Na penumbra dos beijos
quando o escuro entra pelos olhos fechados
ali, começa-se a procurar o vazio no fim de tudo...
Mas o começo desta busca
vem do caos em nós!
De braços & abraços
nada & tudo, tudo & nada
geram Amor
& ao abrir os olhos
lá, decidimos se isso vai nascer & crescer
ou será abortado.
O ser humano é um seer tal, que é embalado no berço do mito, cresce dormente no jardim da inocência, despertar de vez no impacto da solidão, atravessa o deserto da vida, & se vai, aos pouco, entre o desespero da loucura ou da sanidadedo seu próprio sentido, conquistado com renúncia & a graça do que encontra...
Os mitos o acompanham, como máscaras, fantasias que se vestem das pessoas que encarnam, no eterno retorno do mesmo de todas as coisas já vividas, já experimentadas...
Só no encontro de duas pessoas (somos todos únicos), no desfrute dessa colisão de insanidade & busca, onde se disparam as sincronias & sentido, encontra-se a cura que corta no meio a ferida do vazio & do caos que é a finalidade da existência... a volta ao começo, ao sim à vida!
"Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante. Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós outros. Ai! Aproxima-se o tempo em que o homem já não dará a luz às estrelas; aproxima-se o tempo do mais desprezível dos homens, do que já se não pode desprezar a si mesmo. Olhai! Eu vos mostro o último homem. Que vem a ser isso de amor, de criação, de ardente desejo, de estrela? — pergunta o último homem, revirando os olhos. A terra tornar-se-á então mais pequena, e sobre ela andará aos pulos o último homem, que tudo apouca. A sua raça é indestrutível como a da pulga; o último homem é o que vive mais tempo. “Descobrimos a felicidade” — dizem os últimos homens, e piscam os olhos.
Abandonaram as comarcas onde a vida era rigorosa, porque uma pessoa necessita calor. Ainda se quer ao vizinho e se roçam pelo outro, porque uma pessoa necessita calor. Enfraquecer e desconfiar parece-lhes pecaminoso; anda-se com cautela. Insensato aquele que ainda tropeça com as pedras e com os homens! Algum veneno uma vez por outra, é coisa que proporciona agradáveis sonhos. E muitos venenos no fim para morrer agradavelmente. Trabalha-se ainda porque o trabalho é uma distração; mas faz-se de modo que a distração não debilite. Já uma pessoa se não torna nem pobre nem rica; são duas coisas demasiado difíceis. Quem quererá ainda governar? Quem quererá ainda obedecer? São duas coisas demasiado custosas. Nenhum pastor, e só um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de outro modo vai por seu pé para o manicômio."
(Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra")