Em outro trópico
A lua eclipsa o sol
Fechando o ano...
Em outro tópico
A sua elipse me assola
Fechando a alma com silêncio...
Sombra da lua na terra
Assombra a tua lembrança
Me aterra como cadáver inaudito
De uma loucura que enfim... se vai!
Agora que somos só silêncio
Que o que passou não aconteceu
Agora que somos de novo desconhecido
Existe um vazio no tempo
Que não tem como se preencher
Preencher esse espaço que o vácuo criou
Talvez com entulhos de raiva
Talvez com resquícios de culpa
Talvez com carcaças de materialidade
Ou ondas de indiferença
Poeira de verdades reveladas
Pó de mentiras decantada
Brisa de alegria...
Agora que finalmente somos só distância
Que nos entrevemos como cegos
Agora que estamos aprendendo a ser nada
Aniquilando o espaço que nos aproximou
Seremos de novo o que éramos
Dois erros quando se encontram
Colidem não como um erro maior
Mas como um acerto de contas
Do que se deseja
Com o que o mundo pode nos dar
Insanidade de se conseguir tudo
& tudo é o que ninguém deveria ter
Quando ali
Permaneço nos campos desordenados
Da sua mente
Emerjo & sou engolido
Pelo caos
Da sua incontrolável desrazão
Estou no foco da paixão
No olho do furacão
Em seu pensamento
Quando lá surjo & sou sepultado
Não faço nem ideia do que sou
Só não serei nada mais do que uma sombra
Aí me perco & me calo
Não sei de onde vem a luz que me projeta
Nem o vazio onde não ecoa a voz de meu coração
Trinco & me parto
Não recolhido, espalhado
Pelas mãos onde amaria repousar
Queria entender o que sou em você
Como o que você é em mim
Para além dos estilhaços
que um ao outro cortam
Costumava compor o amor
como uma luz que brilha no escuro
& fazia dele como o calor da manhã
que dava sentido ao dia inteiro
Mesmo que... de tarde chovesse...
Agora tenho que o decompor como a chuva que cai
derrama-se forte na terra nua
& os pingos grossos espalham lama
nos pés que cruzam o chão
Outrora seco... agora encharcado...
Costumava compor o amor
& sempre retornará a ser composto
Como o sol & a chuva que vêm & vão
apesar do dia ou da noite
Apesar de onde... pisamos pra deixar para trás...
Provei tua lágrima
& era tão suave
o sal
Que me fez crer
que você chorar
poderia também adoçar
a água insossa que sou...
Fazer-me rio
perdido no oceano que você é...
