Segue entrementes, por um vazio que se
instala no meio de tudo, sem sinal de onde vem ou para onde vai, no devir de
cada dia que intui ser uma repetição distante, porém com algo que falta.
Em seu peito uma saudade que não tem fundamento, um sentimento de nada
que às vezes é confundido por ele com carência.
Mas um dia, cruzando uma praça vazia, evacuada por uma forte chuva que
logo cessara & então queimava no sol de verão do meio dia, fluindo névoa no
calor, ele enfim percebera que tal saudade era o rastro da ausência de alguém
que devia estar em sua vida, mas não está! Como ele poderia entender isso?
Sim! Era a falta dela, uma falta já eterna cuja presença sempre foi
também eterna & terna, mas desde essa existência apenas... O que ele intuía
então o sabia inferindo por aquela ausência atroz que lhe falava de uma parte
sua faltando, uma mulher que ele amou eternamente, mas que agora, nesse círculo
do eterno retorno, não mais estava junto dele.
A praça vazia, o peito agreste, o clima cerrado, o coração oco, a mente
saudosa, tudo era o sentido da falta, do “devia ser” porque “sempre foi”. Mas
agora não mais era...
Ele é um vislumbrador, alguém que viu os raios de sol do grande meio
dia, e há muito tempo andava pelos mesmos lugares de outra vida, porém sem a
presença daquela pessoa, que havia enfim partido do círculo incessante deste
hades hilético.
Nas infindas idas e vindas do eterno retorno do mesmo ela alcançou a
saída & ele repermanecera no ciclo eterno, por isso agora ele seguia esse
vazio desconcertante por entre as praças, os cômodos, os lugares em que ia,
dentro do ônibus, nas ruas lotadas, dentro dos bares, olhando para o lado,
esperando vê-la, seu sorriso, seus olhos, o que sempre fora o melhor de sua
vida, e que não é mais.
Eles percorreram juntos trilhões de vidas, sempre a mesma, nunca outra,
eternamente revivida, onde um dia se encontravam; trilhões de primeiros beijos
todos iguais, agora não mais beijados...
trilhões de palavras trocadas todas iguais, agora não mais proferidas...
trilhões de afetos & carinhos recíprocos depositados no relacionamento,
agora não mais relacionado... & mais, um resto que agora ele jamais saberá,
pois falta ela... Ela não veio mais... Ela alcançara a liberação, & ele
sentia que logo iria atrás, para o grande nada, a ignorância dos filósofos.
Quando disso, todas as energias do Universo vibram como se abortando um
pedaço de si, todas as realidade paralelas infindas, mas não infinitas
dissonam, em todas as vidas possíveis que eternamente se repetem uma se
modifica & a própria totalidade dos devires se abala, uma delas foi
desassimilada enfim, & dentro daquele túnel os dados extraviam-se naquele
jogo de cartas marcadas, alguém urdiu uma trapaça, uma galáxia perde uma
estrela, e os anos cósmicos ressente-se, em um sistema planetário um Arconte
urra de ira, seu cárcere diminuído, & por um momento, ao meio dia em um
planeta insignificante, uma pessoa morre e não mais nasce, saindo pela tangente
ao que sua plataforma astral curva perpendicular & escorre dali um fio de
espírito furioso arremessado para longe do tabuleiro, alguém se livrou do
eterno retorno do mesmo, alguém se libertou... Um anel foi rompido.
O Arconte pensa: “Um se foi! Que
falta faz?”, & remoei a dor de sua própria perda.
Alhures & agora, foi ela, ele sente, ele intui, ele sabe... A
ferrenha saudade & a descomunal solidão diz que um dia algo foi diferente,
houve ela... & que agora não mais é, agora ela se foi, definitivamente para
todo o sempre.
Quereria ele outra vez, & só uma mais, esse amor-fati? Suportaria ou
suportou isso por quantos aeons? Suporta agora? Deseja sinceramente isso? É
preciso só dizer sim! Resignado perder para ganhar.
Em sua triste & alegre exultação ele persevera, pois sabe de tal
grande êxtase de felicidade, & sabe ser possível ele se ir também, deixando
saudades sem fundamento para quem ficar.
Logo ele irá, ele sabe, ouve o chamado nulo dela imperando no céu de seu
mundo, uma paixão que não aconteceu, um amor sem igual, mas que outrora sempre
acontecera, sinal de uma desilusão significativa ao extremo, sinal de que ambos
então estarão juntos... no nada... em plenitude!
É meio dia no mundo inteiro...
O coração cheio de
luz negra...
O
eterno retorno evitado...
Os ventos cessados...
O Anel enfim rompido...
É Meio Dia no
mundo inteiro...
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