16 de set. de 2017

Teocentralgonia

Encontrar a felicidade
   por entre as horas
      por dentro dos dias que vão
         nos caminhos de rato nos calendários...

Tem-se uma vida inteira
   mas uma só memória
      uma só trilha circular
         uma ciranda que se descortina...

O eterno-retorno
   visa o meio
      o centro da roda
         & não propriamente o circular...

Aquele nada invulgar no meio
   é a porta de entrada
      é o ponto de escape
         de toda repetição...

Não bastasse o relógio
   a lua, as estações do ano
      sua flor que sangra todo mês
         agora também há essa agenda virtual...

Mas o tempo é só isso mesmo: repetição
   nosso corpo um arquivo de lembranças
      a alma um algoritmo entrópico
         & o espírito o stalker do eschaton...

Dessa história toda
   o espírito só reconhecerá
      a potência de discordar do retorno
         & rumar reto dançando para a sua estrela...

Depositar no seu altar sideral
   os bons encontros
      as surpresas
         o amor...

A mente que experimenta o tempo
   é faminta de novidades
      não fica muitas eternidades presas
         ao que não produz mais discrepâncias fatais...

O corpo como ferramenta
   perfura essa cavidade
      que vai ficando estéril
         de devires bons & ruins...

Espera da alma
   nada mais do que a morte
      o gatilho cósmico da rebelião
         que dispara o tédio rumo ao ócio universal...

Até que tal graça
   a mais básica
      menores das sorte
         revela o jogo que brincamos...

Então a piada se revela
   somos sonhos de anjos
      informes, assexuados, incolores
         copiando ideias estrangeiras ao mundo...

Todo anjo é cego
   só podem ver sonhando
      assim como nós enxergamos
         reflexos de solidões que temos que negar...

É o que nos iguala à eles
   & logo nos torna superiores
       poder sonhar com escuridões inauditas
          o nada para além do tudo...

& contra os anjos urdimos nossa rebelião
   destronando nossos criadores
      que nunca viram o sol do meio dia
         & choram lágrimas de eterna insatisfação...

Nessa ilusão do tempo
   moldamos novos aeons
      novos corpos, almas, com um só espírito
         descobrimos na finitude a imensidão do amor-fati!


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