23 de jun. de 2013

Invisível como a Língua



...É que nascemos tão invisíveis
   & sem nosso próprio sentido,
Que o sabor que temos
   está espalhado na promessa
que todo encontro traz...


É interessante
   que por mais que estejamos tão cheios
      desse sentido de nós mesmos,
         do que nós somos
 (ou pensamos que somos, ou dizem que somos)
            & disso que incansavelmente
               chamamos de “eu”,
O que justamente faz diferença em nossas vidas
   são as outras pessoas que conhecemos...

Porque assim
   como não conseguimos
      provar o sabor de nossas próprias línguas
Nós não viemos prontos em nós mesmos
   mas somos aquilo que sentimos
      na relação com os outros...

Cada um
   é principalmente o que é
      depois que começa a ser dois...

E assim,
 Ao longo dessa grande fila
   de contatos de sorrisos & brutalidades
Vamos nos definindo por afastamento
   dessa grande solidão que nos envolve
Antes & depois do momento em que viemos
   & deixamos de existir...

A beleza, a dor,
& tudo mais que aflora de se ser alguém
   define o quanto podemos ser:
Infinitos
   em nós mesmos & nos outros...

Nessa trilha de minha existência
   onde já tarde aprendi a definir o sentido da vida
      como o apelo por aquilo que eu gostaria
         de reviver pela eternidade,
Não são aos momentos que devo retornar,
   mas para a proximidade das outras pessoas...

& dentre todas elas que conheci até então
   só posso pensar que não há nenhuma
      que eu gostaria de  excluir da próxima vez,
& isso me faz entender
   o quão importante é reencontrar finalmente
      aquelas que só me fizeram bem...
À elas talvez eu tenha que dizer um obrigado
   ou pedir alguma desculpa,
& à um Deus
   eu agradeço por todos vocês...

Agora, na solidão dessa noite
   em que escrevo estas linhas
Eu agradeço muito mais por você
   que é o foco de minha vida nesses dias estranhos,
Pois se é tão difícil salvar uma vida,
Só a menção de sua presença aqui
   faz com que eu queira salvar a minha...

Por isso gostaria de dizer
   à essa presença invisível no meu coração
Que nada brilha mais
   do que luz de uma pessoa boa!
É ela
   que muitas vezes salva a vida
      de alguém que já se achava perdido
Essa luz aponta
   o caminho de volta...

& prolongo isso à toda humanidade,
Estendo isso ao infinito
   onde a culpa se cala
      dando o espaço do silêncio aos sentimentos maiores
Uma amplidão para se fazer agradecimentos,
Ainda bem que existem os outros
   & ainda bem que você existe...

Conhecer as pessoas certas
   faz toda a diferença na vida
Conhecer as pessoas certas
   é o que faz a vida valer a pena
      até ser revivida...

& quando se retorce todo o sentido de existir,
   na forma de um sorriso
      na cor amena transmitida em um olhar
         na frase tola dita sem preocupação
A língua pode seu próprio sabor experimentar
& descobrimos a partir de onde
   somos infinitos...

Os afortunados que isso sentem
   saboreiam o sabor de si mesmos
      através da presença preciosa
         de outra pessoa
Que se põe gentilmente
   ao alcance da visão & da companhia
& nada mais é invisível para esses,
Torna-se apenas transparente,
   como todo verdadeiro Amor.





Para A.L.B
(e às crianças que um dia fomos...
& nunca deixaremos de ser)
Uberlândia, 23 de Junho de 2013 (00:01hr)






18 de jun. de 2013

Acabou o sossego! Brasil - Junho de 2013




   As multidões nas ruas têm um significado profundo, além mesmos das bandeiras e lutas que levantam imediatamente, além das manipulações obscuras e do significado básico do protesto e da anarquia.
   As multidões nas ruas, quando reunidas e aglomeradas na distância pessoal de um abraço e do calor de cada corpo carregam a vontade adormecida e inconsciente de todo um povo, que talvez em seu sentido mais profundo seja se tornar uma raça enfim, mas isso é trabalho de milênios, não para agora.
   Agora vemos a exteriorização de décadas de silêncio e dormência. As multidões carregam no presente um vontade de mudanças, um desejo de justiça, um clamor por respeito, pois das ruas só podem despertar e se fazer ouvir os impulsos básicos de uma sociedade que não quer se deixar desaparecer sob a camada de lixo econômico e social gerado por grupos corruptos e truculentos, que como vermes roem a vitalidade de toda a sociedade nos gabinetes fedorentos da administração pública.
   As manifestações populares que as pessoas do Brasil assistem ou participa pessoalmente nos últimos dias são mais do que a luta por redução em passagens de ônibus ou contra os gastos na Copa do Mundo, ou contra a violência policial, o que está acontecendo é um PARTO DE CONSCIÊNCIA por parte da sociedade brasileira.
   Por um lado temos uma geração, da qual faço parte, que é a chamada geração do meio, aqueles que cresceram nas décadas de 1960, 1970 e até 1985 (+/-) que saem às ruas que por nossas vivências somos cientes da urgência de um novo tipo de afirmação humana e atuação social do indivíduo, nós que compramos e apoiamos todos os sonhos políticos e os vimos fracassar com o seu contato com os tapetes dos palácios para debaixo dos quais se varre o pó de todos os idealismos graças aos subterfúgios e imposições de uma vida voltada para a busca de êxito financeiro e social e a criação de uma família ou de um negócio que garanta uma renda.
   Estas gerações idealistas são os pais e avós das gerações mais novas, do final dos 1980 e 1990 em diante que carregam agora uma visão de mundo integrada e que em parte ainda carregam os ideais sociais libertários e comunitários.
   Essas gerações novas herdaram subconscientemente uma raiva e uma fúria que pede para escapar à qualquer momento, pois são crias de muita censura social, governamental e moral que não pode ser contida indefinidamente, como a História sempre revela, mas pouco se aprende.
   São esses jovens que comportam a função de uma força indomável que aqui e ali se revelam esses dias nas ruas, chocando-se de frente contra os pelotões de choque e o discurso intransigente de políticos profissionais, e a primeira coisas que todos temos a dizer é que não suportamos mais esse tipo de atitude por parte do poder estatal estabelecido, e gritamos alto enfim:
“Acabou o seu sossego!”
   E isso quer dizer muitas coisas. E é necessário que aqueles que estão com o mandato do poder cedido por uma democracia trôpega soerguida à custa de um exercício incompleto da liberdade popular, pois é maculada pela TV e por meios midiáticos particulares, que agora estamos a criticar e a desaprovar as suas administrações, e estamos munidos com uma raiva inconsciente de seus símbolos de poder e de sua maneira de mandar no país.
   Essa coisa toda inconsciente e difícil de definir aqui, em poucas palavras pode ser sintetizada como um pulsão social rumo à novo patamar de identificação e necessidade com o próprio tempo e momento histórico mundial.
   O que podemos dizer é que se acabou o mundo que comporta a violência, acabou se atrofiando qualquer via de ditaduras e de corrupções, isso não é mais aceitável, isso não faz parte mais da consciência humana que nos últimos anos se estabeleceu diante toda a conectividade do mundo.
   Os perigos são muitos, pois a violência ainda agita em meio à sociedade e cuidados devem ser tomados nesse momento.
   Vivemos no Brasil uma forte imposição midiática pela redução da maioridade penal e um caminho conseqüente para se impor pela formação de opinião do desejo social pela pena de morte. Na TV o medo e a violência são massivamente divulgados para que a sociedade tão logo exija isso, pois isso faz bem aos que ganham com o medo e com a violência, e não devemos deixar de dizer que fazem parte desses grupos os que implantam agora uma crescente evangelização da política ao lado daqueles que optam pela truculência policial como solução para o crime.
   Esses grupos sabem que o fim da violência social só se dera enfrentando o trafico de drogas, o desemprego, a desigualdade econômica e a falta de educação e cultura da sociedade. Mas isso eles não darão à sociedade porque estão armados sob um esquema de corrupção onde todo o inverso da igualdade social, da educação plena e da dignidade humana é a energia do prolongamento de seu assentamento no poder da nação.
   Assim agora eles torcem pela violência nas ruas, eles torcem para que os jovens dêem vazão à sua raiva, eles torcem para que não haja nenhum ponto de coesão nos movimentos nas ruas dos dias de hoje, diminuindo na tela da TV os “porquês” dos protestos.
   Há já a suspeita da mão e do financiamento de pessoas dentro do governo nas manifestações e esses indícios serão preciosamente trabalhados na TV e nas revistas nos próximos dias.
   Mas o que há para além disso, na linha do que eu vinha falando sobre uma exteriorização de desejos inconscientes da sociedade brasileira e com que os manifestantes e todas os indivíduos de nosso país devem prestar atenção nesses dias é diretamente no embate da VIDA CONTRA A MORTE, pois é nesse âmbito que a consciência que agora quer se estabelecer nesse país embate.
   O que todas as gerações de populares que hoje saem à rua na verdade lutam é pela DIGNIDADE humana, pela VALORIZAÇÃO DA VIDA como um todo nessa nossa sociedade.
   O bombardeio dos últimos meses a respeito da violência urbana, dos crimes do tráfico, da pacificação das favelas, tudo girando em torno de Copa do Mundo e Olimpíadas é o desvencilhar do grande embate do MONSTRO DA CORRUPÇÃO contra a FORÇA DA DIGNIDADE NACIONAL DOS BRASILEIROS, como nunca encostado na parede contra os interesses internacionais das empresas como a FIFA, os FUNDOS FINANCEIROS INTERNACIONAIS que são donos do SISTEMA ENERGÉTICO no país e das empresas de comunicação TELEFÔNICA que aqui se estabeleceram, entre outras frentes econômicas.
   Vivemos o momento delicado de estabelecer o que e como continuará a gestão dos recursos financeiros e naturais pertencentes naturalmente ao povo brasileiro, a força vital que deve suster nosso “sangue latino” contra a ordem global que não vê empecilhos contra seu avanço em favor do SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
   Tudo isso é o que clama o momento histórico e faz pressão, mesmo que inconsciente, sobre a consciência do povo brasileiro, e por isso que como que de repente explode nas ruas tais manifestações, à principio dito e repetido na TV como se “por causa de 20 centavos” no peço de uma passagem de ônibus”! Será mesmo???
   Ou vocês não acham que de uma forma ou de outra a consciência humana do povo brasileiro não sabe o tamanho do crime que está sendo cometido contra esse próprio povo, o grande e silencioso crime financeiro que está sendo engendrado nesse momento mesmo com a organização de Copas, Olimpíadas, Feiras, etc.
   De uma forma ou de outra o espírito sabe, e ele se convulsiona de raiva e indignação, e por isso é tão fácil da noite para o dia agrupar 20, 30, 100 mil pessoas nas ruas para gritar e protestar...
   Nas mentes das pessoas pode-se já ver que é aceita a violência dos grupos de protesto, mas não a da policia, pois lá no fundo as pessoas sabem que ali está se operando uma força benéfica para o Brasil, só o fim da acomodação de décadas da sociedade já é um alivio para as pessoas.
   Outrora, as força reacionárias quiseram vender aos povos a idéia de que para se construir o novo deveria se proceder a destruição total do velho, e é com isso que ainda se assusta boa parte dos que preferem permanecer calados em suas casas assistindo a ancora do JN com cara de dor de barriga anunciar os protestos nas ruas. Vendeu-se essa idéia para que se amedrontasse com o sufoco de se perder o pouco que tem ao se destruir tudo.
   Mas o povo brasileiro deve prestar atenção justamente que esse velho tipo de idéia é justamente a fonte do poder de quem sempre permanece no comando das armas e do cofre em um país não importando qual governo viesse. Por isso é mister agora todos os manifestantes prestarem atenção na premissa que deve nortear todos esses protestos:
Que a vida humana vale mais do que qualquer coisa!
É por ela que devemos lutar agora!
   A luta agora é por DIGNIDADE, por JUSTIÇA. Só assim algo de bom pode adentrar na nossa realidade na forma dessa CONSCIÊNCIA que falei.
   É necessário como nunca termos amor e força nas ruas, termos informação e inteligência, e ao final da noite, quando se acabarem as manifestações, que voltemos são e ilesos para nossos lares, com a mensagem que queríamos dar entregue no endereço certo:
   -O endereço: O velho poder que iremos mudar a partir de então.
   -A mensagem: Acabou o sossego! Vocês já eram e agora uma nova consciência vai aflorar no país e logo estará mudando as bases do poder por dentro!
   Dada a mensagem, voltemos então ao nosso recanto, vamos queimar incenso e baseados, vamos festejar e fazer amor, beber vinho e chás, vamos nutrir nosso corpo e mente com a proximidade e força que esses dias provaram ser possível, vamos realmente mudar esse país.


4 de jun. de 2013

... (O dia da festa do) Ego

Às vezes
   onde está aquilo que desejamos esquecer
   habita justamente muito do que devemos nos lembrar,
Para que daí surja a lição
   à respeito de onde brota o ato que não requer
   nenhum perdão, apenas ponderação!

Mas que seja reconhecido como condição
   da eterna graça
      do que deve ser revivido em sua própria
         infinita felicidade!

Aqui eu falo do eterno retorno...
Aqui eu calo...


                                                      “Eis que aqui
                                     o tempo se transforma em espaço...”

(O dia da festa do) Ego

Montado na costela do dragão
À cem mil pés de altura
O dragão são nuvens costelentas
Que se esparramam pelo céu azul
Meu pensamento está lá no alto...

Olhando o sol quebrado pela mão lunar crescente
Encho os olhos dos cristais escuros da mina da solidão
E o olho, cara a cara, olhos nos olhos,
“Estrela, estrela”, eu canto triste
Na esperança do sol me desintegrar
Pela boca do dragão...

Nesse dia
Que me faça ter,
Não há céu ou sol
Nem luz nem lua
Mão ou mãe
Um minuto inteiro de alegria
Me faça ter
O demônio em mim me resignou
A me tornar parte das cinzas
Do fim de tudo...

O mundo inteiro está aí à minha volta
Bruto, belo, excitante e agonizante
Meu extenso suicídio é cheio de prévios ressentimentos
E eu agora já consigo repousar
Em seu leito de dores mil
Com sua esteira de plumas ocres
Da ave de mil culpas...

Todas as vias fechadas
Todo prazer atrofiado
Todo bem cerceado
Toda riqueza negada
Todos os erros possíveis cometidos
Todo dicionário de impropriedades soletrado:

Aflição, banalidade, Câncer, Desinteligência, Excomunhão,
Fatalismo, Gula, Humilhação, Imbecilidade, Jocosidade,
Languidez, Moléstia, Niilismo, Ódio, Procrastinação, Queixa,
Rapinagem, Sovinismo, Truculência, Ulcera, Vilipêndio, Xulisse,
Zombaria... 0, 1, 2, 3, 4, 5... 

Dies irae
Dies illa
Solvet saeclum en favilla
Teste davidcum sybilla
(Estou na concha aveludada
sufocado pela egocidade…)