24 de dez. de 2016

...transmissão / vetor...

P.A.R.A. Q.U.E. 
V.O.C.Ê. A.C.H.A.
Q.U.E. S.E.R.V.E. O. T.E.M.P.O. ?...
/
Se pudesses prescindir dos seus órgãos / saberia...
Alheio a qualquer querência / o terror inundando cada instante
de significados...
/
O tempo é o sentido maior
de um mapa que só enxergamos um ponto mínimo...
/
& neste ponto mínimo está
tudo que queres...
/
& não desejarás mais do que isto:
...olhos, boca, sexo, pelos, cores, voz, nome, toque...
Até que se desfaça de toda essa organização
& seja:
e.t.e.r.n.i.d.a.d.e...
/
Enganados que os sentidos transmitem sentimentos
Não vemos que o canal destas transmissões
é o Tempo...
/
Vetor de encontros
calamidades
obsessões
significados.


19 de dez. de 2016

Horizontes...

    Muitas das coisas em que nos baseamos está ligeiramente, ou muito, equivocado.
    Veja só: o Sol não nasce, ele está imóvel em relação à Terra, então cada aurora não é o “nascer do Sol”, mas um giro da Terra até o mesmo ponto do horizonte onde todos os dias o Sol surge para te iluminar...
    Temos o Sol como referência, mas a verdadeira referência é o Horizonte.
     Da mesma forma podemos interpretar as coisas importantes de nossa vida: Nós mesmos, nossos Amigos, nossos Amores, os Sonhos, as Conquistas...
     O mais interessante é que em nossas relações humanas, não “vamos ao horizonte”, mas o “trazemos” até nós. “Horizonte” quer dizer “limite visto”, então a medida que trazemos o horizonte, as coisas, para mais perto, novos horizontes se abrem... “Importante” deriva de “importar”, que quer dizer “produzir”, e também “trazer para dentro”...
     Tais coisas importantes são aqueles pontos fixos, que apesar dos dias, permanecem como o Horizonte a produzirmos, o qual enxergamos os limites daquilo que nos ampara & permite nos superarmos.
     Dentro da circularidade do Tempo que nos engana em suas repetições, auroras e ocasos, é graças ao Horizonte que temos a referência do Meio-Dia, a realização.
    A Terra gira, o tempo passa, vão-se os anos, mas os Horizontes permanecem, porém enganam-se mais uma vez os que pensam que são fixos, a medida que avançamos rumo à ele, tudo muda...
     Contemple o Horizonte hoje por alguns instantes, é uma visão mágica! Logo ali, ao alcance de seu olhar, está o vislumbre de quão pequenos somos, e ao mesmo tempo, está estampado no grande aberto do mundo & da vida, tudo que desejamos & podemos ser...
    E lembre-se: o mais importante é ser importante para o outro.

    Você é um Horizonte para mim! Você é importante, está para sempre, aqui dentro!

1 de dez. de 2016

Meu Grande Meio-dia


                                                                                                “Agora estou em paz
                                                                                                  o que eu temia chegou!
     Belchior
Linhas paralelas
   percorrem todo um universo,
Hão de se encontrar
   no ponto de saída dessa prisão...

Gira a roda,
O carrossel à minha volta
   quase alcança
      a velocidade da tua luz...

Sei que estou de partida:
Quem sabe que não vai voltar
   parte antes de anunciar,
Mas não hoje, ainda, devirá...

Pela falta de algo perfeito
   aqui do meu lado, aqui dentro de mim,
Acordo & sei:
   concordo que é a última vez...

O anel se romperá!
O retorno eterno não mais será,
No hálito do redemoinho,
   pressinto a saudade que ninguém terá...

Já desponta um arco-íris branco
   que os olhos de fora enxergam multicolorido,
De fato, do Amor Fati ele é uma ponte
   apontando um cume distante...

Ainda me esforço
   fazendo nada, mastigando tempo & espaço,
Para que ao sair
    que você saia também, assim quando faço, nos desfaço...

Tão belos,
Mas não mais enganados pelo crepúsculo.
Subvertidos pelas auroras,
Seremos finalmente feios...

& quando não voltarmos mais,
Nada será mais do que como nunca foi
Um dolo, um engano, um nada,
É assim que agora deve ser. 


26 de nov. de 2016

@ Romã

Um livro analógico de ditos de amor

Não procure quem te ame,
procura alguém a quem amar.
A. Jodorowsky




Trago nas mãos
Apenas seis favos de romã para te embriagar...


O preço do mais impossível dos amores
Custa seis favos de romã...


Toda dor é finda
& o amor compensa...


Não são estranhos entre si
Aqueles que foram motivos de um sorriso mútuo...


Um desejo profundo
Afoga decepções...


Perséphone Persiphal
De Hades, o Graal...




Mini-obra completa:
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11 de nov. de 2016

Onerância

Tive um sonho preto & branco
Em uma praça arquetípica
Sem nenhum som
Só o seu rosto... longe & perto...

Um instante de silêncio
Um toque de olhar
Não precisava de cores
Pra dizer... para significar...

Sono pesado
De travessia de mar
Funerais de poetas
Tronos a se queimar...

É a opressão do amor
O talento do ódio
Expressão de uma dor
Que nas costas, carregava o pódio...

Tive um sonho em branco & preto
Ganhos & perdas
Pré-juízos lunares
Falávamos a língua do esquecimento

...

2 de nov. de 2016

Ser para a Morte, Ser para a Sorte

                                                                                            Nascidos, querem viver e ter (m/s)ortes,
                                                                                         ou melhor, descansar, e deixam filhos
para que outras (m/s)ortes sejam geradas.
Heráclito (B20)


 
 “O amor é a compensação da morte”, disse Schopenhauer.

   “Uma compensação deveras injusta!” - direis, pois há os que não amam & os que não são amados, os que não conheceram o verdadeiro amor, porém conhecerão a verdadeira morte & a experimentarão pessoalmente...

   Injusta? Ora, se não te esforçaste para amar, apesar de ter entrado na vida, não deves reclamar então da justiça que é morrer. Eis o preço da vida, gratuito até, um golpe de sorte!

   A vida nos presenteou com a morte para aprendermos a amar.  


   Vida é morte, amor & sorte...




26 de out. de 2016

Afirmação de Firmamentos

Neste dia de loucura afirmo então você / Como meu único horizonte /
Cuja dobra é o firmamento que escalaremos até ao que tem de ser!



Ah! Essa doce loucura que me toma
   no insano delírio de meus afetos
      a sorte & o azar dessa trilha que chamo vida...
Sei que é loucura sim,
   pois agora entendi: é minha maior Sabedoria!
Minha maior certeza então tem um nome de luz.

Loucura...
    ultimato intimo zomba atrozmente
       de minhas pretensões!
Mas agora que o sopro do dragão se desfaz
& no seu diluimento coagula a trilha à frente
Eu vejo:
    estou nesse momento sobre a ponte do rio Lethes,
Estou entre o “te conhecer” & o “estar com você”!

Basta saber que eu sei!
Retornos em torno de uma mesma história de nós dois
Aqui eu já passei por aqui infinitas vezes
Nunca desiste em milhões de desistências
Devotei-me à esse zelo de meu modo torto.
Agora, levanto a cabeça & encaro o brilho & sigo feliz enfim...

O teu abraço & teu beijo é & sempre será meu fim.


17 de out. de 2016

Um des-sonho: Amortandante

                                                                       Nosso ethos
                                                                                        de Thanatos & Eros
                                                                                  É o tributo à finitude:
Única eternidade que possuímos!



Dou passos sobre cadáveres
Enquanto andante sou águia
   & com minha visão de abutre
      enamoro-me de uma mariposa amarela...
No tempo que a frequento
    um cão negro enxerga minha disposição
      & se aproxima de mim
Fujo dele, como crianças de estrondos...

(eu lhe falei que a mariposa estava morta?)

Sigo a estrada, estada seta
   até um robusto arbusto com folhas glosas
É irresistível a vontade de mordê-las
Línguas vegetais de intuídas lambidas
Mas todo abaixo daquele arbusto é casa de detritos
Testamentos das pessoas
Eu sigo... eu sigo...

Olho para o gramado deserto
Extenso campo de ninguém
Cercado, duramente não visitado
   pelos olhos de um qualquer
      & pelos pés de alguém
Cruzando-os, faraós mendigos passam além...

Foram até aqui três passos para além da cova
Foi uma eternidade
Um cão, um colo, uma vespa, uma árvore...
Uma saudade do Nada que vibra no meio de meus átomos, à toa...
Morada do Não-Ser que poetiza nadessências pela manhã
Agora, que tudo está ganho... & perdido!





[Esse é um ‘des-sonho’, pois o tive acordado, Sábado quando fui na UAI. Será que estava acordado mesmo? / Nós sempre estamos pisando em coisas mortas, onde quer que vamos, a cada passo arrastamos cadáveres de insetos, restos de animais, sem contar dos micróbios que ali reciclam esse material orgânico / Então, da altura de nossos olhos, somos como águias cegas a voar lá no alto, enquanto um campo santo se estende sob nossos pés / Nesse dia eu via pelo caminho o cadáver da mariposa amarela, brinquei com ela com o pé, para ver se voava, mas ela estava vazia já, apenas aquela flor-não-rosa jogada no caminho, morta / Me parece que a disposição de brincar com aquele inseto abriu minha aura, e o cão se aproximou muito contente, como se dissesse, ‘ora, brinca comigo também que estou vivo!’ / Não sei como ou porque, mas de alguma forma aquilo me assustou, meu corpo reagiu institivamente, tal como se estivesse nu em público, e sai cheio de pudores de perto do cão / Agora entendo: eu estava em um espaço e tempo alterado, devia parecer uma candeia energética impar / Alguns passos à frente havia esse arbusto, muito verde, com as folhas em forma de línguas, sua cor me pareceu crocante, vegetalmente sinestesicamente falando / Quis mesmo morder uma folha, mas olho para o pé do arbusto, lá em seu recôndito, e havia muito lixo jogado, coisas da humanidade, e perdi a graça de cometer o crime de insanidade de abocanhar um arbusto em publico / Do lado desse caminho, ficava cercado o jardim da frente do local onde eu ia e ainda não havia aberto, sentei no carro e fiquei a olhar a grama, parecia tudo limpo e organizado, mas era estranho, pensei que ninguém dava valor para aquilo, passavam à esmo não contemplando a beleza simples ali, e mais ilógico ainda, era cercado mesmo, para ninguém pisar, para crianças não brincarem, só para se olhar no máximo, então para que exigir olhares mesmo? / Então uma vespa insistiu em me visitar, ali no dedo que eu digitava no celular minhas impressões, ela foi e voltou umas três vezes, e já estava querendo dar um nome para ela, mas ao fazer movimento para fotografá-la ela sumiu, foi-se... fazer parte do chão em alguma hora desse dia / Esse tolo Sartori então se ampliou, na minha consciência perscrutando o sentido de tudo isso, três minutos de variações... Entrei rápido em mim, do pó dos cadáveres incontáveis no chão ao pó de meus átomos, e de lá senti a saudade que emana em retrospecto, convidando-nos a voltar para sua perfeição nadificadora / Tudo está ganho: a vida, a existência, e tudo isso está perdido também, quando formos para o cremador da cova que nos espera / Lembrei da aula sobre Deleuze e Espinosa de Sexta pela manhã, “A ética é um tributo à finitude”, assim faço da minha ética um louco poematizar...]


4 de out. de 2016

Gozo de Gnose

Sonho com uma sinfonia,
Um desfiar de sons que componho a noite toda...
Construo uma catedral,
   um campo verde,
        uma alcova de nuvens gris...

Sei por saber -
   como um enjoo no turbilhão -
Que começo a enlouquecer
   com um tambor de retumbar quadrado...
A concepção é amaciar o coração...

Um coro vai cantar
Me afasto para ver as crianças com asas de cupido
   tão neutras como a cal
       que calafetei as paredes da catedral...

“...rumo ao Pleroma
    do peso mais pesado
          do mundo mais amado
...senda feito de linhas imaginárias
     serendipedes multicolorido
           dar dor mais gostosa...”

A alcova é o altar...
Que se ergue no ar como fumaça de incenso,
No leito eu abraço um corpo de luz
    que irá me queimar

           com a cintilância de um gozo de gnose...




9 de set. de 2016

Primitiva Primavera

Sinto sob meus pés o mundo se movendo
Latitudes transformando-se
Em um arrepio intenso que diz
Que o amor está voltando...

Sinto na pele um frio de fim de inverno,
& uma felicidade tola
Instala-se no meio das pedras
Da muralha estraçalhada do meu coração...

Campos devastados
Revolvidos por ventos rubros
De folhas secas que foram varridas
Das estações do inferno que cessaram...

Sinto encher o peito de vida
Para mais uma dádiva à morte
Que não me fará mais uma vez
Esquecer da arte que me compõe consciência...

Ainda há o perdão a pedir
Por sempre ser eu mesmo
& que me desculpem os que cobram seriedade
No altar de todas as lutas insociáveis...

As longitudes dentro de mim
Cantam uma canção mais forte,
Do vácuo abismo a se preencher
Só eu sei a energia que tenho & gastei para Ser,
& não para parecer!



22 de ago. de 2016

Poema do Sal do Suor (Eclipse-Ouroboros)

I
A alma é uma estranha neste mundo
& o corpo sofre os castigos deste estranhamento

...dor, solidão, confusão, ódio, terror...

Como um vírus, bactéria, apêndices
a alma contaminou a carne
& faz-nos padecer de espírito!

II
Ah! Quem dera
nunca ter ouvido falar do Divino!

O mal penetrou no mundo
por causa de Deus!
O corpo é o único bem que deveríamos conhecer.

III
Se tenho um Alento
um pouco de Nada, um Abrigo
Algo para suportar existir
É a presença & o corpo dela,
que busco, quando na vida brinco...

IV
Nesse mundo só uma pessoa
poderá lhe mostrar a diferença que há
entre o gosto da lágrima
&
o sabor do suor.

V
Ela
é aquela
que eclipsará no teu olhar
todo o sentido de gostar

Uma nova visão
um novo sentir
um libertar!

Um encontro para dar
a paz & a guerra
de Amar!



Rio 2016 e Além...: Somar & Dividir a Vitória/Derrota

    Tenho me detido a pensar todo o significado deste evento esportivo ocorrido no Brasil chamado Jogos Olímpicos, tentando não me deixar levar pelo frisson espetaculista tanto dos jogos como das festas de abertura e encerramento.
   Sou obrigado à primeira vista, admitir sobre a beleza e grandiosidade de tudo que foi realizado, apesar das contradições que carregam a realização deste evento que se revela no contraste entre os gastos com os jogos e a situação de nossos sistemas públicos de cuidado com a população, saúde, ensino, segurança, trabalho, etc. Porém não quero aqui dizer mais nenhum clichê acerca disso, tudo está bem explicito e o brasileiro tem plena consciência disso tudo.
   O que quero analisar é simplesmente a emergência de uma mensagem disso tudo, qual é ela e se ela é realmente relevante para melhorar a situação do Brasil e da humanidade de uma forma em geral.
   
   Comecemos pela Abertura e Encerramento. A mensagem que saiu dali foi como aquela que colhemos em novelas, jornais, etc., ou seja, foi-nos exposto um conjunto de informação midiática direta a respeito de convivência e sustentabilidade ecológica, entremeado como propagandas em revistas, com bela fotografia. Não sei por completo a relevância disso para a consciência nacional, tão dormente sobre as questões ecológicas, haja visto nosso gosto recente pelo embate político em protestos à Esquerda e à Direita pelas ruas, redes sociais e aparelhos jornalísticos.
    É claro que o “espírito olímpico” politicamente correto não permite a veiculação de protestos políticos em sua interface mundial para além da tolerância da expressão dos atletas apátridas, mesmo porque isso já contempla a critica capitalista contra os “inimigos” da tal democracia ocidental, que tolera também as regras do Islamismo acerca às mulheres.
    Crer que ocorreria um atentado terrorista nos Jogos faz parte da dialética do medo dos países em guerra contra o terror, mas isso era impensável de ocorrer, já que os Jogos Olímpicos é o momento das grandes nações brilhar diante do mundo, dando seu recado de prosperidade e superioridade econômica e política onde não mais o terror se infiltra, já que ele serve à essas nações apenas como fator de união interna e justificação com gastos em armamentos.
    Ao largo de tudo isso se introduziu o Brasil fazendo sua mea-culpa ecológica e social nas festas de abertura/encerramento. Revela-se sobre tudo isso o fato sincronístico da Rede Globo após o encerramento e a passagem da bandeira olímpica ao Japão de veicular um filme onde se apresentava a bomba de Nagasaki e a penetração do ocidente, na forma de um mutante violento e carismático, na cultura nipônica.
    Porém antes disso, a festa de congratulação debaixo de uma fria chuva de fim de inverno, onde os atletas super-humanos eufóricos se misturaram com o povo moreno e dionisíaco ao ritmo do samba revelou uma imagem do que pode ser a “paz universal”, que eclipsa assim a realidade humana dos últimos tempos.
    Tirando o mau estar imposto pela delegação da Oceania, dos boxeadores africanos estupradores em potencial e o nadador norte-americano mentiroso, as guerras de informação e imagem de choque de cultura, o grande perdedor desses jogos foram a Rússia, que mesmo tolhida de sua delegação, muito por culpa própria, mesmo assim terminando em quarto lugar no quadro de medalhas.
    Penetra assim também nos Jogos o sentido para onde está se encaminhando os conflitos internacionais dos próximos anos. Creio até que a Copa do Mundo de futebol será tirada da Rússia e dada ao EUA.
  
    Voltando à uma tal mensagem desses Jogos, o que o Brasil pode tirar deles, carregados ao nível arquetípico, podemos observar a revelação pública do cinismo político exemplificado nas atitudes do prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Há também o embate ideológico do legado político dos Jogos que escorreu entre os dedos do PT na forma da areia fina dos cartazinhos ridículos de “Fora Temer” nas mãos de adultos e crianças e principalmente a ausência de qualquer cartaz de “Fora PT” ou “Fora Dilma”, isso porque na mente nacional talvez “Fora Temer” queira dizer justamente “Fora Dilma/PT/PSDB/PCdoB/PMDB/DEM” etc.
    No mais, as Olimpíadas são justamente o espaço de quatro anos entre cada Jogos Olímpicos, assim, agora findados os Jogos, o Brasil retorna iniciado na recepção do evento, fazendo parte das nações que sediaram os jogos em si, que são símbolos da confraternização universal imiscuídos do critério de competir em vez de guerrear, assim provavelmente teremos que fazer como todos as grandes do ocidente e do oriente que receberam os jogos, salvo raras exceções, de não mais lutarmos contra um inimigo externo, mas travarmos nossa guerra interna, que já se revela no horizonte nos últimos anos.
   Depois de descarregarmos para o mundo nossa tensão de “vira-lata na via-láctea”, como captou Tom Zé em seu último CD, agora rumamos para fazer nossos ajustes de contas internos. Provamos a nós mesmos, de forma passiva, pois recebemos a mensagem pronta dos organizadores dos jogos, que o poder o “espírito olímpico” pode realmente conduzir à “união universal”, e vamos agora suturar as feridas de nossa desunião interna.
    Os Jogos provaram ser mais fortes que qualquer Internacional, mais eficaz que qualquer manifestação política, mais sutil que qualquer guerra, mais profundo que qualquer domínio cultural, pois fala de superação, não de submissão. É claro que esses parâmetros estão em construção ainda em nossa sociedade, estão se desenvolvendo, mas tem agora que passar pelo teste histórico de ser tomado pelas mãos do povo e não apenas ser conduzido insone por políticos engravatados exilados da realidade pelo fascínio do espetáculo da grande política, da grande corrupção, da grande cisão do pensamento que há entre verdade empírica e teoria, analise e discurso politiqueiro.
    A Olimpíada do Rio 2016 revelou a possibilidade do povo brasileiro se descolar do espetaculismo fantasioso de nossa mediocridade cultural e política e erguer, com suor, mas não porque com o sangue necessário que clama Justiça, e começarmos a construir verdadeiramente uma civilização tropical, para além de caetanos boçais e tais, heróis 100% banais, calarmos discursos virais ou pseudo-intelectuais, e nos unirmos sob o símbolo que ficou depois dos jogos, que são os próximos quatro anos olímpicos que começam por uma faxina eleitoral e consciente em nossa própria casa, nosso bairro e cidade.
   Não podemos perder essa oportunidade. Assim como a festa de encerramento dos Jogos convocou os artistas, os poetas, os paisagistas, para revelar sua mensagem de cor, som e movimento, saiamos todos da caverna de nossa própria pré-história e adentremos enfim no mundo civilizado que propomos ao nosso próprio modo: solar, fractal, indócil, mas amoroso, e na manhã fria depois da ressaca da festa, miremos nos valores nacionais onde o maior é justamente a pessoa comum.
    De nossas 19 medalhas, 14 foram de talentos individuais, 3 foram de duplas e 2 de equipes, dito esporte coletivo. Dos talentos individuais todos foram casos de superação pessoal e/ou social, porém houveram outros casos, que por não ganharem medalhas ficam esquecido do espetáculo, que é o caso por exemplo do sétimo lugar no Mountain Bike, ou o quinto lugar da ginástica na trave, etc.

   Tudo isso prova que o melhor do Brasil, foi e sempre será, o povo brasileiro, o cidadão comum. Que esses Jogos sirvam para despertar a auto-estima em nossos corações e que conquistar um lugar ao Sol significa muito mais do que se corromper, pisar no mais fraco, obliterar os demais, significa trazer a sua luz e calor para junto dos demais.
   Nessa manhã e dia frio na ressaca pós-jogos, saibamos buscar a vitória para dividir entre todos!