29 de abr. de 2024

Ventura

 

Habitam no ruído do espaço sendo moído
& medem o tempo com música
Ouvem as horas passar
   & os anos sinfonias
      soam como oceanos a retumbar

Ah! & o silêncio? O descanso do silêncio
   que quase nunca está presente
      & não faz o tempo parar
Sempre no intervalo entre dois instante
   interligados instáveis
      pelo estalo de um beijo
         ou o eco de um adeus
Sileciamos...

Habitam no que faz o impulso da dança
& medem a felicidade no impacto
   & celeumas que o baile incorpora
Ouvem as batidas do coração
   imaginando supercordas à pulsar
A vida sendo então
   só uma recusa à não se aquietar

Ah! & o silêncio? O descaso do silêncio
   essa temerosa canção de ninar
Resposta de todas as perguntas
   a nos embalar
Sempre na vala do abismo
   cuja a ponte é só um canto arco de cores no ar
Um coro suspenso cujo refrão é a vida
   & nós o começo & o fim
      de um poema a reverberar
Até silenciar...

Habitam no ruído suspenso do espaço
& medem o tempo & seu humor com música
   ouvem os instantes trincados se emendarem
      & os séculos se perderem em terremotos
         tudo soando como o bolero a se acabar





26 de abr. de 2024

Folhas Soltas

 

...à procura de iguais...
   não há para nós tais!

Maior perda de tempo
   na face da Terra
      no fosso do Universo!

Folhas caídas
   soltas no ar
      sem nenhum algoritmo à coordenar...

Mantemos encontros casuais
   apenas com as coisas do tempo
      nunca com as coisas do espaço.

Rumamos à próxima Estação
   ao conhecido da repetição
      ou ao desconhecido da inovação!

Esperar é caminhar
   ir rumo, não ao encontro
      nunca aguardar...

...à procura de enganos...
   é tudo que encontramos!



25 de abr. de 2024

Regras das Árvores que Caminham

 

"Viva como uma árvore que caminha!"
(Austin Osman Spare)

“Seja como o sândalo
que perfuma o machado
que o fere".
(Buda Sakyamuni)


Árvores que caminham
   & suas regras desregradas...
   que as regam como o nada
      em seus passos desenraizados no ar
   por entre as sebes
     mato, daninhas & desertos...

Que o seu silêncio de árvore
   seja como a sombra sempre constante
      na luz do sol, da lua, das estrelas
         & queimadas
   silêncio como a sombra da noite
      que cala, mas fala imensidões...

Doe desse tua natureza árborea
   não como presente
      mas como o perfume de tua seiva, inerente
   essência da madeira de que é teu corpo...

Não impõe, mas propõe
   raízes, tronco, galhos
      folhas, flores, fruto
   semente que contém tudo
      ser em estado bruto, mas maleável...

Nunca afronta, mesmo frondosa
   te reparam mais os que voam
      do que os que rastejam em vida polvorosa
   aqueles recebem abrigo, repouso
      esses obstáculo & o terror
         de não reconhecerem teu teor...

Árvores que caminham
   & suas regras desregradas...
   passando pelo mundo
      pelo céu & o inferno, pelo chão
         sendo o que são
   indiferentes à toda essa conflagração
      que chamam vida...


"O carvalho mesmo assegurava
que só semelhante crescer pode
fundar o que dura e frutifica;
que  crescer significa: abrir-se à
amplidão dos céus, mas também
deitar raízes na obscuridade da
terra; que tudo que é verdadeiro
e autêntico somente chega à
maturidade se o homem for 
simultaneamente as duas coisas:
disponível ao apelo do mais alto
céu e abrigado pela proteção da
terra que oculta e produz".
(M. Heidegger in "O Caminho do Campo")



21 de abr. de 2024

(i)Materialismo Estó(r)ico

 

O descampado vasto
   parcamente plantado de mato & flores
      ...não há ninguém para amar!

Eu vago pelas ruínas
   enxergando o mato como jardim...

Outros loucos
   viram as flores escondendo as correntes
      & as grades da prisão,

Eu, em meu delírio
   vejo grilhões de aço & concreto
      cobrindo as flores...

Na dialética histórica da minha vida
   revoluções imperceptíveis
      causam convulsão imaterial
         nas tentações de meu coração...

& quem sabe... possa se fazer mesmo...
   ( sem  nada  fazer )
Um jardim florindo por entre os escombros
   & ali, haja algo & alguém
      para amar...



17 de abr. de 2024

O Dia em que a Guerra Começou

 

O céu das seis incendiado
eu na rua desviando de buracos
  escondidos no asfalto escuro
   feito por bombas sem impacto...

Deixo na esquina um cuspe claro
  para o encontrar mais tarde
   no caminho de volta
      por esse campo minado...

Quando for seis de novo
só que na hora da tarde
No céu vai haver só cinzas
  & no asfalto mais buracos...

O cuspe que deixei haverá secado
  sob o fogo que ardeu o dia inteiro
Enquanto do outro lado do mundo
  os homens guerreavam...



16 de abr. de 2024

Broadcasting

 

As veias abertas da mídia latindo
   conflagrações que vendem
                                    anúncios/notícias
   entre os intervalos mudos das
                                   notícias/anúncios
Gente quebrada reportando na tela quadrada
Gente de alma feia & cara pintada
   articulam vômitos verbais
      de opiniões & opções & narrativas
   sobre a guerra & a paz
      para as ações & inações
   de homens corruptos
      & seus patrões S/A.



15 de abr. de 2024

Advento

 

Será que nós todos
Passamos os dias
À espera de um só momento
Que distoe de todo tempo
   & nos faça sentir vivo?

À espera de um milagre
À espera de um disparate
Que nos abençoe ou amaldiçoe
& signifique então
   que há mais!

Como cadáveres enterrados
No fundo da vala comum da vida
À espera de um ato
Uma palavra, um toque
   que nos abale como nunca antes...

É o sonho... A descontinuidade...
A violação... O desvelamento...
O espanto... A possibilidade...
A novidade vinda em forma
   de violência ou carinho
      dentro de toda essa mediocridade...!?!?



14 de abr. de 2024

Acreção

 

Eu tento reacordar
   depois dos tempos de dormência
Desperto insone
   no meio de uma tormenta pétrea
      de calma no meio
         de todas as coisas inquietas
   na massa que é a assimilação
      do mundo karmico de carne & concreto...
Sou um ponto na gramática
   sou um cisto de molécula
      um cisco de matéria
         um risco de essência
   finalmente engolido na máquina do sistema
      que digere & assimila
         a indiferença que faço em tudo
Enfim tornar
   um digito no meio
      de contas que não foram feitas
         para fechar...
Tento recordar
   tudo que não fui
      & agora serei
   na correnteza do vir-a-ser
      o grande nada que somado
         faz a riqueza do vir-a-ter
Um istmo medido & contabilizado
   entre imensidões acumuladas
      que não faz diferença no final
   mas sente sofre sabe
      o que não é & o que é...



13 de abr. de 2024

Ave Gravastar

 

...ex-trevas...
E l a...
EstrEla
   em constante colapso
      energia, matéria
         escura, luz
EstrEva
E v a...
   me consome, me devora
      na sua fome de nada
         que tudo... sou
...ex-brilho...



6 de abr. de 2024

Pós/sibilidade

 

...é aí que você percebe
  que tudo vai vir no tempo in/certo
  não tem hora in/correta ou marcada
     é tudo emanação da possibilidade...
...quando as coisas estiverem dispostas
  quando o querer & o poder eclipsam
  lançando sombra na realidade
     as coisas chegam, nunca cedo, nunca tarde...
...não precisa mais que paciência
  como uma letargia da vontade
  não precisa mais do que estar vivo
     como um adiamento da im/possibilidade...



3 de abr. de 2024

A Conta

 

O cotidiano é suportado
   com umas três gotas de analgésico
Que é mais eficaz na propaganda
   do que de fato na realidade é
Trabalho Salário Fé
   as horas contadas em marcha ré
As massas se movendo
   por entre o calendário
Rumo à becos sem saída
   que sempre o sistema leva
Conservar a luz própria
   é ter consciência do bem & do mal em nós
& as sombras nas paredes & no asfalto
   que simulam aquilo que achamos ser
Mas só é
   ao que nos entregamos como 'acontecer'



1 de abr. de 2024

Normitemporalidade

 

Garimpando a alegria
   na rocha da normalidade...

Não que estejamos entulhados na tristeza
   nos destroços dos outros,
      não nos nossos....

É somente a realidade
   somente a realidade
      só mente na realidade
         semente da real idade
            & mente a realidade... para nós...
               como normalidade!