Em época de Copa do Mundo cresce, diante o fascínio popular, a questão do
por que de tanto sucesso entre as pessoas do futebol, um jogo basicamente
simples de se jogar, que prescinde de equipamentos complexos,conduzido com os
pés, um membro inferior do corpo humano, o que denota à ele por parte dos
entusiastas de outras modalidades, algo de rudimentar.
Foto de uma das
primeiras disputas
futebolísticas
no Brasil no Séc. XIX
Mas a paixão e a idiotia que gira em
torno desse esporte é grande.
Está certo que em um evento como a Copa do Mundo, o ápice do embate
entre seleções nacionais nos campos, os ânimos fiquem mais acirrados pela
competição, assim como se expande o sentido de festividade neste encontro
mundial, visando mais justificar os gastos e a grandiosidade do evento do que
com os benefícios adquiridos daí.
Já foi notado o caráter esotérico do futebol, onde 11 jogadores de cada
lado disputam a posse da bola e tentam conduzi-la através das metas adversárias
dispostas nas extremidades do campo.
O número total de jogadores remete aos 22 Arcanos Maiores do Tarô, onde
a bola seria a esfera do planeta Terra, o mundo, ou a própria alma humana.
Acrescentando a figura do juiz, somam-se 23 elementos dentro de campo, outro
número enigmático que se acrescenta ao próprio 11, denotando aí ligações cabalísticas e yoguícas, onde a condução da bola seria a própria realização da
escalada da serpente cósmica até adentrar na Coroa da Criação.
Há relatos de outras práticas esportivas parecidas com o futebol moderno
na antiguidade, onde o fato de se propulsionar uma bola com os pés sempre constituía uma diversão popular. Houve isto desde a China com o Tsu-chu, no Japão, onde o jogo era
chamado de Kemari, na Grécia havia o Epyskiros, em Roma se disputava o Harpastum e na Normandia havia o Soule.
Imagem grega
antes de Cristo já
retrata o controle de uma pelota
Na antiga América pré-colombiana os Maias e Astecas praticavam um
popular esporte com bola que representava o domínio das estrelas na disputa, e
não se sabe se os Europeus trouxeram de lá essa prática de entretenimento, o
que se pode notar é que o futebol evoluiu desde o jogo Calcio de Florença, o
que deve ter sido somado ao Harpastum romano.
Disputa do jogo de Calcio na
Florença medieval
Porém, historicamente o futebol foi arregimentado, denotanto daí seu surgimento como o conhecemos, nas místicas paragens de Albion, a Inglaterra, região famosa por seus magos e mitos. Ali se organizou em 1861 o primeiro campeonato e conjunto de regras do Football, cunhando-se o termo Goal para o ponto do jogo.
“Mass-football”, imagem inglesa do Séc. XVIII
Como Império mundial e um povo
conquistador, os ingleses espalharam pelo mundo, a cada canto que iam, aquela
pratica de divertimento facilmente assimilado em diversas nações onde se tornou
foco de aglomeração popular em disputas violentas.
Da visão esotérica cunhada nos salões vitorianos das universidades
Inglesas, da disputa do mundo ou da alma humana pelos Arcanos, onde bem e mal
são totalmente relativos, tendo a possibilidade até do empate entre as partes,
o esporte adentrou no imaginário dos povos.
Brasil x
Argentina - 1918
Com sua popularidade disseminada, ao
longo do tempo uma grande assimilação na maestria da condução da bola também se
fez notar, e visando diminuir o ímpeto de violência das partidas, o esporte foi
profissionalizado.
Na medição de forças e ajuste de
contas mundial entre seleções nacionais, o que veio a ser o campeonato das
Copas do Mundo, seus próprios criadores se mostraram medíocres. No início do
século XX, Uruguai e Itália dividiram o auge das primeiras glórias de conquistas. Depois Alemanha e Brasil dividiram por 20 anos a hegemonia no
esporte.
Ao longo do Séc.XX o futebol denotou uma evolução e seus principais
vencedores mundiais foram nações dominantes em suas esferas geográficas e
momentos políticos.
Mas uma interferência começou a ser notada desde o ano de 1970 quando o
futebol começou a ser usado com conotações políticas na forma de propaganda
para governos e nações.
Notadamente, o ano da grande conquista histórica futebolística, o
primeiro tricampeonato mundial, conquistado pelo Brasil em 1970 no México, se
passava em nosso país o período de maior violência da ditadura e da repressão
social e política do Estado. A conquista do tri foi um bálsamo que os militares
souberam usar em seu favor na condução das massas populares.
Em 1974 o embate capitalismo x comunismo foi travado também nos campos
da Alemanha Ocidental, tendo o país sede campeão.
Na Argentina em 1978 a função de alienação e propaganda nacional do
futebol foi usado pelo regime, além de ali se mostrar tramas extracampo para
que o país sede se sagrasse campeão e encobrisse assim o sangrento momento da
ditadura no país.
Em 1982 na Espanha, o país foi aberto ao mundo, escondendo porém suas
profundas divisões regionais e o atraso tecnológico, foi quando a Itália foi
tri campeã.
No México novamente em 1986, mostrando como esse país sempre fora o tubo
de ensaios do reacionarismo mundial, afastando-se do ambiente pesado Europeu do
auge da Guerra Fria e debaixo das asas do Império Norte-americano de Reagan,
com o campeonato ganhando o contorno de maior evento esportivo assistido em
todo o planeta, o maior negócio comercial do mundo, envolvendo propaganda,
tecnologia, patrocínio, etc., a Argentina mais uma vez foi campeã, um país
enveredado em uma guerra louca com a Inglaterra por uma ilha acima de um enorme
campo petrolífero e a loucura de seu governo militar onde o futebol serviu mais
uma vez como ópio do povo quando os Sul-americanos “vingaram” em campo o vexame
militar.
No início da década de 90 uma Alemanha unificada usou os campos da Itália como mostra de sua integração nacional, para esquecer de vez as pechas
negras da II Guerra Mundial 45 anos depois.
De olhos nas altas rendas do futebol e em espaços para seu crescimento,
os EUA foram escolhidos para sediarem a Copa em 1994, e o Brasil, que era
varrido e expropriado por uma onda neoliberal sagrou-se campeão novamente
depois de 24 anos de jejum.
Na sequência em 1998 a França arquitetou um campeonato para vencer e com
isso revitalizar o sentimento patriótico de seu povo, unindo uma nação eclipsada
pela União Europeia naquilo que era a vitória ideal contra o maior campeão de
todos os tempos, o Brasil, em um enredo que até hoje pairam suspeitas, dado às
estranhezas que envolveram o jogo final da Copa.
No Séc. XXI então, pela primeira vez uma Copa foi realizada fora do eixo
Europa-América, tendo como sedes as duas nações mais alinhadas com o espírito
Ocidental, a Coreia do Sul e o Japão, onde o Brasil, passando por um período
populista ,politicamente falando, confirmou com sua seleção sua hegemonia
mundial no esporte.
Voltando à Europa, no país propulsor daquela civilização, a Alemanha
apresentou-se ao mundo como símbolo de nação moderna, tendo a Itália campeã,
país que vivia um momento de grandes escândalos nacionais de corrupção que
atingia principalmente o futebol, com comprovação de armações em resultados de
jogos de seu campeonato nacional.
No ano de 2010, mais uma vez o futebol foi ganhar novos domínios, ou
consolidá-los, premiando o sofrido continente africano com uma Copa no país
mais Europeu da região, a África do Sul.
No meio da maior crise financeira mundial e principalmente europeia,
justamente o país europeu mais dividido socialmente e mais conturbado
economicamente sagra-se campeão, a Espanha, em uma final com a seleção do país
que outrora implantara o regime de segregação racial naquele país africano, a
Holanda.
Voltando à América do Sul depois de 30 anos e outras tantas ditaduras
militares, novamente o populismo político é prestigiado com a sede do mundial. Em
2014 a Copa encontra um Brasil mergulhado em grave crise política, com
corrupção exacerbada e o ímpeto de protesto do povo mais ativo como nunca esteve,
além de uma grave crise econômica aos moldes da Espanha 4 anos atrás.
Assim o Brasil alça-se na aventura de mais uma vez ser um país em crise
a sagrar-se campeão para amortizar a revolta dos tempos em que se acha.
Se o paliativo do futebol vai conseguir seu efeito placebo saberemos nos
próximos dias, mas o povo está no meio do fogo cruzado onde os lados políticos
se embatem antes de uma eleição de importância sem precedentes em nossa história
democrática, e os meios de comunicação tem que requebrar ao som de samba entre
escolher dizer a verdade ou absorver o lucro que um evento midiático como a
Copa do Mundo favorece.
Para o futuro o futebol já aponta seus olhos arcanos para focos conturbados
do mundo, Rússia e Qatar sediarão, à força de prestigio político, dinheiro e
interesses obscuros os próximos mundiais, e a expansão e popularização desse
esporte promete continuar fortalecendo sua hegemonia na preferência popular em
todo mundo.
Com o passar do tempo, uma gradativa equiparação é observada entre as
seleções nacionais, igualdade de forças construída muito graças às
naturalizações de atletas de países como Brasil e Argentina e da disseminação
do trabalho de técnicos de países Europeus ou Sul-americanos, o que demonstra uma tolerância por parte dos
administradores do negócio do futebol, a FIFA, quanto à imprescindibilidade
total da popularização do esporte.
Apesar de toda a riqueza das nações desenvolvidas e das velhas tradições
do futebol nos países subdesenvolvidos da América do Sul, aparecem “zebras”
históricas nos campos, comprovando a magia artificiosa deste esporte, imerso no
elaborado simulacro instalado dentro de campo onde 11 homens disputam com
outros 11 o destino de suas carreiras e paralelamente, a luta entre
adversários, entre povos, onde o mal é afastado para tão longe, que o mundo
inteiro parece estar perfeito, sem pobreza e sem problemas sociais e ambientais
terríveis.
Fizeram do futebol o maior alienador das massas, sobrepujando
finalmente a religião, haja visto que é mais fácil uma pessoa mudar suas
crenças espirituais do que alguém trocar de time de futebol em sua afeição e
torcida.
A disputa futebolística interna em um país divide mais as pessoas do que
política e a religião, se tornando um forte condensador ufanista de pequenas
levas, encravados em uma paixão violenta pelas suas camisas de clubes.
Além disso, as rusgas internacionais entre as nações vai sendo sublimada
mais profundamente pelas disputas dos mundiais em Copas.
Os países que não tem tradição vencedora nas Copas são justamente os que
ainda persistem nas guerras, enquanto as nações europeias e sul-americanas se
lançam nessa guerra pelos lucros financeiros e sociais de um titulo em uma Copa
do Mundo.
O futebol em sua forma moderna, regido pela mão de ouro maciço da FIFA,
com sua opulência econômica, aponta para qual profundidade o embate entre os
povos adentrou, um campo onde não se pode haver alianças, pois só pode haver um
campeão. Uma guerra onde os lucros comerciais e políticos são colhidos passando
finalmente o rolo-compressor capitalista sobre o próprio Estado-Nação,
mostrando a todos os rumos da humanidade sob o comando das empresas
internacionais, empreendimentos internacionais como a FIFA, que tem mais
membros que a própria ONU, e talvez assim, mais poder também.
Esse futuro denotado desde os campos de futebol é o controle humano
através, não de armas, mas do entretenimento, onde os astros dos palcos são os
silenciosos milionários atletas, filósofos de clichês nacionalistas e
lançadores de moda ridículas, os quais se dedicam parcamente de 4 em 4 anos à
“causa” de sua nação, um reflexo até de como a grande maioria das massas
encontra de expressar seu próprio orgulho nacional, somente na hora do futebol,
pois parece que para esses, o povo em geral da maioria dos países do mundo, é
só isso que suas elites político-econômicas dividirão com os miseráveis.
As prerrogativas místicas da bola e dos arcanos foram diminuídas à isso,
os mitos que se aderem aos calados jogadores no imaginário popular, colados em
álbuns de figurinha desde a muito tempo, onde reis, príncipes, imperadores, deuses
e o próprio Deus parecem ter sido cerceados às 4 linhas de um campo, onde tudo
muito camaradamente e limpo se desenvolverá desde agora ao longo do tempo.
As incríveis disparidades dos ganhos de certas atletas já demonstram que
se depender do futebol, muita pouca coisa irá mudar no seio da sociedade em um
canal onde deuses e gênios das raças vem para perpetrar a desigualdade
financeira e eclipsar os inauditos imensamente maiores ganhos dos clubes, dos
empresários e da FIFA.
Nesse esporte, mesmo contendo espaço para a superação dos mais fracos
tecnicamente à nível mundial, o grande novo ópio das massas promete, como as
religiões, continuar dividindo as pessoas.
O futebol assim perpetua sua mensagem cínica, que ele é um esporte
fascinante por não haver favoritos dentro de campo, mas nós sabemos muito bem
que é que sempre ganha com ele.
O vale-tudo do
futebol retratado antes dele se tornar uma
fabulosa mina
de ouro para a mídia e os políticos
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