Fechados,
ainda,
meus olhos já enxergam
que a manhã não chegou…
Na
penumbra da aurora,
ainda,
entre o sono & a sanha
não posso reconhecer o que é sonho
& o que já posso pensar por mim…
Onde
eu estive,
nas últimas horas,
ninguém pode dar notícia
Só,
eu fui
&
só, eu voltei
visitar
tudo & todos
dentro de
mim…
Consciência é dor & prazer, quando acordo nesse lugar, & sempre
quando acordo, acordo nesse lugar, meu corpo, isso é só carne, não durará, não
durará, mas o que distende & se estende quer confundir-se, quer se fazer
dizer mais do que carne, mesmo que seja sempre corpo.
Inconsciência sempre vem como lembrança, são sonhos, & creio, por
uma parca gnose, que o melhor dizer sobre o sentido incubado dos sonhos é que
são sons, são ecos, reverberâncias, somnus.
Em
parte alguma encontro o vazio, o vácuo, avoid, há apenas no máximo o mínimo,
& para quem já se cansou de tudo o mínimo ainda é muito. Talvez, procura em
vão, que queira, como eu, achar um abismo comum que provenha a abertura para
toda cessação.
& o
dia se propõe diante de mim… Serão horas & horas que se dedicam ao
presságio temporal dos ventos que acometem a consciência, para me jogarem para
lá & para cá, pelas ruas, corredores da casa, farmácias, banheiro, banca de
revista, sala de estar, supermercado, garagem, centro da cidade, cozinha,
espaços por onde o corpo passou…
Nas
ruas, lenta, vi uma menina, tão magra & perfeita, não muito bela, até
sinistra em sua beleza de ossos & pouca carne, tão desejável, tão feminina
em sua magreza… sonhei com ela, na fila do supermercado, enquanto ela me
ignorava, nem eu nem ela existiam um para o outro até nossos olhos se tocarem
com aquilo que chamam de visão. Não há fim, enquanto vivemos, para tudo que
ganhamos & perdemos, na mesma proporção, dos encontros que nunca mais se
repetirão.
Esse
dia acontece, devo agora dizer, nem tão tarde, nem tão nunca, como o som de um
violoncelo, solo, grave, lento, aquele êxtase entorpecido da fricção entre a
corda & o arco, esfregando, em uma rançosidade deliciosa, intenso
formigamento vibrante das ranhuras da realidade.
&
assim tudo é uma dança, uma valsa lenta de um concerto de cellos, onde o tom
mais grave é o corpo daquela moça…
Deixando-a para trás, com as oferendas de um próspero Ano Novo, um sorriso
& o sussurro do obrigado dos alheios, parto novamente pelas ruas me
arrastando como o arco nas cordas grossas do violoncelo, vou chegar aonde devo
ir ao longo da estrada dos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário