25 de jan. de 2021

Considerações Contemporâneas: Purgação (01/21)

 

Pense bem...
CULTURA, redes sociais, política, Covid, ser humano...

Dizem que certa pessoa pode despertar o que há de pior ou melhor no outro... Dizem que há o lado certo e o lado errado da história, das escolhas, de tudo. Influência, livre arbítrio, causa e efeito, etc.

Assistindo o seriado THE PURGE penso como isso não é uma hipérbole de nossa realidade atualíssima, onde não nos rendemos à uma tal "cultura de ódio", mas sim, nos deixamos levar pela falta de vontade extrema de diálogo.

Afinal, qual diferença há na pulsão de "CANCELAMENTO" e a de "PURIFICAÇÃO" simulada na série? Uma diferença de grau? Talvez nem isso! Pois o desejo de purgar, ou mais precisamente, limpar o mundo de esse ou aquele indivíduo está presente na mente da maioria das pessoas, de uma forma ou de outra, com os mais diferentes motivos ou proporção, mas está.

Então salto para outro ponto: estamos em uma sociedade onde já se implantou a VIGILÂNCIA total do indivíduo, não sabemos até que ponto, mas as ferramentas já estão ativas para isso, e evoluindo. Seu objetivo, é claro, é o CONTROLE.

O que é visto em tal seriado, que no Brasil é conhecido também pelo nomes dos longa metragens do qual se originou, UMA NOITE DE CRIME, revela o desejo de muitos, um tempo, e espaço, LIVRE, para expurgar de dentro de si, através de qualquer ato, em que outros tempos, e lugares, tais atos seriam ilegais e punidos pela lei.

Ora, há uma sensação generalizada, mas até então ilusória, que há realmente um tempo e lugar onde tudo pode ser feito, sem maiores consequências, e esse lugar é a INTERNET, mas precisamente, nos territórios de encontro, as redes sociais.

É claro que isso não é verdade! Há leis que incidem sobre quase todas as pessoas na internet. Quase todas! Pois assim embaixo como no alto, poder é poder, e pode poupar alguns, precisamente aqueles que são DONOS dos sistemas de controle, que é o que vem a ser as redes sociais.

Agora adentramos em tempos estranhos, onde tudo se confunde. Liberdade e censura, povo e poderosos, doença e saúde, segurança e perigo, etc.

E mais confuso ainda está a mente das pessoas. Veja bem, temos cerca de 9 milhões de pessoas, só no Brasil, curadas de covid, porém nada ou pouco se sabe como está o psicológico desses sobreviventes. E lhes garanto, perfeito não está.

Temos cerca de 15 milhões de desempregados direta ou indiretamente por causa da crise economíca colateral à pandemia, pelos números da série histórica, 6 milhões no último ano, pois já haviam 9 milhões de desempregados do período anterior à 2018.

E temos, por baixo, cerca de 130 milhões de brasileiros com acesso à internet, ou seja, acesso à informação, cultura, redes sociais, fake news, etc. Esses são também 130 milhões de pessoas VIGIADAS, espionadas, manipuladas, etc., só não concordará quem nunca recebeu uma propaganda ou vídeo depois de pesquisar ao menos, sobre determinada coisa. Há até documentários provando isso, além de inúmeros depoimentos e processos legais que testificam a invasão de privacidade das pessoas, seja clicando 'sim' nos termos de uso de um APP ou não.

Agora veja para onde caminhamos, globalmente: uma pandemia que não sabemos como se desenrolará, mas com bilhões de pessoas sequeladas pelo vírus, pelos seus efeitos econômicos, etc. Sociedades precisamente divididas politicamente entre as quimeras espectrais de Direita e Esquerda, se degladiando raivosamente. Empresas controlando a maior parte do fluxo econômico, de opinião e reengenharia social nas mãos de poucas pessoas; os meios de comunicação à mercê do dinheiro do Estado ao ponto de se engajarem com a corruptocrácias; minorias sócio-culturais deflagrando ofensivas de estilo de vida através das redes; líderes religiosos insanos de todas crenças reescrevendo tradições; descobertas científicas incríveis; líderes políticos demagogos ao extremo guerreando no espaço público internacional de acordo com seus egos e os interesses submersos de uma ou outra elite; etc., etc., etc.

Então saímos desse funil de desqualificação geral de tudo que nos faz seres humanos, saímos como uma linguiça, embutidos de restos e dejetos de toda cultura de 2 milênios somada ao grande avanço tecnológico dos últimos 100 anos, passado pela purgação de duas grande guerras mundiais, a ascensão do comunismo, uma revolução sexual ultrapassada, o advento da força do cinema e da TV como expressão e plataforma dos mitos contemporâneos, o desenvolvimento tecno-industrial e comercial, a destruição da natureza, tudo, tudo isso para que pessoas com uma psique pós-medieval tenha que lidar.

Nunca tivemos tanta liberdade em potencial e tão pouca margem de ação para viver quanto nesse nosso tempo, e realmente não sabemos para onde levar isso, qual meio de vida e cultura devemos construir, por isso sempre uns poucos decidem para todos, e é assim que se resume essa prisão "para nosso próprio bem (?!?!)".

Se pelos menos tivéssemos todos a consciência das forças cíclicas e espirais que usam para subjugar a sociedade, teríamos uma base histórica não dialética para qual dirigimos nossa força conjunta e romper tais ciclos que nos levam à escravidão arquétipica que já cremos inconscientemente. Porém isso é tarefa para Além-homens.

Como ficaremos daqui uns tempos é previsível, mas também imponderável, porque os fatores só podem ser pensados dentro de um cenário péssimo e de forças complexas, mesmo que egregoras funestas estejam estabelecidas, e também por causa disto.

Queremos o apocalipse, mas não o imantamos da tragicidade que poderia nos fazer fortes ao ponto de vencermos o CONTROLE atual. Ainda resta o diálogo, mas... isso é o que é realmente novo na história humana, e a forma como hoje aderimos à comunicação é tudo, menos contato.

Pense bem... RESISTA! E resistir nos dia de hoje é não ceder à tentação da facilidade de se conectar pela frieza e impessoalidade das redes sociais, ferramenta de domínio e desagregação de nossa descivilização, muito semelhante à distopia de uma purgação...



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