Introdução
Serei acaso Polifemo?
Serei Pigmaleão?
Triste sina
Triste sorte
Brando azar
Paixão forte
Me basta um olho:
aquele de sonhar!
Para moldar a mais bela dama
No ébano & no marfim mais
puros
Galatéia misteriosa
Revelação pura de luz
Rara & infame
Triste entrelaça sinas
à gigantes & incapazes de amar...
Galatéia de corpo alvo
Galatéia de alma simples
Incomum beleza habitando
em comum carne...
Ode 1ª
Complectude
Nossa perfeição desgastada
fala menos de nossos erros
& mais de nossa essência desalmada
Somos grama...
somos palha...
somos feno...
somos tralha...
Carne mastigada
Mitigada na incessante
história pessoal recontada
Não há o que reclamar
na dúbia parcialidade
desta relatividade em que existimos...
Guiados pela visão
Seduzidos pelos aromas
Enganados pelos sons
Pelo tato desimpressionados
Dançamos
Brincamos
Sofremos
Amamos
Cantamos
Descemos
Completa atitude incompleta
Do desnude de viver
Na precariedade de uma meta
Transuntar distâncias
Tempo beber...
Ode 2ª
Águas de Nereidas
As
escamas de trucidamento caem
Arrancadas
pela imensidão de ventos parados
que exalo em minha solidão
Agora
sou só uma vontade
Sou
só suor, defeito, sadismo, preguiça
Mas
vou voar
Vou
voar assim que a última escama cair,
quando a última pena de chumbo afogar-se no
ar.
Meus
olhos ardem agora
com o gás do suor que encharca minha testa
minha testa é a placa do planalto central,
rochedo sem nome
que
nunca sofreu com de terremotos
mas derretem sob o calor da
linha do Equador.
Velhas
florestas acima, na cintura, não falam nada,
apenas produzem calor interno
Roubado
do sol, solapado do solo
Do
centro da terra,
do meio das pernas
imaginárias
da grande serpente amazônica
Então
paro... maldição! Como uso “entãos”!
Quando
só quero estar nas ruas e observar a luz fugida
que acaricia quem tem coragem de viver
Mas
vivem inconscientes, apenas levados pelas luzes-cegueiras
Tudo
isso são palavras de confusão, são palavras de saudade infundada
São
carismas & carinhos que não afloraram
Eu
caio de mim na incerteza do nada
que representa um sonho que não paro de ter...
Quem
dera não estar falando de nada
Quem
dera estar fazendo poesia, metafísica, onirias...
Mas
falo de meu coração
“No ar... a rádio carcomida!
Falando direto
do coração!”
Eu
emito mitos
Omito
passaportes
Suponho
propagandas
Engendro
excitação
Cheiro
vírgulas
&
sigo adiante...
Eu
espero o próximo dia ao som de ronco de gatos...
Me
dói o lado, eu sei, me dói o lado
&
isso me matará, eu sei
Me
dói ao lado
Tantas
impropriedades & inconsistências...
Caldo
energético para o próximo sonho
Segunda
terei que acordar!
Maldita
sina de Sagitário
Eclipsada
pela corrente de Câncer...
Encho
os pulmões
Acalmo
a ânsia
Leiloo a alma já vendida
&
sigo em frente, esperando o que há de vir...
Tudo
vem afinal
Já
que o sentido do caos nos impele para frente...
Amada
perfeição
Um
pouco de sorte - por favor!
Para
que eu possa azarar também!
Pensei
algumas coisas ruins,
Como
veneno para esquecer de tudo
(você
sabe... quando digo tudo, digo: você!)
Pensei
em coisas improváveis
&
o que mais me mete medo
é saber que o que se pode pensar pode ser...
Assim
engulo o pensamento
Aviso
à tripulação que hoje eu quero ficar só
&
a mentira se torna veracidade.
Durante
o dia pensei que realmente
a necessidade não tem lei!
&
combinei comigo justificar isso perante o Deus & o Diabo
Mas
não sei mais quanta mentira pode manter de pé
toda a vontade que passa pelo matadouro da
fé que não se precisa ter
Reverbera
já na minha mente, há muitos dias só uma frase:
“Desabem pernas!”
Dobrem
joelhos, chorem olhos...
Mas
a necessidade para isso nunca chega
Pois
quando chegar será o beijo da morte;
Me
esfole logo tempo
Que
eu não vou ceder à escravidão
Não...
quando isso vier não serei eu
Será
aquele oco no mundo
Que
as visões ayahuaskis não conseguiram me livrar
Ah!
Selva faminta... shampoo dos mortos
Suor
malvado & sacro...
Espero
só o favor das estrelas
para finalmente dobrarem esse ignorante aqui
Que
ousou não crer que a vida é real!
Ode 3ª
Galatéia
Avançamos
adentrando no mistério
o tempo, o lugar, as pessoas, as passagens
fundem-se impondo transformação
&
é assim que perdemos nossa face
é assim que você mudou...
Não
a reconheço mais
& escapa de mim os sonhos & certezas
que eu poderia ter a seu respeito
Transmutada
por seus ideais vedados a mim
Camaleoa
na vida real
Mergulhas
finalmente para longe de meu amor...
Não
posso a buscar
Tenho
medo de me afogar
Indócil
que sou, agarro-me aos rochedos de minha arte
Verdadeiro
refúgio & mentira para salvar não sei o que de mim
Salvar-me
da cegueira
no perigo de perder meu único olho...
Flana
nereida
Nas
águas do tempo que só você domina
Nada
& renada, acalanta seu caminho
por dentre as valas & os desastres de
uma vida
que agora sei - nunca te incomodaram...
Procelas
não são mais celas - marcela!
Ciclope
circular aceito
ver & sorver de ti todos os erros
Eu
a liberei para isso
Sem
perspectiva eu volvo as marés
Devo
aprender o que sempre mais temi: Esquecer!
O
eixo das ocasiões se concatenam
& nereida sei, tornar-se-á logo, Estrela
Marinha...
Enquanto
eu, comerei florestas para saber morrer de indigestão tropical.
Ode 4ª
Final
Lírio do mar
Estrela Submersa
Volvente chão do oceano
Fundo piso
Sob as pressões das vagas
Decama as pegadas de Galatéia
Menina serena
Da terra do mar
Ciclópico furacão
Redemoinho devaneio
Naufrago aos seus olhos
Síncope visual
Que cega os gigantes
No exagero de suas transmutações
Galanteio-a pela última vez
Dispersa agora
Que estás em suas volições
Que lhe mudaram & levam com as
marés
O tempo a te recortar...
Para encontrar em lugar nenhum
Quem tu não és...
Adeus!
Nereida única
Amo-te. Amo tua branda luz branca.
Fim.
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