31 de dez. de 2020

Ponto Final (Meia-noite é algo sem sinônimo)

 

É assim que se atravessa a Meia-Noite,
com o sono nas entranhas
& o sonho na boca
como um beijo sem ter para quem dar...

É assim que se faz um Dia,
com abandono do que passou
& a incerteza do que virá,

É assim que se faz...

É assim que se extravasa a Meia-Noite,
com passos breves para pisar em espinhos
& com explosivos nas mãos
para se derrubar o muro do amanhã,

É assim que se desfaz um Dia,
com o pouco que sobrou
de todas as noites que passaram
entre a solidão & o refugo
de qualquer desprezo na madrugada,

É assim que se refaz...



24 de dez. de 2020

Natividade

 

Ah! Eu me lembro,
reflexos na água negra do poço de sacrifícios
Eles tentando bater com paus
   nas estrelas,
Tentando as mover
   alguns graus
      no céu infinito...
& jogavam cuspe no Sol
   para diminuir seu calor
      & ofuscar seu brilho
Que fazia chover
                                 fogo & gelo
sobre uma terra sem amor...

Ah! Eu me lembro,
lembro para esquecer
   que o amor é feito à força
      de um olhar no corpo alheio,
Para que aquilo tudo
   signifique alguma satisfação
Só não sei com o que!

Então eu me lembro,
   quando o mundo acabou
Como só havia sobre a face da Terra
    pessoas alegres & sós
Alegres com o imenso nada que conquistaram
   & ao qual decidiram se abraçar
      para se afogar na falta de ar
& inutilidade de seu falso amar...



17 de dez. de 2020

Rotante

 

Vasto campo de nada
   em quase tudo de cores & formas
      & desejos...
   repousando no vento
      quase calmo
& hálito dos tempos...
A mente mente
   para a vida
& revolve com mãos suadas
   em um conjunto amplo
      de caosa & refeito defeitos
   toda existência!

Mas o ser como um todo
   busca se desintoxicar
      das experiências alheias
Repartidas alhures
   em banquetes fakes escassos
      de conversas afiadas ao acaso...

Não iremos nos converter
    por gratuidade vilanescas
    & falatório que nada diz, não...
Conversas fiadas
   para se auto-suportar
      enquanto tentamos
         corromper o próximo...
Não estou fechado,
   apenas leve,
      caminhando já longe
    de toda maquinária
      & doutriação dos doutos em inação.



7 de dez. de 2020

Érosgrifos

 

Grafei lembretes
   nas partes soltas
      de um ramalhete despedaçado
de rosas colhidas
   no fim de tarde
      sob a ventania
Quando a lua cheia
   cruzou todo o dia
      vazando marés...

Escrevi notas
   avulsas & imediatas
      de gostos, trancos
         & barrancos
que deslizaram
   das glebas soltas
      de jardins à beira de abismos...

Anotei desmoronamentos
   em pétalas soltas de rosas
      que começavam a ressecar
Cravei runas distorcidas
   kanjis hereges, palavras bárbaras
      hieróglifos eróticos
Lembrando você
   lembretes de você, seus, céus!
As formas que lembrei
   & não queria nunca esquecer
A cor dos olhos, a hipérbole das pálpebras
    o gosto da buceta, o peso dos seios
A forma do vinco
   ao rumo que escorre teu gozo...

Notei isso tudo
   em suscinta ata que ata a lembrança
Por entre os mínimos espaços
    de folhas caídas
        espinhos tortos, caules verdes
pétalas esvoaçadas
   prepúcio de pleromas
em cores esvanecentes
   com memória de perfume
      suor de primavera
& texturas de sedas
Notas de um submundo
   chamado Ana...



1 de dez. de 2020

Divagações...

 

& repousando nu, nas certezas do tempo,
na inércia do desamparo,
o que aprendemos, por dentro?
Que as engrenagens giram alienadas,
sem saber para que...
& que tudo não passa
de uma fantasia para nos submeter!

A vida não emerge... é só um estado
de repouso entre o nada & o tudo,
Mas eles se misturam,
não se permutam,
Se auto-destroem, se auto-poluem
porque nada que vem a ser
suporta saber
que não será para sempre!

Então muitos, a maioria, prefere a mentira
preferem o mal,
As cores, os aleluias, o delírio...
& de mal em mal, sorrindo e ululando,
vão fazendo do mundo: inferno...

& nós aqui,
os fracos, os parcos, os conscientes
Flertamos com o sono, com o sonho,
com a escuridão...
Tiramos lição do amor & do sofrimento,
quase para nada, também!
Como se encarar nos olhos o medo
fosse a única retribuição por estar vivo.
& toda essa insatisfação fosse a única verdade
capaz de descobrirmos sobre a malha orgânica infinda
de um Universo que é sinal inequívoco
de decepção!



29 de nov. de 2020

a peste

 

a peste veio abrindo caminho
desde o fundo onde dorme o nada
a morte & a saudade...
a peste veio primeiro nos sonhos,
contaminando quem não podia contaminar,
espalhando seu mal estar pelo passado
onde seu ovo de serpente
secretamente era engendrado...
a peste sempre esteve por aí,
na má consciência de toda época
& no pensamento dos estúpidos
fornicadores da orgia da opressão...
aqueles que saúdam os facínoras
& os ditadores festivos...
a peste não é o vírus
mas aqueles que os acolhem
na alegria & na tristeza
de seu pacto com a infelicidade
disfarçada de justiça!



2 de nov. de 2020

Revindos

 

Corpo,
O corpo morto dos vivos
o corpo vivo dos mortos...
O corpo
desnudo de vida
desnudo de morte,
dando cor ao pó.
Reincorporado
à nudez dos sonhos
ao desnude do real,
Desencorpado
da dor, da fome,
das cercas, das distâncias,
Encorpado
como ausência
& saudade...
Nunca mais corpo
mas o que devia ter sido
outrora & sempre,
pó ao pó
corpo ao corpo,
amado aos amados,
que foram & ficaram,
Outrora mais
para sempre revindos
nos corpos que ainda não foram.



28 de out. de 2020

Enquanto a Noite engolia a Tempestade

...a tempestade veio de tarde
& quando acabou era noite...

Despedimos o dia
em nome da tormenta
& gestamos no útero do furacão
o desnorteamento da luz
para recebê-la na escuridão...

& ela, como boa loba,
nos deu o calor de suas tetas
junto ao labor carnívoro
do deguste que exije
fogo & sal
para o prazer da consumação...

Nos perdemos um no outro
quando o sol se pôs mais cedo
& lavamos na água torrencial
nossas cicatrizes internas
que mais coçavam de prazer
do que doíam...

Noite, mãe de tudo
onde a tempestade órfã
foi penetrar,
Noite, mãe de todos
aceita & recolhe o caos de quem
em nome do caos vem fornicar...

Ronda a tempestade
os fulcros calmos da escureza,
trilha em desassossego
rumo às colisões macho & fêmea
que se ferem & permutam
em vendavais & floresceres...



Pseudo23Haiku

Hey Doc NoTime!

Look inside analog third mind

My dream, my dark site.



25 de out. de 2020

Antes, Agora...


Antes,
passava na vida
como um personagem em cena,
Atuava
na paisagem
como um ator...
Agora,
a vida passa por mim,
Imóvel
é o cenário que me usa
como um enfeite dentro dele.

Antes,
a vida passa por mim
como um personagem em cena
é o cenário que me usa...
Imóvel
na paisagem
como um ator...
Agora
passava na vida
Atuava
como um enfeite dentro dela.



21 de out. de 2020

A Formação Literária

Labirintos de leituras, afinidade com temas, recorrências oníricas, prazeres literários... há uma espécie de sabedoria potencial apontada no gosto de quem lê!

Leio na cama, leio no banheiro, leio no ônibus, e esperando o médico. Leio na fila do banco, no serviço, no bar, até em estádio de futebol.
Leio jornais, revistas, internet, livros principalmente. Leria papiros e pergaminhos, se os encontrasse.
Leio gestos, sorrisos, leio corpos de mulheres, leio-me também...
No reflexo da luz, letras, viajando no tempo, da coisa escrita aos olhos, e ao espírito então!
Poesias, teorias, ficção científica, ciência, haikais, psicologia, quadrinho, terror, ensaios, magia, romances, filosofia... leio-os.
Gosto de escritores do séc. XX e atuais, mas me apego à antiguidades, taoistas, pré-socráticos, medievais... leio-os todos e releio.
Leio... & escrevo também. Pois há momentos em que não basta. Sente-se uma falta, e tenho que emanar algo que ainda não li, mas é tão cheio do que sempre li, é cheio de tudo que me cativou, formou, influenciou.
A formação literária é evidentemente um diferencial, não qualificado e ou quantificados, mas sim, transubistancializador, há estilhaços de alma espalhados pelo mundo, e eles se agregam na matéria morta-viva da literatura, da escrita.
A Alquimia não existiria sem a escrita, já que a idade da cultura oral foi deixada para trás quando se pintou a primeira parede de uma caverna. E é como um aprendiz de feiticeiro que o leitor mais dileto age, agrupando livros nas estantes, e as ideias contidas neles no espírito.




11 de out. de 2020

Ariadne



N o     l a b i r i n t o 
deixamos migalhas 
para quem queremos 
que nos encontre . . . 
É t a r d e d a n o i t e 
m u i t o 
o u c e d o  demais ... 
& s ó q u e r e m o s 
encontrar a s a í d a 
 s e m cruzar c o m 
m o n s t r o s... 

5 de out. de 2020

Expirar

Aquela sensação de que, 

 a qualquer momento, 

 Junto com as cinzas que caem do céu 

 chova também uma faísca incendiária 

 Que apague a vida 

 enquanto acende nossa imaginação 

 & o desejo de nos consumir... 

 Os pulmões não aguentam mais  

a im-pressão im-precisa atmos-férica 

de vírus & cinzas 

 & tudo é um cabisbaixo sufocar 

 antes da próxima fixação do preço da vida...

Respiremos ar morto! 



2 de out. de 2020

Desvario

Não existe sonho mais impossível

do que aquele que achamos estar perdido...

Pois perder-se é estar dentro de uma força,
de um sistema, de um jogo,
que não se conhece...

Por isso que pode haver referências
para o ódio, para a devoção, para o sexo,
Mas não há nenhuma referência
para o que se Ama...

& quando a paixão desperta
é como se uma estrela raiasse
no horizonte de eventos
de um buraco negro...

Quando desperta a paixão
é como se todas as flores de um jardim se abrissem
& o olfato é inundado pelo caos
do qual não se distingue
a flor com seus espinhos
da seda veluda do lírio...

Quando desespera a paixão
sem regra, com sua lei do crime,
Só nos entenderão
os insanos, os inúteis, os rejeitados,
& os condenados!



1 de out. de 2020

Sede

 Somos plantas com sede


em canteiros de ignorância...

Assolados por tempestades solares

& invernos siderais.

Somos ervas daninhas

espalhados por esse deserto virtual,

Querendo só encontrar

a água da serenidade.

& que ela seja doce

do tamanho inverso de toda essa sede.



20 de set. de 2020

Arcano 19

 Vai chegar um momento na vida,

depois de milhares tardes de Domingo,
Que vamos ter que reinventar
o sentido dos dias,
& gritar contra toda uma falsa calmaria,
mecanismo que faz tudo reiniciar
pela forma semântica da semana...
Pois submetidos aos sete até o Deus foi,
& o descanso não passa de um fôlego
no afogamento deste soma temporal
que nos descama,
Ao que a tarde de Domingo
sempre se parece com o mais próximo
de um momento fora do tempo,
quando morre qualquer esperança
de algo realmente ser diferente
de agora para frente!
É quando a mesmice salta de novo sobre nós
& finalmente afogados nesse silêncio,
cheio do medo pelo que retornará:
Labuta, batalha, sustento,
celebraremos então cada dia
como uma suspensão não do Tempo para o outro,
mas do Espaço que é só nosso,
Pois todos os dias
são dias de sol, com a noite além,
& os dias finalmente,
não pertencerão à ninguém!



18 de set. de 2020

Anacrônico

 Vou a lugares 

que sei que você não está
para te encontrar,
Cometo pecados
pra nos santificar,
Eu faço orações
para demônios
que sei que não vão me ajudar,
Isso tudo para me provar
que o que está perdido
é o que nunca deveria se encontrar.

Tenho oceanos profundos
para mergulhar,
& marés transbordantes de gozo
& insatisfações
para me enganar,
Teus passos perdidos no mundo
bem do lado dos meus
Me falam que apesar
do muito querer
deve-se levar em conta o 'nada a ver'.



8 de set. de 2020

Anuário

 Ciranda do Tempo

Ampulheta do Espaço
em conjunção
fornicam retorno & peso,
Ali, meus passos incertos
sobre minha própria & única sina...

É preciso vastidões
de florestas, campos, mares & desertos
para se perder & encontrar-se!

O Tempo circula
& ejacula permanência
onde não devia haver coisa alguma,
& o Espaço desaba
destroços que se amontoam
no campo onde dançamos com o nada...

Viventes & existentes
coabitam nesse abismo do eclipse
Cindindo cada um
entre o retorno & o novo
de novo & de novo &...

Quem é vivo
se afoga no tempo...
Mas quem existe,
cruza os espaços!



4 de set. de 2020

O Novo Terror

 Quando o medo,

ah! o medo...

Doma o demo, essa coisa do desejo;
Quando o medo
é maior que o tesão,
não tem jeito,
é o medo, é o medo, só & medo!

Assim, não deitamos,
nem amanhecemos,
repousamos, no medo, com medo,
Sem respirar, sem tocar, sem amar,
É, o medo!

Quando o medo,
ah! o medo, de medo, no medo,
Nos toma o desejo, a vontade, o enredo,
nossas vidas...
no medo, em medo, de medo,
não tem jeito,
é só temor!

Assim, não vivemos,
nem sequer morreremos,
já parecemos, no medo, com medo,
Sem viver, esperando, em cada dia,
sim, o medo, que já chegou!

Quando o medo
dita a meta: temer, tremer, tê-lo, terror
ah! esse medo, essa não-métrica
de passo para trás,
de deixar de viver;
Sinta-o,
mas não faça dele, modo de ser!



1 de set. de 2020

Gravitar

 Em nosso imaterialismo 

a mente à deriva
como monolito a orbitar
cacos de mundos, acima
um satélite de consciência
que perdeu a rota,
é impossível naufragar nesse nada
são só saudades, vislumbres,
em um exílio sem tempo nem lugar...

Tão alto, maior a queda,
que nunca chega
& há de começar
para quando cair, nunca mais parar
como a Terra em volta do Sol
& as quatro luas que vieram o chão beijar
& o Sol que baila
em torno de um poço sem fundo
é toda nossa sina a retornar...

Lá fora, no escuro, coisa profunda,
o silêncio & o silenciar
da mente que não pensa
repetindo que no início
não foi a luz nem foi o mal
mas foi o peso do nada a não se suportar
que fez tudo começar,
desde o átomo até o desmoronar
da matéria & do corpo a amar.



15 de ago. de 2020

Fim de Inverno

 A manhã vira tarde 

& um perfume de deitar 

se espalha ao longo de um vazio 

que não enche essas poucas horas... 

Há todo um clamor 

aturdido pelas ruas se passando em câmera lenta 

até parar & correr para trás, 

Até amanhecer de novo... 

Diria que é o perfume da rosa 

sob o fio da espada 

espalhado pelo corte no peito 

entre a boca & o beijo... 

Diria que é a vontade 

que definha & bifurca 

entre o poderia ser & o nunca... 

O dia segue, provavelmente, 

para um começo... 

Só queria estar errado: 

Que Agosto é sempre um "sim" 

um fio, um frio & um fim.


12 de ago. de 2020

O Amor em Tempo de Sublimação

 Eu penso em você & o tempo pára Essa noite... durou um século Desde ontem... se passaram milênios... Aquela semente já está crescendo, suspensa no ar, na névoa dos sonhos... Eu acordei agora, pra tentar enganar o tempo... com um desespero sólido... & preencher espaço com os detalhes do seu corpo... da sua alma... Eu acordei faz horas... & a saudade é imensa... Eu penso em você & nesse amor desses novos tempos Em que não se pode tocar, Beijar com os olhos, abraçar com o perfume Amar com saudades... Que o tempo pare... o novo amor Veio para desfazer o futuro Por o passado no seu lugar & fazer do presente... momento cada vez mais raro... Na noite, que passou & não passou Vejo que me traz, não distanciamento, Mas Sublimação, onde tudo que escorre ou se enrijece Torna-se névoa diante dos olhos Para ali entrarmos... & ser.


1 de ago. de 2020

Lá...

& lembre-se
   do outro lado do
      entardecer
   há uma
      aurora
Lá...


28 de jul. de 2020

Pureza Felina

A alma coletiva dos gatos
ronrona no telhado da sublimação
um carinho de fera-fada...
Ali te toco sob a luz fria do luar
que não te incomoda com branduras:
Um beijo, um arranhão, um tapa! Alturas!
Tento ser indiferente,
mas espero um amor
que não precise de álcool
para ser ousado, apaixonado,
Longe, perto, dentro, fora... leve fado...
Aguardar, não escolher,
É ter a certeza do certo para si:
Nem ideal, nem pior, nem melhor,
Apenas saber
que toda dor do coração por que passamos
foi para nos conservar, preparar,
para momentos em que o sorriso
dos 'sim' para tudo
Faz saber que o amor (fati)
é aquilo para o qual
todos os 'não' nos aprontaram,
& assim ser melhor, ou antes, únicos:
Um para o Outro...
Corpo coletivo do fogo
crepita no matagal da paixão,
Não é fogo de palha, não é fogo no rabo,
É fogo de combustão!
Só quem sente sabe o que inicia
a faísca do Espírito:
...Purificação!
Felinos-igneos que somos,
Não fogo-fátuo, eletricidade,
apesar da antipatia à líquidos,
desconhecendo espaco-tempo, idade,
fugimos também de tolos incêndios,
loucuras, vulgaridade,
& repousamos na candura
da sobriedade que é
Saber amar, fazer sorrir, gozar!




18 de jul. de 2020

Te(x)to Ácido

falta ar na imensidão
dos campos abertos
...que não vejo daqui
Acabou o alento
o hálito
a ventania... mania de respirar...
Embebido incolor
que secreta dos sonos
...dos sonhos
... ...dos desejos
... ... ...das páginas brancas
cheias de letras
quebradas
do arco
íris
difuso
imperfeito
do silêncio
Que eu indolor
ejaculo
olhar

Eu me curvo
& cuspo
o que era pra ser
um jorro
contra o muro
de concretarmado
da realidade...

o grafite que ali (s/f)alta
é a arte do gri(t/f)o
que não alcança seu ouvido para
...escutar-Me
Parte do corpo
que o sol não bate
& (a/es)aquece
A parte de carne
que eu audio-aria
torturar
com um tapa de meu beijo crepuscular

Paro,
Respiro,
Só por hoje,
Esqueço... um instante

toda carne
por mais charque que seja
tem no máximo sete anos
& não faz mais do que isso que
te (des)conheço
pela métrica de
Tempo ------- Espaço
desses átomos
...carbono
& é odioso
que nem saudade
raiva
dor
fome
& tudo +
não passem de terem
mais de seteanos
que as coisas novelhas tenham...

esse é o Ciclo
é o Circo
o Círculo
acumulo
de Eterno Retorno
desse tédio
ébrio
ferida
mortal

só porque tanto no dia se enche & não entorna
& penso ainda em três dias atrás
quando te vejo
cega para mim, (su)focada,
É seu corpo, você
que passa
sete anos, adiantada, atrasada
nuvem passageira do teletransporte
máquina do templo
desse incêndio
comariAna...

falta
à alta
asa do abutre, o vôo do raio,
a carne (ana)atômica
para sorver
Tudo é adeus
Tudo é oxalá
& não há
como acabar.




3 de jul. de 2020

6h30

6h30
O tempo correndo
nas ruas vazias;
Chega o dia
passa pelos fios, pelas vias
vidas, informação, energia...
No céu nada durará,
daqui a pouco tudo muda;
Vem como certeza decomposta
o que um dia traz...
Quem pode a afirmar a beleza?
Saia & veja...


30 de jun. de 2020

Suspensão

Teu beijo mais longe do Sol me diz
que não há calor interno
em nenhuma flor
que se acha no inverno,
...já em queda oca
plenas, soltas,
as folhas...
Manto seco, o chão móvel alado
Boca amarga, língua presa
cortante hálito, afiado...
... & te desejo o tanto certo
de frio que suportar,
o peso que faz as folhas caírem
é leve, deslizar...
Folhas mortas
no caminho
Palavras verdes, vivas
de carinho...
Fogo de gelo
que descolore,
desqueima no chão que encobre,
...há... frio... afia...
um corte, sem faca,
que não corrige o dia...
Da queda ao chão
folha, toque, morte,
frio, suspensão...
Efêmero, como uma & um
sozinhos
O inverno põe seu véu de folhas
em todos os caminhos...



23 de jun. de 2020

Mar És

Mar Mar Mar Mar Mar
   Mar Mar Mar Mar Mar
Vou escrever
Vou repetir, replicar
Oceânicas vezes
Mar
 de amar
  de amargar
   de marés
de calmaria, profundezas & mares
Mar
 esse lado escuro
  da lua
   do luar
    da terra
     do lar
Mar
Inconsciente
Naufrágios
Ilhas
Afundar
Mar
Só nele cabe
 meus desejos, meu desejar
Cardumes
 cama
  acalmar
Mar
Só nele cabe
 meu mergulhar
  & o transbordar
& todas as águas
 das lágrimas
  saliva
   gozar
Mas Mar Mar Mar Mar
Mar Mar Mar Mar Mar
Útero das tempestades
 furacões, fúrias, tufões
Mar
Berço da noite
Esconderijo de Dionísio
 Sereias, Krakens, Terrores
  & correntes doces & salgadas
   praias a se alcançar
& o tubarão do desejo a estraçalhar
Mar
& antes, Mar Mar Mar
Sal, Sol, suor
Velas, valas, vedas,
 fendas, falésias, você
Mar Mar Mar...



20 de jun. de 2020

Diário do (Des)diário


   Alojados na aridez desses tempos, nem achados nem perdidos, somente suspensos, nenhuma ideia permanece o tempo suficiente para ser apreendida em profundidade.
   & ainda somos de mergulhos, de oceanos, buracos negros, somos de profundidades, de nos encontrarmos na substancia colateral das luz, as sombras, escuridão...
   Lá fora, tanta luz ainda, tanto Sol, claridade abundante do dia, mas estamos confinados, estamos (des)guardados do pleno movimento, do sem precauções, do sem medos, do sem temor...
   & então tudo é desânimo, perdemos uma causa que nem sabemos nomeá-la, perdemos um impulso, uma dimensão que nos compunha, tão sútil, fina, que nem percebemos quando nos desnudaram dela.
   Agora, quando a emanação pretende exteriorizar algo, só a intranquilidade da apatia se revela, & desistimos de ir até o fim.
   Pois essa não seria a soma de todos nossos silenciosos fracassos, que agora gritam? Não seria isso a verdadeira dimensão de nossa força fraca, nos estagnando? Se sempre quisemos mais, sempre quisemos ser... outra coisa, outro ser, outra máscara... só restou restos... de algo que nunca poderíamos mesmo ser...
   & se a luz do dia nós era legada, como gratuidade, assim como as profundezas & o escuro também?
   Agora & adiante, se exigirá de nós esforço! Esforço para seguir, esforço para ficar, esforço para emanar, esforço para destruir, esforço para amar, para dizer sim, dizer não, talvez, etc.
   Isso já estava a caminho antes, na cultura que se (de)lapidava, que rapidamente se fixava pelo virtual, e a pandemia só veio coroar. Do coração do ser de cada um, materializou-se essa anti-obra de arte, a egregóra do Banal, & se tornou realidade social, comunal, se tornou modo de vida. O econômico se tornou vital, mais do que a saúde, & são esses os princípios que agora exigem, em conflagração, nossas energias.
   Perdemos a Arte, que já vinha sendo corrompida & alienada, perdemos a Liberdade, perdemos o Belo, perdemos o Bem, perdemos todas as gratuidades do imaterial & do material, praticamente nos cadaverizamos iluminados ao nos criptografar inconscientemente ou demagogicamente cientes dessa estupidez.
   Isso já era previsto, mas não esperava que a dimensão material fosse tão afetada. Mas ora, se a Grande Ignorância que desceu seu véu sobre a alma, teria que atingir também o corpo, pois são interligados...
    Perdemos pois o embate espiritual que era para perdermos no fim da antiga História, no epilogo de uma Era, só que escolhemos divertidamente submergir na dissolução do que era insuportável para nós, a Autenticidade. Por isso o ar-tista deve ser aquele que deve ser chamado com mais severidade nesse momento da nossa História.
    A história desse fim se contará assim:
1º nos interligamos, ganhamos um mundo de conectividade; 2º nós criamos uma personalidade nova para habitar no espaço virtual desse território de comunicação; 3º começamos a simular e a criticar os outros, começamos a policiar, agredir, delatar, odiar os outros; 4º começamos simplesmente a replicar, copiar, mentir, falsificar; 5º fortalecemos o oposto do que queríamos parecer; 6º adoecemos, desaparecemos...
   Atrofiamos a alma, cortamos a ligação com o espírito, corrompemos o corpo com filtros, artificiais & físicos, virados do avesso expomo-nos enfim pelo avesso da coragem, a ousadia acovardada, trocamos a criatividade por isso, & a ousadia só remexe as banalidades, a estupidez, a idiotia, as mesmices...
    Tal ousadia que só se tem coragem de expor graças ao isolamento, à distância, ao véu do virtual, calçada pela impunidade, pela distância das mãos, do crivo dos olhos, agregada à moral do banal, do corriqueiro.
   Dessa forma os dias são agora, tal moral se enrijeceu, se faz cultura, e nós, perdidos, desagregados, submergimos mais...
   Mas ainda... somos de mergulho, de aprofundar, & resistimos. Resistimos? Emanamos, queremos criar... A pandemia passará? A banalidade não! Fixou-se... resta uma transfuga... nos joguemos!



16 de jun. de 2020

O Antes & o Agora


Tempo des-regulado,
todo lugar é um ninho de ferpas,
tudo incomoda.
Não há uma só posição
no rol de um Kama-sutra cotidiano
que faça exalar das feridas
o prazer de estar...

Jaz antes,
no que foi outra vida,
momentos em que eu podia garimpar
pepitas no seu olhar
& beber da mina do seu sorriso
a saliva que me saciava
com a sede mais voraz...

Agora, o veludo da poeira
cobriu as ruas
& há rastros de mortos por toda parte.
Hordas inconscientes
impregnam todos os lugares
com o vexame de suas opiniões...

O resto, se move lento,
sepulturas a céu aberto
comendo flores deixadas para outros,
& a nós só resta lavar as mãos
como quem nunca tocou outra coisa
a não ser com um gesto
de Adeus!


13 de jun. de 2020

Arcano VI

Estranhos aqueles
por quem sentimos tudo:
Amor & ódio, desprezo & indiferença,
por obra do tempo & do espaço,
& o poder de nossos abraços...
Estranhos esses
pelos quais passamos nas mãos
& caímos aos pés
para beijar & sermos pisados,
Neles somos destruídos
& renascemos então
Pelo fogo alquímico
de toda auto-paixão...


11 de jun. de 2020

Lesão Interior


Coisas banais
   tornam-se luxo
Solidão em temor
   é um amplificador
      de nossos defeitos
-Não sei como você está indo
   mas é tudo uma lesão
      em nosso interior...-

O vírus circula
   & sua vibração é insignificante
      piora a qualidade
          do ar, do ser, do amor,
-É isso que acontece
   depois que os portões do Paraíso
      foram fechados...-

& a morte
   sussurra próxima
      com a intimidade insana
          de quem se enganou com tudo.



1 de jun. de 2020

Oniricoral

Os sonhos são corais
encalhados na lamúria dos mares
Seres vivos extáticos coloridos
que respiram submersos
o carinho das marés do tempo
Os sonhos crescem lentos
& só os notamos notáveis
depois de ressonhá-los dezenas de vezes

Uma dança tonta sóbria lembrança
dentro da sombra atol do sono
Luminoso abandono
de alguma significância circular
profundamente abandonada
como a vida animal
que sofre de sonho
& não volta atrás

Saímos assim além do recife arrefecido
do deserto ilhado da realidade
para o grande mar
Barreira de corais
do sonhar nos limites indefiníveis
Entre a vívida prisão
& a dormente libertação




21 de mai. de 2020

Deriva

Tudo que é sólido
ou em solidão
Está sob uma maldição
cair
& pensar que levantou,

Todo corpo
distorce o espaço
& o tempo em torno de si
Somos como estrelas
cavando um abismo
no nada,

Atraimos
fazemos cair
atenção sobre nós
Como chuva, sedução
o que não foge
destruímos em um abraço,

& além de ignorar
não fazemos nada
com o que se foi
Rastros de destroços
abandonados à deriva
foi o que passou.


15 de mai. de 2020

Dias fora do tempo...

Dias fora do tempo
nos põem em lugar nenhum
Deitados em farpas macias
incomodados em estar
Nada conforta
é tudo desconexo

Dias fora do tempo
não somos o que éramos
Deitados em farpas macias
mesmo assim saberemos
Nada conforta
nossa doença existencial

Padecemos de auto-abandono
em lugar nenhum
Pairando à deriva
incomodados em estar
Repousando na pressão
é tudo desconexo
Me chame por outro nome
não somos o que éramos

Um dia nos veremos de novo
& nao nos reconhecermos
Tudo acabou
& nem percebemos
Não foi com estrondo
nem com ranger de ossos
Foi respirando
ouvindo os pássaros
Dias fora do tempo
noites sem espaço

(Me encontre ao ar livre... na borda da cova...
não tenha medo... apenas acorde...)

12 de mai. de 2020

Sísmica

Sismei em você
nessa idolatria
de nome curto
& sobrenome brando
apartado da realidade...
Gamei em você
como quem venera
os relâmpagos
& dança ao trovão
afetado por sua transcendência...
Sufoquei em você
qualquer outra liberdade
& te aspirei como ar
que nunca falta
À minha inspiração.



11 de mai. de 2020

Nomadismo...

Nomadismo Vertical
onde estando, sendo o fim & o centro
Para o alto & abaixo
sempre, o eixo
Que ao entorno gira
o mundo & o fim do mundo
Entornando
a si & seu profundo
Infundado...

Nomadismo Axial
penetrando
ascendendo
Longe, tão perto, de tudo
Vagando
sendo a si
a própria vaga
& preenchimento
Árvore da Vida, alavanca
ponto fixo
imã...

Nomadismo Vortexial
partindo, chegando
sorvendo, expulsando
conhecendo, esquecendo
vivendo, dormindo
sonhando, fazendo
libertando, amando...


3 de mai. de 2020

🎞trilha🎶sonora🎞 🎞para🎶um🎞sonho🎶noir🎞

🎬...você então
finalmente
ri ou chora
🎼...quando a música
começa
a tocar...

Isso explica
porque a luxúria
requer tanto silêncio
Isso explica
filmes de guerra & paz
com canções de amor & ódio

🎬...você então
inicialmente
se senta ou dança
🎼...quando a música
está no meio...

Isso explica
porque o som
complementa a imagem
Isso explica
palavras ao vento
gestos tempestuosos

🎬...você então
detalhadamente
em close vai de uma emoção a outra
🎼...quando sua vida
se mistura
à filmes & canções
na película sem tempo & espaço
dos teus sonhos...

Isso explica, o coração... o coração...
para além da boca & suas fomes
É o único
que uma música emana
Dentro peito
longe dos olhos
Por isso & só por isso...
não somos cegos & nem surdos.

2 de mai. de 2020

Presságios do Tédio

___________presságios do tédio:
Onze dimensões dobradas sobre si
-Consulte o I-CHING-
"Ataque químico false-flag
com um vírus psiônico
feito por uma Inteligência Artificial"
-Consulte o TAROT-
"Estamos sendo criptografados
enquanto o corpo definha
Arquétipos do isolamento
Algoritmos da dominação"
-Consulte os SONHOS-
"Sobreviver pela criatividade
no túnel de tempo
o combustível é a coragem
resistência & luz"
Onze dimensões dobradas sobre si
___________os fazedores de máscaras.


1 de mai. de 2020

quando o sol partir...


à todos aqui
foi dado a luz
& esse é
nosso único direito inato,

antes da vida
quando estávamos mortos
não havia verdade
& foi nos prometido o amor,

agora somos só
exilados buscando
o fim das fronteiras & órbitas
ou um abrigo dentro delas,

logo terminará o verão
& o sol irá para o norte
aqui só haverá o calor humano
para nos aquecer.







22 de abr. de 2020

Escrita & Tempo


O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
 E a existência nasce da não-existência
(Lao-Tse, Tao Te Ching cap. 40)

     Não escrevemos em linha reta, do passado para o futuro, escrevemos circularmente, do futuro para o passado.




     A seta temporal da escrita vai do complexo ao primitivo, do futuro ao passado, em sua disposição de comunicar.
     O comunicável é o objeto de partida da escrita, a mensagem, pronta e acabada, não concebida, mas expressa no futuro. Concebemos ao inverso pois só assim podemos (de)compor a mensagem.
     Concepção é diferente de Composição. A posição da escrita não informa Espaço, apenas uma linearidade ilusória, sua posição informa Tempo, mesmo sendo ambos autorreferentes no dimensional espacial, não o é no temporal, pois espaço-tempo significa permanência-duração enquanto uma mensagem extrapola isso, penetra (regressa) na permanência e na duração, ou antes, emana dali, trazendo consigo, do futuro, Sentido, Conhecimento, Interpenetração... enfim, Completude.

     Como podemos conceber uma frase, compondo-a do indefinido primevo até o entendimento complexo, até a mensagem? Isso se dá porque quando vamos a construir já a temos completa, ou seja, já partimos do definido ao indefinido, como um salto imediato do futuro ao passado para a manifestação aqui.
     O fato de não prestarmos atenção ao indefinido aglomerado de signos, letras e palavras é porque já temos antecipadamente a apreensão de seu sentido completo como objetivo, mas na verdade é o objetivo que permite que possamos a (de)compor. E assim é com tudo na realidade onde existimos.
      Partimos do futuro para o passado. Mas o passado não importa tanto, por isso pensamos, sentimos que vamos ao contrário no tempo, mesmo porque a vida, a existência, se porta falsamente assim, do passado para o futuro, simplesmente porque aprendemos assim no Ocidente, por causa de uma noção de finalidade, principiada na causalidade, na sotereologia e no ego, mas já na Natureza imediata, tudo é circular.
      A seta do tempo que comumente vemos indo de um ponto A ao ponto B (A-----------àB) na escrita já desvelada há a ida de um ponto B ao A (Aß------------B), ou como se diz na aprendizagem do abecedário, “B A, BA”.
     A linguagem, em sua materialização escrita, é então uma expressão correta da seta do Tempo, que corre, ou melhor, salta, do futuro para o passado, uma prova existencialmente correta.

     Porém, abarcar isso conscientemente exige, no mínimo, uma reeducação mental agora, uma “nova” concepção intelectual, é um esforço de consciência, de percepção, uma postura desperta, como uma meditação.
     E isso influencia em tudo na existência. Essa apreciação ao final justifica todos os “degraus” da construção histórica perceptual que os sentidos humanos vem abarcando durante sua existência aqui, justificando-os enfim, e talvez preparando o salto para outra dimensão do “entendimento” humano no Universo.
     Sabemos que existimos nesse “momento” da história do universo pois esse é o único intervalo de tempo onde o universo pode ser conhecido, desvendado. Assim, do futuro limite, onde não poderemos mais conhecer o Universo, vem essa mensagem, já completa, que estamos (de)compondo, esse saber, esse conhecimento, essa Ciência.

     Essa “nova” percepção da seta temporal, que a língua expressa, e que emanamos quando desta postura diferente em relação à realidade das coisas, implica um drástico rompimento com tudo que percebemos e registramos como História e Ciência até então. É uma virada na posição da mente humana no mundo.
     Nossa linha temporal, interpretada erroneamente, nos leva agora a becos sem saída na concepção da realidade, tanto socialmente, economicamente, quanto filosoficamente, enquanto interpolações artísticas da realidade, vão dando abertura para vislumbres do futuro que sempre nos assediou e conformou, não como destino final, mas ponto de partida.
     Nossos sonhos não são vislumbres de um futuro, mas a fonte de onde viemos, é basicamente como dizer, o cadáver ao qual pensamos rumar é nossa origem física, não destino, onde o produto final é o recém-nascido que emerge completo, e o qual devemos reverenciar, como um ode à infância. Enfim, ao final de tudo, na questão mais simples de todas, a morte não é o fim, mas o começo, nossa finalidade é permanecer na potência da infância, cuja juventude alcança, pois a criança é perfeita e o adulto imperfeito, mesmo sabendo mais, conhece, da maneira errônea, conhecendo menos...

     A afeição humana (parcial, claro!), à leituras da realidade, como a Astrologia, p.ex., faz, e sempre fez, parte dessa intelecção correta sobre o tempo.
     Qualquer saber, ou busca de compreensão da realidade, que já conceba o futuro desvelado, coaduna com o processo correto de se entender o tempo. E só sendo possível os comunicar com a linguagem, a escrita se comporta de tal forma. Seria correto também o apreço humano por adivinhações, profecias, etc., como expressões dessa forma quase inconsciente de ver realidade.
     Na verdade, o escopo potencial que faz uso de Sincronias em seu rol de leitura e entendimento da realidade sempre desvelaram melhor a natureza correta do tempo do que qualquer ciência ou filosofia, por isso sua persistência em nos informar em tempos de maiores ou menores popularidades ou críticas à esses saberes designados como Esotéricos.
     Veremos cada vez mais a emergência junto à mente humana de conhecimentos que em sua base estabeleçam como fundamento de seu entendimento da realidade a não-causalidade, espaços não lineares, compreensão física de campos, os campos mórficos, etc., onde a Magia é o arquétipo sapiencial correto e supremo.

      A tarefa reversa agora é saber expor essas interpretações da realidade para que funcionem educacionalmente junto a quem quiser se deslocar, não só fisicamente, mas mentalmente, na forma correta no tempo, proporcionando assim, conciencialmente, um ser-aqui real por completo.
     A tarefa é aparentemente descomunal, mas isso é também uma ficção do limites que nos foram impostos historicamente, por motivos de domínio. Hoje, com acesso a comunicação em rede de uma forma ampla, a leitura do comunicável sincrônico através do que emerge até inconscientemente da rede possibilita um incomensurável canal de formação de sentido e liberação das cadeias de causalidade, mesmo que poucos consigam ler, perceber, esse fluxo de conhecimento do qual viemos no futuro.
      De uma certa forma, todos nós fazemos parte da composição do que o futuro engendrou como Humanidade, e estamos cada vez mais perto do ponto de virada onde se revelará definitivamente a farsa da linha do tempo reta que seguimos, com tudo que isso implica.
     Podemos dizer que todas as mentiras cairão, ou serão substituídas por outro paradigma que permita nosso próximo salto, o que isso realmente significa é profundo, aqui estamos tentando nos ater à questão da escrita como expressão correta do tempo, de seu correr reverso desse ponto de vista comum...

     Assim, a escrita é, mesmo que pouca vezes compreendida, uma expressão correta do fluxo temporal, que corre do futuro para o passado, isso pode ser provado, com simplicidade, por qualquer texto ou mensagem concebida pelo ser humano, inclusive na literatura e na poesia, pode-se até viajar no tempo, em qualquer direção, tendo a mente preparada para conceber o tal.
     A existência da mensagem, emanada pela escrita é prova cabal de que viemos da Completude, e o fato de hoje a buscarmos, psicologicamente não atende a um chamado, mas a uma inevitabilidade natural da existência. Nascemos completos e perfeitos, e rumar ao passado é ir compreendendo escalonadamente isso, porque a ordem que emerge do caos tem por finalidade ser o caos que emerge da ordem.
     Quando concebemos o tempo de forma comum, vemos que rumamos para a morte, ou seja, para a decrepitude e a perda de tudo, porém, não obstante essa entropia causal expressa em tudo, o que verdadeiramente se dá é que não crescemos, mas diminuímos por causa dessa concepção de tempo a qual nos submetemos...
      Enquanto o que realmente devemos emanar, por vontade própria, ou seja, conscientemente, ao saber que o tempo corre do futuro para o passado, é que estamos apenas recordando nossa vida, ela já foi vivida, é completa.
     Como se lê no Tao Te Ching, Cap. 4:

O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo,
como a raiz dos dez mil seres

Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira

Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste

   Não existindo realmente uma linha reta de finalidade que percorre do passado ao futuro, mas existindo sim uma infinda espiral de circularidade do futuro rumo ao passado, sendo o ser humano, já de início, do futuro, a condição de conhecimento, e conhecedor absoluto, Completos, somos a Mensagem que reverbera desde sempre e além.
      Somos sim, memória, assim somos retorno, eterno retorno, mas isso só porque somos Plenitude, e já conquistamos o Paraíso, cabe agora, estarmos conscientes disso, e saber então, o que um futuro mais distante ainda, fez de nós...