25 de mar. de 2016

O Santo Graal & seus Mistérios

   Em tempos tão constrangedores para o Espírito, quando um materialismo corrupto avança ferozmente, destruindo toda esperança e vislumbres de um futuro melhor para a humanidade, os ciclos dentro do tempo ainda guardam relíquias para suprir o espírito de energia e manter ainda acesa uma luz tênue para nos guiar.
    Observando por outro prisma, o espiritual, as coisas não são melhores, quando se trata de evolução da sociedade e da consciência humana, o que vemos nesses tempos de crise é realmente uma guerra, travada a níveis consciente e inconsciente por todas as pessoas.
    Entremeando nesses assuntos materiais, nessa semana que antecede a “Sexta-Feira Santa” e o Domingo de Páscoa, volto a pensar a respeito de uma história que me é cara, as Lendas do Graal.

    Quero refletir aqui e compartilhar com vocês sobre esse assunto porque ele está dentro das circunstâncias pelas quais passamos, pois as Lendas do Graal falam justamente de circunstâncias materiais e espirituais, e o momento sócio-político porque passamos agora no Brasil é justamente o momento que definirá por um longo período de tempo o nosso Destino Comum, como Civilização.
    O momento de crise é justamente o momento de tomada de consciência, o momento em que as coisas são retiradas de seus véus e mostradas como realmente são. Crises assim são oportunidades de “saltos quânticos” na evolução de uma sociedade.

   Informam-nos certas escolas esotéricas sobre os Mistérios do Graal.
   Como objeto físico, um cálice, um prato, uma espada, uma urna, etc. Esse objeto venerável peregrinou por diversos lugares no globo, e esteve por longo tempo guardado na Catedral de São Salvador na Bahia.
   Tal objeto é um artefato canalizador de energias para a evolução de um povo, e sua missão em terras brasileiras foi para fomentar certos estados mentais que se necessitava para a continuidade da evolução humana. A Teosofia e a Eubiose fala sobre a continuidade do velho jogo da evolução das raças, onde depois da II Guerra Mundial e posterior Guerra Fria, tal jogo deveria ser realizado pelo Brasil e pela Argentina (ouça áudio no final).
    De acordo com os eventos das últimas décadas, parece que se engendrou um plano para se “sabotar” esse plano Divino de evolução natural dos povos, destruindo por dentro os valores éticos dos povos brasileiros e argentinos, a política, a economia, a religião, o futebol e a educação foram ferramentas usadas para se estragar tudo de bom que pudesse haver dentro do coração dos seres humanos da América do Sul.
    Não sou um iniciado para dizer como se procede nesse momento a ordenação dos fatores para nossa evolução, e se soubesse muito provavelmente não estaria escrevendo sobre isso aqui, porém o que posso inferir em minha intuição parca, em minha busca de curioso como cego no tiroteio, vou refletindo como posso. “O presente é sempre resultado do passado, e herança para o futuro”, como diria o saudoso Antônio Carvalho.
   O que sei é que de toda forma as coisas seguem em frente, não existe acaso, tudo tem limite, tudo de bom que surge traz consigo algo de ruim, e com tudo de mal que emana, algo de bom vêm também. Essas seriam as regras básicas a se ter consigo como premissas para se entender o mundo e seguir em frente com um pouco de sanidade.
  
   Então entramos especificamente no assunto do Graal. Ele está representado em diversos graus na nossa realidade.


   Olhe para o céu noturno nessa semana e verá o que é um dos Graais. A Lua em conjunção com Júpiter, formando o Graal celeste transbordante neste momento equinocial do ano, cálice lunar que começa a ser preenchido na Lua Crescente do Carnaval, tudo indicando velhas concepções ditas pagãs para essas épocas do ano.

   Esse Graal sobre nossas cabeças revela o momento de equilíbrio onde os mistérios do Graal penetram no mundo e relembram ao espírito humano sobre a trajetória da busca a qual o devemos nos dedicar em nossas vidas.

   Os mistérios do Graal estão também expressos em um livro que circula entre nós de forma velada, como se não fosse um livro, mas o é.
   Falo do Tarôt (Taarô), o Livro de Thot. Nele podemos ler toda a história do Graal, estão ali representados vários personagens dos romances do ciclo do Graal como Percival (O Tolo - Arcano 0), Merlin (O Mago - Arcano 1 ou O Eremita - Arcano 9), o Castelo do Graal com o Rei Pescador (A Torre ou Mansão de Deus - Arcano 16), o rei Arthur (O Imperador - Arcano 4) o Assento Perigoso (O Pendurado, ou O Enforcado, referência à Judas - Arcano 12), Guenevere (A Imperatriz - Arcano 3), Cundrie (A Papisa - Arcano 2), Lancelot (Os Amantes - Arcano 6), etc. E o próprio Graal, do qual aparece referências em diversas lâminas ou páginas desse livro, de diversas formas, veja os Arcanos 1 (O Mago), 14 (A Temperança), 17 (As Estrelas) e o 18 (A Lua).
   É sintomático que o Arcano 8 seja A Justiça, alto conceito que percorre todas as histórias do Graal, trazendo a espada como mantenedora de todas as coisas, apontando para o equilíbrio eterno que o Graal traz a quem se alinha ao seu pensamento ou filosofia, representado finalmente pelo ¥, símbolo do infinito que só pode existir mediante a própria justiça das coisas.


Além disso, o Tarô como o livro do Graal remete também em seus Arcanos Menores, os Naipes, Copas (Cálice) que denota aspectos positivos, e Espadas, que denota, na maioria das vezes, a aspectos negativos, além do Paus e Ouro.


As histórias do Graal escondem muitos outros mistérios, e talvez o maior e mais polêmico seja a questão da descendência de Jesus de Nazaré para a posteridade, que trata de questões de descendência direta, do homem Jesus com Maria de Magdala, assim como o segredo da própria magia sexual ou tântrica, o que aponta para a ascensão do Cristo interior dentro de cada um de nós. Sobre esse caráter do Graal é o que se refere livros como “Conspiração Jesus” (de Michel Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln), “O Código Da Vinci” (de Dan Brown) e “O Graal Secreto dos Merovíngios” (de Carlos Cagigal e Alfredo Ros), entre muitos outros.
    Tudo isso refletido e contado desde a Idade Média nos mitos do Graal, mas que agregam mitos de diversas idades passadas de todas as partes do mundo, pois fala sempre sobre a evolução do ser humano, a evolução de cada indivíduo.


Sobre o Graal a Igreja Gnóstica ensina que Melquisedeck deu à Abraão, quando este celebrava uma ceia ritual, um Cálice, que depois ficou de posse da rainha de Sabah que o passou à Salomão, o qual Jesus usou na última ceia com os apóstolos antes de sua morte ritual na cruz, depositando ali gotas de seu sangue e de sua pele, rememorando assim o antigo ritual alquímico de comunhão de Abraão, com o segredo da transmutação da matéria.
   Esse Cálice doado por Melquisedeck à linhagem de Abraão, que passou nas mãos de Salomão e Davi, depois de Jesus, foi finalmente entregue à José de Arimatéa, junto à lança que ferira Jesus na cruz.
   No sepultamento de Jesus, Arimatéa encheu tal Cálice com o sangue que jorrava do corpo de Jesus, trazendo assim uma mensagem espiritual e uma material, e sendo essa que Jesus na verdade sobrevivera à crucificação, pois seu sangue ainda corria nas veias e escorria de seu corpo. Eventos que a lenda diz ter ocorrido justamente nesta época do ano, marcado para a posterioridade pela lunação.
    A história continua a contar que José de Arimatéa passou certo tempo preso, onde um anjo ou o próprio Jesus reerguido revelou a ele os segredos do Cálice e o imputou com a missão de levá-lo para o continente europeu, onde temos o relato de sua migração, com os membros da família de Jesus, Maria de Magdala e seus filhos entre eles, para o sul da França, levando também a lança que ferira o flanco de Cristo.
   Foi nessa região do mundo, onde se encontra principalmente Toulouse e o Languedoc é que surgiram para a posteridade as Lendas do Graal, baseados justamente na continuidade dos ensinamentos de Jesus em seu caráter mais puro e espiritual, que o Gnosticismo é o representante.
   Disso tudo a Igreja Gnóstica dá sua mensagem final:

“O caminho que conduz à auto-realização íntima é
ABSOLUTAMENTE SEXUAL.“ENCHE, IRMÃO,
 O CÁLICE DE TEU CÉREBRO COM O VINHO
DA LUZ, TRANSMUTANDO NO ALTAR DO
AMOR.” No Matrimônio Perfeito está o elemento
fundamental para consolidar a doutrina da Santa
Igreja Gnóstica dentro de nosso próprio Ser. Um
matrimônio perfeito está composto por uma alma
que ama muito e outra que ama melhor.
O AMOR É A MELHOR RELIGIÃO QUE SE PODE
ALCANÇAR. DITOSOS OS SERES QUE SE AMAM.”
(in Fernando Moya: “O Livro de Ouro da Igreja Gnóstica
- México. www.divertire.com.br/pdfFactory).

   Em nossos dias referências ao Graal são expandidas, fala-se dos Discos Voadores, da Alquimia e da Psicologia, da Genética, da própria Internet, no sentido de Cornucópia de informação, etc.

   Em seu sentido mais estrito o Graal é um símbolo do feminino. Em interseção complementadora ele joga com o símbolo da Espada ou da Lança, nisso se mostra com suas referências orgânicas com o Olho (também a Vagina e o Útero) e o Pênis (e também a Língua, os Braços e os Dedos).
   Como símbolo feminino para a consciência o Graal se impõe como repositório ou momento cíclico propício ao que finalmente se refere essa época do ano, provavelmente uma referência como a época do renascimento do Cristo ou Buda como Jesus de Nazaré. Se isto é fato histórico ou personificação mitológica não importa, o fato é que tal sabedoria adentrou na mente humana e com esses fatores jogamos com nossa evolução pessoal de cada dia.
   O Graal pode ser representado pelo útero, pela boca, e a Espada pelo falo e pela língua, ligando Consciência correta e Palavra correta como modos de ação no mundo.
   Assim o Graal fala mais do que sobre um objeto em si, mas fala de um momento dentro do qual se abre uma oportunidade para o Espírito. Que esse momento se concatene justamente com o Equinócio é muito interessante, pois aponta justamente para o Equilíbrio, ou seja, a Justiça.

   Não é a toa que no Brasil vivamos os incríveis momentos sociais das últimas semanas, creio que a medida que formos resolvendo (ou protelando) as questões proposta sobre a nossa evolução como povo, como sociedade e civilização, as coisas irão se resolvendo ou se aprofundando, o que não podemos permitir nesse momento é que as coisas fiquem como estão, e perdermos esse momento impar de tensão ou crise com respostas rasteiras ao nosso momento histórico atual.
   O fato é que muitas coisas estão se movendo no palco de nossa sociedade, então devemos nos centrar em nós mesmos, procedendo com aquela conversa interior e esclarecida, e distinguirmos as informações éticas com as quais devemos jogar para superarmos as coisas que determinaram nossa nação até os dias de hoje, e romper com isso tudo.
   Seguindo as linhas da história do Graal, que se pauta pela compreensão do amadurecimento da personalidade humana, provavelmente teremos que entrar inocentemente nesse momento, como Percival, e daí conquistarmos tudo que devemos conquistar, heroicamente, para nos tornarmos possuidores do Graal, que no caso do Brasil seria a União do povo.
   Como símbolo feminino essa é a maior convocação do Graal, um apelo pela unidade e a vitória pela resistência e pela geração de novos modelos de vida e Estado, por uma correta consciência e uma forma de ungir toda união através da palavra, o que deve prevalecer neste nosso momento enquanto Povo.



Adendos:

I - Do “O Livro de Ouro da Igreja Gnóstica” de F. Moya:


Hino do Graal

Dia após dia,
Disposto para a última ceia
do amor divino,
o festim será renovado
como se por última vez
houvesse hoje de consolar-te,
para quem se haja comprazido
nas boas obras.
Acerquemo-nos ao ágape para receber
os dons augustos.
Assim como entre dores infinitas
correu um dia o sangue que redimiu
o mundo,
seja meu sangue derramado com
coração gozoso por causa
do Herói Salvador.
Em faces vive por sua morte
o corpo que ofereceu
para nossa redenção.
Viva para sempre nossa fé,
pois que sobre nós
repousa a Pomba,
propícia mensageira do Redentor.
Come do Pão da Vida e bebe do
Vinho que são para nós amigos
Vejam, Homens e Deuses,
os Cavaleiros do Graal e seus Escudeiros!

***
II - Do “Livro das Mentiras” de A. Crowley:

60
ΚΕΦΑΛΗ Ξ

O FERIMENTO DE AMFORTAS

O Auto-Domínio de Percivale tornou-se a Auto-masturbação dos Burgueses.
Virtus tornou-se “virtude”.
As qualidades que fazem um homem, uma raça, uma cidade, uma casta, devem ser  
   derrubados; morte é a penalidade do fracasso. Como está escrito:
Na hora do sucesso sacrifica o que te é mais querido aos Deuses Infernais!
Os ingleses vivem sobre o excremento de seus antepassados.
Todos os códigos morais são imprestáveis em si mesmos; ainda que em cada novo código  
   haja esperança. Sempre na condição de que o código não seja mudado por ser muito
      difícil, e sim por ser cumprido.
O cachorro morto flutua com a corrente; na França puritana as melhores mulheres são as   
   meretrizes; na Inglaterra viciada as melhores  mulheres são as virgens.
Se ao menos o Arcebispo de Canterbury saísse nu pelas ruas mendigando seu pão!
O novo Cristo, como o velho, é o amigo dos taberneiros e pecadores; pois sua natureza é
   asceta.
Oh, se todos fizessem Não Importa O Que, com a condição de que isso fosse a única coisa
   que eles não quisessem nem pudessem fazer!

***

III - Do “AyA ArcAnA” de E. M. Tronconi:

O Cálice Sagrado

Vem crescente...
Cálice Sagrado
Transbordando a Luz do Sol
No reflexo da Lua
Transformando a noite escura
Pelo crescente da Lua...

Ah...! É o reflexo da Lua
O reflexo da Lua
Um Cálice Sagrado
Para o Sang’Real do Cristo

É o reflexo da Lua
O reflexo da Lua
Um Cálice Sagrado
Cheio da Luz do Sol

Vem... Crescente...!


A Pedra do Destino

É ela que cai... ela quem cai...
É ela que vem... ela quem vem...
É ela que chega... ela quem chega...
Pedra... Sideral...
Estrela... Cadente...
Diamante... Cósmico...
Joia... Universal...
Pairando no ar
Acende o céu noturno
Vindo nos visitar...
Ela é o Graal
Ela é o Graal
Pedra Angular
Do Templo de Salomão
Pedra Angular
De toda a Criação
Ela é a ligação
Do céu com o chão
É ela a ligação
Do céu com o chão

Desce, desce, desce...
Vem, vem, vem...
Desce, desce, desce...
Trazendo de Deus
Nosso Sagrado Destino
Proteger & Saber
Os Mistérios de Salomão
Saber & Proteger
Os Mistérios… da Criação.


A Espada da Palavra

Daí-me... oh! Deus...
O Dom da Fala Correta
Ensina-nos... oh! Deus
Tua Sabedoria Divina que é reta

Palavra é Espada
Na boca do bom servidor
Usa com cuidado
Para não causar sua dor

A Espada não causa o corte
A Espada não traz a morte
A Espada leva a Vontade
Do guerreiro do Senhor

A Espada não causa o corte
A Espada não traz a morte
A Espada leva a Vontade
Do guerreiro do Senhor

Palavra!
Ela é a Espada
Dos Cavaleiros do Senhor!

Palavra!
Ela é a Espada
Dos Seguidores do Senhor!


A Lança da Superação

Nasce aquela Estrela
No Cruzeiro do Sul
Anunciando o Novo Sol
Que traz ao dia um novo azul

Na mente dos homens
Uma ampla consciência vem
Em nossas mãos
Uma longa Lança tem

É a Grande Lança... da Superação
É dela que escorre
O Sangue do Cristo... na Crucificação

É Sangue & Água... em União
É em união... que alcançamos… a superação

Humildade & Entrega
É a Superação
Amor & Perdão
É a Salvação

Humildade & Entrega
É a Salvação
Amor é Perdão
É a Superação.


***

IV) Áudio de Antônio Carvalho:



18 de mar. de 2016

Para Além do Ódio: União = Ética + Justiça

   Entender o momento pelo qual passa o Brasil não é uma questão difícil. O fato é que visões discrepantes se confundem no cenário, o que torna o entendimento, sempre refém de ideologias, precária.
    O que acontece é que não é do conhecimento das massas os fatores complexos que urdem o que seja a realidade. Política, Direito, Economia de um lado e Existência do outro. Os primeiros são sistemas virtuais vivos já independentes, autômatos postos em movimentos e agora incontroláveis, que gerem a si mesmos. A outra por sua vez é um processo, em eterna construção, se relacionando com os componentes formadores da realidade, sendo assim sem uma definição acabada.
    Os dois “sistemas” tem pontos de contato muitos sutis, a existência humana acessa a política através de um ideal de ação, contendo as linhas morais necessárias para essas ações. Com o direito a coisa é mais simples, se impõe um ideário moral que garanta modos de conduta e punição para desvios, o que é entendido pelo indivíduo, mesmo não conhecendo todas as leis, sabe-se do que é legal e ilegal através de intuições ou esclarecimentos. Já com a economia as coisas se tornam mais abstratas, mesmo porque esta é revestida de um fundamento teológico, lida com humores mais do que com emoções, e talvez por isso tenha seduzido a realidade e a comanda agora. Estes três pontos são a base do Estado.
    A existência por sua vez comporta tudo isso, de forma diminuída, pois divide como se pulverizada cada ponto do tripé do Estado em cada ser humano, onde surgem as imputações como alienado ou engajado, consciente ou inconsciente, politizado ou desinformado, etc. Existir é estar inserido dentro de um jogo que começou antes e do qual temos que ao jogar ir aprendendo as regras.
    No Brasil, entretanto, temos uma pseudo-regra, que nossa cultura carrega, que a possibilidade do “jeitinho”. Essa concepção tem profundas implicações, mas fala principalmente sobre a possibilidade de se burlar as regras do jogo, e quanto mais alto na escala social, lidando com uso do poder, seja político, legal ou econômico, o “jeitinho”, que é conveniência, se torna modus operandi.

   Agora, no Brasil, além do que vemos na cotidianidade, do que nos repassam pela mídia por um filtro asséptico, evidentemente justificável pelo acesso de crianças aos meios de comunicação, mas que ao fim faz tornar crianças todas as pessoas. Coisa porém que se repete em esferas onde não seriam necessárias, o que chamamos de “politicamente correto”, o que ajuda imbecilizar os adultos.
   Então em um momento impar da mídia nacional, quando expõem em rede nacional, principalmente nas emissoras de rádio, sem cortes, conversas dos “homens de poder”  da nação, os que lidam com o jeitinho em mais alto nível, a população é posta em contato com a falta de polidez pura, que é geralmente remetida às pessoas incultas, xucras, que preconceituosamente são enxergadas como os que residem nos baixos níveis da sociedade, ou seja, na bandidagem, nos extratos sociais sem cultura e educação formal, etc.
    “Preconceituosamente” é usado aqui evidentemente para designar o que achamos que deveria ser, mas não é, pois as gravações dos últimos mostram justamente que esses elementos baixos estão no alto-escalão do governo, do Estado. É evidente que todos somos humanos, e assim não somos muito diferente em qualidade uns dos outros, todos temos nossos momentos de desabafo, onde para externalizar sentimentos fortes, usamos às vezes termos grotescos, mas o que se revelou com essas pessoas é que esta é sua essência moral, e assim política, existencial.
   Não me é estranho, por exemplo, pensar em juiz da alta corte usando um palavrão, ou um artista, em sua privacidade do lar soltando um impropério, ou um padre ou pastor soltando uma blasfêmia, etc. Não, o que mais me estranha, além do fato de essas gravações que vieram à tona chocar a população, é a forma como tal palavreado revela explicitamente o caráter de pessoas que, preconceituosamente, concordamos que deviam ser mais educadas. O que aparece é: Eles são como qualquer um!
    Isso se dá porque ao longo de nossa formação de nossas concepções acerca a realidade é que os que estão em cima, no poder, deveriam ser melhores um pouco, dos que estão mais embaixo, ou pelo menos fingir que o são.
   E pior, mais além das palavras, os atos dessas pessoas são também de tão baixo calão quanto seu linguajar. Seus atos pessoais e seus atos governamentais... E isso não se restringe à qualquer posição política de esquerda ou direita, todos são assim, todos são humanos.

    Uma interpretação política da realidade é muito conveniente, pois revela justamente o que é a Política sob a qual estamos submetidos, e por consequência, do Direito e da Economia. Sloterdijk chamou isso de “esquerda heideggeriana” (in Critica da Razão Cínica, pg. 288). Fala claramente da Alemanha, mas podemos estender ao Brasil, enquanto um Estado moderno de governo de esquerda, o qual não se distingue qualitativamente de outros.
    Essa é uma Esquerda cínica, que se coaduna exatamente com a interpretação de Sloterdijk do que seja essa representação política, que ele diz ser fascista. “Fascista’ é o termo certo para definir os membros da “esquerda” Petista, como ouvimos nas gravações que vieram à público e se revelou no evento-palanque da posse dos ministros que foi veiculado sem nenhum comentário que desmascarasse o momento, ao vivo, pela televisão.
    Essa “esquerda heideggeriana” tem totais expressões vistas nos “movimentos sociais” presentes na posse dos ministros e nas manifestações de rua, os elementos que fazem parte desses atos são pessoas que se encaixam na visão de Heidegger do indivíduo histórico, Dasein, enquanto um ser que está voltado para o entretenimento e para o conflito. Eu vi essa marca dentro de escolas, com defensores do PT e de Dilma e Lula, são fascistas de esquerda, que se põem psicologicamente em uma posição imoral, pois usam do argumento de que a direita “também fez as mesmas coisas” e assim se torna psicologicamente para eles justificáveis as atitudes criminosas do PT.
    Tudo isso gira em torno de questões Éticas, é apesar de eu entender a conclamação de certos formadores de opinião na mídia que o momento de crise deve ser politizado, eu ainda creio que ele deve ser posto sob um crivo moral, e mais, Ético mesmo, porque a Ética ainda deve ser a base da ação política no mundo.
    O fato é que no Brasil, politicamente, se perdeu a perdeu a vergonha de tudo. E essa situação se estendeu ou se somou, aos pontos Legais e principalmente Econômicos, pois talvez advenham de concepções econômicas a falta de ética e moral que alcançou a Política, na forma do liberalismo e da pulsão de enriquecer.
    Heidegger fala que dentro do panorama cínico da existência que se estende à política, o que compete é uma busca por autenticidade, só que essa autenticidade é uma forma de “Consciência sem Consciência”, o que representa justamente o modo de pensar dos que se dizem de “esquerda” aqui, defensores de Lula e do PT. Tal condição existencial se estende logicamente à todo ser humano, vendo que a maioria dos que defendem a direita o faz pela prerrogativa do “porque sim”, porém nesse momento esses últimos tem razões práticas obvias, a Corrupção!

   Destes pontos formadores morais-políticos vamos ao posterior, ao que se desenrola imediatamente no futuro. Ao que nos levará essas posições morais que se enfrentam?
    A posse de Lula como ministro, as palavras de Dilma, as reações dos presente naquele salão, as pessoas nas ruas protestando contra, etc., tudo se encaminha justamente para o momento último em que a “esquerda heideggeriana” pode usar: o enfrentamento, o combate, realizando a pulsão vazia máxima de um indivíduo sem ética e sem razões práticas, ser-para-a-morte, ou seja Guerra!
    Eu acreditava que em um país como o Brasil, inserido na economia global, participante da comunidade internacional, com uma infraestrutura social dentro da internet e sua liberdade de informação, estivesse imunizado contra qualquer tipo de golpe ou ditadura. Que se isso fosse pensado, seria nos pesadelos da “esquerda” com seus sonhos comunistas, porém o que a posse de Lula como ministro revela é que há pessoas comprometidas incautamente com o poder pelo poder, cegamente, não dando a mínima para milhões de pessoas que protestam nas ruas, o que prevalece com estas pessoas é justamente aquela “consciência sem consciência” que caracteriza todo tipo de fascismo.
    No âmbito psicológico-existencial essa tomada de atitude lida com a “culpa”, mas no caso do Brasil enfim essa “culpa” se transmutou de uma culpa à priori para um audácia de culpa à posteriori, ou seja, eles estão todos assumindo uma culpa pela desgraça onde lançaram toda uma nação e as consequências futuras disso, cujo o maior caráter de todos é a morte definitiva de uma possibilidade de união nacional.
    Dilma, em sua inconsequência política brutal, da mesma essência da inconsciência política de Lula, algo viral relacionado pela paixão fascista pela imagem do ditador aos modos de Fidel, Chaves, Morales, um mimético embriagado e medroso de déspota fuleiro, forma de se vingar de Pinochet ou Bush de forma inexplicável, que só se acha um vínculo lógico no fato de ter que esconder seus erros estúpidos através da permanência no governo.
    Assim Dilma, Lula e chefões do PT, com seus últimos atos tentam esconder sob o manto da legalidade que não mais pertencem à eles, ao preço do sangue dos conscientes sem consciência, promovem o discurso e a atuação do “jeitinho máximo” finalmente expressado junto à total falta de sentido do seu próprio vir a ser.
    O modo como Jaques Wagner trata o fato de Lula tomar seu cargo de Ministro Chefe da Casa Cível é emblemático! Ele diz “beeleezaaa!”, expressando assim a forma de toda a preocupação, a forma vexatória do que é sua missão para com a política e a coisa pública, ou seja, não tem respeito nenhum, não tem nenhum fundamento original, é “tanto faz!”, “não importa!”, “tudo bem!”, revelando a forma como encara a função pública de todo o PT e todo político brasileiro. Eles não estão ali porque amam trabalhar na política, eles estão ali apenas ocupando um posto que lhe é conveniente, e mudar de posto é apenas parte desse “jeitinho máximo” instalado no poder do Brasil, pois isso se demonstra também nos atos da direita eleita.

   Então, o que se desenrolará de agora em diante é o seguinte: se as coisas se passarem com certa normalidade, legalista e medrosa, as coisas, o governo, ficará como sempre foi, destinado à nefasta casta política brasileira. Se houver confronto corremos o risco de efetivar o impensável, a ditadura, o golpe, não podemos nos esquecer do que é a China.
   Assim repousa justamente na quebra democrática deste processo, o que é paradoxal, mas possível, justamente pelos elementos que protestam nas ruas, eles tem que ter a consciência que devem quebrar corajosamente a função do espetáculo implantada na sociedade. Por que sem fazer com que os políticos, de esquerda ou direita tenha medo do povo, na forma de respeito ético mudará.
    As ruas, o lado que agora protesta contra o governo, deve tencionar de tal forma a sociedade, que um medo real de catástrofe se emane dali, e não do salão de posse do ministro bandido! Esses lidam com o medo, esses, como diz o Marco Antônio Vila da rádio Jovem Pan, querem um “cadáver”, então é função dos movimentos “Vem pra rua” e “Brasil livre” dizerem que eles podem sim ter o seu cadáver, entretanto estamos comprometidos com a vida, ou seja, há de se começar a tramitar também nesses movimentos de reação ao governo o próximo momento, sem Dilma e PT no governo, que deve ser de união nacional.
    “Eticizar o momento”, mais do que politizar, pois a política no Brasil se tornou âmbito da “consciência sem consciência” da esquerda e da direita, os movimentos de rua devem superar então o próprio momento da política nacional, e na crise se desvencilhar com tudo que sempre houve de errado no Brasil. Essa é a grande oportunidade que o momento traz.
   As pessoas que vem defender o governo estão em crasso erro ético, porém não podemos esperar que tomem consciência disso, mas eles se ligam aos protestantes anti-governo pelo ódio. E o ódio é também um elemento que serve à “consciência sem consciência”, e cabe aos que defendem a sanidade, que querem lutar contra os bandidos no governo, querem lutar contra a corrupção não devem ceder ao ódio.

    De alguma forma, teremos todos que engendrar uma sabedoria tal, para superar esse momento, e traçar desde o povo, um projeto de união nacional, para além do espetáculo, para além da violência, para além do ódio, pois em sua falsidade profunda, em sua perversidade existencial, voltada para o mal mesmo, Lula, Dilma e o PT conseguiram conflagrar uma ilusão de justiça social, calcada no “jeitinho”.
    Devemos passar por esse momento e sermos inteligentes para quebrar o “jeitinho brasileiro”, devemos desmascarar o discurso da divisão social, a realidade da política brasileira, do Governo, do Congresso Nacional e do Poder Judiciário não é a realidade do povo brasileiro, não pode ser, devemos afirmar que não é.
   O velho clichê de que cada povo tem governo que merece deve ser desincutida do profundo psicológico do povo brasileiro de uma vez, e esse momento de crise total é o que garante que isso seja possível, é a quebra constitucional, é o golpe que devemos dar, romper com a mentira que possibilita que elementos como Dilma, Lula, FHC, Collor, Sarney sejam os representantes da totalidade nacional.
   Da divisão total que vemos agora no âmbito espetáculo político é enganosa, pois ela é de conveniência da política, o que os esclarecidos devem se pautar é na união.
    Essa é a única mensagem possível que devemos acolher nesse momento. É ela que tem a força necessária para mudar o Brasil, e dar vislumbre à verdadeira vontade de combater as injustiças sociais que deram brecha para o verme do petismo se afirmar no corpo nacional: NÃO CEDER A QUALQUER FORMA DE FASCISMO!


14 de mar. de 2016

Manifestações & Espetáculo

(Uma crônica crítica do dia 13 de Março de 2016 em Uberlândia)

                                                                               “No mundo realmente invertido,
 o verdadeiro é um momento do falso.”
...
“O espetáculo apresenta-se como algo
grandioso, positivo, indiscutível e inacessível.
Sua única mensagem é «o que aparece é bom,
 o que é bom aparece». A atitude que ele exige
por princípio é aquela aceitação passiva que, na
verdade, ele já obteve na medida em que aparece
sem réplica, pelo seu monopólio da aparência.”
...
“O espetáculo é o capital a um tal grau de
acumulação que se toma imagem.”
G. Debord


   A chuva da noite passada não quer dizer mais nada. Na praça limpa, com as avenidas e ruas laterais varridas pelas enxurradas vespertinas, se intumesce um clima de protesto. O espetáculo vai começar...
    Sentado em um banco de onde observo a multidão em pé ao sol, posso notar o vai e vem dos mais velhos, das crianças e demais pessoas.
    Logo um desfile de moda da estação começa a transitar pelas vias periféricas da praça, sob a sombra. Uma característica denota o protesto desde cedo, é algo loiro, ou oxigenado, bem vestido e cheio de saúde.
    Logo indícios de mal-estar começam a fulgurar como apontamentos psicológicos para quem os sabe notar. No caminhão de som, o mestre de cerimônias dá avisos, instruções de comportamento, relata a presença de entidades, pede aplausos, tudo muito civilizado, até dizer que queria o fim do mandato de Dilma, fosse por renúncia, impeachment ou suicídio...
    Ofensas não faltam, seja em cima do carro de som, seja em cartazes e camisetas em toda a praça, elas revelam um ressentimento travestido de “ética” difícil de engolir, é apenas moralismo, o mais baixo, o que vejo é um forte rancor expresso em todos os que  protestam.
    Sinceramente não vejo sanidade ali, tudo é festa, sim, mas esse é o momento daqueles que sempre criticaram a forma festiva das esquerdas. Tal festejo tem mais a forma de descarrego, desagravo. Finalmente a incompetência da Esquerda e a truculência do PT de Lula e Dilma conseguiram fazer despertar tal energia que estava simplesmente contente com seu bem estar elevado, com suas negociatas, com os favores prestados pelos políticos, mas agora é ponto de honra combater “os vermelhos”
   Por exemplo: as atitudes do atual prefeito de Uberlândia, do PT, em nada divergem qualitativamente das atitudes do seu antecessor, do PP. Mentiras, uso da máquina pública, serviços aos amigos, ferro nos inimigos, divergência com a imprensa, e a generalização do terror medíocre, seja ele político ou religioso que instalam, ambos, à sua forma, cheio de Uísque, Cachaça ou sobriedade canalha. Um é cria do outro, esquerda direita, direita esquerda, direitos deveres, deveres direitos, as coisas não são tão simples. Os que protestam agora, parte (não todos), mas a maioria, carregam uma pulsão psicológica diferente da militância de esquerda, porém são da mesma qualidade: péssima.
   Uma fileira entra pela lateral, querendo fazer se notar, são os Maçons, ordenados, os construtores da civilização, do bem estar social, da doutrina, entram mudos e saem calados, como convém a eles, e me lembro do discurso de Kennedy... não sei porque!
   As velhas músicas de protesto, as poucas que tocam, foram compostas para criticar outros elementos políticos, que agora estão sendo depurados pela história, como estão fazendo com a nefasta figura de FHC, redimido em tempo para ascender ao patamar de líder político da nação. Tocam Cazuza uma duas os três vezes, tão burguês/anti-burguês com o toque do protesto que se desenrola, um jogo espetacular que aponta o ato-falho que se estabelece ali no coração dessa rica e prospera cidade: “Brasil, mostra a sua cara [ontem e hoje, quem são esses assim convocados a ‘mostrar a cara’?] Quero ver quem paga, pra gente ficar assim! [anunciando desde aquela época as negociatas do poder, então presidias por outras instâncias políticas!] Brasil! Qual é o seu negócio, o nome do seu sócio... [bem, sabemos quem sempre foram os sócios do Brasil...], e assim vai, “música de protesto”, amortizada, no protesto dos felizes... Em tempo, fazem uma paródia de “Pra não dizer que não falei das flores”.
    Chega a hora do civismo, vamos cantar o Hino Nacional. Fico impressionado, pois esperava aquela paixão de campo de futebol, mas isso é muito popular, ao contrário as coisas são quase comedidas, não fosse um corneteiro que tocou junto e a fanfarra também, não se houve o canto alto, as palavras que deviam ser de união da alma, e o Hino termina no meio, executando-se só a primeira parte, com um “final” arrebatador, aplausos e gritos, sem nenhuma lógica, apenas a confirmação estranha de ter feito graça a essa parte ao panteão brasileiro.

    Só aí entendo o que realmente se passa. Isto é um show, um espetáculo, uma cena. O que se dá é puramente um conluio inconsciente de todos ali em busca de extravasar raiva, despeito, não há civismo, mas apenas a vontade feroz de protestar, protestar contra a jararaca, como dizem, contra os bandidos, contra os sem-vergonha, contra os médicos cubanos, etc.
    O histerismo é visível quando uma mulher começa a discursar, e fica mais impressionante justamente por ela ser mulher e dar vazão sem pudor à onda histérica que proporciona. Depois conclamam, como se fosse uma oração, um mantra, convocando todos a repetirem alto, os pontos pelos quais se está manifestando.
    Um sentimento quase religioso se instala. Sinto se revelar enfim a onda arquetípica que está dominando aquele evento: é um afloramento Apolíneo que emerge, que toma conta de tudo.
    Posso ser acusado de preconceito, de tendenciosidade, mas eu estava ali esperando um pouco de lucidez, um clamor por Justiça, por Ética, mas em nenhum momento vi ou senti isso. O protesto era uma grande encenação de descarrego, mexendo com energias primitivas represadas em uma camada da sociedade que nunca se deu a isso, pessoas que sempre foram privilegiadas pela vida, de nascença, por herança, ou que conseguiram vencer na vida pelo esforço de seus estudos e trabalho, todos os tipos que foram muito recompensados nesses tempos de governo do PT, ganharam muito dinheiro em suas empresas e em seus serviços nos últimos anos. Agora se põem em discordância, quase que inconscientes dos verdadeiros elementos em ação em todo o momento histórico pelo qual passamos. Não há qualquer noção de justiça social, mas justiça do dos Jacobinos e Girondinos, a justiça do terror, seja de esquerda ou de direita, essas posições políticas que uma garante a outra, sem nenhuma preocupação democrática ou popular, tudo mergulhado em uma inconsciente que sempre foi latente da direita, que se acha isenta da Ética, vide pesquisas de opinião a respeito do problema envolvendo o Zika-Virus e a gravidez.  
    Evidentemente há ali pessoas pobres, até necessitados do serviço social, porque não?! Mas eles não são o sujeito da ação, eles não podem comprar bonequinhos infláveis de R$20,00, fetiches representando Lula presidiário e Dilma ladra, e nem podem pagar por grandes bandeiras amarelas com mãos de quatro dedos. No máximo adquirem alguma bandeirinha de plástico do estoque da última copa.
    É claro que qualquer um pode comprar, com mais ou menos esforço uma camisa da CBF com o horrível e sem sentido símbolo da Nike, aquele trenó Rosebud ou concha que em nada remete à Deusa da Vitória, a não ser pelo fato que é uma marca de sucesso, mas as camisas oficiais amarelas são a maioria.
   Ordeiramente a passeata parte depois do Hino Nacional ridiculamente entoado, segue seu circuito curto, preestabelecido, tão normal, tão apolíneo, tudo que não seria noticia se não tivesse tantas pessoas.
   Ao fim esse protesto parece enfim instalar o Brasil na modernidade, ou na pós-modernidade, com ele nossa sociedade enfim se insere na civilização mundial, na Sociedade do Espetáculo. Nossos momentos iniciáticos foram a Copa do Mundo, e agora as Olimpíadas, tudo imerso no caldeirão político de corrupção, antevendo um golpe na vontade popular, que não significa nada a não ser o que as elites desfilosas agora tomaram gosto, e tornarão seu querer, com a iniciativa do Parlamentarismo, única forma entrevista para combater as máfias dos partidos políticos.
     Protestando, desfilando, gritando, a elite financeira ou esclarecida do Brasil insere a nação no futuro então, o futuro que começou há décadas, mas agora finalmente se efetiva em Pindorama:
   O conceito de espetáculo unifica e explica uma grande diversidade de fenômenos aparentes. As suas diversidades e contrastes são as aparências organizadas socialmente, que devem, elas próprias, serem reconhecidas na sua verdade geral. Considerado segundo os seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparência. Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo descobre-o como a negação visível da vida; uma negação da vida que se tornou visível.” (Tese 11: “Sociedade do Espetáculo”. G. Debord, 1968).

   De tal forma que as aparências são exacerbadas, o clima de desfile é grande, a ordem notada é expressão da vontade maior, reprimida, antes uma ditadura de direita do que de esquerda, antes uma conflagração estética do que ética, é para onde tudo aponta, e assim vai. É necessário no seio da sociedade essa representação que ocorre, ela deve ser forte para combater a representação que beira à idiotia da “presidenta” e do ex-presidente agora incriminado, finalmente.
    E mais, seguindo as linhas da crítica social de Guy Debord, podemos finalmente ver o que são realmente esses protestos, o que representam em sua essência, para além da concatenação psicológica, das urgências morais, do grito dos que nunca foram oprimidos, ela representa tudo isso, mas mais além, no debate ideológico (no caso do Brasil seria “ideo-ilógico”), representa a expressão de nossa “fraqueza intelectual”, representa a mediocridade dos formadores de opinião, como os pensadores que apóiam Lula e o PT, justificando cegamente também os erros do PSDB e da direita, como os eventos da história reescrita pela TV Globo, que agora defenestra Lula e Dilma, depois dos favores prestados em seus governo à tal instituição e outros loucos embates menores, cotidianos, nas escolas, nas repartições públicas, nas ruas, nos bares, que revelam a porcalhice de nossa opinião política, nossa alienação eterna em relação à Democracia e à Nação Brasileira, tudo emergindo na forma dessas manifestações.

    Por fim, o último perigo que nos aflige, como notei na manifestação, e que permeia radical, pelo menos no nível municipal, que é a fonte de energia de todo Fascismo possível de se instalar, seja de esquerda ou de direita, que é a questão emocional re-dirigida à Religiosidade, para mim o maior dos perigos que se instala, como verme terminal no corpo moribundo da política nacional, e que é o golpe definitivo no Esclarecimento Cultural e Científico da Consciência, fator histórico com o qual todos nós, sem nenhuma exceção, contribuímos nesse país.
    O Paraíso na terra prometido pelo comunismo, associado às correntes Católicas, que ladeia em latência e concorrência com a visão de mundo maçônica, que deve ser sumamente negada pela direita e pelos liberais, pois em seu profundo conhecimento burguês sabem que não pode haver desenvolvimento eterno capaz de suprir de bens e serviços toda a humanidade, ideia que devia definhar em cada bairro da periferia, com sua realidade, se não fossem os discursos Evangélicos conclamando desde lá, para ricos e pobres, que Deus deseja prosperidade para todo ser humano; o ideal de paraíso (prosperidade, bem-estar social, justiça, ética) adentra na política totalmente distorcido, na polarização apolínea asséptica do discurso atual, que reverbera na manifestação:
   “À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono.” (Tese 21: idem).

   É isso que eu temo, que essas manifestações, que estão lidando com o profundo sentimentalismo nacional, enquanto a minoria privilegiada engrossa o caldo nas praças, e a maioria desprivilegiada fica nos bairros tomando sua cerveja domingo de manhã, que aflore disso mais um sono e com ele mais um pesadelo, onde quem sempre sofreu continue a sofrer, e quem sempre gozou continue a gozar, creio mesmo que os agentes em movimento procuram efetivar, mesmo que inconscientemente, somente isso, ou seja, tudo ficar como sempre foi.
    “O espetáculo é o discurso ininterrupto que a ordem presente faz sobre si própria, o seu monólogo elogioso. É o auto-retrato do poder no momento da sua gestão totalitária das condições de existência. A aparência fetichista de pura objetividade nas relações espetaculares esconde o seu caráter de relação entre homens e entre classes: uma segunda natureza parece dominar o nosso meio ambiente com as suas leis fatais. ... A sociedade do espetáculo é, pelo contrário, uma formulação que escolhe o seu próprio conteúdo técnico. O espetáculo, considerado sob o aspecto restrito dos «meios de comunicação de massa» — sua manifestação superficial mais esmagadora — que aparentemente invade a sociedade como simples instrumentação, está longe da neutralidade, é a instrumentação mais conveniente ao seu automovimento total. As necessidades sociais da época em que se desenvolvem tais técnicas não podem encontrar satisfação senão pela sua mediação. A administração desta sociedade e todo o contato entre os homens já não podem ser exercidos senão por intermédio deste poder de comunicação instantâneo, é por isso que tal «comunicação» é essencialmente unilateral; sua concentração se traduz acumulando nas mãos da administração do sistema existente os meios que lhe permitem prosseguir administrando. A cisão generalizada do espetáculo é inseparável do Estado moderno, a forma geral da cisão na sociedade, o produto da divisão do trabalho social e o órgão da dominação de classe.” (Tese 24: idem).

    O que parece ser o momento da união nacional, já se demonstra desde a origem justamente como nossa maior cisão, por ignorância de ambas as partes políticas, farinha do mesmo saco, e agregada pela ação do povo brasileiro, incivilizado, aculturado pela televisão, crentes no paraíso, tornado mais medíocre ainda pelas redes-sociais que impõe um padrão de politicamente correto que enfim reuniu as lideranças desses movimentos atuais, os pros e os contras.


   “A origem do espetáculo é a perda da unidade do mundo, e a expansão gigantesca do espetáculo moderno exprime a totalidade desta perda: a abstração de todo o trabalho particular e a abstração geral da produção do conjunto traduzem-se perfeitamente no espetáculo, cujo modo de ser concreto é justamente a abstração. No espetáculo, uma parte do mundo representa-se perante o mundo, e é-lhe superior. O espetáculo não é mais do que a linguagem comum desta separação. O que une os espectadores não é mais do que uma relação irreversível com o próprio centro que mantém o seu isolamento. O espetáculo reúne o separado, mas reúne-o enquanto separado. (Tese 29: idem)