Todos os feitiços surtiram efeito
Se realizaram os desejos
& agora sua energia já desvanece
Um ano para se comemorar
com recordações
para guardar
& esquecer
•••
Agora vem tempos incertos
Os quais novos desejos urgem
& novos feitiços há de os alcançarem
Espalhar pela vida
novos momentos
que serão para se lembrar
ou esquecer
•••
Ouve
Essa é mensagem que postei & você não leu
a carta que eu escrevi & não te mandei
O poema que fiz & nunca publiquei
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas não compreendida
A não ser... só por eu & você...
Ouve
O silêncio que ficou depois das bobagens que dissemos
A ferida que sangrou dos cortes que trocamos
A tolice que seguiu mesmo depois que paramos
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas não compreendida
A não ser... só por eu & você...
Ouve
Pelas ruas da cidade já não fugimos mais
Pelos bares desconhecidos já não bebemos mais
Pelos cantos mais escuros já não nos escondemos mais
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas não compreendida
A não ser... só por eu & você...
Ouve
Já faz tempo que concordei com o que você fez
Já não choro mais por ter acabado minha vez
Já nem sei mais se você lembra de nossa nudez
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas não compreendida
A não ser... só por eu & você...
Ouve
O lugar sujo em que nos conhecemos já não nos conhece mais
A rua onde te deixava já não passo mais
As palavras que eu te dizia já não digo pra ninguém mais
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas não compreendida
A não ser... só por eu & você...
Ouve
Essa é mensagem que postei & você nunca leu
As palavras que calei & você não completou
Os momentos que tivemos & a vida renegou
Essa é a canção de despedida
que é pra ser cantada
mas só compreendida
por eu
& você...
fim da linha
estrada
túnel
fundo do poço
garrafa
mundo
Lendo coisas escritas
em um livro que já li
& não me lembrava de nada
(Quando se lê pela segunda vez, estamos lendo ou lembrando?)
Lendo coisas escritas
numa lata de cerveja
& nem sei se vou lembrar depois da ressaca
(Quando se lê algo inútil, estamos lendo ou esquecendo?)
o chato do mundo
é que ele não acaba
não importa quanto se deseje
tem gente que vai estar vendo beleza
enquanto multidões desiludidas
não tem força pra fuder com tudo
o chato do mundo
é que ele pertence aos fracos
& eles fazem de tudo
para o tornar cada vez mais insuportável
pois o que não se suporta
ou te mata ou te domestica
Bom dia... por favor... obrigado...
Boa tarde... que legal... gratidão...
Boa noite... fique com deus... amei...
ZumbisZumbisZumbisZumbisZumbis
SonâmbulosSonâmbulosSonâmbulos
DomesticadosDomesticadosDomesticados
No mundo há
dois tipos de seres
os tristes-felizes
& os tristes-tristes
fundo do poço
garrafa
mundo
estrada
túnel
fim da linha
-Que linha, idiota?!?!
Na equina cresce o limo verde
Enquanto as folhas caem e amarelam
Meus sonhos brancos
Me deitam ali, como flor carmim
& sinto o mofo me cobrir... devagar...
Na rua ao lado do asfalto negro
Sob todo esse céu cinza
Cai sem parar a chuva azul
Sobre esse mundo ocre
& sinto crescer a vontade... de descansar...
A gente gosta do que a gente encontra
& do que encontra a gente
A gente gosta do que encontra a gente
& do que a gente encontra
somos assim
Muitos procuram a perfeição
Mas tudo que há
É um gosto, um encontro, dentro da imperfeição
Em... com... tato...
Dispersamos nas desculpas
Dis... tantes...
A saudade garante proximidade
Essa é a sina
de coisas errantes
Atravessar cordilheiras
cruzar continentes
que separam & unem
Muitos acham que estão indo a algum lugar
Perdido, encontrado
Em um lugar que não consta do mapa do coração
& se per... der...
Dispensamos a culpa
Sem... pre estamos
Onde menos pudermos
A gente
desencontra
A gente
desgosta
& mesmo assim
En... contrando
Contra todo desgosto
Um e... motivo
Pra gostar
Lembro
Que o nível do a...mar
Subia rápido demais
Do meio perfumado do seu peito
Até o pico dos seios...
& no cume de tua boca
Eu sempre ca...ia
No teu beijo de mares profundos...
Eu quase nunca sabia
O que era voar ou afogar
Eu nunca sabia
O que era superficial
Ou profundeza
Ali... no meio dos seus peitos...
Foi de novo
que eu estranhei a mim mesmo
Devorando o mundo
& não guardei o mapa
por onde passei os dentes
Cardápio geográfico dos corpos
com quem fiquei, o gosto na mente
Perdido, achado
eu comia a vida
tendo ou não gosto
Saboriei
pele, músculo, pelo, rosto
Almas & traumas
do nunca sei onde pôr
Os restos de todo topor
Então veio você
coisa mais estranha que eu
Meu deu de bandeja
o que não queria comer
Teu pomo mais duro
macio entre as pernas
Eu mordia cada pedaço de ti
& guardava nas vísceras
O que queria para mim
Mordendo engolindo
um corpo me tornei dois
Já era mais
estranho do que nunca fui, findo
Seu sacrossanto monte de carnes & ossos
virou meu suporte, minha morada, cozinha
Sua forma & lembrança
minha azia
Ando por aí
Suspendendo o pensamento
mesmo que ele não seja leve...
É difícil saber
Que pisamos sobre o mesmo chão
& o peso do chão é nada para nossos pés...
Vivemos sobre a mesma pedra
Respiramos o mesmo ar
mas não misturamos mais nada...
& a distância & o tempo & a luz
Que nos separa
é nada, como a embriaguez que nos uniu...
Entre nós
Tudo & nada
& todos os momentos que se foram...
& a saudade constante
A decepção resultante
de detalhes que acolhem o inferno...
Do que se disse
& o que se calou
& do que nunca viveremos...
Aprendi a última lição de um amor
É fácil
tomar distância...
Sabe
Que ainda nos matamos
& queremos nos salvar...
Uns
do crime
Outros
da culpa
& ainda
sermos culpados das proezas
em nome da vida...
Sabe
Que ainda não nos fomos
& persistimos...
Outros
na luta
Uns
na apatia
& ainda
somos todos exilados
de um lado ou outro da fronteira da vida...
Agora
Os pássaros ainda voam
apesar do peso da fome em outros animais
que não carregam nas asas
a leveza dos ossos...
Agora
Meu coração ósseo
de asas de morcego
voou cego no fosso da luz da sol
com a leveza da carne que queima...
Ainda! Tornado incêndio
Ainda! Sem sal na carne
Ainda! Não sabendo de nada...
Tudo se desgasta
tudo acaba
Desde as caixas de chocolate
até o amor...
Acabam
& o que resta
jogamos fora...
Caixas vazias rasgadas,
papel colorido picado,
coração vazio,
parado...
Quando eu acabar
me chame de caixa vazia,
papel colorido rasgado;
Quando eu acabar
me jogue em um coração vazio
me jogue no vácuo...
Tudo acaba
& nada fica
Um dia, tudo, ou quase tudo
é esquecido
Caixa rasgada
papel vazio
No lixo de um coração parado
Tudo se desgasta
até aquilo que em nós ama
Não sei se é a alma
o coração ou as vísceras,
Exigindo que a memória apague
que as ondas do mar parem
que a fome do mundo acabe
que você, enfim, suma!
Diluindo-se com v o c ê
vai todas as vontades
a fome
a sede
a tentação... de lembrar!
Saudade que vai passar avisa,
como única vontade:
-É hora de ficar, de novo... sozinho!
Como semente no chão
Como gota de chuva
Como lâmpada na escuridão
Como barco naufragado
Como era antes...
Pra depois
Ser de novo
Uma nova dor
Um novo amor!
Só!
Sonhei com uma paisagem que nunca vi...
...eis meu cérebro gastando energia para criar coisas para além do meu conhecimento, me falando da potência da imaginação...
& pela manhã leio sobre Milton...
...sinto minha mente afiada como uma lâmina que não distinguo se serve para cortar pelos, carne ou a realidade...
"Cada qual (Freud e Milton) exalta a interioridade contra as coisas do modo como são externamente, e ambas as instâncias são modos de negação, liberando o pensamento e a poesia de um passado sexual, ao mesmo tempo em que mantém uma considerável repressão da memória, do arrependimento e do desejo" (H. Bloom)
Sonhei com uma paisagem que nunca vi... era como se houvesse ventos condensados em pilares-lençóis, rosas branco pálidos azulados, erguido da base aos céus como árvores etéreas que sustenta apenas um fundo onde à frente, ou por debaixo, passava um ser empurrando, tal qual caracol inverso, suas coisas ali comportadas diante as mãos que não via.
Dispersando nessa paisagem toda memória, pois tal vista não é fruto de nenhuma lembrança, nem de coisa da natureza ou da arte; não comportando nenhum resquício de ressentimento, seja de mágoa, raiva, amor ou saudade, nenhuma retorno de sentir algo assim, era só um olhar, talvez para algo absolutamente novo, sem nenhum devir; nenhum devir nem mesmo do desejo, seja sexual ou material de qualquer forma... era apenas a vista de algo transcendente, alienígena, extraterrestre, meta-humano, porém físico em si, mas que ia além...
Sonhei com uma paisagem que nunca vi... era algo como uma além-floresta... por onde se passa, eu vi ao longe, mas era enorme... vi por um instante, mas era permanente... rizomas estendidos entre o nada & algo...
Eu apenas sonhei, des-imaginei...
Então é assim
Agora tenho que rir por acidente
Amar com permissão
Chorar por coisas que não deviam
ter acontecido...
Desejar o que não é meu
Invejar o indesejável
& ser feliz por acaso...
Então é assim
Esquecer a relatividade
das distâncias
Ignorar o tempo que não para
Contentar-me em estar vivo
para sofrer de novo,
errar novamente...
& dançar com a música da lembrança
A mesma que me devolve
seu beijo de benção
amaldiçoada
Porque não o tenho mais...
Não tenho mais
Nem a afeição de um olhar que certificará
que ainda estou aqui!
Ainda estou aqui?
Isso é só o que mereço
por ter passado por ti
Carregar o vírus de uma doença
no corpo & na alma
No sumo sintetizado
de cada respiração
Na forma de pensamento...
É isso o que ganhei
o que ficou de você
Uma grande dúvida em forma de nada
uma plena certeza em forma de dor
Cada célula gritando silêncio
nenhum órgão em sadio funcionamento
& essa sensação eterna de queda
para longe do sol...
Em outro trópico
A lua eclipsa o sol
Fechando o ano...
Em outro tópico
A sua elipse me assola
Fechando a alma com silêncio...
Sombra da lua na terra
Assombra a tua lembrança
Me aterra como cadáver inaudito
De uma loucura que enfim... se vai!
Agora que somos só silêncio
Que o que passou não aconteceu
Agora que somos de novo desconhecido
Existe um vazio no tempo
Que não tem como se preencher
Preencher esse espaço que o vácuo criou
Talvez com entulhos de raiva
Talvez com resquícios de culpa
Talvez com carcaças de materialidade
Ou ondas de indiferença
Poeira de verdades reveladas
Pó de mentiras decantada
Brisa de alegria...
Agora que finalmente somos só distância
Que nos entrevemos como cegos
Agora que estamos aprendendo a ser nada
Aniquilando o espaço que nos aproximou
Seremos de novo o que éramos
Dois erros quando se encontram
Colidem não como um erro maior
Mas como um acerto de contas
Do que se deseja
Com o que o mundo pode nos dar
Insanidade de se conseguir tudo
& tudo é o que ninguém deveria ter
Quando ali
Permaneço nos campos desordenados
Da sua mente
Emerjo & sou engolido
Pelo caos
Da sua incontrolável desrazão
Estou no foco da paixão
No olho do furacão
Em seu pensamento
Quando lá surjo & sou sepultado
Não faço nem ideia do que sou
Só não serei nada mais do que uma sombra
Aí me perco & me calo
Não sei de onde vem a luz que me projeta
Nem o vazio onde não ecoa a voz de meu coração
Trinco & me parto
Não recolhido, espalhado
Pelas mãos onde amaria repousar
Queria entender o que sou em você
Como o que você é em mim
Para além dos estilhaços
que um ao outro cortam
Costumava compor o amor
como uma luz que brilha no escuro
& fazia dele como o calor da manhã
que dava sentido ao dia inteiro
Mesmo que... de tarde chovesse...
Agora tenho que o decompor como a chuva que cai
derrama-se forte na terra nua
& os pingos grossos espalham lama
nos pés que cruzam o chão
Outrora seco... agora encharcado...
Costumava compor o amor
& sempre retornará a ser composto
Como o sol & a chuva que vêm & vão
apesar do dia ou da noite
Apesar de onde... pisamos pra deixar para trás...
Provei tua lágrima
& era tão suave
o sal
Que me fez crer
que você chorar
poderia também adoçar
a água insossa que sou...
Fazer-me rio
perdido no oceano que você é...
A bela
és como flor
engendrada por abelhas
sem usar do ferrão
No pólen das rosas
exala teu gozo
em um voo rápido
Espalhando tua prole
clones do teu útero vegetal
Fincados no chão
por vasta extensão
Não respeita
nem cerca
nem muro
Tu és como flor
espalhada por aí
Ao dorso sabor de ferrões
& no escuro de colmeias
vai acabar dando em mel
Sim
Uma rosa é uma rosa
Uma ferida, uma lembrança
De perfumes, isolada
De cor, além, do lado
Uma boca, um beijo
Uma alma, exilada
Sim
Uma rosa é uma rosa
Mas o que a cerca
Espinhos, feridas, jardim
É tudo ou nada
Se tocada
Se não vista
Se podada
Sim
Pra que tanto "sim"
Se só um "não"
Torna a rosa uma navalha
Que corta, mutila
Que até esquecê-la
É uma batalha
Sim
Uma rosa é uma rosa
Dada aos vivos
Em sua cova rasa
Da indiferença
Que não passa
Qualquer distância
Todo isolamento
É para esconder algo
Dos olhos
& do coração
Quando não
Da alma alheia.
Qualquer fuga
Qualquer esconderijo
É uma fuga para um segredo
Esconderijo para um mistério
Tornar oculto
Algo que nascerá em um silêncio.
Estou... nada!
& cansado de parecer... tudo!
...perecer de nada & tudo...
Exausto de fingir alegria
Exausto de fingir tristeza
Suspenso pelas correntes
Preso ao chão
Preso ao desejo
Preso à apatia
Peso... leve... desprezo...
Leve... preso... disperso...
Ao do que não se liberta
A vida, a morte, o acaso, o caos
Acorrentado no cotidiano
Máquina de moer... remoer... remorrer...
Nada... estou... tudo... de tudo...
Preso... leve... liberto... peso...
Desejo... apático... ressurecto...
Eu já nem lembro mais... do que gosto!
Do que me faz bem... do que me faz mal.
Estou fazendo o mais difícil para mim
facilitando pra você
Transformando
o que era
no que não é
Afastando-me
sem sair do lugar
Fagulha elétrica
suspensa
na névoa de gasolina
Eu a cada segundo
repreendo uma explosão
Fogo na palha seca
na trilha deserta
dos restos que deixou
Algo em mim a cada instante
pensa em você
Além do Tempo
acumulamos espaços vazios
do tempo além
Já passou da hora
de esquecer
Perdemos toda noção
quando pusemos distância
onde devia haver consideração
Estou fazendo o mais difícil para você
facilitando pra mim
No futuro...
Tudo que dissemos de sério
Vai virar poesia.
Bêbados de miséria...
Tudo será poeira
Nos olhos que choraram.
Partículas de areia...
Reviradas pedras alheias
Voando leves no ar.
Eu vou rir da saudade...
& esquecer
O que tanto queria me matar.
& a distância vai dizer ao que veio...
Fugir da morte
& amar mais uma vez.
Para o que foi teremos pontos finais...
O que sobrou
Decoraremos com reticências.
Eu
Mortal
Amor & tal
Sou o anti-deus
das pequenas coisas
Um toque seu
Pequeno choque
Um segundo apenas
Um gozo rápido
Além
Do bem & do mal
Eu fluo nisso
E ganho
Eternidades...
Você me dá
& eu recebo
A imortalidade
Em um sorriso
Em um 'bom dia'
& a felicidade
Eterna até passar
A embriagues
A saudade
A vontade
que não acaba
& que ultrapassa
A vida
A morte
A sorte
Eu
Anti-deus
de passagem
Te faço eterna
No meu coração
Que debate
Entre tempo
& espaço
Abro
Faço
Um universo
em um verso
Uma galáxia
&m um abraço...
No sempre aqui
Esse
Nosso laço
∞
Amar demais
é inútil
Mas nunca
por acaso
Eu quero
você merece
Eu mereço
você quer
Tudo em um toque
um beijo, um choque
Ficar na lembrança
não cair no esquecimento
Inútil?
acaso?
Acima!
abaixo!
Te amar
por dois meses
Te odiar
por uma única vez
Um segundo
jamais
Vale uma vida
negar a morte
Saber que nós
tivemos sorte
Amar demais
é a única forma de amar
Se por acaso
o que vale é o caso
Ninguém merece
é ficar em vácuo
O caos
o máximo
Porque a pior resposta
é a ausência
& a melhor aposta
de novo, a presença
Amar demais
às vezes é inútil
Mas nunca
por acaso
Vejo pessoas tristes
não por falta de amor
Paradas
perdidas
Por falta de um ocaso
encontrar por graça quem as amou
Longe
perto
Um abraço
um calor
Na curta vida
um largo sentimento de mais valor
Para encher os vazios
& provar que por aqui passou & ficou
Na carne de alguém
sua presença também marcou
Com perfume
com os dentes
& assim
amou
Porque amar demais
pode ser inútil
Mas nunca será
por acaso
& nem é
o meu fracasso
Abissais,
feios & lentos;
Animais na escuridão,
geram sua luz;
Constelações de estrelas solitárias,
guiam os naufrágios até o fundo;
Nas profundezas,
carne comprimida;
Animais como nós,
respiram o ar mor da água pesada;
Assim eu
no escuro & desomprimido
naufragado & desafogado
Gero luz
Deslizo na pressão
Respiro
& sigo
Abissal...
As sombras embalam uma alento de ninar...
Queremos dormir para sempre & esquecer
Queremos repousar no movimento do sono
& partir para sempre
Nas penumbras do esquecimento...
No meio da multidão de falidos
Me misturo & me perco
& abando o mundo, desejos & vontades
Abandono toda esperança que ainda é viver
& caminho, vagaroso aos braços do esquecimento...
Não darei meia volta
Não me procure no mundo
Os velhos lugares abandonados
Estão livres dessa dor que sou
& não serei nunca mais...
Não me procure mais na memória de ninguém
Não terei também mais nenhuma lembrança
Me chame pelo que signifiquei para você
Me chame de Nada
& assim terei ido por inteiro...
Estrada noturna
Pra longe das vias da incapa-cidade
Circundam & se afastam da tênue luz fria
Das coisas eletrificadas...
que ali ficam... paradas...
...Agora... Longe da cidade...
de tudo que é ordenado...
No escuro de lugar nenhum
Indo pra não sei onde
Perdido entre o vão
Da falta de luz
& o reflexo da lua, quando há,
Pela estrada
só movimentos obscurecidos...
Na estrada insetos polulam
Em busca de nada & morte
Impactos estraçalhantes
Se afogando em surpresa & atropelamento
Cães, gado, aves, fados, fados...
Partimos... É só movimento
Atração, repulsão, ilusão...
Move-se conosco
O escuro & o desespero do coração
Que não pode ficar
Que deve partir
Se enganar na distância
No escuro que seja
Que nada revela
Mas leva
Mesmo no escuro
Mesmo no escuro...
Nós nos perdemos muito tempo atrás, antes de nos conhecermos. Já vínhamos tão errados, por causas naturais, por decisões morais...
& adentramos no labirinto do tempo, cada vez mais dentro & profundo & escuro & irretornável... Nós nos perdemos muito antes de perder um ao outro.
Nos encontrar foi apenas a colisão de dois corpos sem rumo. Jogando a fantasia da alegria em plena compulsão da insanidade. Incontroláveis, cada um em sua ilusão, fugindo da tristeza & de si mesmo...
Só encontramos, um no outro, novas maneiras de nos ferirmos mutuamente, nada mais! Desde o olá sem "Olá!" & o adeus sem "Adeus..."
Perdido já estávamos... & seguimos assim depois do pouco tudo que tivemos juntos!
A memória do tempo antes de nós já perdemos, a lembrança do que passamos juntos é duvidosa, e tudo ruma para ser esquecido, como sempre... & sem... & se...
Tempo água
dai-me de beber,
preciso me afogar...
Eu me encharco
do amor líquido
que minei
De dentro dos poros
torturados
pelo roçar da carne...
Dizem dos homens oceânicos
que perdem tudo que quiseram,
Que eles só tem a sinceridade,
inevitável,
Nua como veste
crua como pedra,
Assim sou eu
rio, nuvem, lágrima
Sem mar, chuva, choro...
Água tempo
da seca do amor próprio,
preciso me afagar...
Eu me banho
do amor líquido
que caiu como chuva
Por entre os poros
ressecados
pela seca do coração...
