28 de jan. de 2024

Acidentais

 

Estranha sensação de tão comum que é
Estar no meio da vida
Turbilhão de outros, torrentes de alheios...

Deuses & decrépitos no plano da realidade
Muros feitos de nada intransponíveis
Mundos & fundos de tristeza & vilezas
Perdidos & achados da materialidade

Distante proximidade
Do que é sempre a velha novidade
Que só percebemos tarde
Ou cedo demais para mudar isso que nos arde

Entranhas em desespero tão comun, fome...
Ser na periferia da vida, sempre próximo à morte...
Turbilhão de outros, torrentes de fins...



24 de jan. de 2024

Encarne

 

Osso duro se reveste de carne mole
Mas a carne dura do meu coração
   não tem osso que a sustém:
Ela explode de segundo a segundo
   cada vez mais perto do fim!

Eu senti onde os ossos brotam ossos
Revestidos de carne fresca
& tudo isso serve para morder
   & doer:
Dentadas na carne da vida
   & no pão de bolor da morte!



21 de jan. de 2024

Enxame

 

Insetos de asas
   em volta da tua fruta
Insetos peludos
   orbitam a luz da lua
Gravitam em enxame
   na selva do nexo

Insetos que rastejam
   que se arrastam
      beijando o chão
& vem comer tua carne
   no escuro
      com beijos soltos no ar

Insetos de cem patas
Primeiro desejam
   esquentam o lugar
Depois nas trilhas do álcool
   exalado no recinto
Viajam de uma alma à outra
   para se alimentarem

Insetos que digerem prazer
   execrando as dores da fome
Colorem o escuro com sua insatisfação
A loucura no rastro
   em volta das mesas
De bocas caladas
   & bocas que procriam
      que se chupam
Rastejam com a língua
   nos lábios uns dos outros

Insetos oviparos
   procurando orifícios pra chocar
Exalando machismo & feminismo
   anulando a gravidade
No fundo das águas
   no fogo frio
Que purificou o amor, extinguindo-o
   do fundo de qualquer coração


 

19 de jan. de 2024

Magma

 

Rocha líquida
   para remendar a fresta de madeira trincada
      que usamos para estancar
         a ferida aberta na carne do coração
Incandescente & quente
   incendeia a madeira
      & assa bem passado
         todo o peito
Em um banquete de vulcão
   toda carne, toda falha, todo fogo
      vai se solidificar logo
         em pedras para as mãos


 

17 de jan. de 2024

Sinapse/Sinopse

 

Passo pelo corredor escuro
Sinapses desgastadas
Venho à velocidade do espaço
Requerer a dor... ou o prazer...
A desperto com mililitros de veneno
Alquimia dispersada no sangue
& entregue como tempestade no cérebro
Onde água nada & eletricidade
Turbilham...
As paredes das sinapses
Não contatamos em um céu latente
As dimensões da memória & da consciência
Só colapsam em toque atômico
& proporcionam sensação...
A mente percebe cataloga remete
Remente & desmente & calmamente experiencia...
& tudo basta em sua repetição
Rebastando a ocasião
Saber se é bom ou não
Ou além disso, é só programação
Ou um ato de pró-liberdade...
Na sin@pse
Perto ou distante não é critério de tempo ou espaço
Mas somente de simulação...



16 de jan. de 2024

Rastros

 

O ontem
   é um hiato mal resolvido
  entre o hoje
     & o indefinido finito de nossos passos

As portas que não passam nada
   ficaram abertas
      com chaves que se perderam,
Procuramos outras saídas
   por entradas que desapareceram

Levamos sob os pés
   as pegadas que deixamos
& só isso basta
   para saber que tudo passou
      mas, ainda continuamos

Nos caminhos que nos perdemos
   embreamos em pistas do ontem
      que não seguimos mais...



15 de jan. de 2024

Ausências Trocadas

 

Ontem tentei sentir saudade de você
Em casa, na rua, esperei
   a tristeza condensar qualquer motivo
      que secretasse através de referências
         à lembranças
Um veneno pra amortizar
   a falta que você não me faz...

Hoje esqueci mais um pouco
Apenas querendo lembrar
    mas não encontrei motivos
Além da inércia de estar só
   & assim continuar
Vivendo para amontoar
   a falta que eu não faço pra você...



14 de jan. de 2024

Sono Sideral

 

Talvez nossa faculdade de dormir seja um salto na evolução... ou retornação...
   Uma preparação, para a viagem espacial... Isto estaria conosco, com todos animais, a maioria dos seres vivos, desde antes de sermos o que somos... viagem, fuga, exílio, transmigração...
   Dormindo. Preparando para nos lançarmos ao vácuo, para cobrir anos luz, fugindo de fossos gravitacionais, cinturões de detritos planetários, buracos negros... dormir, para cobrir... anos luz... sonos luz... nós não somos luz... somos a penumbra do sono, o vislumbre do sonho, caindo, se derramando, na imensidão intransponível da morte & da vida, no espaço-tempo & além, sem fronteira final.
   O Universo é a grande noite que nos criou, & nos fez para dormir nele se quisermos transpor as grandes extensões noturnas, & passar por dias locais.
   Na escuridão eterna, apegados à luz, despertos, autoconscientes, cruzaremos as distância-noite desfalecidos-sonhando, transpondo nadas carregando tudo que somos.



8 de jan. de 2024

Comunidade dos Termos

 

Tanto
   alguém que defende,
   quanto quem ataca uma ideia
É um tolo estupido inepto
   sem nada o que fazer
   a não ser
      estar sob a mercê
      do pensamento de outro
& exercer seu (des)direito
   de um algoz ou um atroz bajulador
Essa coisa feia que é a
   Escravidão de expressão
   & adequação aos termos de aquietação
      da comunidade

Legiões de seguidores, Legiões de odiadores
Todos subprodutos de alguém
   que pensou
      que fez
         que ousou
O resto nem resto é
   porque o que sobra do pensamento
      é opinião,
   & opinião é menos que excremento



7 de jan. de 2024

Inimaginário

 

Eu

  quero
   distância
Do jorro [vômito]
de gente,
   de mente, de veneno, dementes
Nas minhas mãos...

Talvez uma fuga
   para as estrelas
      pro meio do mato
Para longe
   da mediocridade sofisticada
Nas minhas mãos...

Não ao originário
   o que originou isso
      é pior ainda
Ao inimaginário
   substrato subconsciente
      do primata

(Vai ver
O medíocre sou eu
O sofisticado sou eu
Vai desver)

O cego na luz
A luz no espaço
O espaço no nada
O nada no nada
   no nada
      no nada
         no nada



5 de jan. de 2024

O Sol dentro do Sol

 

A chuva
  de muitos dias
Esconde
  o que ninguém pode ver
O sol está se apagando

Atrás do véu
  de água & lágrima
Por entre os espectros
   das sombras & da mente
De um sol que está se apagando

Outros céus
   em dias menos nebulosos
Fará-nos levantar os olhos do chão
   & encarar na escuridão o brilho
Do sol que está apagando

Então, quando a lua parar de refletir
   seu feitiço de espelho
& diluir-se no ar
   nosso espelhado espectro de cores
O sol se apagará
   revelando outro sol dentro de si
& nem dois sois serão capazes
   de iluminar nossa escuridão...



1 de jan. de 2024

ReZero

 

3... 2... 1...
Bem vindo
   mais ao passado
      ainda...
Decaindo
   ainda, cada vez além...
Do lugar
   de onde
      não saímos...
Estamos simplesmente
   indo!
3... 2... 1... 0