Dentro de minha casa que alguém construiu, deitado na cama que alguém moldou, cercado de móveis que alguém forjou, vejo na estante que alguém projetou, livros que alguém imprimiu... ali palavras que alguém escreveu...
Ouço a música que alguém compôs, reverbera no aparelho que alguém me vendeu, movido pela eletricidade que alguém engendrou, pelos fios na rua que alguém instalou...
Existe então solidão? Ou só sua ilusória sensação?
Tudo em volta fala de ausência, e a ausência remete a algo que não está ali... fazendo-o presente.
Mas me sinto só! & essa solidão é um fechar-se à evidência que estamos imersos na multidão com a qual nos recusamos, por incapacidade ou opinião, nos comunicar.
Solidão é uma atitude, e como tal, é sempre reação à algo!
Minha vida é a solidão para a morte, minha fome é a solidão para os sabores, meu afeto é a solidão para a carência, meus gostos é a solidão para os desgostos, minha alma é a solidão para o corpo, minha arte é a solidão para a indiferença, minhas dor é a solidão para a felicidade, minha vontade é a solidão para o amor...
Atrair, & sempre se trair. Trair a infelicidade, na mais soberba ilusão que criamos, para realçar a insuportável evidência que é impossível ser só, é impossível não estar no coletivo, & é o outro que nos define. Nós só definimos a solidão!
Na ilusão, corremos para a realidade. É verdade... é verdade, a única coisa que fazemos sozinhos é morrer, porque até mesmo para nascer, precisamos do outro, de um & mais!
Cercados de coisas que os outros fizeram, de pessoas, cães & gatos, animais, cercados de prédios, campos, cores, cercados pela roupa, pela pele, o corpo, cercados pelas ideias, pela luz onde a palavra se conduz até os confins, achamos possível estar só, quando na verdade só estamos querendo nos encontrar, não tanto a nós, mas ao outro.
Para quem te arrumas? Para quem escreve? Para quem te perfumar? Para quem te move? Para quem se dá? É o outro, antes de ti.
Afinal, quem te vê, quem te lê, quem te ama, quem te quer, quem te nota, quem te tem, não é você!
Solidão, no fim, é só ter mais tempo para si!
É uma reação, uma fuga do espaço, que é de todos & que nos separa & une. & tempo é tudo que não temos, enquanto espaço é tudo que buscamos percorrer & consolidar.
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