Hoje
me joguei no foço
de um sentimento profundo
& emergi de lá leve
como perfume no ar
Nesse
foço os afogados tem nomes de flores
& quando emergem
ganham nomes de aves
depenadas de suas dores
Nomes
que murmuramos antes de tê-los
pois o amor é corrente
para aprisionar quem ceder
& depois se calar
Hoje
arranquei tuas raízes
coisas que deixei crescer em volta
parada como água estagnada
que não rega os espinhais que zelamos
Havia
te tomado como hera
para meu deleite delírio
um veneno de espera
que nunca fez jus ao seu brilho
Joguei
no espaço essa raiz
& eis que cresceu
como gaiola em volta de mim
uma prisão de breu
Não
eras hera
nem flor, nem ave
era o próprio espaço
rumo ao qual meu coração tendeu
No
fundo do poço
imensidão sideral
soltei as amarras
da obsessão letal
Lá
embaixo no lodo
onde se cravam as raízes aladas
de todo amor que não quer ser igual
arranquei a fé viciosa desse mal
Liberta
enfim
ganhou as nuvens
enquanto do foço emergi
para a sombra que agora fazia
Ambos
agora temos
nossa própria luz
o fim da loucura nessa aurora
que nasce apesar do querer
Você
luzia como sempre
eu icaro ferido pela queda
posso tentar te alcançar sem lastro
caminhando sob o céu que revolves teu olhar
Nenhum
de nós mais afogado
cada um leve
& sem nomes pra chamar
aprendizes de um crê-ser alado...
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