O
retorno é o movimento do Caminho
A
suavidade é a atuação do Caminho
Os
seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência
(Lao-Tse, Tao
Te Ching cap. 40)
Não escrevemos em linha reta, do passado para o futuro, escrevemos circularmente,
do futuro para o passado.
A seta temporal da escrita vai do complexo ao primitivo, do futuro ao
passado, em sua disposição de comunicar.
O comunicável é o objeto de partida da escrita, a mensagem, pronta e
acabada, não concebida, mas expressa no futuro. Concebemos ao inverso pois só
assim podemos (de)compor a mensagem.
Concepção é diferente de Composição. A posição da escrita não informa Espaço,
apenas uma linearidade ilusória, sua posição informa Tempo, mesmo sendo ambos autorreferentes
no dimensional espacial, não o é no temporal, pois espaço-tempo significa permanência-duração
enquanto uma mensagem extrapola isso, penetra (regressa) na permanência e na
duração, ou antes, emana dali, trazendo consigo, do futuro, Sentido,
Conhecimento, Interpenetração... enfim, Completude.
Como podemos conceber uma frase, compondo-a do indefinido primevo até o
entendimento complexo, até a mensagem? Isso se dá porque quando vamos a
construir já a temos completa, ou seja, já partimos do definido ao indefinido,
como um salto imediato do futuro ao passado para a manifestação aqui.
O fato de não prestarmos atenção ao indefinido aglomerado de signos,
letras e palavras é porque já temos antecipadamente a apreensão de seu sentido
completo como objetivo, mas na verdade é o objetivo que permite que possamos a
(de)compor. E assim é com tudo na realidade onde existimos.
Partimos do futuro para o passado. Mas o passado não importa tanto, por
isso pensamos, sentimos que vamos ao contrário no tempo, mesmo porque a vida, a
existência, se porta falsamente assim, do passado para o futuro, simplesmente
porque aprendemos assim no Ocidente, por causa de uma noção de finalidade,
principiada na causalidade, na sotereologia e no ego, mas já na Natureza
imediata, tudo é circular.
A seta do tempo que comumente vemos indo de um ponto A ao ponto B
(A-----------àB) na escrita já desvelada há
a ida de um ponto B ao A (Aß------------B), ou como se
diz na aprendizagem do abecedário, “B A, BA”.
A linguagem, em sua materialização escrita, é então uma expressão
correta da seta do Tempo, que corre, ou melhor, salta, do futuro para o
passado, uma prova existencialmente correta.
Porém, abarcar isso conscientemente exige, no mínimo, uma reeducação
mental agora, uma “nova” concepção intelectual, é um esforço de consciência, de
percepção, uma postura desperta, como uma meditação.
E isso influencia em tudo na existência. Essa apreciação ao final
justifica todos os “degraus” da construção histórica perceptual que os sentidos
humanos vem abarcando durante sua existência aqui, justificando-os enfim, e
talvez preparando o salto para outra dimensão do “entendimento” humano no
Universo.
Sabemos que existimos nesse “momento” da história do universo pois esse
é o único intervalo de tempo onde o universo pode ser conhecido, desvendado.
Assim, do futuro limite, onde não poderemos mais conhecer o Universo, vem essa
mensagem, já completa, que estamos (de)compondo, esse saber, esse conhecimento,
essa Ciência.
Essa “nova” percepção da seta temporal, que a língua expressa, e que
emanamos quando desta postura diferente em relação à realidade das coisas,
implica um drástico rompimento com tudo que percebemos e registramos como
História e Ciência até então. É uma virada na posição da mente humana no mundo.
Nossa linha temporal, interpretada erroneamente, nos leva agora a becos
sem saída na concepção da realidade, tanto socialmente, economicamente, quanto
filosoficamente, enquanto interpolações artísticas da realidade, vão dando
abertura para vislumbres do futuro que sempre nos assediou e conformou, não
como destino final, mas ponto de partida.
Nossos sonhos não são vislumbres de um futuro, mas a fonte de onde
viemos, é basicamente como dizer, o cadáver ao qual pensamos rumar é nossa
origem física, não destino, onde o produto final é o recém-nascido que emerge
completo, e o qual devemos reverenciar, como um ode à infância. Enfim, ao final
de tudo, na questão mais simples de todas, a morte não é o fim, mas o começo,
nossa finalidade é permanecer na potência da infância, cuja juventude alcança,
pois a criança é perfeita e o adulto imperfeito, mesmo sabendo mais, conhece,
da maneira errônea, conhecendo menos...
A afeição humana (parcial, claro!), à leituras da realidade, como a
Astrologia, p.ex., faz, e sempre fez, parte dessa intelecção correta sobre o
tempo.
Qualquer saber, ou busca de compreensão da realidade, que já conceba o
futuro desvelado, coaduna com o processo correto de se entender o tempo. E só
sendo possível os comunicar com a linguagem, a escrita se comporta de tal
forma. Seria correto também o apreço humano por adivinhações, profecias, etc.,
como expressões dessa forma quase inconsciente de ver realidade.
Na verdade, o escopo potencial que faz uso de Sincronias em seu rol de
leitura e entendimento da realidade sempre desvelaram melhor a natureza correta
do tempo do que qualquer ciência ou filosofia, por isso sua persistência em nos
informar em tempos de maiores ou menores popularidades ou críticas à esses saberes
designados como Esotéricos.
Veremos cada vez mais a emergência junto à mente humana de conhecimentos
que em sua base estabeleçam como fundamento de seu entendimento da realidade a
não-causalidade, espaços não lineares, compreensão física de campos, os campos
mórficos, etc., onde a Magia é o arquétipo sapiencial correto e supremo.
A tarefa reversa agora é saber expor essas interpretações da realidade
para que funcionem educacionalmente junto a quem quiser se deslocar, não só
fisicamente, mas mentalmente, na forma correta no tempo, proporcionando assim,
conciencialmente, um ser-aqui real por completo.
A tarefa é aparentemente descomunal, mas isso é também uma ficção do
limites que nos foram impostos historicamente, por motivos de domínio. Hoje,
com acesso a comunicação em rede de uma forma ampla, a leitura do comunicável sincrônico
através do que emerge até inconscientemente da rede possibilita um
incomensurável canal de formação de sentido e liberação das cadeias de causalidade,
mesmo que poucos consigam ler, perceber, esse fluxo de conhecimento do qual
viemos no futuro.
De uma certa forma, todos nós fazemos parte da composição do que o
futuro engendrou como Humanidade, e estamos cada vez mais perto do ponto de
virada onde se revelará definitivamente a farsa da linha do tempo reta que
seguimos, com tudo que isso implica.
Podemos dizer que todas as mentiras cairão, ou serão substituídas por
outro paradigma que permita nosso próximo salto, o que isso realmente significa
é profundo, aqui estamos tentando nos ater à questão da escrita como expressão
correta do tempo, de seu correr reverso desse ponto de vista comum...
Assim, a escrita é, mesmo que pouca vezes compreendida, uma expressão
correta do fluxo temporal, que corre do futuro para o passado, isso pode ser
provado, com simplicidade, por qualquer texto ou mensagem concebida pelo ser
humano, inclusive na literatura e na poesia, pode-se até viajar no tempo, em
qualquer direção, tendo a mente preparada para conceber o tal.
A existência da mensagem, emanada pela escrita é prova cabal de que
viemos da Completude, e o fato de hoje a buscarmos, psicologicamente não atende
a um chamado, mas a uma inevitabilidade natural da existência. Nascemos
completos e perfeitos, e rumar ao passado é ir compreendendo escalonadamente
isso, porque a ordem que emerge do caos tem por finalidade ser o caos que
emerge da ordem.
Quando concebemos o tempo de forma comum, vemos que rumamos para a
morte, ou seja, para a decrepitude e a perda de tudo, porém, não obstante essa
entropia causal expressa em tudo, o que verdadeiramente se dá é que não
crescemos, mas diminuímos por causa dessa concepção de tempo a qual nos
submetemos...
Enquanto o que realmente devemos emanar, por vontade própria, ou seja,
conscientemente, ao saber que o tempo corre do futuro para o passado, é que
estamos apenas recordando nossa vida, ela já foi vivida, é completa.
Como se lê no Tao Te Ching, Cap. 4:
O Caminho é
o Vazio
E seu uso
jamais o esgota
É imensuravelmente
profundo e amplo,
como a raiz
dos dez mil seres
Cegando o
corte
Desatando o
nó
Harmonizando-se
à luz
Igualando-se
à poeira
Límpido como
a existência eterna
Não sei de
quem sou filho
Venho de
antes do Rei Celeste
Não existindo realmente uma linha reta de finalidade que percorre do
passado ao futuro, mas existindo sim uma infinda espiral de circularidade do
futuro rumo ao passado, sendo o ser humano, já de início, do futuro, a condição
de conhecimento, e conhecedor absoluto, Completos, somos a Mensagem que
reverbera desde sempre e além.
Somos sim, memória, assim somos retorno, eterno retorno, mas isso só
porque somos Plenitude, e já conquistamos o Paraíso, cabe agora, estarmos
conscientes disso, e saber então, o que um futuro mais distante ainda, fez de
nós...