28 de ago. de 2024

Frigus Vulnus

 

Hoje o frio alcançou meus ossos
Penetrando pela via do corte das ausências

Hoje, eu fraco na beirada da cama,
Refleti sobre os sonhos ruins das noites passadas

Hoje não é nem mais um dia,
É apenas o prolongamento de um tempo que acabou

& o frio, a via, o corte
É só mais um fio do inverno fora de época
   Que sempre vem
      Para fechar toda ferida aberta...



27 de ago. de 2024

Transe

 

Eu fico em silêncio para ouvir o frio,
o sussurro dele é igual à sua voz que se foi & nunca mais ouvi,
Eu fico quieto pensando como redimi sua carne das lastimas,
Para o uso & fruto do meu querer vazio...

Enquanto a noite se transforma em dia
& o calor se instala no canto de um sorriso alheio,
Eu me encaixo na posição que pagam para mim ficar nesse custeio...

Viro a peça de uma máquina que funciona à carne, sal, mediocridade, indiferença & pesar,
É assim que nos tornamos doentes mas normais dentro da podridão das coisas que funcionam para estragar...

Escolha cruel entre ser um delator ou um torturador, mesmo que me paguem pra isso,
Eu ainda sou pior que os dois, sou de graça sedutor, com minha impiedade que me impele ao meu deserviço...

Penso só no mundo que eu tenho pra voltar onde nas horas vagas redimo carne, corrompo almas,
Esse local que não tem você mas que outra logo virá para seu lugar...

& eu também redimirei a carne dela pra eu poder amar & desprezar,
Enquanto a minha eu divido entre o sonho & a realidade, do jeito que é mais gostoso jogar...

Assim posso continuar a existir entre a solidão & a potência de imaginar,
Entre o silencio & o frio uma canção que toca sobre uma chama fraca & é a única que possuo para me apegar...

Está todo mundo triste & cansado mas sou culpado só pela minha tristeza & exaustão,
Os resto divido o peso entre ser parte da máquina & a mim pertencer minha carne que posso usar para vender ou dar à imaginação...



25 de ago. de 2024

Fumaça

 

Nas ruas o chão aponta
     tinta sobre tinta
     os velhos sinais para onde as coisas vão
  Se a realidade é o que vivemos na cidade, o mundo está pegando fogo...
Nos céus de Agosto
     tudo igual como sempre foi
     fumaça das queimadas invadem a cidade
  Se a realidade é um eterno retorno, já passamos por isso no ano passado...
Em caminhos de terra & asfalto
     o fogo mistura vida & morte & necessidade
     até o próximo plantio chegar
  Se a realidade é a natureza, o fogo queimará & a fumaça é só o que dele podemos tocar...



22 de ago. de 2024

Duração

 

                                              Como algo escasso
                                         Pode ser tão veloz?
                                                 O que o empurra
                                             A não sermos nós!
O tempo acelera
Só pra me deixar perdido
   Entre um dia & outros
      Que não tem diferença alguma entre si...
Tanto faz o dia
   Tanto faz a data, as horas, o clima,
Só importa a grande queda dentro do espaço
   Que se dá cada vez mais rápida...
& o meu ponto de referência relativa
   Não é o momento em que surgirei
      Mas sim o momento que desapareci daqui...
Nessa duração
   De momentos congelados fatiados
Eu nunca escolho um que se repete
   Mas são todos iguais
      & acontecem mais rápido
         Por mais distantes que estejam...
O tempo se safa
   A velocidade não o desgasta
      Acrescenta ou repara,
Fico só eu perdido
   Entre um outro & dias afins
      Acrescentando & tirando tempo de mim!



13 de ago. de 2024

Mais que Saudade...


Hoje falei de você pra alguém que nunca te viu
Falei de alguns defeitos
Falei de coisas vagas
Mas não do que amei...

Hoje toquei no seu nome
Toquei em lembranças pequenas
Mas não toquei na ferida
No ponto certo
Que nem conheço mais...

Horas depois veio a saudade
Mais que a menção das suas características físicas
Veio a sensação de que de qualquer forma
Você já não existe mais...



10 de ago. de 2024

Fomento ao Frio

 

depois que o frio da noite
   corroeu nossos ossos
      comeu nossa pele
         bebeu nosso calor
nós, como os cães de rua
   que comem vento
      devoram caridade
         dão graças ao esquecimento
nos deitamos ao Sol
   como se ele pudesse compensar
      todo sofrimento de frio & fome
         que nos congelou a alma



1 de ago. de 2024

Inveteroversos

 

Sou marginal
  & às vezes penso
nesse crime que é a Poesia...
Desconhecida de quem a pratica
Cravada nas costas de quem não se fere
   Irrelevante para as estatísticas
    Desnecessária no fim dos acertos de conta!
...dores nas alturas onde nuvens se roçam...
Sou malfeitor
   & às vezes peso
na balança da injustiça o que é a Poesia...
Nessa fuga forma de expressão
Neste exílio vazio de sentido alheio
  Que falamos para dentro
   & fugimos para fora!
                                       Ou vice-verso tanto faz!
...flores nas rachaduras do concreto...
Sou salafrário
   & descarto o peso do pensamento
na vida invertida sem moral e ética
                                     .      do desviver poético
Cruzando com as nulidades
Parindo os buracos-negro
  Cometendo os crimes exemplares
    Punido com a pena & o descaso normal!
...gozos das palavras postas para copular...
Serei o único bandido
   a ter coisas & nadas
   espalhados por aí...
Não só as palavras nuas ou ocultas
   incultas ou possuídas pelo demônio
   & pelo resto da ignorância das castas
Mas também a má fama rasgadas
   diluída & cuspida pela língua dos outros
   nas ruas & prédios prisões de cegos
& de todo rebanho
   que pasta as próprias certezas
   & nem me conhece...
Concreto por entre as rachaduras das flores!
Nuvens nas alturas das dores que desabam!
Cópulas de palavras estéreis que parem poemas!
O mar, o mal, o sal sobre a terra lotada prisão
   & abandonada dos tempos sempre finais
   cuja essa liberdade é meu verso & refrão...