23 de mar. de 2021

Ao Inexistente...

 

Viemos de vidas após vidas
& sonhos após sonhos
pesadelos... despertares...
Viemos de vidas após vidas
matando um ao outro
& às vezes não nos encontrarmos...
Viemos de sonhos após sonhos
nos perdendo & colidindo
Despedidas... distâncias...
Viemos de longe
pra perto sempre estarmos...
Mas nunca, ou quase sempre
nos despacharmos...
Eu tenho uma mão & outra mão
para acariciar-me
& tenho um corpo & outro corpo
para amar...
Um rosto na penumbra
que quase sempre não é o seu
para beijar & profanar
com mentiras & verdades
tanto faz...
Eu tenho um rosto na penumbra
& o seu rosto para idolatrar
Eu tenho seu coração aos meus pés
para pisar & me machucar...
Eu tenho & não tenho
você...
& como vou saber
sem ser tarde demais
à qual nascida jurar a morte que revem
antes de cair do retorno
que nós mesmo enjaulamos
na vinda & na ida
do que nós juramos ser sem saber
que os planos das estrelas eram outros...
Buraco negro na profunda noite depois da noite
Abismo na vida depois da vida
Engolindo felicidade & outros detritos do amor
fazendo de nós estranhos
porque nos conhecemos demais.


A mais alta forma de oração
É orar ao Tempo...

Contemplação pura
Da constante passagem...

Perseveramos na inquietude
Que a tudo decompõe...

Ergo os olhos ao firmamento
Que nos oprime em gravidade...

Do azul
Ao profundo negror...

As mãos encarnadas
De suplícios ineficazes tremem...

Somos uma ideia que ganhou forma
Aleatoriamente...


(Ando escrevendo poemas ao inexistente
que insiste em ser senhor de meus gozos)

(Restos de embriaguez
aditivada pela acidez dos dias de isolamento)

(O que não li em nenhum lugar
escarifico na pele digital como punição)

(Meu...
...seu)




Nenhum comentário: