Conto da Fada

Era uma vez
coisas que não eram
para serem tornadas públicas...
Mas
você não leu
& eu não te disse...
& assim você vai
se tornando
sinônimo de saudade...
Teu nome palavra não dita
no corpo de outras
que eu encontrava...
& o que mais dói é
essa dor
sem motivo para doer...
Destruidora
a sensação
de te ver...
É quase certo, depende da lua,
eu trocaria essa saudade
por coragem para te esquecer...
Seria mais certo redizer
que você é uma nova forma
de loucura que não passa...
& nesse conto tonto
você repousa no labirinto
desse amor do Hades...
Já encontrei o nada
no fim do teu nome
agora espero o final feliz...

Hoje Sonhei com Você

Hoje
(final-mente)
você entrou
na minha vida...
Inteira: corpo & alma!

Veio pela única entrada:
a porta dos fundos
do Inconsciente.

Hoje
você entrou na minha vida
pelo passado;
Para onde estou indo,
¿quem sabe? te buscar...

Hoje,
pela primeira vez,
Sonhei com você!

& tudo fará sentido...
Hoje, amanhã, ontem,
final-mente!


[& 23/04]

Passagem

Lá fora o entulho aumenta
na proporção de novas construções

A tua militância
& a indiferença pelo resto

Falta de consciência
é a impossibilidade de pensamento complexo

Abarcar  a luz & a sombra
com a dignidade de um ser pensante

Falsas premissas ordenam
demandas espirituais consumistas

Se ninguém sabe do que está falando
o ronco incessante das máquinas é a verdade

Não veremos luz no fim do túnel
porque o túnel é de luz

Estaremos cegos
antes de colidir com as sombras exiladas

Faremos festas
sobre festas esquecidas

& o inconsciente pagará com a mesma moeda
todo o lixo despejado no ar

Só restará do amor
o que não se disse antes de amar

É uma estrada cheia
de raiva por não ter como viajar

Nunca ouviu falar de sendeiros
não sabes como acender o fogo

Salvar a si mesmo
ultima incompreensão

Carne rediviva
mente sã

Pouco bastaria
uma companhia, um sorriso

Ressuscitar
é um ato a dois:

Positivo
& Negativo

Me salvei
ao te salvar em mim

Certezas - Inteireza...

Lunação

A lua ala
voa abutre alva
na aba das nuvens...
(Luar diurno conspira um crime)
Ela enxofre
é chifre de um demo
fêmea, faminta...
(Ídolo de prata)
Alado corno
na córnea que a prende
ela fere aguda
o céu...
(Herege contra o sol)
Ferida
donde escoa a noite:
fenda, vaso, urna, rasgo...
(Escorre líquido lume)
A lua adaga, cinzel
inalcançável
fere o seu
olho nu...
(Consumado está... a lunação)
Um fio de sangue
oculto no azul
revela que a noite não é mais
teu caldo cru...
(Pelo astral frio, o dia esvai.)

Traços...

Traços
Formas
Jogo
Luz & Sombras
O teu rosto
& o que você pensa
O teu corpo
& onde você anda...

Restos
Sobras
Incompletos
Sua fuga
Na realidade
É só distância
Impossível de cobrir
No cosmos que nos
Re/Se-para...

Vejo
Cego
Teus duplos
Negações & afirmações
Do mistério
Insolúvel
Do nada que me destes
& eu fiz
Reino...

Outono

Ou tons
Ou torna
Outrora
Aqui
Somas que se calam

Verão calado
Inverno dormente
Primavera distraída

Estação acima
Era de metal & motor
Meta mata o ardor

Eu sou só
uma chuva final
Sou só
um frio prematuro
uma surdez alternativa
um grito de amor
Sou só
a inconsciência
de sonhos que incomodam
Despedida.

Inóspito

Poemas das distâncias
Do tempo lento que se dissolve na longa estrada
que devora qualquer velocidade,
Prosa pesada das paragens isoladas
Um vale, uma curva, o mirante
Um posto, uma ponte, uma vila...

Ainda não estive na literatura
onde quis estar,
Raramente li
sobre gentes & lugares que me acolheriam
A não ser nos sonhos
a não ser nos meus sonhos...

Percorrer estradas & linhas,
ler é procurar lugares
& quando se tem o gosto do inóspito
não há muito por onde passar,
O caminho é reto
da imaginação para o mundo
O sertão, a selva, o deserto
o mar, outra estrela, o corpo de amar...

Porque o que se quer
É antes estar longe, perdido
do que encontrar,
Sem mapas - sem tempo;
Rumar à esmo
ao acaso dentro de um ocaso,
rumar à auroras desoladas...

Mais do que chegar, ir,
Nômade de ruas, estradas
abismos, páginas,
Trilhas no sono
no abandono dos pés
das rodas, das asas
Até onde valer a pena
despertar.