31 de dez. de 2021

Dark

 

Não me esperem
Vou ficar para trásàrt
Porque não há apenas
   dois caminhos
      dois sentidos
         duas direções...
É tão inesperado
   o que vamos encontrar
É tão comum & tão incomum
   finalmente se achar
Que se revira o tempo
   que se desvira o espaço...
O Nada & o Tudo
   ficam perfeitos juntos...
& como se diz isso?
Como se escreve isso?
Como se vive isso?
Como se beija isso?

           Caos

"Um saco de caso de caos se soca entre
o ocaso & o acaso acontecendo
na imensidão..."

Já não temos tempo nem espaço
Não me esperem
Pois é assim que o mundo acaba
Não com um estrondo
Mas com o gemido
Que deu início
À tudo.



28 de dez. de 2021

Retumba

 

...na boca faminta do tempo
   no buraco sem fundo do espaço...

...volta & revolta & disvolta & devolta & volta...
Ciranda que queda
   no espaço
      o mundo redondo
         que gira em círculo
   em volta infinita
      de volta ao mesmo lugar
   tudo torna
      mas retorna diferente
         revoltado
...torna & retorna & destorna & entorna & torna...
&spiral do eterno entorno
   onde marquei um encontro comigo
      para ontem
& me encontrei depois da curva
   onde o mundo encurvou o tempo
      encurtando distanciando
...& nunca mais
   vamos estar no mesmo lugar
      mas sempre vamos
         repisar o mesmo tempo...
Já que o tempo
   é a chance de encontrar
      & desencontrar
   voltar & revoltar
   tornar & retornar
   ir & rir
   partir & unir...

...na boca faminta do espaço
   no buraco sem fundo do tempo...




22 de dez. de 2021

O Nó do Presente

 

A imediatez
   das distâncias que não alcançamos
      mas que nos chegam aos olhos
Falam de um passado
   que já não existe mais

Infectados de tempo
   com a ferida aberta do espaço
Estamos isolados
   no manicômio da existência presente
Prisão por onde todo pfaustsuardoo
   passa & ...

Nessa imediatez
   do atraso,
      eternidade que ruiu,
         rumamos sem freio
   ao passado
      que se disfarça tão bem
         de futuro...



21 de dez. de 2021

Nenhuma...

 

Nenhuma sombra de flor
   canta no escuro
      canções sobre o que
         seus espinhos feriram.

Nenhuma luz invade
   o silêncio da ausência
      dessa canção
         de farpas & perfume.

No céu além dos jardins
   que não sabe o que é
      dia ou noite
         acima paira o estado natural das coisas
Nenhuma...

Pois o Nada
   & suas coisas
      o escuro, o espinho, o perfume, a ferida
Vem de cima
   descem sobre nós
      & se vão, levando
Coisa Nenhuma...



13 de dez. de 2021

Cântico

 

Na penumbra
   cantamos uma canção
Quem não canta
   escuta a letra
& é a mesma forma
   de oração
                      ao nosso desespero

Espíritos passam por ali
   fileiras de exilados de algures
      dos quais somos o eco
         & ressonância...

Na penumbra
   bloco incompacto de passado
Penetramos & ficamos
   quietos como os mortos
Esperando algo se romper
   de forma suave
                                como o véu da embriagues

Almas se arrastam por ali
   fio elétricos do gozo do deus
      do qual somos miragem
         vistos de outra dimensão...

Na penumbra
   cumprimos nossa pena
Necessidade & fome adicta
   sempre, de coisas que não temos
& damos à sorte
   o poder de perpetrar
                                         todo nosso azar

Corpos fixam-se ali
   fados pesados do vir-a-ser
      dos quais somos prisioneiros impróprios
         até tudo acabar...



9 de dez. de 2021

A b s u r d o s

 

          A b s u r d o s
       a b i s m o s 
    que colidem

A b s u r d o
   a vida
      o virtual
         o vivente
A b s u r d o
   em contradição
      em adição
         em armistício
A b s u r d o
   que abundam
      que abusam
         que abstem-se de  s e n t i d o
A b s u r d o
   mudos, cegos, surdos
      poucos, muitos, loucos
         afeiçoados, resgatados, abandonados
A b s u r d o
   demônios, deuses, homens
      corpo, alma, espírito
         eles,  v o c ê,   e  u   .     .       .



8 de dez. de 2021

Zos

 

Pés
   que pisam o pó do mundo
Raízes móveis
   que vagam por trilhas
      feitas à cada instante
Tudo é uma busca por
   esquecimento do que foi ruim
    repetição do que é bom
     realização do que será melhor

Pés
   que pensam com a poeira da consciência
Radicais móveis
   que trilha por vagas
      abertas dentro do existir
Tudo é uma brusca
   perda de memória
    conquista de prazer
     vontade de poder



7 de dez. de 2021

Ser/to

 

o passado
     é um texto ilegível
                  excrito (ser/to)
                nas
            linhas tortas
   que o deus não
                                 deu tinta
                      ou escreveu
                           sem censura
                 ou 1 mínimo de
                          senso
o passado
           escarificado na carne
                        se lê de trás
                          para  
                   frente
       com os olhos
   de um presente
             cadáver
o passado
              é reescrito em
           lindas linhas tortas
               encruzilhadas
                     do que
                         se
                foi com o que
                        será,
                        será?
                                                passa/do limite   ...
                      passe a limpo
a sua vida
                     amarrotada
       & reescreva o
                             que passou...
caminhamos nas
    linhas do possível
                                           voamos nas
    correntes do provável
                                   caímos na
         brecha que                            se abre
            do futuro                             também
             escrito                                em
                                       d
                                         e
                                        s
                                     a
                                       l
                                        i
                                      n
                                       h
                                      o
     tortuosamente
                                  torto...



6 de dez. de 2021

Linha Imaginária

 

Crianças
     tontas
          de tanto gozar,
Brincam
     de momento
          no limite
               onde podem dizer "Adeus!"...
Com medo
     do escuro de seus olhos fechados
          agitam
               a linha que não ultrapassam
                    ao dizer "Adeus!"...
Crianças
     (como fui
          como sou
               sob o peso do desejo),
Brincam
     até a situação
          exigir
               dizer "Adeus!"...



2 de dez. de 2021

Vão

 

Encomenda teu amor ao nada
   & nada espera...
      deixa gestar teu querer...
O tempo que gera
   agrega & separa
      une em desunião,
         idade & permissão
            à lei da desobediência....
Encomenda teu amor ao nada
   & colhe no passado
      para o qual se encaminha
   as flores que serão fruto,
       casa dos versos & vermes
          que te devorarão
             em ânsia,
                em vão,
   no espaço aberto
      dentro do tempo caído
         onde nada se encaixa...
Tal qual abismo
    se precipita no futuro
      cujo passado abriga
         a certeza do que foi vislumbrado...
Ond& a perfeição
   é só
      a capacidade de amar
                                              (em vão!)



1 de dez. de 2021

Indizível Inusitado

 

Quem diria...
   Quem sabe....
      um pouco além
         do alcance da luz
   no nunca visto
      encontramos o absurdo...
& absurdo                    ...quem disse...
   como abuso             ...quem sabia...
      nos tira do lugar
   como estrelas dentro de estrelas
      aprisionando planetas impossíveis
   abrigam animais capazes de paixão
      que emergiram da caverna de suas mentes
         para não darem sentido à nada...
Quem sabe...
   Quem diria...
   o universo não passa
      de nada além
         do que vontade esmagada
            dentro do fundo sem fim
                do buraco negro
                    do olho de um cego...
Quem sabia...
   Quem dirá...



22 de nov. de 2021

Dispersão

 

Cheio das coisas inúteis
   que não servem para você
Te darei
   envolto em flores nulas
      o meu desgosto
Só para ver
   se aceitas...

Dentro da dispersão
   te trago para o foco
      do furacão,
Se tudo é jogado para longe,
   ali dentro, na calma,
      tudo é próximo
Até meu coração...

Te faço um mapa
    para você seguir
      de olhos fechados
Não pise em falso
    nas minhas qualidades
Eu te amo
   mesmo que você não saiba...

Eu ando por lugares escuros
   cheio de gozos
      & Insatisfação,
Meu único medo
   é te encontrar por ali
Sabendo onde está...

Assim lido com o tempo
   na estação que não se vai
      do abismo & dispersão,
Assim mantenho firme
   a lembrança & a promessa
De te encontrar depois de tudo... ou não!



19 de nov. de 2021

Ascensão do Limbo

 

Dissonância no tempo
   na realidade factual
      tudo muta...
Diante nossos olhos
   o passado está mudando
& longe
   no fosso aberto do espaço
Coisas nunca vistas
   aparecem,
Brecha escancarada
   da irrealidade
Convulsiona em silêncio
   & engendra
      aberrações,
Abismo monstro
   do que existe
Alucina & brota
   novas transmutações...
Mergulho na matéria
    rumo ao nada
Fractal,
Tudo é possível
   nada é fixo
Nada é verdadeiro
    tudo é permitido!



18 de nov. de 2021

O Sutra de Sabbath

 

Pare de reclamar
Tem uma fila...
   Que ninguém quer passar na frente
& nem pode ceder o lugar!

Títeres:
Os jovens estão desnorteados
    & os velhos muito mais...
Os ricos estão desesperados
    & os pobres ainda mais...
Os sadios estão desconsolados
    Os doentes claro que mais...

Grite alto
O seu lado irracional...
   Cansado de fingir
Não ser o animal que é!

Manipulados:
Os jovens envelhecidos
    & os velhos infantizados...
Os ricos pobres de alma
    & os pobres ricos de orgulho...
Os sadios doentes do espírito
    Os doentes sãos de terror...

Preso em grades
   De atos, pensamentos & palavras...
Onde só a morte é descanso
   De toda lembrança
Do que se perdeu
   & pior,
Do que deixará....

Marionetes:
Somos jovens perto das estrelas
    & velhos demais para tanta mentira...
Somos ricos em perdão
    & pobres em liberdade...
Somos sadios para anormalidades
    & doentes de fé...

O que tem feito de sua vida?
    O que tem feito do teu caos?
O que será o frio da tua morte?
    O que é teu corpo sem calor?
'Foi, foi, mente desperta...'
   Indisposta
Acostumada
   A fracassar.



15 de nov. de 2021

Deplorável Mundo Novo

 

no 'novo' mundo
   de bits & metadados
as regras vão deslizando
   pelos centros nevrálgicos
de aprendizado
   & se tornam programas...

a mente derrete
    & a psique se desaloja
da casa da alma
   & tudo se torna algo sem ritmo
algoritmos
   nada é o que foi...

metamáscaras
   bitcovardia
tolerância
   no lugar de honra
piedade
   onde devia haver força
resiliência
   em se nulificar
tudo em nome da convivência
   como compartilhar
se não se tem conteúdo para dar
   só o volume do corpo
& os cliches da opinião
   só a dancinha do ridículo
& os retalhos de hits

no 'novo' mundo
   se compartilha o que não se tem
& se recebe o vazio dessa vida
   enfim popularizado...



12 de nov. de 2021

Kinbaku (緊縛)

 

Nós
   que desfazemos
      a pureza
& tomamos de assalto
   o paraíso
Nós
    que apertamos
         forte
O que é bom & mau
   perto do corpo
Nós
   que caminhamos
      torto
Da inocência finita
   à tristeza suprema
Nós
   desde sempre
      entrelaçados
Feitos & refeitos
   nossa imagem & insemenlhança



8 de nov. de 2021

D i l a c e r a d o s

 

A alma engendra tragédias
   para além do que o corpo
      supõe suportar
Para um dia
   descobrirmos que somos
      mais fortes do que imaginamos

& nos caminhos destraçados
    em que nos embrenhamos
       nesse labirinto de ratos
Vamos lambendo as feridas
   antigas & as que ainda
      serão cravadas

Feridas profanas & sagradas
   abertas pela gratuidade & merecimento
      feridas das idas & vindas
Na vida desassossegada
   que não sabemos viver
      mas improvisamos muito bem



7 de nov. de 2021

per... lon...

 

no sonho
a parte você que sou eu
   emerge quântica
      amnemônica
perto tão longe de mim
dançado cores & estilhaços de vida
   para me ferir

nessa auto-mutilação onírica
só há de fundo o intenso sentimento
   de você perto tão longe
      de mim
sentimento vibrante
   de um ato sem começo
      nem fim

acordo disperso
   como a forma de um vento que passou
      & revirou o ar de meus pulmões
com a alma triste
   & o resto de um odor acima dos lábios
que foi onde num sonho
   eu senti você
      perto tão longe de mim



2 de nov. de 2021

Matéria

 

Carne que derrete & se transforma
   em eletricidade que recompõe
Teias magnéticas tecendo
   êxtases que nos justificam
Levando à convulsão
   & o cansaço
      de encontrar o que buscamos

Repousando nesse desassossego
   no tempo que se aprofunda
Em um fundo fosso
   de dormência atávica
Nós somos partes decompostas
   de um todo que visa ápices
      sejam quais forem

Na morte, no sexo,  no esquecimento
   o calor máximo, o frio extremo
A tortura limite, o maior prazer
   somos pouco para tanto
Mas a potência nos pertence
   vivemos uma vez
      & nos basta a querência que impulsiona



29 de out. de 2021

o Agora

 

o Agora
   é um Lugar
      que não nos cabe mais
de tanta Saudade
   de tanto Prazer
      & de tanta Dor
o Presente se prolongou
   em Gozo extenso
      ou extensa Insatisfação...

encontro o que Quero
   & o que Não quero
na carne do teu Corpo
   na saliva da tua Boca
tudo que evapora
   esvai, seca
      & se umidece
no Bejo, no Coito
   na Perda...

colisão
   que é o início do Futuro
      & o indício do Passado
suspensos em Choque vamos
   entre uma & outra
      Realização
         Falha
            Repetição
o Agora é Queda
   onde
              caindo
                           estamos
                                             então
                                                           ...



25 de out. de 2021

Desrota

 

Saí para andar
    & ver se a lua estava em seu lugar
Pela rua afora
    os passos perdidos de qualquer hora
Saí por aí
    nos últimos dias desse mundo onde caí
Sem querer voltar
    mas também sem achar um outro lar
Lá fora pra ver
    que tudo está à perecer
No céu as estrelas
    no chão as mazelas
Saí para andar
    & nunca mais voltar



20 de out. de 2021

Sonhar...

 

Os sonhos
   trazem consigo
      o despertar...
No sono profundo
   tudo é um esquecimento
      um nada onde repousar...
Volem as águas
   da superfície de contato
      com a realidade & seu pesar...
Pululam imagens móveis
   turbulências
      para nos acordar...
A alma ativando-se
   para a luz, o dia
      para o sólido estar...
Deixa para trás
   o além do bem & do mal
      para novamente se limitar...



19 de out. de 2021

Abraço de Abismo

 

Fundo rasgo em abraço
   às águas abissais
Abismo bebe abismo
   água para vertigem da sede

Cabe na tua boca
   entrada do fosso labiríntico do teu corpo
Tempestades de samsara
   & calmarias de nirvana

Abismo que verte fundo
   comporta,
      segura,
         repousa
            águas & vazios de abismo

Água celeste
   pesada, cortante
Vazio infernal
   leve, cicatrizante
Valas oceânicas incorpóreas

Abismo bebe água de abismo
Abismo respira ar de abismo
Abismo engole abismo
    sorve céus, terra
       & dilúvios, amor

Há de se ter mil & nenhum braço
   para esse abraço
      líquido abissal
Fundo do poço
   chão dos nossos pés
Palco dos enlaces



18 de out. de 2021

Águas do Abismo

 

Vamos, sem pressa & medo
   desnudando nossas imperfeições.
Isso é só corpo,
   fazemos tremer o interior.
Contatamos a carne,
   misturamos a mente.
& o espírito paira
   acima das águas do abismo
      que se misturam,
         com violência & candura...

Cada colisão
   é um processo de negação.
O tempo
   em que unimo-nos,
Renega o espaço
   que nos separa.
Isso é da nossa natureza,
   o animal gozozo que somos...

Assim sorrimos, sofremos
   assim conquistamos, tememos
      & seguimos
         na noite escura
            & racional que nos cerca, devora,
               mas não consegue nos engolir...



17 de out. de 2021

Extra Vazar

 

"O tempo andou
  mexendo com
  a gente, sim!"
  - Belchior

& no silêncio
   da solidão
Encobrindo soluços
   de insolução
Encontramos a necessidade
   de procurar
      novas formas de ser feliz... ou mais...
Pois o corpo
   o copo, o pico
   essa capa
      de massas inócuas
   máscaras, camadas
      de tempo & espaço acumulados
   não servem mais
      para conter & deixar extra-vazar
         o que flui desde a insatistafação...
& nem servem mais
   para o que deve
      ser preenchido
         ou esvaziado...



12 de out. de 2021

Calendas

 

Esquecer datas
O nome dos dias
   meses, estações
      anos, vidas...
Rebelar
   ao controle incontrolável do tempo
      & da morte, do fim, do não & do sim...
Proibir os calendários
   queimar
      começo & meio & fim
         nas chamas da desrazão...
Trocar
   o sol pela lua
      a lua pela estrela negra
         a estrela pelo buraco negro...
Aquiescer
    ao eterno feriado
  Véspera de nada
  Amanhã do dia esquecido
  Ano zero
  Século nômade
  Era perdida
Acédia
   descaso
      descanso
          ocaso...



10 de out. de 2021

Constante Inconstante

 

O universo é
   uma fábrica
      de eventos tristes...

O espaço se abre
   mais rápido que a luz
Escuridão que avança
   útero de tudo
Que não engendra
   só gesta aeons de solidão sideral

Tanta engenhosidade
   para gerar
      distâncias & finitudes...

& o corpo, espaço do espírito
    também se desdobra em suas distâncias
Expande no tempo
    seu ser & estar
Onde a felicidade não alcança as bordas
   aprisionada & engolida pela carne

Com tudo se distanciando & acabando
   por que, então, não começamos
      a nos aproximarmos mais...?



9 de out. de 2021

Rito Vício

 

Purificação
   perfume do pecado
      escorre em gotas, secretas
   no rito autônomo da embriagues,
Antes
   o dia vislumbra a noite
enquanto
   a noite ainda sonha com o dia...
Santificação
   pela satisfação...
Cores escuras, que fogem da luz
   engendram paredes
      de alcova opacas
         com paisagens de colisões
empregnadas pelos cantos...
Mínimos espaços se abrem
   & o êxtase emerge
      pelas feridas do vício...
Desde sempre,
   relembre,
      a morte sonha com a vida
& dois corpos vivos se matam
   sujando & purificando
até o fim da fome
   (noite...)
& início da solidão
   (dia...)



8 de out. de 2021

Pendu

 

Em força...
   o enforcado
Judas juras ajuda
   pende rude acima do chão
      pés goela olho mão
& sua ereção

Sob o abismo
   beira nada mar falha ar... pendão
Entropia & excreção
   pendurado
      ainda dança pendular
   em sua tensão

Voltar pra casa
   o teu aberto carmin vão




6 de out. de 2021

Carbono23

 

fluxoextasia
  entropia da realidade
sono sonho soma de nós & sós
da medula incha & infla retorno
   o sangue crustaceando ossos
      unha cabelo cornos,

coma das marés
    em sumo sal carvão...

corpomar em suas marés
   de sangue lágrimas suor sêmen apreensão
ondas arremessadas
   quebrando na praia emocional
fadiga oceânica idílica
   em remanso de esgotamento
sob pressão atmosférica ampla
   aneurisma onírico prisma manso
agride, inflama
   essa derradeira
      súbita satisfação.



5 de out. de 2021

Shakti

 

Sobreviver à própria vida
   estando inconsciente ao jogo
      cruel & banal
         do cotidiano...
(Ela mergulha cega
   em cada renúncia,
   em cada peso sobreposto
   na apreensão ao acaso
   de ser quem é...
& dispersa
   inconsequente
   em si
   não se reconhecendo...
Eu sou atraído
   como matéria morta
   pelo buraco-negro
   no centro dessa confusão galática...)
Eu imagino, só me deixo levar
   pelas colisões aleatórias
      que formam um novo drama
Um antigo novo drama
   no repertório casto
      do eterno-retorno...
& releio as memórias
   redefinindo o presente
      eu caio
         na dança-tonta da realidade...
& remassacro
   velhas falhas
      nas quais estou em repouso
Na velocidade estonteante
   do espaço em que se percorre
      abaixo da luz das estrelas
Repasso lugares diferentes
   & sorvo do Corpo de Glória
      conspurcado de outra mulher...
Todos no mundo
   estão doentes
      insanos casos sem cura
         causados pela existência
Mas ao me alinhar à você
   busco a imensidão do erro
      que sou chamado a corrigir
          dentro & fora
              deste todo nosso
                  Kali-Yuga.