23 de set. de 2018

Nupciαl

Tornei o vinho
uma lembrança vulva
de embriaguez fêmea...

Vinhas veias gozosas
frutos todos
colidindo em concepção...

Fêmea Arcana
do Eterno Masculino
abre seus vazios como dádiva à emanação...

Sangria de mar & lua
fermentada ao sol
Solve & coagula...

Tornaste o cálice
esse sabor pele
quando levou à boca a palavra...

Oração de conjunção
de uma fruta penetração
Nós dois na presença do Pra-Ser...

Não cantemos destinos
em nossos soluços frêmitos
Eis que é tudo graça...

O sabor ave
O pendor falo
Pomba & Serpente insurrectos...

20 de set. de 2018

Bússola

Vivo morto, navegando naufragado
& tenho esse sonho
que é um cadáver seu...
Repousa na escripta do mais belo jardim
de um desejo desejado até a perfeição...

Há esse hemisfério onírico
com suas ilhas preditas,
entre elas, eu & você...
Desalinhados um do outro
pelas erupções da tragédia
que emergem no intrânsito oceano
do vir a ser...

Navego até lá sem direção & sempre a encontro,
No círculo a estrela é a intuição & a sorte,
Navego até lá em um barco
chamado "Phlainiliante",
...um nome inventado:
"Aquele que desliza entre as ilusões"...

É uma nau do desassossego,
ancorado na ilha da esperança,
onde está esse jardim da saudade;
Campo santo
que nem devia existir...
Minha bússola só aponta
para a constelação de Anarquiáries,
tua casa arquétipca...

Enchi as velas
com o vento do desamparo,
& gargalhei em meio à tormentas
lembrando a sina
de Perséfone ao lado de Hades,
que correu para o mar carregando seu pomar,
Como um maldito corsário
do amor...

Às vezes remexo nessa ferida inventada,
volvo essas águas com cascos de pedra...
Qualquer sensação profunda em relação à você, mesmo que ilusão,
é melhor que não pensar em ti,
ou te esquecer...

Me desculpe se ando te assombrando!
Todo mal-estar da vida
tremula em correntes invisíveis
que nos ancoram entre o possível & o impossível,
Sou um tripulante de barcos sonhados, fantasmas,
velejando pela insatisfação...

& ao desembarcar
sou um jardineiro entre criptas
que zelo em seu nome,
Templos ao tudo/nada interdito
de um gostar
erigidos em ilhas não habitadas
na costa desse desespero
& solidão...

Tenho esse sonho orgânico,
vivo & morto...
É algo que flui do chão,
uma planta bela & espinhosa,
que cresce no solo, mergulha no mar, ascende ao ar...
Roseiral-mar-nuvem-sonho
esquecido desse sentimento:
...deslizar entre as ilusões...

Tenho um barco de pedra
para naufragar...
Tenho asas de sonhos
para adormecer...
Tenho lugares oníricos
para onde me dirigir...
Coisas para suportar
não te ter...




5 de set. de 2018

.si.gi.lo.

}sVoOnChÊo{

...te levo às estrelas,
até o fim do mundo,
à uma cabana no campo;

...voos, charme, obsessão...

O que separa o amor
não é a chance, o tempo, o espaço, o gosto, o medo, o laço, a dose...

É o querer que não é
Intenso o bastante!
O insuportável é só uma forma de sentir mais... & mais...
Apego/Afeto

Energize, queime, incomode...
Há corações que são vastidões
a se preencher
antes de transbordar!

}tVeOnChÊo{

4 de set. de 2018

Läzwärd

Dentro de todo corpo azul
Balança solto um esqueleto azul
Sacudido pelo frescor da arte azul
de Yves Klein. Azuis... & Nu!

Porque a maioria das cores começa
com a letra A...
& a poesia tem "α" de aedo...
Cor do céu sem nuvens
& da escrita sem medo...

Canta a cor da tua língua
Do teu olhar franco
Pinta a tua dor à míngua
Daquilo que não te faz santo

Esse negro diluído
dos cabelos de Nuit
Esse oceano refletido
no teto de nossa suite

De repente tuas azuis vísceras
& tua azul fadiga de levantar
Insolente azuis premissas
Que permitem azuis nos excitar

Dentro de todo corpo azul
Balança solto um esqueleto azul
Sacudido pelo frescor da arte azul
de Yves Klein. Azuis...
& nus...

3 de set. de 2018

Mofo Rede Social

Tem alguma coisa muito errada!!!
Posso sentir o fedor, cerveja, suor, urina anabolizada...
O cheiro da náusea da rede social...
& essa perfeição cheia de retoques
sem vergonha de passar vexame
porque nunca soube o que é ética!
Fica defendendo o indefensável.
Fazendo piada com o ridículo.
Sentindo orgulho em ser horrível.
Nem bicho os acompanhariam,
nem seus cães os amariam
se entendessem o que os donos sentem. Feras, vampiros, farsantes...
Quem mentiu pra vocês?
Que mentira contaram?
Até o ponto que se inverteu tudo?
Acho que nunca souberam,
é fastidioso demais saber.
Tem que ter sorte! Vai lá que seja!
E vocês deram azar!
Azar de atravessarem suas vidas
certos mal agouro na forma humanóide...
& se for? Por que não cresceram?
Ah! O círculo vicioso...
Sinceramente...
Fazemos mal uns para os outros.
Redes sociais são sistemas de dissolução total da serenidade.
Uma armadilha para uma nova forma de ego: Seco, raivoso, medíocre, debochado, estúpido...
Tudo no fim para produzir no mundo real o grande lixo que está por vir,
& mais, para suportar o grande lixo que já está aí!
Vocês não sentem? O fedor? A náusea?
Isso não é uma teia, ou uma rede, é mofo, é bolor!!!


2 de set. de 2018

Lar / Exílio

1
Lar
lugar distante de se alcançar

Partir pela manhã
se perder no vazio
ancorar no éter
dobrar a esquina repisada
procurar rumos na saudade
arrastar lembranças

Há rastros de folhas secas
que não guardam pegadas

Trilhas de formigueiros abandonadas
que se interrompem terra adentro

Tapetes de paina
flutuam no vento

Lugares estranhos
dentro da familiaridade das cercanias

Lar
como é difícil alcançar...

2
Nas ruas alheias de outra cidade
claudicar corpo & mente
Memórias rotas
desesperadas procurando semelhanças

Lá longe uma nuvem estrangeira
faz chover aqui
Cacos de vidro estilhaçados
convidam a se apressar
enquanto uma voz cansada sussurra:
"Volte pra casa...!"

3
Por entre as nuvens o caos...
...o caos
penetra no mundo
na forma de luz...

O tempo mesmo
é um exílio
com o qual temos que aprender a perder...

Mas o espaço...!
Ah! O espaço é ainda deleite
mesmo sendo tudo
tão feio aqui...

Tempo
exílio da eternidade
Espaço
lar da existência

4
Exílio
é só o entorno do lar,
transbordar de abandono...
Solidão
é só uma antípoda do coração,
textura exilar sentida...

Ser thanos
auto-exílio em si próprio
aguardando... tudo...
& nada

5
Então
qualquer coisa pouca te cerca
& você quer só... abrigo

A chuva, a maré
a noite, o medo
o cosmos, o tesão

Qualquer coisa pouca te cerca
& você só...
quer abrigo

6
de todas as palavras
a que menos suja a boca
é dizer que 'ama'

de todos os atos literais
o que mais suja as mãos
é a liberdade

rebanhos mudos
multidões
discursando para si próprios

solilóquios
selfies
solidão

7
Parecia só
que era um amanhecer ao Oeste
Parecia
que chovia para cima
Os trovões
ecos mudos das máquinas
& a tarde só mais uma coisa linda
explodida
dentro desse lugar tão feio
Qual de repente
atinge
& se tinge de aurora

8
Que ninguém seja exilado
sem a chance de se despedir
Para além do lar
ou do teu olhar
Uma ultima chance
de se despir

9
Degredo
Dos exílios possíveis
Os dois mais terríveis

Exílio de si
Exílio da rede

Onde estamos a sós sós
Onde estamos a sós acompanhados

10
Nas lonjuras
Escalar abismos inóspitos
para longe do foço do Sol
Subir para o espaço interestelar
ao passo dos caracóis
No vácuo diamantino
congelar a opressão
& não olhar para trás
Outra estrela guarda um lar...

11
Exilar-se é também um ato consciente
uma forma desesperada
de encontrar o lar

A base do fogo
casa das brasas do cozer

Partimos
& levamos conosco
o fogo para o retorno

Acender de novo
a luz, o calor, a saciedade
o amor!

Ø
Exílio/Lar
No auge da solidão
comecei a pensar em caravanas,
& as migrações no ermo
me tocaram com o exílio,
& o exílio me trouxe de novo
expectativas do lar...

Reencontros...

Chamei de lar minha casa
a cidade, o pais, o universo
Mas apreendi & libertei
O corpo é o lar!

Procuramos outros corpos
como formas exemplares
de outros exílios...
Eu, você... nada mais... tudo...

Entender da expatriação
é conhecer a auto-política
O desejo, a paixão, o amor...
Enlaces que nos desprendem
& permitem
partir & voltar!