1 de mai. de 2015

Entre trópicos, demasiado entrópico

“Os vínculos reais entre o indivíduo
e a sua cultura estão soltos.”

Hebert Marcuse


Crianças pobres depredam sua própria escola,
Infante resquício de mais um tijolo fora do lugar
& um parafuso a menos na engrenagem do pensar...
Elas cantam em coro: “Nós não precisamos de educação!”
& berram: Abaixo isso! Abaixo aquilo!
Até picham:
Andróginos miméticos da sociedade de consumo
do 3º mundo.

Desconstruímos um muro,
& erguemos outros, onde
Nossos animaizinhos
Imitam outras bestas ferozes
Dentro dos muros desse zoológico humano.
tão bem construído pela História.


Circula por aí uma irracionalidade algoz
Ela não alivia nada nem ninguém
Apenas simula uma liberalidade banal...

Cresce a barbárie
Como cresce a moda: barbas bem tratadas
& os cabelos bem zelados
    à base de química & propaganda,
Estão nas caras & cabeças, de pessoas por demais intiligeeeeentis,
Nos perfis das redes sociais.

Vulcões, terremotos, fuzilamentos & protestos
A humanidade atende ao chamado da selva
Pois a Natureza nos quer destruídos
Antes que a destruamos;
Enquanto extravasamos
   toda nossa frustração reprimida.

Enquadra por aí uma ferocidade natural
Ela não perdoa ninguém ou nada
Só faz crescer o abismo entre você & si mesmo...


Na escola, devíamos aprender
Em casa, devíamos aprender a aprender
Mas quando faliu
nossa capacidade de aprender & ensinar
Tornamos-nos animalescos,
Pois os animais não sofrem
da pressão e das dores existenciais.

Alma poluída
Padecendo de consumo & idiotia
Prepara o corpo para a suprema entropia.
Uma grande ignorância
Já desaba sobre o mundo
Precedida por dores & ranger de dentes
   de toda essa estagnação financeira.

Triangula por aí estações de rádio & TV pontuais
que nos falam dos 50 anos de vitória
da imagem pronta sobre os livros...


Nus nos trópicos
Dispensados do esforço invernal,
Vai verão & vem verão,
Carnavalizamos a cultura e a curtição
Enquanto nos banalizam com psicotrópicos vencidos,
programas de TV e drogas virtuais,
Para que enfim sejamos apenas
mão de obra terceirizada.


& a felicidade finalmente sem finalidade
   se retira daqui,
Um lugar que nunca a acolheu.
Invejada como simulacro nas fotos digitais
Implantadas nas plataformas cibernéticas,
Regiões onde o caos sempre se refaz
Bailando a eterna dança da morte
   do espírito tão maltratado.


***

Citatório:
(encontre você próprio o fio da comunicação)

“Às épocas dissolutas cabe o mérito de haver desnudado a essência da vida, de nos haver revelado que tudo não passa de uma farsa ou amargura, e que nenhum acontecimento merece ser embelezado, já que é necessariamente execrável...
A ‘verdade’ só é vislumbrada nos momentos em que os espíritos, esquecidos do delírio construtivo, deixam-se arrastar pela dissolução das morais, dos ideais e das crenças.”
(Cioran – Defesa da Corrupção no “Breviário da Decomposição”- Rocco)


“A felicidade envolve conhecimento: é a prerrogativa do animal rationale. Com o declínio da consciência, com o controle da informação, com a absorção do indivíduo na comunicação em massa, o conhecimento é administrado e condicionado, O indivíduo não sabe realmente o que se passa; a máquina esmagadora de educação e entretenimento une-o a todos os outros indivíduos, num estado de anestesia do qual todas as idéias nocivas tendem a ser excluídas. E como o conhecimento da verdade completa dificilmente conduz à felicidade, essa anestesia geral torna os indivíduos felizes.”
(Marcuse – Dialética da Civilização no “Eros & Civilização”- LTC)

“Dois mil e quinhentos anos depois da tecedura de Platão, parece que agora não só os deuses, mas também os sábios se retiraram, deixando-nos sozinhos com nossa ignorância e nosso parco conhecimento das coisas. O que restou no lugar dos sábios são os escritos, com seu brilho áspero e sua crescente obscuridade; eles ainda continuam à disposição em edições mais ou menos acessíveis, e ainda podem ser lidos, se ao menos os homens soubessem por que ainda deveriam lê-los.”
(Sloterdijk  no “Regras para o parque humano”- Estação Liberdade)
“Atualmente, o que fundamenta a noção de ‘indivíduo’ não é mais o sujeito filosófico ou o sujeito crítico da história; é uma molécula admiravelmente operacional, mas entregue a si mesma e obrigada a se assumir sozinha. Sem destino, ela não terá mais um desdobramento pré-codificado, e se reproduzirá ao infinito, idêntica a ela mesma. Essa ‘clonagem’, em sua acepção mais ampla, faz parte do crime perfeito.”
(Baudrillard – O Crime Perfeito no “Senhas”- Difel)


Nenhum comentário: