15 de fev. de 2018

Outono

Outono paira sobre nós
como anjos castrados que anunciam o velho
 & de suas chagas escorrem
   caldo azul profundo que em tudo que toca
     afoga & afaga
   colore de vermelho & branco...

Outono desce manso
& não sei se
 o que envelhece as folhas das árvores
   é um vento quente ou um fogo frio
     que sai de dentro de nós
         clamando consumação...

Nas ruas & quintais
frutos inúteis de árvores sombreiras
  caem & beijam o chão, o concreto, o asfalto
& sob pés & pneus se tornam vinha
  que escorre para o fundo da terra
     pelas sarjetas & frestas de raízes...

Decantando, o vinho do Verão que passou,
alcança rios subterrâneos
   veias escondidas do sol
que deságuam enfim no inconsciente da Estação
   em uma cachoeira de evaporação...

O Outono ainda dormente
   alheio a tudo isso
vem caindo, despertando
para o banquete amadurecido
   de frutos cozidos & folhas caídas
     vinho pesado & fogo interior esmaecido...

É como se despertasse um outro Verão distante
não de fato, mas sonhado
& tudo mais fosse dormir
pairando frio manso & insatisfeito
   em rios de sombras escondidos
que deságuam no Inverno
que nasce à sete palmos abaixo no chão...

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