Outono paira sobre nós
como anjos castrados que anunciam o velho
& de suas chagas escorrem
caldo azul profundo que em tudo que toca
afoga & afaga
colore de vermelho & branco...
Outono desce manso
& não sei se
o que envelhece as folhas das árvores
é um vento quente ou um fogo frio
que sai de dentro de nós
clamando consumação...
Nas ruas & quintais
frutos inúteis de árvores sombreiras
caem & beijam o chão, o concreto, o asfalto
& sob pés & pneus se tornam vinha
que escorre para o fundo da terra
pelas sarjetas & frestas de raízes...
Decantando, o vinho do Verão que passou,
alcança rios subterrâneos
veias escondidas do sol
que deságuam enfim no inconsciente da Estação
em uma cachoeira de evaporação...
O Outono ainda dormente
alheio a tudo isso
vem caindo, despertando
para o banquete amadurecido
de frutos cozidos & folhas caídas
vinho pesado & fogo interior esmaecido...
É como se despertasse um outro Verão distante
não de fato, mas sonhado
& tudo mais fosse dormir
pairando frio manso & insatisfeito
em rios de sombras escondidos
que deságuam no Inverno
que nasce à sete palmos abaixo no chão...
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