insistem em discordar
Cada um luta & devora o outro
Uns pacíficos, outros facínoras
Uns altivos, outros pusilânimes
Monstros que destroem
Monstros que constroem
Até o fim dos dias...
Pois há os que entram na escuridão
Há os que saem de lá
Uns permanecem na luz
mas não há aquele que não é marcado
com o estigma da luz & da sombra
da ignorância...
& se o mundo é tudo que é o caso
Ocaso da multidão
Somos tudo que o fato pode sugerir
Olfato que revela-se mutilado
Para não sentir o cheiro
de carne & cadáver
que sobra no fim de tudo!
Como essa palavra, você,
tem se tornado tola, feia, cansativa...
"Você"
Você voz que se cala & fala
ao que, quem, queda, que cu, canto, calo, ...,
quer dizer?
À quem se refere esses todos tantos "você"?
Não é ideia ou ideal
Não é particular, pessoal
Talvez desconhecido ou infernal
Duvido muito que razoável ou angelical
Um estranho outro que se quer amado
por isso permanece oculto
dominando
Necessário
Mas sem dúvida uma alternância
do que o "eu" não consegue ser sem outro "eu"
'Você' geralmente é como chamo
aquilo que não sou & nem serei
Aquilo que não tive & nem terei
o que nunca veio, imaginei...
Arrastando tantos em devaneios
Não é nem mais palavra,
há de se tornar xingamento!
Vossa mercê
disfarce de um outro Eu
que se esconde de outro Eu
No labirinto do jogo de dominar.
Em um desvio do caminho que vamos... onde a poeira assentou... onde a roda parou... & a mente descansou...
Sonho com um mundo que envelheça rápido & nos cubra de paz antes de cobrir de pó & que tudo pereça;
Sonho que todas as máquinas involuam de vez & abandonem o poder que à elas foi dado,
Roubando nossa consciência & arbítrio raro...
Sonho que os perfeitos & retos
Sejam enfim arrebatados para longe daqui,
& os deslumbrados pela utopia macabra encontrem a sociedade que querem em outro lugar certo;
Sonho que os vorazes por poder & lucro
Construam logo seus cercos & suas naves
& vivam como são, porcos & aves, pelos céus & pelas comunas de sua liberalidade,
Que tais progressistas sentem no colo de seu progresso de valas comuns & os intelectuais encontrem sua câmara de eco melindrosa
Onde tenham espelhos para reverberar suas afetações sulforosas;
Sonho que os violentos crentes da lua, da cruz, do crescente...
Encontrem seu deus demente que justifique como eles são indecentes,
& a guirlanda de redenção cósmica caia sobre eles os levando para um lugar quente...
Sonho com a distância que me leve à calma
De um mundo de dias & horas onde o principal pensamento
Seja viver disso tudo em livramento:
Da piedade dos impiedosos, da paz dos beliciosos, da caridade dos gananciosos, do amor dos raivosos, da verdade dos mentirosos...
& que assim sejam... até o fim de meus dias... até o princípio de minhas noites... & o despertar das madrugadas... além...
A tempestade caia
& o calor do fogo do inferno te queimava
& resvalavam em mim
labaredas de tua carne incendiada
Eu te sugeri
Que apesar de tudo
no meio da tormenta
na enchurrada de lama
Que desse uma resposta inadequada à todos
Se não pudesse ser
que ao menos fingisse
estar feliz...
Anacronias dos dias de hoje:
Não existe nada longe.
A distância foi abolida!
...existe o perto,
tudo ao alcance...
& existe o infinito: o abismo imediato:
inalcansável estado
onde tudo agora,
apesar da proximidade,
está em solidão.
O tempo rola, & nos empurra junto, vem o dia, & despertos, em vigília desapercebida, seguimos...
O mundo fala conosco, roncos de sonâmbulos, assuntos surgem em conversas banais, não sintonizamos em mensagens que fluem, como ruídos de fundo, não escutamos ou vemos o que está explícito...
O importante se esconde diante nossas vistas...
& a mensagem vem... O assunto ascendido do dia. Começamos uma conversa sobre o ontem, tudo que temos, mas o campo se abre, falo sobre "Vontade de Potência", logo me leva à reflexões que não queria encarar, e a ideia flui, como a luz nos olhos que adentra nos nervos óticos, telegrafando, depois no cérebro, & logo se desdobra em ideias, expande...
Logo chega mais uma peça, uma linha na composição da 'mens-agem', arquetipicamente, "A Força" do tarot, & assim vai se desenrolando o silencioso debate interior...
O que o dia, a vida, os acontecimentos, o estar-aqui, o que a risada cósmica quer me dizer... & logo será experiência...
A multidão concorda em só uma coisa:
-Há leis a serem obedecidas!
Mas ninguém respeita a lei do outro...
& o Leiviatã, acima de todos,
defende a ordem à serviço de poucos,
os inúteis, usurpadores, os piores!
Nós aqui, no fundo do poço
Com nossa lei de amor & vontade
passivos na cadeia alimentar social
Corremos de um lado para o outro
com a cara & a voragem
& a bunda de fora
Atrás do pão amassado pelo diabo!
Multidões seguem ainda para o abate
Manadas, cardumes, bandos & o coletivo de espertos
No fio da navalha
do salário, da propina, da saúde, da cota & comida
comprada a preço de sangue & suor
Na fronteira entre vida & a boa sorte!
& nós aqui, contentes de dançar
contentes de fuder
Exércitos de um homem só
obedecendo a lei da rebeldia
Com o preço de um céu caído por dia
sob nossas cabeças onde pavimentamos a estrada
da fome insaciável....
Eles lá, esperando a volta do deus
& abraçando toda essa mediocridade
essa linhagem de pessoas caladas & felizes
que fazem muito estardalhaço com os suspiros de seus deslumbres
& o choro de seus medos de perder o pouco
que pagaram com o preço da devoção ao arconte do mundo
Prisioneiros livres que circulam
enquanto os libertos presos somem...
Uns em recompensa pela entrega
enquanto outros só pensam...
Ambos os lados
de uma só multidão
Todos & cada um
com uma obsessão
Seguem em fila
para altares, buracos ou a depressão
O peso da seriedade do mundo
que uns assumem & outros não!
Lugares,
deveria haver melhor nome
De onde se vê à primeira vista
onde pela primeira vez se pisa...
Sempre ocupado por outros
mas para nós escondido
Assim é a maioria dos
l
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g
a
r
e
s
... ermos de mim...
Formigas trabalhando incessantemente na escuridão
não enxergam a Lua
& nem sequer de onde no tempo & no espaço
vem a luz do Sol...
Pequenos humanos de mente formicida
pré-ocupados com dimensões mínimas
fogem para o escuro da ignorância,
Cavernas onde encenam os vapores de seu pavores
& são soterrados pelo tempo que paradoxalmente
conseguem se colocar na eternidade.
Em vislumbres de deslumbres de importância
que nada dentro do Tempo & do Espaço tem!
Permanecemos cada um em uma trinca da existência
onde seremos enterrados eternamente até a decomposição...