25 de mai. de 2025

Eu & Todos

 

Cada pessoa é 
   O que nunca vi
   O que nunca vivi
   O que nunca fiz

Cada outro é
   Tudo que nunca fui
   Tudo que nunca serei
   Tudo que é nada para mim

Um mistério fechado
Uma trilha aberta
   Diferente & igual
Um mistério aberto
Uma trilha falha
   Igual & diferente

Tão perto
   & tão longe de mim
Nada a ver
   Sendo eu mesmo & outro
  
Não existe próximo
Não existe distante

Cada pessoa é
   Eu mesmo & ninguém


 

23 de mai. de 2025

O que será? Será!

 

Olha só... escuridão que cobre tudo
   & faz enxergar
Quantos eu venci com a morte
   sem sequer matar
Nas convulsões do dia-a-dia
   seguindo o fluxo do que tiver que ser
      Será?

Veja bem... o jogo perdido de luz & sombras
   passatempo de quem não gera horas
Quantos eu deixei para trás
   sem sequer ultrapassar
Nas fraturas do noite-após-noite
   guiando o incontrolável ao destino
      Será!



19 de mai. de 2025

O que se diz do que se passa...

 

O que se diz da noite que passa
O que se diz do dia que chega
Nasceu, morreu, passou?
O que se diz da aurora
É boreal, austral ou banal?
Normal, original!

Você
Já teve uma janela
Virada para onde o sol nasce?

Você
Já viu construirem muros
Na horizonte onde você olhava?

O mundo que muda
   da noite para o dia
O mundo que amanhece
   o mesmo mundo que entardece

Você
Já mudou de ideia
Depois que outro dia chegou?

Você
Já pensou duas vezes
A respeito da mesma situação?

A ideia que muda
   de uma hora para outra
A ideia que amadurece
   a mesma ideia que passa



18 de mai. de 2025

Volta Fóssil

 

Dá uma voltinha... vira e mexe...
Retornamos ao Inferno
Os caminhos no mundo são poucos... são breves...
Quando não se confundem, se cruzam...
& de novo, é a mesma velha estrada...
Retornamos ao Paraíso...
Temos os pés cravados como pegadas... passando por aqui & ali...
O fogo congelante... as nuvens escaldantes...
A prisão libertadora... o campo claustrofóbico...
Retornamos à Terra...
Dê uma voltinha...
Retornamos ao lar... que pertencemos... que nos pertence...



14 de mai. de 2025

Folga

 

Ao sol
No frio
Depois da superlua
É dia
Você de folga
Depois
Do garimpo
Você gasta seu ouro
Afastando por segundos
As preocupações
Você é humano
Pagando tributos
A si mesmo

As consequências
Alheias
Pouco te pertencem
Há um show
À parte
Que se desenrola
Mas você não sabe
A verdade
Há um teatro com pouco público
Que você não acompanha tudo
Você paga entrada
& sai antes do final

É dia de sol
Você percorre
As ruas
Por ali você pode andar
Shows, teatro, feiras à parte
Você curte a folga
Não envolvido em nada
Só pensa
No sagrado descanso
Das coisas em que não
Se envolveu



12 de mai. de 2025

ProCura

 

Procurando...
Cadê a palavra?
A imagem?
O sentido?

Procurando...
Onde tudo é sombra
& as sombras dançam no escuro
  esguias, alucinadas, torturadas
   com a pouca luz que vem de longe

Procurando...
Onde estão a palavras?
As imagens?
O sentido?

Procurando...
Até achar
o motivo de desistir,
A coragem agora não passa
da condição de se entregar...



10 de mai. de 2025

Hoje

 

Hoje vou escutar o silêncio das notícias
   sobre a paz no mundo
   sobre não incomodar o vizinho
   sobre como todos estão guerra...

Hoje não quero ouvir falar
   sobre os problemas alheios
   sobre a fofoca do dia
   sobre você & eu...

Hoje vou tapar os ouvidos para gritos & sussurros
   sobre as lamúrias justificáveis
   sobre as reclamações sem porquê
   sobre eu & você...

Hoje é imperativo calar a mente
   sobre rancores & amarguras
   sobre ressentimentos & vinganças
   sobre alguém & ninguém...



7 de mai. de 2025

Conclave

 

Todos reunidos
Na rinha do pensamento
Que não se cruza
Nesse combate dispar
De um mundo tecno expandido
Com alma retro atrofiadando

Os verdadeiros
  Profetas
Falavam de amor
Profetas pró-afetos
  Que nos afetam
   Pelas vias de fato
...haviam entretanto os que castigavam...
Os verdadeiros
  Poetas
Falavam de uma dor
Poetas adoradores
  Inspirados pela musa
   Castigados pelo daimon
...há porém os que amam...
Os falsos
  Profetas/Poetas
Falam de alegria & prosperidade
Anti-pró-etos
  Que espalham a praga
   Da esperança
...de espera que não chegará...



4 de mai. de 2025

Cada Dia

 

Explosões de tristeza na periferia da vida
As ondas de impacto penetram na vizinhança & chegam a mim
Como um vento triste que carrega folhas do último outono
& o som no ar é de um choro provido de incompreensão
Dos que não sabem porque suas vidas estão assim...

Cada um carrega consigo o seu núcleo de negação
Seguimos pelo mundo às cegas
Meros sonâmbulos zelando pela ignorância que nos permite seguir
Depois do dia & das novas distâncias que a vida traz
Apalpamos finalmente o que está perto
Destroços implodidos em cima dos quais temos que construir incansavelmente algo para continuarmos seguindo...



2 de mai. de 2025

Surpresas com o Tempo

 

Certamente o tempo não é como o sal,
   que conserva a carne;
Nem como o amor,
   que preserva a mente além do bem & do mal.
O tempo tem me trazido surpresas,
   à medida que ele passa;
Vai enrijecendo as pessoas,
   enquanto apodrece seus corpos.
Vai endurecendo as mentes,
   enquanto desgasta os dentes.
Ergue montanhas,
   entorta caminhos;
Cresce árvores,
   prospera os ninhos.
Aumenta a distância
   que estamos da infância,
& afrouxa os laços dos relacionamentos
   com a convivência.
O tempo certamente cobra diluição
   de quem entra em sua duração.
O futuro arauto do fim com seu princípio
   que todos desconhecem,
O presente com suas dádivas trágicas
   que poucos reconhecem,
& o passado com seu mistério velado
   pelo qual todos passaram.
Certamente no final saberemos
   que o tempo nos enganou
      ensinando uma grande verdade:
Que ele não existe,
   & só aconteceu para provar nesse devir
      que muitos de nós também falharam em existir.



1 de mai. de 2025

Rumos & Desatinos

 

O verdadeiro norte
   mudando a cada momento
& ao sul de nosso umbigo
   tudo fica fora do lugar
      de acordo com um sensor externo
         frio, calculista & magoado

O verdadeiro amor
   agora já é um velho desconhecido
Uma prática
   que esquecemos como manufaturar
      pois ninguém mais vê utilidade
         em se conhecer, só conectar