11 de out. de 2014

Instantes de um dia de Outubro [Um Livro de HaiKais]






Haikai – Raio cai
instantâneo a sumir
antes (de) ecoar.

[Haikais da manhã]

Acordo nu (&) cru
teso (&) quente, deitado
horizonte sou.

Saio do quarto
a gata me escapa
felina (a) saltar.

Tomar um café
ou um chá de cidreira
depois, o rapé.

Roço o jardim
enxadadas a limpar
poemas virão.

Pássaro vento
em duplo sentido vai
vento a passar.

Semente de flor
enterrada na terra
brota sua alma.



Banshô afixa
Fibonaci estende
áureo pensar.


[Haikais do meio-dia]
  
Fogo & água
na cozinha a cozer
fome de comer.

Gostos que gosto
coentro, alho & sal
arroz a cheirar.

Pão de mel quente
da abelha o ferrão
como um beijo.

Some na manhã
logo na tarde tarda
toda noite vêm.

Ayahuasca
chá de expansão beber
só me conhecer.

(O) dia cabe no dia
(a) noite cabe na noite
Tudo me cabe.


[Haikais da tarde]

Sem aforismo
aflora o momento
quando poemo.

Cada seixo traz
a memória do rio
caminho d’água.

As folhas secas
rolam & acumulam
fim de inverno.

Manha de gato
exige respeito
sedução (de) fera.

Às seis da tarde
imóvel silêncio
acalma tudo.


[Haikais da noite]

Lembranças de Ana
olhar esverdeado
um sorriso leve.

A noite clara
fala de luar azul
as sombras alvas.

Nuvens no luar
dão conta do meu sertão
olho & visão.

Estrela D’Alva
no momento dos Budas
quatro da manhã.

Queima na sala
incenso de arruda
limpando o ar.

Nuvens do dia
despem o anil do céu
nu vens à noite.

Lembranças de Ana
indizível saudade
(da) menina rara.





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