28 de out. de 2020

Enquanto a Noite engolia a Tempestade

...a tempestade veio de tarde
& quando acabou era noite...

Despedimos o dia
em nome da tormenta
& gestamos no útero do furacão
o desnorteamento da luz
para recebê-la na escuridão...

& ela, como boa loba,
nos deu o calor de suas tetas
junto ao labor carnívoro
do deguste que exije
fogo & sal
para o prazer da consumação...

Nos perdemos um no outro
quando o sol se pôs mais cedo
& lavamos na água torrencial
nossas cicatrizes internas
que mais coçavam de prazer
do que doíam...

Noite, mãe de tudo
onde a tempestade órfã
foi penetrar,
Noite, mãe de todos
aceita & recolhe o caos de quem
em nome do caos vem fornicar...

Ronda a tempestade
os fulcros calmos da escureza,
trilha em desassossego
rumo às colisões macho & fêmea
que se ferem & permutam
em vendavais & floresceres...



Pseudo23Haiku

Hey Doc NoTime!

Look inside analog third mind

My dream, my dark site.



25 de out. de 2020

Antes, Agora...


Antes,
passava na vida
como um personagem em cena,
Atuava
na paisagem
como um ator...
Agora,
a vida passa por mim,
Imóvel
é o cenário que me usa
como um enfeite dentro dele.

Antes,
a vida passa por mim
como um personagem em cena
é o cenário que me usa...
Imóvel
na paisagem
como um ator...
Agora
passava na vida
Atuava
como um enfeite dentro dela.



21 de out. de 2020

A Formação Literária

Labirintos de leituras, afinidade com temas, recorrências oníricas, prazeres literários... há uma espécie de sabedoria potencial apontada no gosto de quem lê!

Leio na cama, leio no banheiro, leio no ônibus, e esperando o médico. Leio na fila do banco, no serviço, no bar, até em estádio de futebol.
Leio jornais, revistas, internet, livros principalmente. Leria papiros e pergaminhos, se os encontrasse.
Leio gestos, sorrisos, leio corpos de mulheres, leio-me também...
No reflexo da luz, letras, viajando no tempo, da coisa escrita aos olhos, e ao espírito então!
Poesias, teorias, ficção científica, ciência, haikais, psicologia, quadrinho, terror, ensaios, magia, romances, filosofia... leio-os.
Gosto de escritores do séc. XX e atuais, mas me apego à antiguidades, taoistas, pré-socráticos, medievais... leio-os todos e releio.
Leio... & escrevo também. Pois há momentos em que não basta. Sente-se uma falta, e tenho que emanar algo que ainda não li, mas é tão cheio do que sempre li, é cheio de tudo que me cativou, formou, influenciou.
A formação literária é evidentemente um diferencial, não qualificado e ou quantificados, mas sim, transubistancializador, há estilhaços de alma espalhados pelo mundo, e eles se agregam na matéria morta-viva da literatura, da escrita.
A Alquimia não existiria sem a escrita, já que a idade da cultura oral foi deixada para trás quando se pintou a primeira parede de uma caverna. E é como um aprendiz de feiticeiro que o leitor mais dileto age, agrupando livros nas estantes, e as ideias contidas neles no espírito.




11 de out. de 2020

Ariadne



N o     l a b i r i n t o 
deixamos migalhas 
para quem queremos 
que nos encontre . . . 
É t a r d e d a n o i t e 
m u i t o 
o u c e d o  demais ... 
& s ó q u e r e m o s 
encontrar a s a í d a 
 s e m cruzar c o m 
m o n s t r o s... 

5 de out. de 2020

Expirar

Aquela sensação de que, 

 a qualquer momento, 

 Junto com as cinzas que caem do céu 

 chova também uma faísca incendiária 

 Que apague a vida 

 enquanto acende nossa imaginação 

 & o desejo de nos consumir... 

 Os pulmões não aguentam mais  

a im-pressão im-precisa atmos-férica 

de vírus & cinzas 

 & tudo é um cabisbaixo sufocar 

 antes da próxima fixação do preço da vida...

Respiremos ar morto! 



2 de out. de 2020

Desvario

Não existe sonho mais impossível

do que aquele que achamos estar perdido...

Pois perder-se é estar dentro de uma força,
de um sistema, de um jogo,
que não se conhece...

Por isso que pode haver referências
para o ódio, para a devoção, para o sexo,
Mas não há nenhuma referência
para o que se Ama...

& quando a paixão desperta
é como se uma estrela raiasse
no horizonte de eventos
de um buraco negro...

Quando desperta a paixão
é como se todas as flores de um jardim se abrissem
& o olfato é inundado pelo caos
do qual não se distingue
a flor com seus espinhos
da seda veluda do lírio...

Quando desespera a paixão
sem regra, com sua lei do crime,
Só nos entenderão
os insanos, os inúteis, os rejeitados,
& os condenados!



1 de out. de 2020

Sede

 Somos plantas com sede


em canteiros de ignorância...

Assolados por tempestades solares

& invernos siderais.

Somos ervas daninhas

espalhados por esse deserto virtual,

Querendo só encontrar

a água da serenidade.

& que ela seja doce

do tamanho inverso de toda essa sede.