Em poesia, entendo que não falamos o que queremos...
&la emerge pronta de um emaranhado que acessamos, emana, pronta, de algo latente, uma massa orobórica nos confins da consciência.
Como uma (des/re)ordenação retirada do Caos que flui por mim, enquanto Vazio.
Na superfície de contato com o mundo, essa massa borbulha pela fricção entre a inspiração & a materialização em poema, sua emanação se dá pela inevitabilidade da atenção poética ao fio de inspiração que se desprende & nos agarra, rebocando-nos para baixo numa imersão da qual voltamos com o fio tecido de palavras nas mãos.
Nós & mais nós encadeados de palavras em uma textura que decidiu emanar, sem nenhum motivo outro mais profundo que a necessidade sincrônica de estar no mundo.
& assim o poema está ali, emanação pura, bela ou não, em rima ou prosa, coerente ou surreal, harmônica ou desbaratada, de algo para o qual nem temos nome, mas que enfim chegou, como novidade do dizer, à realidade.
Um colapso de onda semântico sincrônico provocado não por quem observa, mas pelo que quer ser observado.
Às vezes barganhamos com esse emaranhado para dizer algo que parcamente queremos expressar, uma isca, & se emana uma expressão de um sentimento, de um sonho, de uma vontade, memória, ideia, experiência... mas nunca sem pagar o preço caótico da mão dupla da possessão da inspiração do sentimento...
A oferenda vem como uma forma de nudez do poeta perante o mundo, no desvincilhar da emanação aos olhos de todos.
Não falamos o que queremos no poema, muitas vezes nem queremos o que falamos, mas sempre emanamos algo nosso, nos dado, em troca de existirmos para aquilo.
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