Alojados na aridez desses tempos, nem achados nem perdidos, somente
suspensos, nenhuma ideia permanece o tempo suficiente para ser apreendida em
profundidade.
& ainda somos de mergulhos, de oceanos, buracos negros, somos de
profundidades, de nos encontrarmos na substancia colateral das luz, as sombras,
escuridão...
Lá fora, tanta luz ainda, tanto Sol, claridade abundante do dia, mas
estamos confinados, estamos (des)guardados do pleno movimento, do sem
precauções, do sem medos, do sem temor...
& então tudo é desânimo, perdemos uma causa que nem sabemos
nomeá-la, perdemos um impulso, uma dimensão que nos compunha, tão sútil, fina,
que nem percebemos quando nos desnudaram dela.
Agora, quando a emanação pretende exteriorizar algo, só a
intranquilidade da apatia se revela, & desistimos de ir até o fim.
Pois essa não seria a soma de todos nossos silenciosos fracassos, que
agora gritam? Não seria isso a verdadeira dimensão de nossa força fraca, nos
estagnando? Se sempre quisemos mais, sempre quisemos ser... outra coisa, outro
ser, outra máscara... só restou restos... de algo que nunca poderíamos mesmo
ser...
& se a luz do dia nós era legada, como gratuidade, assim como as
profundezas & o escuro também?
Agora & adiante, se exigirá de nós esforço! Esforço para seguir, esforço
para ficar, esforço para emanar, esforço para destruir, esforço para amar, para
dizer sim, dizer não, talvez, etc.
Isso já estava a caminho antes, na cultura que se (de)lapidava, que
rapidamente se fixava pelo virtual, e a pandemia só veio coroar. Do coração do
ser de cada um, materializou-se essa anti-obra de arte, a egregóra do Banal, &
se tornou realidade social, comunal, se tornou modo de vida. O econômico se
tornou vital, mais do que a saúde, & são esses os princípios que agora
exigem, em conflagração, nossas energias.
Perdemos a Arte, que já vinha sendo corrompida & alienada, perdemos
a Liberdade, perdemos o Belo, perdemos o Bem, perdemos todas as gratuidades do
imaterial & do material, praticamente nos cadaverizamos iluminados ao nos criptografar
inconscientemente ou demagogicamente cientes dessa estupidez.
Isso já era previsto, mas não esperava que a dimensão material fosse tão
afetada. Mas ora, se a Grande Ignorância que desceu seu véu sobre a alma, teria
que atingir também o corpo, pois são interligados...
Perdemos pois o embate espiritual que era para perdermos no fim da
antiga História, no epilogo de uma Era, só que escolhemos divertidamente
submergir na dissolução do que era insuportável para nós, a Autenticidade. Por
isso o ar-tista deve ser aquele que deve ser chamado com mais severidade nesse
momento da nossa História.
A história desse fim se contará assim:
1º nos interligamos, ganhamos um
mundo de conectividade; 2º nós criamos uma personalidade nova para habitar no espaço
virtual desse território de comunicação; 3º começamos a simular e a criticar os
outros, começamos a policiar, agredir, delatar, odiar os outros; 4º começamos
simplesmente a replicar, copiar, mentir, falsificar; 5º fortalecemos o oposto
do que queríamos parecer; 6º adoecemos, desaparecemos...
Atrofiamos a alma, cortamos a ligação com o espírito, corrompemos o
corpo com filtros, artificiais & físicos, virados do avesso expomo-nos
enfim pelo avesso da coragem, a ousadia acovardada, trocamos a criatividade por
isso, & a ousadia só remexe as banalidades, a estupidez, a idiotia, as
mesmices...
Tal ousadia que só se tem coragem de expor graças ao isolamento, à distância,
ao véu do virtual, calçada pela impunidade, pela distância das mãos, do crivo
dos olhos, agregada à moral do banal, do corriqueiro.
Dessa forma os dias são agora, tal moral se enrijeceu, se faz cultura, e
nós, perdidos, desagregados, submergimos mais...
Mas
ainda... somos de mergulho, de aprofundar, & resistimos. Resistimos?
Emanamos, queremos criar... A pandemia passará? A banalidade não! Fixou-se...
resta uma transfuga... nos joguemos!
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